Símbolos,
tipos e figuras de linguagem
Para se compreender devidamente a linguagem bíblica, certas particularidades precisam ser examinadas com cuidado. Os tipos, por exemplo, devem ser interpretados com base nas características similares, isto é, devemos confrontar o tipo e o seu antítipo para entendê-los corretamente. Um tipo sempre tem um antítipo, e são semelhantes em pelo menos um aspecto. Adão era um tipo do qual Cristo era o antítipo; mas não seríamos capazes de julgar em quais aspectos enquanto o próprio Cristo não viesse. Da mesma forma Eva é um tipo da Igreja, mas isso só pôde ser entendido quando surgiu a Igreja. As sete igrejas de Apocalipse também são tipos das congregações cristãs que surgiram no mundo desde a era apostólica. Mas só recentemente esse entendimento se tornou claro.
Outra figura é o antropomorfismo,
onde características humanas são atribuídas a Deus para nos ajudar a
entendê-Lo. Por exemplo, Gênesis 11:5: “O Senhor desceu para ver a cidade e a torre” [de Babel]. Isso é um antropocentrismo, porque não parece
provável que Deus, onisciente, viajaria do céu a Babel para investigar o que as
pessoas estavam construindo! Muitos acadêmicos consideram antropocentrismo todas
as menções sobre “partes de Deus”, como mãos, pés, olhos e cabelo. Com certeza,
eles dizem, o Deus todo-poderoso não teria tais partes como os humanos. Nem
asas... Mas vemos que Moisés, Arão,
Nadabe e Abiú “viram o Deus de Israel, e debaixo de Seus pés havia
como que uma calçada de pedra de safira, que parecia com o próprio céu na sua
pureza. Deus, porém, não estendeu a Sua mão contra os nobres dos filhos
de Israel” (Êxodo 24:9-11). Se você
perguntasse a Moisés se Deus tinha pés e mãos, o que ele diria?
Para se compreender devidamente a linguagem bíblica, certas particularidades precisam ser examinadas com cuidado. Os tipos, por exemplo, devem ser interpretados com base nas características similares, isto é, devemos confrontar o tipo e o seu antítipo para entendê-los corretamente. Um tipo sempre tem um antítipo, e são semelhantes em pelo menos um aspecto. Adão era um tipo do qual Cristo era o antítipo; mas não seríamos capazes de julgar em quais aspectos enquanto o próprio Cristo não viesse. Da mesma forma Eva é um tipo da Igreja, mas isso só pôde ser entendido quando surgiu a Igreja. As sete igrejas de Apocalipse também são tipos das congregações cristãs que surgiram no mundo desde a era apostólica. Mas só recentemente esse entendimento se tornou claro.
Os símbolos, por outro lado, podem
ser entendidos antes de seu cumprimento, desde que seu sentido seja indicado de
algum modo. Em Apocalipse, por exemplo, temos os candeeiros e as estrelas (1:20),
as bestas que saem da terra e do mar (cap. 13), a mulher vestida de escarlate (cap.
17). Cada um desses elementos tem sua explicação própria e podem ser decodificados.
Às vezes a linguagem literal é
mais difícil de entender do que a linguagem figurada, pois os profetas
precisaram usar palavras de seu próprio tempo para descrever coisas que só
existiriam no futuro, e com o tempo, as palavras mudaram de sentido, mas os
símbolos não. Há termos que parecem símbolos (como em Apocalipse), em que
muitos estudiosos se enrolam ao desconsiderar que João foi a um lugar onde
nunca havia estado antes, e viu coisas que nunca havia visto na Terra. Essas
coisas precisavam ser explicadas com palavras: coisas reais, mas não terrenas.
