sábado, 31 de janeiro de 2015

Qual é o pior, Noé ou Moisés?

Calma.
Não é que o maior profeta do judaísmo seja ou tenha sido uma pessoa pior do que o patriarca que construiu a arca. Nem vice-versa. É que o filme que retrata a história do Êxodo sob a ótica do diretor Ridley Scott consegue superar, em heresias e invenções bizarras, o outro de Darren Aronofsky, que o precedeu em alguns meses. Já muito se discutiu sobre o cinema ser uma visão artística e, portanto, poder comportar certas licenças poéticas. Eu discordo um pouco, pois o cinema, pelo menos o americano, diferentemente do europeu (que é visto por seus realizadores como obra de arte) é eminentemente um produto industrial. E como tal, segue as regras do mercado. Busca atingir certos objetivos de venda (bilheteria superar o custo de produção já é um bom sinal, e o que passa disso – merchandising, licenciamentos, vendas para TV, DVD, blu-ray etc. é mais que bem vindo). Procura atingir um duvidoso “gosto médio”, aquela parcela da audiência que podemos classificar como “medíocre” no sentido exato da palavra – a que está “na média”. E por estar nessa “média”, não tem muito senso de valor estético ou artístico, está interessada apenas na diversão, no “fast food”.
Vamos combinar uma coisa: ambos extrapolam, e muito, o texto original, ou seja, o texto bíblico foi em grande parte desrespeitado, tido como apenas uma “leve inspiração”, que serve mais para dar às pessoas dúvidas sobre o caráter e a vontade de Deus do que criar pelo menos um interesse pela Bíblia. Trata-se a Palavra de Deus como um conto de fadas, uma coleção de mitos antigos.
Vejamos. O Noé do filme, ao contrário do Noé bíblico, não entendeu direito a mensagem que Deus mandou dar ao povo de sua época. Não pregou a possibilidade de salvação a ninguém, e ainda por cima quis matar membros de sua família!
O filme procura fazer uma média com evolucionistas e com os criacionistas, ao apresentar uma versão mezzo-pepperone/mezzo-calabresa da origem da vida: Deus criou o mundo, deu corda e foi pescar, deixando que as criaturas “evoluíssem” por si próprias. 
O uso de uma pele de cobra enrolada no braço sugere que o tephilim judeu tem uma origem no mínimo estranha. Por que alguém haveria de usar uma coisa tão sinistra como os restos da criatura que semeou a destruição e o pecado na Humanidade?
Nem vou discutir muito, por ora, a questão dos “gigantes de pedra”, cuja aparição deixa a entender que os anjos caídos serão redimidos, e ainda por cima, por suas próprias boas intenções e boas obras. Veremos isso depois quando discutirmos os nefilins e os “gigantes da antiguidade”.
Em nenhuma parte da Bíblia há a menor sugestão de que Noé tenha recebido ajuda de “gigantes de pedra”, ou nephilins, ou qualquer outra coisa, para construir a arca. É apenas uma explicação para o fato de que a arca deveria ser feita rapidamente, quando, ao contrário, a Bíblia diz que ela demorou um tempão para ser concluída (obviamente para dar tempo aos contemporâneos de Noé para se converterem). Isso é, na verdade, a dificuldade para se crer que os patriarcas viviam muito mais tempo do que os homens modernos (veja mais aqui, aqui e aqui).
Tubalcaim entrando na arca por uma passagem lateral é outro absurdo, pois sabemos pela Bíblia que ninguém se salvou, fora a família de Noé. Tudo bem que Tubalcaim morre no filme, mas não há espaço para se acreditar que alguém poderia “pegar carona” na arca (como no telefilme tosco com Jon Voight no papel do patriarca, foto logo mais abaixo).
Além do mais, a família de Noé no filme tem apenas 6 pessoas. Além de faltarem as esposas de dois de seus filhos, um deles ainda foge para longe (talvez o diretor tenha misturado a história com a de Caim, ver Gênesis 4:16: Então saiu Caim da presença do Senhor, e habitou na terra de Node, ao oriente do Éden). Isto deixa no ar um monte de dúvidas, como: com quem os filhos mais jovens de Noé se casaram? Para que tenham se casado e tido descendentes, de acordo com o filme o dilúvio não poderia ter sido universal. E se não foi universal, qual a necessidade de se juntar aquela bicharada toda na arca? Em algum lugar devem ter sobrado animais, assim como devem sobrado algumas pessoas, dentre as quais as futuras esposas dos outros filhos de Noé... quanto mais se mexe, pior fica. Veja que ao se questionar a veracidade e autenticidade do texto de Gênesis você coloca em cheque TODA a Bíblia e seus ensinos centrais, como o pecado, o juízo e a redenção! A coisa é séria!
Mas “Êxodo – Deuses e Reis” consegue ser ainda pior... Moisés agindo como guerrilheiro e revolucionário, provocando atentados e guerrilhas (um afago aos judeus ortodoxos e sionistas em geral?) é totalmente contrário à Bíblia, porque ela diz que ele era “varão mui manso” (Números 12:3). Tudo bem que ele matou um sujeito, mas Bíblia também é clara ao relatar que não era um soldado, e sim um feitor de escravos que açoitava um hebreu (Êxodo 2:11-12).
A sua fúria cessou quando ele viu a presença de Deus na sarça ardente.  Mas esse episódio no filme dá a entender que foi uma alucinação decorrente de uma pancada na cabeça... Nada sobre “tirar as sandálias dos pés”, porque o lugar era santo (Êxodo 3:5).
O “deus” que aparece para Moisés como um “amiguinho imaginário” é uma piada. Tudo bem que se procurou fugir da imagem de um velho barbudo ou de efeitos especiais (como no filme “Os Dez Mandamentos”, de 1956, com Charlton Heston e Yul Brinner nos papéis principais), mas o menino deste filme de agora, além de confuso nas suas “ordens”, é muito chato.
E é risível a discussão de Moisés com “Deus” acerca de quais artigos deveriam constar da “lei”. Moisés chega a dizer que se não concordasse com elas nem se daria ao trabalho de escrevê-las na pedra!
Aliás, homens discutindo com Deus de “tu para tu” são bastante comuns em filmes – é impossível para o Homem natural aceitar ser submisso. Vimos isso no telefilme sobre Abraão, onde o patriarca, ao receber de Deus a ordem para sacrificar Isaque, grita: “Não! Isaque não!”, o que, se fosse verdade, desqualificaria Abraão como “o pai da fé”. Isso eles não conseguem entender, que Abraão obedeceu incondicionalmente a ordem de Deus, por mais “absurda” que pudesse parecer. Esse Moisés é a mesma coisa. Tenho para mim que isso de “humanizar” os personagens bíblicos começou com “A Última Tentação de Cristo”, filme de 1988, dirigido por Martin Scorsese e com roteiro de Paul Schrader (ambos mestres em filmes violentos com “heróis sem caráter”). Baseado no romance homônimo de Níkos Kazantzákis, publicado em 1951, retrata um Cristo que não sabe bem a que veio, e que fica surpreso quando, instigado pelos apóstolos, manda Lázaro sair da tumba. Ele mesmo não havia pensado nisso, e quando Lázaro ressurge envolto em panos, “Cristo” fica surpreso, como se pensasse “funciona mesmo”! A partir daí virou moda “humanizar” heróis da Bíblia, como se eles não fossem humanos... deu no que deu.
