Por exemplo, os hindus têm uma veneração especial por vacas. Esse animal é para eles símbolo de abundância: numa região miserável, fornece o leite que sustenta e alimenta, importante opção na dieta vegetariana que adotam. Crêem que a vaca, por sua natureza gentil, calma e tolerante, possui uma figura matriarcal e dá muito ao homem não pedindo nada em troca. A vaca ocupa lugar de honra na sociedade hindu; daí o termo “vaca sagrada” para designar coisas inquestionáveis.
Só que não é apenas o hindu que possui “vacas sagradas”.
Os católicos, por exemplo, têm uma manada inteira de vacas sagradas. Toda uma coleção de itens que nem mesmo se pode falar a respeito. Mas eu falo, como aqui, aqui, aqui e aqui, e num monte de outras postagens. Por isso não vou falar de novo, pelo menos por enquanto.
Os espíritas ficam possessos (pleonasmo?) quando se questiona sua questionável (é isso mesmo, pode colocar o “sic”) doutrina. Nada há que possa dar a seus dogmas o rótulo de “científicos”, como querem. Dizem que não é religião, mas uma ciência... uma ciência que não prova nada, diga-se de passagem. É um credo sim, uma religião, doa a quem doer. Nada tem de científica. O inventor dessa crença atendia pelo nome artístico de Allan Kardec, na verdade um francês chamado Hypollite Leon Denizard Rivail (engraçado, um nome tão bacana desse e o cara quis inventar outro; parece que tinha mesmo o dom da invenção).
Segundo algumas fontes, o pseudônimo foi escolhido depois que um “espírito” revelou-lhe que haviam vivido juntos entre os druidas (hmmmmm) na Gália antiga, e que então Hypollite se chamava “Allan Kardec”. Bem capaz mesmo de isso ser nome de druida gaulês... O que se sabe é que hoje o cara é intocável, tido como uma verdadeira sumidade, no mesmo pé de igualdade que o papa de Roma e o lama do Tibete. Ai de quem ousar duvidar de suas palavras iluminadas. Deixa ele pra depois, outra hora destrinchamos suas vacas.
E antes que me perguntem – e os evangélicos, hein?
Ah, esses são campeões.
Têm várias vacas sagradas, a chafurdar principalmente entre as muitas “vaquinhas de presépio” que ficam caladas, balançando a cabeça sem dizer nada. Uma “vaca sagrada”, que não admite questionamento, é o chamado “líder”, “o que tem a visão”, o “fundador do ministério”.
Temos visto recentemente uma proliferação de “novas visões” que dão origem a “apóstolos”, “bispos” e “patriarcas”, dentre outras aberrações, quase sempre “auto-proclamados” ou “auto-ungidos”. Isto é, como não existe nada disto, o sujeito mesmo se outorga um título que ele ache mais bacana ou mais apropriado (igual ao pseudônimo do professor francês...), e a partir dali tudo tem que estar debaixo da sua “cobertura” – um conceito que não existe nas Escrituras. Prova disto é que, quando algum “discípulo” se rebela, não procura uma igreja, congregação ou denominação “normal”: via-de-regra ele sai e funda a sua própria empresa igreja, na qual evidentemente ele é o manda-chuva. E o ciclo se repete, o novo “bispo” ou seja lá o que for, agora é o “pai-de-todos”, e a “cobertura” passa a valer dele para baixo. Para cima não, ele é “o ungido” (mais um). Ninguém há acima dele. Você pode ver mais sobre isto aqui.
E aí surge outra “vaca sagrada”. A tropa de choque, adeptos que estão sob a sua “cobertura” (eu prefiro dizer sob a sua influência ou domínio), a turma toda saca logo a passagem “não toqueis no ungido do Senhor”, para blindar o chefe. E as heresias, “novas visões”, “novo mover”, o “novo de Deus”, continuam surgindo em cascata, sem nenhum tipo de oposição ou questionamento.
Mas até onde essa idéia de “ungido” é válida? Qual a base bíblica para essa “vaca sagrada”?
I Samuel 24:6, 9 conta que Davi, quando teve a oportunidade de matar Saul, “disse aos seus homens: o Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor, que eu estenda a minha mão contra ele, pois é o ungido do Senhor... Mas Davi respondeu a Abisai: Não o mates; pois quem pode estender a mão contra o ungido do Senhor, e ficar inocente?”
