
Só que não é apenas o hindu que possui “vacas sagradas”.



E antes que me perguntem – e os evangélicos, hein?
Ah, esses são campeões.

Temos visto recentemente uma proliferação de “novas visões” que dão origem a “apóstolos”, “bispos” e “patriarcas”, dentre outras aberrações, quase sempre “auto-proclamados” ou “auto-ungidos”. Isto é, como não existe nada disto, o sujeito mesmo se outorga um título que ele ache mais bacana ou mais apropriado (igual ao pseudônimo do professor francês...), e a partir dali tudo tem que estar debaixo da sua “cobertura” – um conceito que não existe nas Escrituras. Prova disto é que, quando algum “discípulo” se rebela, não procura uma igreja, congregação ou denominação “normal”: via-de-regra ele sai e funda a sua própria empresa igreja, na qual evidentemente ele é o manda-chuva. E o ciclo se repete, o novo “bispo” ou seja lá o que for, agora é o “pai-de-todos”, e a “cobertura” passa a valer dele para baixo. Para cima não, ele é “o ungido” (mais um). Ninguém há acima dele. Você pode ver mais sobre isto aqui.

Mas até onde essa idéia de “ungido” é válida? Qual a base bíblica para essa “vaca sagrada”?
I Samuel 24:6, 9 conta que Davi, quando teve a oportunidade de matar Saul, “disse aos seus homens: o Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor, que eu estenda a minha mão contra ele, pois é o ungido do Senhor... Mas Davi respondeu a Abisai: Não o mates; pois quem pode estender a mão contra o ungido do Senhor, e ficar inocente?”
Aqui muitos se apegam, dizendo que mesmo que Saul estivesse agindo errado, Davi não tentou derrubá-lo nem permitiu que o atacassem. Pode até ser, pois Saul de fato fora ungido rei. Só que Davi não usou de violência contra Saul, mas nem por isso aceitou o mal que o rei fazia e nem tentou manter a imagem de Saul intacta. Pelo contrário, denunciou a injustiça em frente ao exército real; ele não se intimidou e abriu o verbo, dizendo: “Por que o meu senhor persegue tanto o seu servo? que fiz eu?... saiu o rei de Israel em busca duma pulga, como quem persegue uma perdiz nos montes”. E Saul caiu na real: “Agi como louco, errei grandissimamente” (I Samuel 26:18-21).
Quantos “líderes ungidos” hoje, “vacas sagradas” entronizadas em seus ministérios-feudos, se repreendidos publicamente, assumiriam seus erros?
Antes de blindar este ou aquele “ungido do Senhor”, precisamos saber o que era a unção no VT, para que servia, como era usada, pois há distinções entre aquela época e hoje, conforme se segue:
No Antigo Testamento tudo o que envolvia o culto era simbólico e provisório. A caminhada pelo deserto, o tabernáculo, o altar, o animal sacrificado, os sacerdotes. Tudo figurava as realidades definitivas que seriam estabelecidas por Jesus no Novo Testamento, quando, então, o Antigo Testamento seria superado.
A unção com óleo também era simbólica e provisória. O tabernáculo e a arca significavam a presença de Deus e o sacerdote era o mediador, santificado para isso. Os textos sobre a preparação e uso do óleo são muito claros. Em Êxodo 30:22-33 lemos sobre o “óleo sagrado da unção”, um preparado que não era somente o azeite da oliveira. No hebraico as palavras shemen (óleo), qodesh (separado para Deus, sagrado), e mishchah (consagração, unção para consagrar) mostram claramente que na unção com óleo objetos, lugares e pessoas eram especialmente consagrados, separados em santificação. Por isso, após a preparação, o óleo era aspergido sobre o tabernáculo, os móveis, o altar e os sacerdotes. Mas não podia, de maneira nenhuma, ser aplicado sobre o corpo de alguém; somente os sacerdotes podiam ser ungidos. Quem usasse do óleo de maneira diferente era banido do povo de Deus! Leia Êxodo 30:31-38.
Há quem diga que o óleo significa a presença do Espírito Santo, no entanto não encontramos tal ensinamento ou afirmativa nas Escrituras (fonte: http://entendaabiblia.blogspot.com/2008/ 10/h-muitos-desvios-praticados-no.html) . Talvez isto venha da interpretação de que Saul, ao ser ungido rei, veio sobre ele o Espírito, e profetizou. Mas como dissemos, essa unção era simbólica, provisória e externa, tanto que depois o Espírito se retirou de Saul e Deus escolheu outro para reinar.
Quantos hoje em dia já “perderam a unção”, mas ainda se acham o rei da cocada? Notem que eu não falo aqui da unção citada em Tiago 5:14, que obviamente é outro assunto.