Neste Exodus”, Jetro já usava as roupas de sacerdote muito antes de aparecer a Lei, dando a entender que Moisés as copiou para os hebreus depois (ao contrário, Deus é que instituiu todos os paramentos, e antes não havia nada parecido); ver Êxodo 28:14-43.
É bem verdade que a história da sua adoção foi respeitada. É verdade que a Bíblia nada diz sobre a infância e juventude de Moisés, e a sua carreira militar é até plausível. Como eram, aliás, os pendores arquitetônicos do Moisés de Charlton Heston. Naquele filme há histórias paralelas que poderiam ter acontecido, sem nenhum prejuízo ao relato bíblico, por exemplo, Josué salvando a mãe verdadeira de Moisés, e sendo o pivô do crime cometido por este. Ou os futuros rebeldes israelitas já criando caso desde o início, mostrando seu “mau-caratismo”, instigando o povo ao pecado. Isso, na verdade, pouco importa, porque não está em contradição com a Bíblia. Mas se Moisés tivesse treinado revolucionários, com certeza a Bíblia relataria, até porque, no filme, eles falham miseravelmente. Seria uma lição e tanto o próprio Moisés (que escreveu o relato do Êxodo) mostrar que a tentativa humana fracassa, mas quando Deus entra no negócio a coisa funciona.
Seria... se as pragas não fosse tratadas como fenômenos naturais fortuitos, meros acidentes ambientais (à exceção da morte dos primogênitos, que ninguém até hoje consegue explicar com base na “ciência”). Já discutimos antes que a excepcionalidade e a coincidência das pragas não poderiam, em hipótese alguma, ser uma seqüência natural – veja sobre isto aqui. O filme até mostra um conselheiro “ambientalista” do Faraó explicando como “a natureza produziu as pragas”!
Ainda que o “deus-menino” emburrado pareça controlar tudo à sua maneira, de que serviria fazer um monte de prodígios se os egípcios não reconhecessem a sua mão por trás dos eventos? Muitos deixam escapar um importante significado das pragas, cujo propósito foi, além de forçar a libertação dos hebreus, justamente mostrar que o poder de Deus é superior ao dos homens, dos magos, e das entidades que eles adoravam como deuses.  As 10 pragas tiveram grande importância sobre os habitantes do Egito. Deus estava desafiando os “deuses egípcios”. É simples. 
Por que rãs, gafanhotos, sangue, chuva de pedras? O Deus de Israel estava se revelando ao Seu povo e ao império egípcio. Cada praga era direcionada a uma divindade, conforme a credibilidade do povo egípcio em confiar nesses “falsos senhores”, como veremos a seguir.
Água transformada em sangue (Êxodo 7:14-24) – A primeira praga causou desonra ao deus Hápi. A morte dos peixes no Nilo foi também um golpe contra a religião local, pois certas espécies de peixes eram realmente veneradas e até mesmo mumificadas.
Rãs (Êxodo 8:1-15) – A rã, tida como símbolo da fertilidade e do conceito egípcio da ressurreição, era sagrada para a deusa Heqt. Assim, a praga das rãs trouxe desonra a esta deusa.
Piolhos (Êxodo 8:16-19) – A terceira praga resultou em os sacerdotes-magos reconhecerem a derrota, quando se viram incapazes de transformar o pó em insetos. Atribuía-se ao deus Tot a invenção da magia ou das artes secretas, mas nem mesmo essa entidade pôde ajudar os sacerdotes-magos.
Moscas (Êxodo 8:20-32) – A linha de demarcação ficou nitidamente traçada daqui em diante. Enquanto enxames de moscas invadiam os lares dos egípcios, os israelitas na terra de Gósen não foram atingidos. Nenhum “deus” pôde impedí-la, nem mesmo Ptah, “criador do universo”, ou Tot, senhor da magia.
Peste sobre bois e vacas (Êxodo 9:1-7) – Humilhou deidades tais como Seráfis (Ápis), deus sagrado de Mênfis do gado, a deusa-vaca Hator e a deusa-céu Nut, imaginada como uma vaca com as estrelas afixadas na barriga. Todo o gado do Egito morreu, mas o de Israel sobreviveu.
Feridas sobre os egípcios (Êxodo 9:8-12) – Deus nesta praga zombou da deusa e rainha do céu do Egito, Neite. Moisés jogou o pó para o alto, e surgiu um tumor ulceroso na pele do povo. Os magos também pegaram a doença e não puderam adorar a sua deusa e padroeira. Israel novamente foi poupado.
Chuva de pedras (Êxodo 9:13-35) – A forte saraivada envergonhou os deuses que supostamente controlavam os elementos naturais, como Ísis (deusa da água) e Osiris (do fogo).
Gafanhotos (Êxodo 10:1-20) – Uma derrota dos deuses que, segundo se pensava, garantiam abundante colheita. Shu, deus do ar, e Sebeque, deus-inseto, não puderam fazer nada.
Escuridão total (Êxodo 10:21-23) – Com esta praga Deus derrubou o deus principal do Egito, Rá, o deus-sol. A palavra Faraó significa sol; ele era tido como um deus. O Egito ficou nas trevas durante três dias, mas Israel tinha luz.
Morte dos primogênitos (Êxodo 11-12) – inclusive entre os animais dos egípcios, que resultou na humilhação suprema. Os governantes do Egito chamavam a si mesmos de deuses, filhos de Rá ou Amom-Rá, mas depois disto todos souberam que o Deus de Israel era o Senhor. Deus destruiu todo deus falso do Egito. Na morte do primogênito Deus mostrou que Ele tem na Sua mão o poder da morte e da vida. Enquanto o Faraó tinha pretensão de ser adorado, de ser uma divindade, e o primogênito era em potencial um faraó (pois era o herdeiro do trono), Deus desmascarou a falsa deidade tanto do Faraó como de seu filho.
Mas nada disso se vê em produções hollywoodianas modernas. Claro. Não admitiriam isso nem debaixo de pragas... que aliás, é o que vai acontecer durante a tribulação que se aproxima (ver Apocalipse 9:20-21 e 16:9-11).
Dito tudo isso, por mais que se queira dizer que filmes são “licenças poéticas”, sou de opinião de que Bíblia não admite tais devaneios. Prefiro ficar com a “versão original”, pois deduzi que, ao ver essas “obras de arte”, joguei fora umas quatro horas de meu tempo e um bom punhado de dinheiro.