Os cavaleiros, por exemplo, não são símbolos, mas algo que correspondia aos
meios de locomoção de um exército da época. Trombetas, taças, vestes, coroas,
tronos, são todos reais;
mas quando os virmos talvez não os achemos parecidos com objetos feitos na Terra. Não conhecemos nem uma palavra celestial sequer. O melhor que João pôde fazer, em Apocalipse, foi encontrar algo que correspondesse o mais próximo possível ao que ele via, expressando realidades celestes com palavras terrenas. Mar de vidro, por exemplo (4:6 e 15:2).
mas quando os virmos talvez não os achemos parecidos com objetos feitos na Terra. Não conhecemos nem uma palavra celestial sequer. O melhor que João pôde fazer, em Apocalipse, foi encontrar algo que correspondesse o mais próximo possível ao que ele via, expressando realidades celestes com palavras terrenas. Mar de vidro, por exemplo (4:6 e 15:2).
Mas algumas dicas nos ajudam a elucidar a
linguagem simbólica. Uma delas é que a ação é sempre literal. Somente o sujeito
da ação é simbólico. Basta você descobrir o significado do símbolo e aplicar a
ação. Por exemplo, em Mateus 13,
a pessoa ou o que a mulher representa, pegou o que o
fermento representa e colocou no que a farinha representa. Em Apocalipse 12, a pessoa ou aquilo que a
mulher representa, deu à luz ao que o filho representa, e o que esse filho
representa foi arrebatado ao céu. Para interpretar corretamente passagens
simbólicas, é preciso entender um pouco sobre a natureza dos símbolos como um
todo.
Os alegoristas acusam os literalistas de
serem preguiçosos e preferirem a interpretação literal para
poupar esforço. Mas desde o século II, com a escola de Antioquia, e durante
a Idade Média, com os valdenses e anabatistas, o
alegorismo tem sido rejeitado. Mesmo entre os “pais da igreja”, Teodoro
de Mopsuéstia (350-428), Crisóstomo (354-407), Teodoreto (386-458),
e Diodoro de Tarso: “Os livros de
Diodoro de Tarso foram dedicados a uma exposição das Escrituras em seu sentido
literal, e ele escreveu um tratado, agora lamentavelmente perdido, sobre a
diferença entre alegoria e o modo espiritualizado de se ver [a Bíblia]” (F.W. Farrar, History of Interpretation, pp. 213
-15).
William Tyndale, o tradutor da primeira Bíblia em inglês, a partir do grego e do hebraico, no século XVI, disse: “A Escritura tem apenas um sentido, que é o sentido literal. E este sentido literal é a raiz e o fundamento de tudo, e a âncora que nunca falha; se te ligares a ela, nunca poderás errar ou ir para fora do caminho. E se tu deixas o sentido literal, tu não podes ir senão para fora do caminho. Sim, as Escrituras usam provérbios, similitudes, enigmas, ou alegorias, como todos os outros discursos usam; mas o que os provérbios, similitudes, enigmas, ou alegorias significam, é algo em adição ao sentido literal, que deves procurar diligentemente” (citado por Charles Briggs em Introduction to the Study of Holy Scripture, pp. 456-57).
William Tyndale, o tradutor da primeira Bíblia em inglês, a partir do grego e do hebraico, no século XVI, disse: “A Escritura tem apenas um sentido, que é o sentido literal. E este sentido literal é a raiz e o fundamento de tudo, e a âncora que nunca falha; se te ligares a ela, nunca poderás errar ou ir para fora do caminho. E se tu deixas o sentido literal, tu não podes ir senão para fora do caminho. Sim, as Escrituras usam provérbios, similitudes, enigmas, ou alegorias, como todos os outros discursos usam; mas o que os provérbios, similitudes, enigmas, ou alegorias significam, é algo em adição ao sentido literal, que deves procurar diligentemente” (citado por Charles Briggs em Introduction to the Study of Holy Scripture, pp. 456-57).