Aqui muitos se apegam, dizendo que mesmo que Saul estivesse agindo errado, Davi não tentou derrubá-lo nem permitiu que o atacassem. Pode até ser, pois Saul de fato fora ungido rei. Só que Davi não usou de violência contra Saul, mas nem por isso aceitou o mal que o rei fazia e nem tentou manter a imagem de Saul intacta. Pelo contrário, denunciou a injustiça em frente ao exército real; ele não se intimidou e abriu o verbo, dizendo: “Por que o meu senhor persegue tanto o seu servo? que fiz eu?... saiu o rei de Israel em busca duma pulga, como quem persegue uma perdiz nos montes”. E Saul caiu na real: “Agi como louco, errei grandissimamente” (I Samuel 26:18-21).
Quantos “líderes ungidos” hoje, “vacas sagradas” entronizadas em seus ministérios-feudos, se repreendidos publicamente, assumiriam seus erros?
Antes de blindar este ou aquele “ungido do Senhor”, precisamos saber o que era a unção no VT, para que servia, como era usada, pois há distinções entre aquela época e hoje, conforme se segue:
No Antigo Testamento tudo o que envolvia o culto era simbólico e provisório. A caminhada pelo deserto, o tabernáculo, o altar, o animal sacrificado, os sacerdotes. Tudo figurava as realidades definitivas que seriam estabelecidas por Jesus no Novo Testamento, quando, então, o Antigo Testamento seria superado.
A unção com óleo também era simbólica e provisória. O tabernáculo e a arca significavam a presença de Deus e o sacerdote era o mediador, santificado para isso. Os textos sobre a preparação e uso do óleo são muito claros. Em Êxodo 30:22-33 lemos sobre o “óleo sagrado da unção”, um preparado que não era somente o azeite da oliveira. No hebraico as palavras shemen (óleo), qodesh (separado para Deus, sagrado), e mishchah (consagração, unção para consagrar) mostram claramente que na unção com óleo objetos, lugares e pessoas eram especialmente consagrados, separados em santificação. Por isso, após a preparação, o óleo era aspergido sobre o tabernáculo, os móveis, o altar e os sacerdotes. Mas não podia, de maneira nenhuma, ser aplicado sobre o corpo de alguém; somente os sacerdotes podiam ser ungidos. Quem usasse do óleo de maneira diferente era banido do povo de Deus! Leia Êxodo 30:31-38.
Há quem diga que o óleo significa a presença do Espírito Santo, no entanto não encontramos tal ensinamento ou afirmativa nas Escrituras (fonte: http://entendaabiblia.blogspot.com/2008/ 10/h-muitos-desvios-praticados-no.html) . Talvez isto venha da interpretação de que Saul, ao ser ungido rei, veio sobre ele o Espírito, e profetizou. Mas como dissemos, essa unção era simbólica, provisória e externa, tanto que depois o Espírito se retirou de Saul e Deus escolheu outro para reinar.
Quantos hoje em dia já “perderam a unção”, mas ainda se acham o rei da cocada? Notem que eu não falo aqui da unção citada em Tiago 5:14, que obviamente é outro assunto.
Há quem diga que o óleo significa a presença do Espírito Santo, no entanto não encontramos tal ensinamento ou afirmativa nas Escrituras (fonte: http://entendaabiblia.blogspot.com/2008/ 10/h-muitos-desvios-praticados-no.html) . Talvez isto venha da interpretação de que Saul, ao ser ungido rei, veio sobre ele o Espírito, e profetizou. Mas como dissemos, essa unção era simbólica, provisória e externa, tanto que depois o Espírito se retirou de Saul e Deus escolheu outro para reinar.
Quantos hoje em dia já “perderam a unção”, mas ainda se acham o rei da cocada? Notem que eu não falo aqui da unção citada em Tiago 5:14, que obviamente é outro assunto.
2 - o derramamento do Espírito Santo
No VT o Espírito Santo agia de modo externo. Exemplos: Otniel (Juízes 3:10); Gideão (6:34); Jefté (11:29); Sansão (13:25; 14:6, 19; 15:19). O Espírito concedia a cada pessoa uma capacitação especial para o cumprimento de uma missão específica. Em Êxodo 35:30-36.1, O vemos capacitando Bezalel e Aoliabe para realizarem trabalhos no tabernáculo. Também os profetas recebiam capacitação para anunciarem, com ousadia e fidelidade, a Palavra de Deus, para orientação do povo (Ezequiel 11:5; Miquéias 3:8). Com “modo externo” queremos dizer capacitação para a realização de trabalhos, mas não uma ação interna e regeneradora. Embora alguns mostrem ser regenerados, como Davi, Ezequiel e Miquéias, em Saul a operação se limitou a conceder capacitação, sem ação regeneradora.