Nota: esta parte final, das 10 pragas e os deuses do Egito, veio de um estudo na Internet cujo autor não me lembro. Se o próprio autor ou alguém me avisar eu adiciono o devido crédito.

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sábado, 24 de janeiro de 2015

Cristão deve apoiar a pena de morte?

Reproduzo parte de um texto do prof. César Zanim, que retrata exatamente o meu sentimento.
Abro aspas:
Dois brasileiros foram condenados à pena de morte por fuzilamento na Indonésia, por tráfico de drogas. Um deles, Marco Archer Cardoso Moreira, foi executado em 17/01/2015. O governo brasileiro fez dois pedidos de clemência ao governo indonésio, tentando alterar a punição para evitar e pena capital, por questões humanitárias, mas não foi atendido. O outro condenado, Rodrigo Muxfeldt Gularte, também deverá ser fuzilado, em fevereiro de 2015.
A Indonésia tem uma das leis antidrogas mais rígidas do mundo, incluindo a pena de morte para o crime de tráfico. Quem for pego com mais de cinco gramas de droga pode ser condenado à morte, inclusive estrangeiros. E na Indonésia a maioria apoia a pena de morte, mas é pertinente salientar que com o passado recente desse país, sangrento e corrupto, era mesmo de se esperar. Para quem quiser saber mais sobre como o povo indonésio lida com a morte, indico os filmes de Joshua Oppenheimer (como por exemplo, este e este).
A pena de morte para crimes civis foi aplicada pela última vez no Brasil em 1876 e não é utilizada oficialmente desde a proclamação da república. Até então, o júri continuou a condenar pessoas à morte, ainda que Dom Pedro II comutasse todas as sentenças. O jornalista Carlos Marchi, autor do livro “A Fera de Macabu“, sobre a pena de morte por enforcamento aplicada ao fazendeiro carioca Manoel da Motta Coqueiro (que era inocente), observa que a finalidade principal era reprimir e amedrontar os escravos – não à toa a punição foi retirada do Código Penal um ano depois da abolição da escravidão.
O inciso 47 do art. 5º da Constituição diz que “não haverá penas de morte, salvo em caso de guerra declarada”. Ou seja, a pena de morte no Brasil foi abolida para todos os crimes não-militares. O artigo 60 faz dessa abolição da pena de morte uma cláusula pétrea, ou seja, qualquer mudança no texto dependeria de uma Assembleia Constituinte que elaborasse uma nova Carta, algo bastante improvável.
Segundo uma pesquisa do Datafolha de 2002 a maioria da população brasileira queria a pena de morte no Brasil (45% contra e 51% a favor). Em 2008 essa pesquisa do Datafolha indicava empate técnico (46% – 47%), mas em 2013, 50% dos brasileiros acham que não cabe à Justiça determinar a morte de uma pessoa, mesmo que ela tenha cometido um crime grave. Outros 46% se disseram favoráveis à punição.  Essa tendência de declínio do apoio à pena de morte vinha sendo sentida também em outros países. Segundo um levantamento do Pew Research Center, o número de americanos que reprovam a pena de morte para condenados por homicídio passou de 31% em 2011 para 37%, em 2013, e segundo o Centro de Informações da Pena de Morte dos Estados Unidos, 2014 teve o menor número de execuções dos últimos 20 anos.
Mas aqui, desde junho de 2013, com a descrença nos políticos e decorrente queda nas pesquisas de aprovação da presidente Dilma, passando por todo o período conturbado da Copa do Mundo e culminando na campanha eleitoral de 2014, que escancarou de vez uma situação de conflito de ideias e confronto político numa sociedade cada vez mais dividida e agressiva, tudo pode virar motivo para mais lenha nas fogueiras. O fuzilamento do brasileiro na Indonésia conseguiu unificar esses dois temas: a pena de morte e a chamada guerra às drogas. Prato cheio para uma série de debates nada construtivos.
Na grande mídia o apoio à pena de morte e à guerra às drogas vem tomando espaço nos telejornais e na programação em geral. Nas redes sociais também tem muita gente se manifestando a favor da pena de morte e da guerra às drogas. Figuras públicas publicam coisas como “viva a polícia que mandou mais 4 bandidos para o saco”, e milhares – evangélicos inclusive talvez, principalmente – defendem, incentivam e/ou comemoram “a morte dos bandidos”. “Bandido bom é bandido morto”, repetem.
Quem nunca ouviu algo assim? Tenho visto esse tipo de coisa todos os dias nas redes sociais. Pois então, eu pergunto, o que é um bandido? E o dicionário me responde o que eu já suspeitava: Bandido é alguém mau caráter e de pouca honestidade que vive de atividades ilícitas.
Diversos canais religiosos, como por exemplo Gospel Prime, site do Pr. Marco Feliciano, Gospel Mais, comunhao.com.br, vcsabiacatolico.com.br, portalconservador.com, livreseradicais.com, levitasnews.com.br, entre outros, divulgaram matérias dizendo que a Arábia Saudita decretou a pena de morte para quem for pego com a Bíblia (um boato, como você pode ver aqui).
De fato, no Irã a “apostasia” e o adultério são punidos com a pena de morte. Em 2011 um homem chamado Abdolreza Gharabat foi condenado e executado por enforcamento porque estaria evangelizando jovens no sudoeste do país. Eu não consigo lembrar de qualquer mobilização a respeito aqui no Brasil (a favor ou contra). (Por estes dias se levantou um clamor em favor de cristãos no Níger, mas eles foram atacados em represália às palhaçadas do Charlie Hebdo e suas trágicas consequências – isto é outro assunto.)
Mas em todo caso, se você for um cristão brasileiro e for pego com a Bíblia em algum país islâmico, você também será um bandido e poderá ser condenado à pena de morte. Poderá ser dito que nesse caso é a lei desses lugares que é estúpida, pois usa a pena de morte de forma equivocada. Acontece que para a maioria dos indonésios, sauditas e iranianos, a lei deles é justa. Será que se fosse um brasileiro condenado à pena de morte por carregar a Bíblia na Arábia Saudita ou por adultério no Irã, haveria todo esse apoio à pena de morte e essa comemoração à morte do “bandido” em questão?  O crime é outro, não se trata de algo “grave” como tráfico de drogas, mas sob a ótica da legislação local, é um crime; afinal a lei do país é aquela.