As
Escrituras, como toda literatura, usam figuras de
linguagem, que devem ser entendidas como tais. Uma metáfora é uma comparação de
similaridades entre duas coisas diferentes, como nas palavras de Cristo durante
a última ceia: “Tomem e
comam; isto é o meu corpo”. Em
seguida tomou o cálice: “Bebam dele
todos. Isto é o meu sangue da aliança”
(Mateus 26:26-28). Jesus quis dizer que o pão era literalmente Seu
corpo e o vinho era literalmente Seu sangue? O
senso comum nos diz: não. As Escrituras nos dizem claramente que era pão e vinho
que Jesus distribuiu, e não diz nada sobre eles terem se transformado
literalmente em carne e sangue em algum ponto. Nem Pedro nem João, presentes na
última ceia, reportaram tal coisa em suas epístolas, o que seria algo realmente
digno de nota! Tertuliano, no livro quarto contra Marcião, explica estas palavras assim: “este é o sinal e a figura do meu corpo”. Para o próprio Agostinho, que como vimos aqui, era um dos mestres da interpretação alegórica, na Ceia Jesus nos deu “apenas o sinal de seu corpo”. A Confissão da Guanabara diz: “não devemos imaginar nada de carnal e nem nos distrair no pão e no vinho, que nos são neles propostos por sinais, mas levantar nossos espíritos ao céu para contemplar pela fé o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus, sentado à destra de Deus, seu Pai”.
Alguns argumentam: “Mas Jesus disse que o pão e o
vinho eram Seu corpo e sangue, então eu vou acreditar no que Jesus disse”!
Mas Jesus também disse que Ele era a porta (João 10:9). Ele literalmente se
transformou em uma porta com dobradiças e uma maçaneta? Jesus disse que era uma
videira e que nós éramos os ramos (João 15:5). Ele literalmente se transformou
em uma videira? Nós nos tornamos literalmente em ramos de videira? Jesus disse
que era a luz do mundo e o pão que veio do céu (João 9:5; 6:41). Jesus também é
a luz do sol e um pedaço de pão? Claramente, são figuras de linguagem – metáforas
– uma comparação de coisas diferentes que guardam algumas similaridades. De
algum modo, Jesus era como uma
porta e uma videira; o vinho era como Seu sangue (em alguns pontos), e o pão era como Seu corpo (de certa forma).
As parábolas são símiles, e sempre
trazem a palavra como. Elas
ensinam lições espirituais pela semelhança entre duas idéias. Precisamos nos
lembrar disso; senão vamos cometer o erro de procurar significado em cada
detalhe (como Orígenes na parábola do samaritano!). Há um ponto onde as
similaridades acabam. Por exemplo, se eu disser à minha esposa: “Seus olhos são
como lagos”, eu quero dizer que seus olhos são azuis, profundos e convidativos,
e não que peixes nadam neles!
Outro exemplo de símile: “O Reino dos
céus é ainda como uma rede que é lançada ao mar e apanha toda
sorte de peixes. Quando está cheia, os pescadores a puxam para a praia. Então
se assentam e juntam os peixes bons em cestos, mas jogam fora os ruins. Assim
acontecerá no fim desta era. Os anjos virão, separarão os perversos dos justos
e lançarão aqueles na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 13:47-50).
O céu e uma rede não são a mesma coisa. Mas assim como os peixes são separados em bons e ruins, assim será no reino de Deus. Um
dia o perverso e o justo, que agora estão juntos, serão separados. Mas não podemos
ir além da intenção do orador, assumindo que as diferenças são semelhanças.
Peixes são selecionados se
são comestíveis ou não. Pessoas são julgadas por sua obediência ou desobediência a Deus. Por outro lado, os “peixes bons” acabam fritos ou assados, e os “ruins” voltam para a água... mas Jesus não mencionou isso!
Teria ido contra Seu propósito. Os discípulos entenderam a lição (v. 51): os
justos herdarão o
reino de Deus e os perversos serão lançados no inferno, assim como os peixes bons são separados e os peixes ruins são jogados fora.