2 - o derramamento do Espírito Santo
No VT o Espírito Santo agia de modo externo. Exemplos: Otniel (Juízes 3:10); Gideão (6:34); Jefté (11:29); Sansão (13:25; 14:6, 19; 15:19). O Espírito concedia a cada pessoa uma capacitação especial para o cumprimento de uma missão específica. Em Êxodo 35:30-36.1, O vemos capacitando Bezalel e Aoliabe para realizarem trabalhos no tabernáculo. Também os profetas recebiam capacitação para anunciarem, com ousadia e fidelidade, a Palavra de Deus, para orientação do povo (Ezequiel 11:5; Miquéias 3:8). Com “modo externo” queremos dizer capacitação para a realização de trabalhos, mas não uma ação interna e regeneradora. Embora alguns mostrem ser regenerados, como Davi, Ezequiel e Miquéias, em Saul a operação se limitou a conceder capacitação, sem ação regeneradora.
3 - a atuação do Espírito hoje
Após o derramamento do Espírito em Pentecostes ocorreram duas mudanças importantes:
a) Ele deixa de agir apenas sobre alguns indivíduos especialmente chamados para a realização de tarefas importantes e passa a agir em todos os membros do Corpo de Cristo, concedendo a cada um deles dons espirituais.
b) Antes o Espírito ficava no meio de Israel, porém no Novo Testamento Paulo diz que o Espírito mora dentro dos crentes (I Coríntios 3:16; 6:19), de modo que a bênção da nova aliança é maior que a da antiga. (fonte: http://3ipbcarapicuiba.blogspot.com/2011/07/o-derramamento-do-espirito-santo.html).
Assim, vemos que o Espírito é derramado sobre todos os crentes e não apenas sobre alguns escolhidos. Diferentemente dos tempos da Velha Aliança, hoje todos os membros do Corpo têm o discernimento e a capacidade de entender os propósitos de Deus e verificar se tal e qual ensino está de acordo com a Palavra (pelo menos teoricamente deveriam ter). Não existe um alguém que não podemos questionar ou confrontar, dentro da Palavra. Portanto, é lícito a qualquer crente, com base no correto entendimento da Palavra, questionar a quem quer que seja, pois o mesmo Espírito habita em todos, cf. I Coríntios 6:19; II Coríntios 4:13 e 12:18; e II Timóteo 1:14.
Por isso Paulo, mesmo se considerando o menor dos apóstolos, “um abortivo”, não hesitou em repreender “o maior dos apóstolos”, Pedro. Engraçado, quem diz que Pedro é o maior não conhece o que Jesus disse, “mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva” (Marcos 10:43). E ainda se acham “a verdadeira igreja”... Voltando, Paulo repreendeu Pedro “porque [Pedro] era repreensível” (Gálatas 2:11). Paulo não quis saber de unção, primazia etc.; Pedro pisou na bola, e foi confrontado, pronto, acabou.
Outros citam o Salmo 105: 22 ou I Crônicas 16: 22 (passagens paralelas), “Não toqueis os meus ungidos, e não façais mal aos meus profetas”. Mas se esquecem, convenientemente, do que vem antes: abandonam o contexto para criar um pretexto.
Vejamos toda a passagem de I Crônicas 16:
15 Lembrai-vos perpetuamente do seu pacto, da palavra que prescreveu para mil gerações;
16 do pacto que fez com Abraão, do seu juramento a Isaque,
17 o qual também a Jacó confirmou por estatuto, e a Israel por pacto eterno,
18 dizendo: A ti te darei a terra de Canaã, quinhão da vossa herança.
19 Quando eram poucos em número, sim, mui poucos, e estrangeiros na terra,
20 andando de nação em nação, e dum reino para outro povo,
21 a ninguém permitiu que os oprimisse, e por amor deles repreendeu reis,
22 dizendo: Não toqueis os meus ungidos, e não façais mal aos meus profetas.
Davi está falando de Israel, povo escolhido, separado e ungido por Deus, como profetas para testemunho a toda a humanidade. Não se aplica, portanto, a um homem superior aos outros com prerrogativa de ser intocável. O contexto é o retorno da arca, que estava com os filisteus. Foi nessa ocasião que Davi saiu dançando, outra passagem sagrada para os defensores da “dança profética” e dos “ministérios de dança”. Mas deixo isto para outra hora.

Infelizmente, a maioria descerebrada morre de medo de perder “a cobertura” e não ousa abrir a Bíblia como os de Beréia, “para ver se as coisas eram de fato assim” (Atos 16:10, 11).
Vem mais vaca por aí.
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