Quem defende a pena de morte costuma argumentar usando o medo que se sente de um dia passar por uma situação nas mãos de um bandido, de um dia perder alguém querido assassinado, e que acha que todo mundo compartilha. Por isso tantas frases do tipo “eu queria ver você ser contra a pena de morte e defender bandido na mira de uma arma sendo assaltado”.
Quem defende a pena de morte afirma que se trata de uma medida para impedir crimes. Não impede, isso está comprovado. E nem me refiro ao assassinato do bandido perpetrado pelo Estado, como se vê nas tristemente comuns chacinas e massacres em rebeliões em prisões, ao que muitos cristãos comemoram, dizendo “bem feito”.  Nos países onde há a pena de morte os crimes continuam a ocorrer e em muitos deles inclusive aumenta, basta ver as estatísticas.
Um estudo publicado pelo Jornal de Lei Criminal e Criminologia da Universidade de Northwestern, em Chicago, mapeou as opiniões de 67 pesquisadores americanos que se especializaram nesse tema. Para 88,2% deles, executar detentos não tem qualquer impacto nos níveis de criminalidade. Segundo Joe Domanick, diretor do Centro de Mídia, Crime e Justiça da Universidade da Cidade de Nova York, “as pessoas que cometem os crimes mais violentos, que em geral são crimes de paixão ou acertos entre gangues, claramente não se preocupam com a pena de morte ao cometê-los”. Nos 36 estados americanos que adotam a pena, o índice de assassinatos por 100 mil habitantes é maior que o registrado nos outros 14 estados que não a aplicam. Na França, especialistas em segurança pública garantem que a violência não explodiu depois que a guilhotina foi aposentada em 1977. No Irã, o exemplo inverso: a pena de morte foi reintroduzida em 1979 com a revolução islâmica, mas não significou redução das taxas de criminalidade.
Fecho aspas e escrevo eu agora:
Diante de tudo isso, e em especialmente depois de ver a reação de setores e indivíduos ditos “cristãos”, de regozijo pela execução do traficante brasileiro em um país islâmico, de história conturbada por corrupções de todo tipo, onde se aplica uma lei que é prejudicial aos cristãos que um dia forem chamados por Deus para evangelizar lá (ainda existe isso na Igreja brasileira, chamado missionário para países fora da Europa ou América do Norte?), fiquei muito triste.
Eu gosto sempre de pegar o exemplo dos primeiros cristãos, que foram considerados, grosso modo, criminosos. A partir de certa época, passaram a ser tidos como párias na sociedade a passaram a se reunir às escondidas. Não pensem os senhores que Roma era um paraíso e só os cristãos eram “caçados pela polícia”; não. Eram apenas “mais um tipo de bandido”. E eram condenados à morte, porque seu crime era dos mais abomináveis, traição à pátria, à religião (aos deuses antigos) e ao imperador.
Para se ter uma idéia, o historiador Tácito escreveu que os cristãos eram, para os romanos, “o que há de abominável e infame no mundo... uns foram revestidos de peles de animais ferozes e jogados aos cães pra serem devorados; outros eram pregados em cruzes; muitos foram queimados vivos, embebidos de matéria inflamável, acesos para servirem de tochas à noite” (Anais da Historia Romana, XV:44). Será que esses cristãos eram favoráveis à pena de morte, à sua própria morte? Aceitavam a pena, porque sabiam que algo muito melhor os esperava do outro lado, mas será que apoiariam a morte de “outros criminosos”?
Por exemplo, imaginemos um ladrão que tentasse assaltar o palácio do imperador e fosse pego. Imaginemos que fosse anunciado  a toda a população que aquele sujeito seria condenado à morte. Os cristãos apoiariam? Talvez não se manifestassem porque seriam pegos e por seu próprio “crime de traição” possivelmente teriam o mesmo destino, mas no íntimo, qual seria o sentimento dos nossos primeiros irmãos na fé? Seriam a favor do “olho por olho”, “aqui se faz aqui se paga”, ou seriam misericordiosos como Seu Senhor também fora, quando caminhava sobre a Terra?
Vibrariam intimamente de alegria ao ver o nosso ladrão nas chamas de uma fogueira, pendurado numa estaca e com as pernas arrancadas pelos leões no Coliseu? Ou chorariam arrependidos por não terem um dia compartilhado as boas novas da salvação com aquela alma irremediavelmente perdida?
Jesus foi condenado à morte. Mas “não abriu a sua boca” (Isaías 53:7). Não criticou a lei, não fez campanha para mudar o legislativo ou a constituição, nem tampouco condenou o ladrão pendurado ao seu lado, sabidamente culpado de todos os crimes, diferentemente de Si. O próprio bandido admitiu sua culpa e a justiça de sua condenação: “nós, na verdade, [fomos condenados]com justiça; porque recebemos o que os nossos feitos merecem; mas este nenhum mal fez” (Lucas 23:41). Jesus o perdoou e nada disse a respeito da justiça ou injustiça das leis dos homens. Na verdade, Ele já havia dito antes que “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21), com isso dizendo também que não devemos misturar as coisas terrenas com as celestiais, as leis terrenas com lá do alto. Ele disse que se deveria praticar “a justiça, a misericórdia e a fé” (Mateus 23:23), no mesmo versículo que alguns usam para justificar o dízimo. Muitos desses “dizimistas” pularam de alegria ao saber do fuzilamento lá do outro lado do mundo. Praticam o dízimo, mas omitem a misericórdia! Fariseus! Raça de víboras!
O mundo jaz no maligno (I João 5:19), e com isso, todas as realizações humanas – as artes, as ciências, os sistemas políticos, econômicos, judiciários – estão apodrecidas. As leis humanas nunca serão justas. Sempre veremos injustiças, e sempre haveremos de discordar disso ou daquilo. A lei brasileira é falha, e também a da Indonésia, dos Estados Unidos e da França, por mais que se tente vender o contrário – que lá fora é que é bom, mesmo na Indonésia e no Gabão, só aqui é que é tudo uma porcaria. A verdade é que TUDO é uma porcaria!
Mas a lei do Senhor é perfeita (Salmo 19:7). E ela nos ensina a ser misericordiosos, e não rancorosos. A desejar o bem, e não o mal. Isto é coisa do velho homem: “éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” (Efésios 2:3). Não temos que nos alegrar com a morte de um pecador, por mais mal que ele possa nos causar, ter causado ou vier a causar; mas sim lembrar que Deus “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (I Timóteo 2:4).