3 - a atuação do Espírito hoje
Após o derramamento do Espírito em Pentecostes ocorreram duas mudanças importantes:
a) Ele deixa de agir apenas sobre alguns indivíduos especialmente chamados para a realização de tarefas importantes e passa a agir em todos os membros do Corpo de Cristo, concedendo a cada um deles dons espirituais.
b) Antes o Espírito ficava no meio de Israel, porém no Novo Testamento Paulo diz que o Espírito mora dentro dos crentes (I Coríntios 3:16; 6:19), de modo que a bênção da nova aliança é maior que a da antiga. (fonte: http://3ipbcarapicuiba.blogspot.com/2011/07/o-derramamento-do-espirito-santo.html).
Assim, vemos que o Espírito é derramado sobre todos os crentes e não apenas sobre alguns escolhidos. Diferentemente dos tempos da Velha Aliança, hoje todos os membros do Corpo têm o discernimento e a capacidade de entender os propósitos de Deus e verificar se tal e qual ensino está de acordo com a Palavra (pelo menos teoricamente deveriam ter). Não existe um alguém que não podemos questionar ou confrontar, dentro da Palavra. Portanto, é lícito a qualquer crente, com base no correto entendimento da Palavra, questionar a quem quer que seja, pois o mesmo Espírito habita em todos, cf. I Coríntios 6:19; II Coríntios 4:13 e 12:18; e II Timóteo 1:14.
Por isso Paulo, mesmo se considerando o menor dos apóstolos, “um abortivo”, não hesitou em repreender “o maior dos apóstolos”, Pedro. Engraçado, quem diz que Pedro é o maior não conhece o que Jesus disse, “mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva” (Marcos 10:43). E ainda se acham “a verdadeira igreja”... Voltando, Paulo repreendeu Pedro “porque [Pedro] era repreensível” (Gálatas 2:11). Paulo não quis saber de unção, primazia etc.; Pedro pisou na bola, e foi confrontado, pronto, acabou.
Outros citam o Salmo 105: 22 ou I Crônicas 16: 22 (passagens paralelas), “Não toqueis os meus ungidos, e não façais mal aos meus profetas”. Mas se esquecem, convenientemente, do que vem antes: abandonam o contexto para criar um pretexto.
Vejamos toda a passagem de I Crônicas 16:
15 Lembrai-vos perpetuamente do seu pacto, da palavra que prescreveu para mil gerações;
16 do pacto que fez com Abraão, do seu juramento a Isaque,
17 o qual também a Jacó confirmou por estatuto, e a Israel por pacto eterno,
18 dizendo: A ti te darei a terra de Canaã, quinhão da vossa herança.
19 Quando eram poucos em número, sim, mui poucos, e estrangeiros na terra,
20 andando de nação em nação, e dum reino para outro povo,
21 a ninguém permitiu que os oprimisse, e por amor deles repreendeu reis,
22 dizendo: Não toqueis os meus ungidos, e não façais mal aos meus profetas.
Davi está falando de Israel, povo escolhido, separado e ungido por Deus, como profetas para testemunho a toda a humanidade. Não se aplica, portanto, a um homem superior aos outros com prerrogativa de ser intocável. O contexto é o retorno da arca, que estava com os filisteus. Foi nessa ocasião que Davi saiu dançando, outra passagem sagrada para os defensores da “dança profética” e dos “ministérios de dança”. Mas deixo isto para outra hora.
Assim como a impertinência das “novas unções”: tem unção da unidade, unção da coragem, da prosperidade, da criatividade, da conquista, da vitória, do riso, da alegria (referências ao Salmo 45:7 e Isaías 61:3, que só podem e devem ser entendidas em sentido figurado)... complicado, isso. Por enquanto, creio que basta para provar que o conceito “não toqueis no ungido do Senhor”, da forma que é usado em alguns círculos evangélicos, não passa de uma falácia, para proteger “líderes” questionáveis de confrontos que eles não desejam, para não verem expostos seus erros.
Infelizmente, a maioria descerebrada morre de medo de perder “a cobertura” e não ousa abrir a Bíblia como os de Beréia, “para ver se as coisas eram de fato assim” (Atos 16:10, 11).
Vem mais vaca por aí.
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