César Zanin é tradutor, professor, escritor e produtor. Seu texto original, que reproduzi em parte aqui, pode ser lido na íntegra neste endereço: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/pena-de-morte-e-guerra-drogas.html

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domingo, 11 de janeiro de 2015

Escolha seu ano profético!

ou apostólico, tanto faz!

Já falei sobre isto antes, no longíquo ano de 2010, aqui, mas como a moda permanece, vai de novo um artigo só com imagens para ficar mais fácil a sua escolha... se bem que  no artigo de 2010 eu falava sobre ano profético, desta vez o ano é apostólico, veja só que coisa:




Esse é picareta mesmo: copiou exatamente a mesma imagem do “ano apostólico de Joel” da Renascer em 2013, só mudou o ano para 2015, acrescentou o logo da igreja e a charmosa foto do casal untado...
Por falar em Renascer, que agora anuncia o ano apostólico de Daniel (desde quando Daniel é apóstolo, eu ainda não descobri), ela é a campeã: veja o que ela já promoveu nos últimos anos.
1997 - Ano Apostólico das Portas Abertas
1998 - Ano Apostólico da Porção Dobrada
1999 - Ano Apostólico da Grande Pesca
2000 - Ano Apostólico da Ressurreição
2001 - Ano Apostólico da Restituição
2002 - Ano Apostólico da Promessa
2003 - Ano Apostólico de José
2004 - Ano Apostólico de Neemias
2005 - Ano Apostólico de Josué
2006 - Ano Apostólico de Isaque
2007 - Ano Apostólico de Elias
2008 - Ano Apostólico de Ester
2009 - Ano Apostólico de Davi
2010 - Ano Apostólico de Pedro
2011 - Ano Apostólico de Abraão
2012 - Ano Apostólico de Mateus
2013 - Ano Apostólico de Joel
2014 - Ano Apostólico de Calebe




Esse último também é profético, e não apostólico, o da Sara Nossa Terra, e traz uma novidade. Você tem três opções de bênção de acordo com a sua oferta:
– oferta de R$ 300,00 = restituição + livro grátis;
– oferta de R$ 600,00 = restituição + Bíblia rosa grátis;
– oferta de R$ 1.000,00 = restituição + super caneta dourada. Veja só que beleza! Você PAGA R$300, 600 ou 1.000 e leva o brinde GRÁTIS! Melhor impossível!
Pronto, agora você não tem mais desculpa para não aderir à onda do ano profético. Interessante é que não existe unidade nessas profecias, já que até mesmo dentro da mesma denominação (por exemplo, IEQ) há orientações proféticas completamente diferentes. Por outro lado, seria o fato da preferência  pela restituição” uma revelação profética ou apenas mera coincidência de tanta gente no ritmo de Provérbios 30:15? 
Faça hoje mesmo a sua escolha.
Eu poderia ficar aqui dando várias sugestões de anos proféticos muito mais em sintonia com o momento que vivemos, a era da Graça e da Igreja. Por exemplo, poderíamos adotar 2015 como o ano de Zaqueu, que deu metade do que possuía aos pobres e restituiu quatro vezes mais o que havia obtido por meio de fraude. Não... esse não seria bem aceito pela igreja moderna que tem muito apreço pela prosperidade material.
Ou então o ano profético de Tiago, conhecido por joelhos de camelo de tanto tempo que passava ajoelhado em oração. Mas morreu decapitado por incomodar demais o povo de seu tempo. Esse também não ia dar certo.
João Batista era um profeta, elogiado por Jesus como o maior de todos os homens até então; mas também acabou perdendo a cabeça, não ia pegar bem.
Pensando melhor, antes que alguém decida fazer o ano profético de Estêvão, aquele que disse que Deus não habita em templos de pedra e acabou levando um  monte de pedrada, vamos acabar com essa bobagem de ano profético?
Porque do jeito que está, estamos passando ao mundo a impressão de que Jesus Cristo é um louco: manda cada parte de Seu Corpo ir para um caminho diferente. Imagina sua cabeça ordenando uma coisa a uma perna e outra coisa a outra perna. É por aí.

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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Obituário 2014

Quem morreu no ano que passou
Este é um post triste.
Fala sobre os que não estão mais aqui.
Como aqueles que, em 8 de março de 2014, estavam a bordo do vôo MH-370 da Malaysia Airlines que saiu de Kuala Lumpur e deveria chegar a Pequim depois de seis horas no ar, mas desapareceu 40 minutos após a decolagem. 
E também aqueles 298, a maioria holandeses, que em 17 de julho, morreram em outro vôo da mesma Malaysia Airlines, na Ucrânia, próximo da fronteira com a Rússia, quando seguia de Amsterdã para Kuala Lumpur, num caso que até hoje não chegou a ser totalmente elucidado.
Também os 302 passageiros da balsa Sewol, que afundou em 16 de abril na costa da Coréia do Sul com 476 pessoas a bordo, das quais apenas 174, entre elas o capitão e parte da tripulação, foram resgatadas. Meses mais tarde o comandante se suicidou. Em uma mina de carvão na Turquia, 302 operários perderam a vida numa explosão no dia 13 de maio. Ao todo havia 787 pessoas trabalhando no momento do desastre.
Pelo menos 126 pessoas, das quais ao menos 120 crianças, morreram em um ataque do Taleban contra uma escola em Peshawar, principal cidade do noroeste do Paquistão, em 16 de dezembro; mais de 80 ficaram feridas. Um professor foi incendiado na frente dos alunos.  Uma tempestade tropical matou 31 nas Filipinas, 21 na Malásia e 15 na Tailândia; no Brasil, raios mataram 84 pessoas.
Outras 162 pessoas morreram noutro acidente aéreo, em 28 de dezembro: o vôo QZ 8501 da AirAsia havia saído de Surabaia, na Indonésia, com destino a Cingapura, onde pousaria duas horas depois, mas caiu misteriosamente no mar. Também morreram 35 chineses, mas numa festa: um tumulto no reveillon em Xangai, minutos antes da virada do ano.
Sete operários morreram em acidentes em obras de estádios para a Copa, sendo 3 no palco da abertura, em São Paulo. E por falar em Copa, como morreu gente ligada ao futebol! Em 5 de janeiro, faleceu Eusébio, aos 71 anos, o melhor jogador português de todos os tempos. O “Pantera Negra” ou “Pelé Português”, em 1966 levou Portugal às semifinais da Copa do Mundo, eliminando o Brasil. Jogou no Benfica de 1960 a 1975, e se aposentou em 1980. Bellini (capitão da seleção brasileira na conquista de sua primeira Copa, em 1958, com 83 anos em 20 de março); Luciano do Valle (jornalista, narrador e empresário, aos 66 anos, vítima de um infarto em 19 de abril); Afo (Afonso Celso Duarte, chargista esportivo do jornal Estado de Minas, em 26 de abril, aos 73 anos); os ídolos do Fluminense nos anos 1980 Washington e Assis, em 25 de maio, com 54 anos, e 6 de julho, com 61, respectivamente; Mauricio Torres (narrador da TV Record, aos 43 anos, em 31 de maio); Marinho Chagas (ex-jogador do Botafogo, Fluminense, Seleção Brasileira e NY Cosmos, em 1º de junho, aos 62 anos); Fernandão (ex-jogador de Goiás, Olympique de Marselha, Internacional e São Paulo, ex-técnico e comentarista, aos 36 anos, no dia 7 de junho).  A bruxa continuou solta depois da Copa: morreram Alfredo Di Stefano (ex-jogador, um dos maiores craques da História, em 6 de julho aos 88 anos); cinco dias depois, Osmar de Oliveira, médico ortopedista, comentarista e narrador, aos 71. Armando Marques (aos 84, ex-juiz) em 16 de julho e Julio Grondona (presidente da Federação Argentina, AFA), aos 82, no dia 30 de julho.
Mais de 60 jornalistas morreram no exercício da profissão, a maioria em zonas de conflitos. Conflitos como o na Ucrânia, onde cerca de 3.000 pessoas perderam a vida.
A guerra do trânsito nas ruas brasileiras foi responsável por ainda mais mortos – passam de 40.000, por mais que as autoridades noticiem planos e mais planos para reduzir essa estatística.
Na Síria, já são tantas as vítimas fatais que o escritório de direitos humanos da ONU parou de atualizar o número desde a sua última estimativa de pelo menos 200 mil até o fim de 2014.
Nos Estados Unidos, três pessoas morreram baleadas em um shopping de Maryland, e o assassino em seguida se suicidou, em 25 de janeiro. Em 3 de abril, um tiroteio na base militar de Fort Hood, no Texas, deixou quatro mortos, uma das quais o próprio assassino. Em 24 de maio, mais sete na Universidade da Califórnia: o suspeito do atentado foi encontrado morto dentro do carro. Pelo menos um estudante morreu em tiroteio em 10 de junho na Reynolds High School, em Portland, Oregon. O autor dos disparos também morreu (e aqui no Brasil tem maluco defendendo a liberação do porte de arma). Inocentes atingidos por balas perdidas são impossíveis de ser contabilizados.
Desde o primeiro dia do ano desapareceram muitas caras conhecidas.
Entre empresários e políticos, alguns que partiram foram:
Ariel Sharon, ex-primeiro ministro de Israel, no dia 11 de janeiro em Tel Aviv, de falência múltipla dos órgãos. Em 2005, ele sofrera um derrame do qual se recuperou, mas em 2006 sofreu outro muito mais grave. Sharon entrou em coma e assim permaneceu desde então. Em 2013, foi constatado que era irreversível a sua situação. Tinha 85 anos.
Em 8 de julho, Plínio de Arruda Sampaio, advogado, promotor público e, na década de 60, como deputado pelo antigo Partido Democrata Cristão (PDC), foi relator do projeto de reforma agrária do governo de João Goulart. No final da década seguinte, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1985, foi eleito deputado federal, atuando na elaboração da Constituição. Em 2005, deixou o PT e foi para o PSOL, sendo candidato ao governo de São Paulo em 2006, e à Presidência da República em 2010, quando conquistou 886 mil votos e ficou em quarto lugar. Tinha 83 anos e se tratava de um câncer ósseo.
A 13 de agosto, Eduardo Campos, 49 anos, candidato à presidência pelo Partido Socialista, em acidente aéreo que sacudiu a campanha eleitoral. Também perderam a vida assessores que o acompanhavam na viagem.
19 de novembro – Marcio Thomaz Bastos, jurista e ex-ministro da Justiça, de complicações decorrentes de uma doença pulmonar. Aos 79 anos, em São Paulo.
24 de agosto - Antônio Ermírio de Moraes, presidente do Grupo Votorantim. Em São Paulo, aos 86 anos, de insuficiência cardíaca.
20 de novembro – Samuel Klein, empresário, fundador das Casas Bahia. De origem judia-polonesa, chegou a ficar 2 anos prisioneiro no campo de concentração nazista de Treblinka, onde a maior parte de sua família morreu. Depois da guerra, já casado, veio para o Brasil onde começou a trabalhar como vendedor, mesmo sem falar português. Aos poucos foi ampliando sua clientela principalmente entre os imigrantes nordestinos, de onde tirou o nome “Casa Bahia”. Aos 91 anos, de insuficiência respiratória, em São Paulo.
Atores:
1º de janeiro – James Avery, o “tio Phil” da série protagonizada por Will Smith “The Fresh Prince of Bel-Air” (“Um Maluco no Pedaço”). Aos 65 anos, de complicações de uma cirurgia cardíaca.
2 de fevereiro - Philip Seymour Hoffman, de “Missão Impossível 3” e “Dúvida”, em que interpretou um padre suspeito de pedofilia. Em 2002 ganhou o Oscar de Melhor Ator como o personagem-título de “Capote”. Encontrado em seu apartamento com uma seringa de heroína espetada no braço. Tinha 46 anos.
10 de fevereiro – Shirley Temple. Com seus característicos cachinhos loiros, covinhas e olhos brilhantes, foi um dos maiores fenômenos de Hollywood. Menina prodígio, em 1935 ganhou um Oscar com seis anos de idade: até hoje é a atriz mais jovem a receber a estatueta. Deixou o cinema em 1950, aos 21 anos. Em 1972, diagnosticada com câncer de mama, foi uma das primeiras celebridades a falar abertamente sobre a doença. Embaixadora em Gana (1974-1976) e Tchecoslováquia (1989). De causas naturais aos 85 anos, em sua casa, na Califórnia. Na mesma data, Virgínia Lane, atriz, cantora e dançarina. De acordo com rumores, a “Vedete do Brasil” teve um caso com o então presidente Getúlio Vargas, após o sucesso da música “Sassaricando”. No cinema, fez várias comédias carnavalescas com Oscarito, Grande Otelo e Zé Trindade. Em 1951, protagonizou o primeiro nu (não frontal) no cinema nacional. Teve falência múltipla de órgãos aos 93 anos em Volta Redonda. 
24 de fevereiro – Harold Ramis, que dirigiu, atuou, roteirizou e/ou co-escreveu “Feitiço do tempo”, “Clube dos Pilantras”, “Férias frustradas”, “A Máfia no divã” e “A Máfia volta ao divã”, “Os caça-fantasmas” e sua seqüência “Os caça-fantasmas 2”. Aos 69 anos em Chicago, em decorrência de uma doença rara nos vasos sanguíneos.
5 de abril - José Wilker, de inúmeros personagens marcantes na TV e no cinema. De infarto aos 69 anos, no Rio de Janeiro.
29 de abril – Bob Hoskins, de “Uma Cilada para Roger Rabbit”, “Hook - A volta do Capitão Gancho”, “Super Mario Bros.” e “Circulo de Fogo”. Aposentou-se em 2012, com o mal de Parkinson. Em Londres, aos 71 anos.
30 de julho – Fausto Fanti, o “Renato” do programa “Hermes & Renato”, da MTV. Encontrado com um cinto enrolado no pescoço, em seu apartamento, em São Paulo. Tinha 35 anos de idade.
11 de agosto – Robin Williams: “Popeye” (1980), “Bom Dia Vietnã”, “Patch Adams”, “Jumanji”, “Uma Babá Quase Perfeita”, “Sociedade dos Poetas Mortos”, “Hook – a volta do Capitão Gancho”, “Uma Noite no Museu” e muitos outros. Oscar de ator coadjuvante por “Gênio Indomável” (1997) e vários outros prêmios, lutava contra o vício de cocaína e álcool, além da depressão. Tinha 63 anos e se enforcou em sua residência na Califórnia.
12 de agosto – Lauren Bacall, que tinha 89 anos e sofreu um derrame em casa. De beleza “clássica”, estrelou “À beira do abismo” (1946), “Paixões em fúria” (1948), e “Como agarrar um milionário” (1953).  Foi casada com Humphrey Bogart desde a década de 1940 até a morte dele, em 1957. Mais tarde se casou com o também ator Jason Robards. Em 2009, ganhou um Oscar honorário por sua participação na “era de ouro” de Hollywood.
4 de setembro - Joan Rivers, cuja longa carreira (de mais de cinco décadas) a tornou “rainha da comédia”. Foi também uma das primeiras mulheres a fazer stand up. Apresentava o programa “Fashion Police”, no canal pago de televisão E!. Dizia ter feito 734 cirurgias plásticas. Seu estilo cômico a fazia satirizar a si própria e outras celebridades. Aos 81 anos, em Nova York, após complicações de uma cirurgia nas cordas vocais.
10 de setembro - Richard Kiel, conhecido pelo seu papel de “Jaws” (“Dentes de Aço”) nos filmes de James Bond. Com 2,18 m de altura, chegou a ser cogitado para interpretar o Hulk na série de TV, mas foi substituído, pois os produtores o consideraram “gentil e afetuoso demais”. Aos 74 anos, em Fresno, de causas não reveladas.
4 de outubro - Hugo Carvana, que trabalhou em mais de cem filmes e novelas, desde 1955. Fez parte do movimento do Cinema Novo. Estreou nas novelas em 1975, com “Cuca Legal”. Deu vida ao malandro carioca, como em “Vai trabalhar, vagabundo”, de 1973. Tinha 77 anos e sofria de câncer no pulmão.
28 de novembro – Roberto Bolaños, comediante, escritor e diretor de TV mexicano, famoso por seus personagens “Chaves” e “Chapolim”.  Conhecido em seu país como “Chespirito” (uma alusão a Shakespeare), Chapolim estreou em 1970 e Chaves no ano seguinte, ainda como quadros do programa Chespirito. As séries bateram recordes de audiência e viraram programas próprios em 1973. A Televisa tentou contratar Bolaños, mas com a recusa do comediante decidiu comprar a emissora onde ele trabalhava e ampliar a rede. Os programas de ​Chespirito ficaram no ar durante quase 30 anos ininterruptos no México, e saíram do ar em 1995. Nos anos 1980, Silvio Santos comprou novelas mexicanas da Televisa e recebeu Chaves e Chapolim como brinde. As séries estrearam no SBT em 1984 e estão até hoje no ar, desbancando sucessos globais como Xuxa. Bolaños vivia em Cancún, México, com a mulher, Florinda Meza; sofria de problemas respiratórios e de locomoção, e respirava com um cilindro de oxigênio. Teve uma parada cardíaca, aos 85 anos.
18 de dezembro – Virna Lisi, uma das musas do cinema italiano nos anos 1960. Nascida Virna Pieralisi, alcançou o sucesso com “La Donna del Giorno” (1957), “Eva” (1962), e “A Tulipa Negra” (1963) com Alain Delon. Logo depois foi para disso onde chegou a ser considerada a nova Marilyn Monroe, e estrelou “Como Matar Sua Esposa” (1965), e “Assalto a um Transatlântico” (1966), com Frank Sinatra. A partir daí, passou a formar com Sofia Loren e Claudia Cardinale o trio das musas italianas. Premiada como melhor atriz no Festival de Cannes em 1994, por sua interpretação de Catarina de Médici em “A Rainha Margot”. Também fez teatro e TV, como na peça “Otello” de 1969. Seu último filme foi “O Mais Belo Dia de Nossas Vidas” (2002).  Faleceu em Roma, aos 78 anos.
Músicos:
5 de janeiro – Nelson Ned. “Tudo passará”, de 1969, foi um de seus grandes sucessos. Nos anos 1990, tornou-se evangélico. Em 2003, sofreu um acidente vascular cerebral que muito o debilitou, culminando com sua morte aos 66 anos, em São Paulo. 
20 de janeiro - Márcio Antonucci, da dupla “Os Vips”, que ganhou fama no tempo da “Jovem Guarda”. A dupla gravou várias versões de músicas do Beatles. 68 anos,teve infecção generalizada, em Angra dos Reis (RJ).
26 de fevereiro – Paco de Lucía, mestre da música flamenca. Tocava com tal rigor e perfeccionismo que é considerado o Mozart espanhol. Começou aos 7 anos, conhecido como “Paco, el de Lucía” (Paco, o filho de Lucía). Ganhou popularidade mundial por seus trabalhos com John McLaughlin, Al Di Meola, Larry Coryell e Cameron de La Isla.  Passava temporadas em Cancún, no México, onde sofreu um infarto aos 66 anos.
26 de fevereiro - Ernesto Paulella, advogado paulistano, aposentado, viúvo e estudioso de latim, mais conhecido como o “Arnesto” do samba composto por seu amigo Adoniran Barbosa. Ele faria cem anos em 15 de dezembro de 2014 e ainda morava no bairro do Brás, em São Paulo.
8 de maio - Jair Rodrigues. Com jeito brincalhão de malandro e voz potente, seu talento de intérprete ressoa até hoje com a canção “Disparada”, sensação no Festival da Música em 1966, e pela célebre parceria com Elis Regina. Em Cotia, interior de São Paulo, aos 75 anos.
30 de setembro - Jadir Ambrósio, compositor mineiro, autor do hino do Cruzeiro. Em 1965, participou de um concurso da rádio Inconfidência (antes disso, o clube não tinha uma música oficial): “Estava subindo a avenida Afonso Pena e em questão de cinco minutos fiz o hino”. E a canção teve aprovação imediata. “A diretoria estava reunida. Cheguei, mostrei o hino, e não teve vamos ver não. Gravei e começou assim”. Tinha 91 anos, e se tratava de doenças nos rins e no coração.
25 de outubro - Jack Bruce, ex-baixista da banda Cream, que formou com Eric Clapton e Ginger Baker, uma das mais importantes da história da música, com canções como “White Room” e “Sunshine of Your Love”. Tinha 71 anos, e a causa da morte, contudo, não foi divulgada.
22 de dezembro – Joe Cocker, cantor e compositor inglês. Dono de uma voz privilegiada, notabilizou-se por interpretar blues, e ganhou fama mundial ao cantar “Whit a Little Help From My Friends”, dos Beatles, em Woodstock (1969). Tinha 70 anos e sofria de câncer na garganta.
Escritores e jornalistas: 
8 de janeiro - Márcio Rubens Prado, um dos maiores cronistas esportivos de Minas e do Brasil. Em entrevista recente, revelou a frustração de não ter sido pianista e de nunca ver o seu América-MG campeão da Série A. De problemas cardíacos, aos 80 anos, em Belo Horizonte, com “o coração pisoteado pelas donas”, como costumava brincar.
17 de abril - Gabriel García Marquez, Nobel da Literatura em 1982. Tinha a saúde muito frágil, por conta de uma pneumonia. Aos 87 anos, na Cidade do México.
18 de julho – João Ubaldo Ribeiro. Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1994. Seu maior sucesso é o seu segundo livro, de 1971, “Sargento Getúlio”, consagrado como um marco do moderno romance brasileiro, comparável a Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. Aos 73 anos, de embolia pulmonar.
23 de julho – Ariano Suassuna. “O Auto da Compadecida”, sua obra mais famosa, é de 1955, e foi apresentada pela primeira vez no Recife, em 1957, sem grande sucesso. Mas anos depois virou especial de TV e filme. Nascido em 1927, em João Pessoa, cresceu no sertão paraibano e mudou-se com a família para Recife em 1942. Na década de 70, Suassuna defendia a criação de uma arte erudita nordestina com raízes populares. Foi membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura. Aposentou-se como professor da Universidade Federal de Pernambuco, e em 1990 tomou posse na Academia Brasileira de Letras. Mesmo com problemas de saúde, permanecia em plena atividade. Tinha 87 anos e sofreu um acidente vascular cerebral (AVC).
Religiosos:
30 de maio - Renê Pereira Feitosa, pastor, depois de 70 anos de trabalho ininterrupto na pregação, evangelização, ensino e implantação de igrejas no Brasil e em outros países. Juntamente com seus filhos, também pastores Reuel e Uziel, na década de 1970 fundou a Igreja Peniel em Belo Horizonte, conhecida por seu importante e pioneiro trabalho na recuperação dos hoje chamados “excluídos” – dependentes químicos, travestis, prostitutas, moradores de rua. Um dos pilares do movimento de renovação espiritual na Igreja Batista nos anos 1960, ao lado de Enéas Tognini, José Rego do Nascimento e Achilles Barbosa. Sua morte aconteceu no dia em que comemorava 75 anos de casamento. Em Campo Grande, Mato Grosso, aos 93 anos.
9 de novembro - Myles Munroe, pastor e palestrante, em um acidente aéreo nas Bahamas, onde residia. Com ele faleceram sua esposa Ruth, a filha de ambos, Charisa, e mais seis pessoas. Munroe era um dos expoentes do movimento “Palavra da Fé” e arrecadava fortunas em campanhas, seminários de liderança, venda de livros e palestras motivacionais em todo o mundo, alcançando 500 mil pessoas por ano. Esteve algumas vezes no Brasil a convite de Robson Rodovalho (da Igreja Sara Nossa Terra), a quem muito influenciou com sua teologia da prosperidade, e depois com Silas Malafaia, que o recebeu em seus programas e congressos e editou alguns de seus livros. Munroe enfatizava o Reino de Deus e defendia uma escatologia pós-milenista, que prega um reino paradisíaco de paz e amor universal ainda nesta era, num contexto triunfalista. Tinha compreensão nova-erista da divisão entre “Cristo” e “Jesus” (“Jesus foi a manifestação humana do Cristo celestial”, quando a sã doutrina ensina que em Cristo há uma só pessoa com duas naturezas, a divina e a humana). Bacharel em Artes e Educação, Belas Artes e Teologia, e Doutor Honorário pela Universidade Oral Roberts, e Mestre em Artes e Administração pela Universidade de Tulsa, Oficial do Império Britânico, outorgado pela Rainha da Inglaterra, e Jubileu de Prata do Governo de Bahamas, por sua contribuição ao crescimento do País. Foi autor ou co-autor de mais de 100 livros, 23 deles com ênfase na auto-ajuda, e autor de Bíblias “de estudo”. Escrevia para diversas revistas e jornais. Tinha 60 anos de idade.
Outras figuras:
3 de maio - Benedicta Finazza, conhecida como Mãe Diná, adivinhadora que ganhou fama ao supostamente prever o acidente com os Mamonas Assassinas em 1996. De falência múltipla dos órgãos, aos 83 anos, em São Paulo.
12 de maio - Hans Ruedi Giger, pintor surrealista, conhecido como H. R. Giger, o criador do “Alien” e cuja arte estampou a capa de discos de vários artistas como Emerson, Lake & Palmer, Debbie Harry, Celtic Frost, Danzig e Dead Kennedys. Com 74 anos, estava hospitalizado após cair na escada de sua casa em Zurique, na Suíça.
11 de setembro - Sebastião Pereira de Jesus, mais conhecido como Tião das Rendas, personagem folclórico de Minas Gerais. Desde 1981, levava ao ouvinte do rádio informações sobre público e renda do futebol, antes dos jogos, e se vangloriava por sempre acertar. Ficou famoso pelos bordões “olha o dinheiro do jogo” e “pupagante” (público pagante). Pela dicção ruim, quase sempre gerava dúvidas nos ouvintes e era necessário repetir. Tião chamava atenção pelas camisas coloridas, bem “berrantes”. Outra de suas atividades era a organização de bailes dançantes. Na Praça Sete, no coração de Belo Horizonte, participava de rodas de aposta de política, futebol e outros temas polêmicos. Em 2008, candidatou-se a vereador, sem sucesso. Tinha 70 anos.

Este longo obituário podia ser maior ainda. Estima-se que, atualmente, morrem mais de 50 milhões de pessoas por ano, em todo o mundo.
Isto nos faz parar para pensar.
Onde estaremos daqui a um ano?
Será que vamos fazer parte dessa longa lista de desaparecidos?
E se sim, será que deixaremos saudade? As pessoas sentirão falta de nós? Chorarão nossa perda?
E, caso não estejamos mais aqui, onde estaremos?
Vivendo uma nova, eterna e melhor vida ao lado de Jesus – como ele prometeu ao ladrão na cruz, “ainda hoje estarás comigo no paraíso”? Ou estaremos numa terrível expectativa de um julgamento do qual não sairemos com veredito favorável? Quantos desses mais de 5o milhões descansam em paz hoje? Quantos já sentem o calor e o cheiro de enxofre?
É para pensar. Pensar e agir, enquanto ainda temos o fôlego da vida e oportunidade para escolher onde queremos passar a Eternidade.

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