Essa parábola não ensina uma “estratégia de evangelismo”, onde tentamos arrastar todos para dentro da igreja, bons ou ruins,
queiram eles vir ou não, ou estratégias para atrair o povo à igreja! Ela não
ensina que é melhor ir evangelizar na praia. Não diz que o arrebatamento será no
fim da tribulação. Não ensina que a salvação é uma escolha puramente divina de
Deus porque os peixes não fizeram nada para serem escolhidos e nem decidiram por si. Via de regra as
parábolas sempre vêm junto com seu significado (por exemplo, o joio e o trigo,
o semeador etc.). Não force
significados às parábolas!
A hipérbole (um “exagero” intencional) é outra figura de linguagem. Quando uma mãe
diz ao filho: “Eu te chamei mil vezes”, é uma hipérbole. Na Bíblia: “E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e
lance-a fora” (Mateus 5:30). Se Jesus quis dizer
literalmente que todos que pecassem devessem cortar a mão, então todos seríamos
manetas! Mas não, Jesus está nos ensinando que o pecado pode nos mandar para o
inferno, e evitamos isso removendo tentações e coisas que nos façam tropeçar,
mesmo que nos pareçam importantes. Como vimos, Orígenes não soube interpretar
corretamente esta passagem.
O profeta Daniel também teve uma visão de Deus: “Enquanto
eu olhava, tronos foram colocados, e um ancião [Deus] se
assentou. Sua veste era branca como a neve; o cabelo era
branco como a lã. Seu trono era envolto em fogo” etc. (Daniel 7:9-10). Se você perguntasse a Daniel se Deus tinha cabelo e
uma forma pela qual Ele pode sentar em um trono, o que ele diria? Deus Pai tem
uma forma gloriosa que é de certa forma similar a forma de um ser humano, mesmo
Ele não sendo carne e sangue, e sim espírito (João 4:24).
Então devemos rejeitar o alegorismo? Em parte sim, porque
Deus deu as Escrituras para revelar a verdade ao homem, não para
ocultá-la. A Bíblia foi dada para trazer luz, não confusão. “As coisas
encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos
pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as
palavras desta lei” (Deuteronômio 29:29). Assim, nas
Escrituras, Deus usa as regras normais da linguagem humana. O homem é
feito à imagem de Deus, e assim foi dotado de habilidades comunicativas. O
primeiro objetivo da linguagem humana é que o homem possa conhecer e se
comunicar com Deus. Logo depois que Adão foi criado, não havia outros
seres humanos com quem ele pudesse falar. Adão falava apenas com Deus, e é
razoável supor que Deus desse ao homem a habilidade lingüística para que este
pudesse comunicar-se com seu Criador de forma eficiente [completamente
precisa].
Além do mais, as profecias sempre foram cumpridas literalmente (também neste link). Existem apenas duas situações, em todo o Novo Testamento, onde o método alegórico foi aplicado (I Coríntios 10 e Gálatas 4). São os únicos casos que mostram eventos do Velho Testamento como alegorias, sob a ótica do Novo Testamento. No entanto, é totalmente diferente do que pregam os alegoristas, porque Paulo assume a existência literal de Hagar, Sara, a nuvem, o Sinai etc. Ele os cita como alegorias apenas para fins de ilustração, e nunca interpretou a profecia alegoricamente: tribulação literal (I Tessalonicenses 5:1-3), anticristo literal (II Tessalonicenses 2:8-12), ressurreição literal (I Coríntios 15), literal retorno de Cristo (I Tessalonicenses 3:13, 4:14), reino literal (II Timóteo 4:1), literal cumprimento de promessas de Israel (Romanos 11:25-27).
Além do mais, as profecias sempre foram cumpridas literalmente (também neste link). Existem apenas duas situações, em todo o Novo Testamento, onde o método alegórico foi aplicado (I Coríntios 10 e Gálatas 4). São os únicos casos que mostram eventos do Velho Testamento como alegorias, sob a ótica do Novo Testamento. No entanto, é totalmente diferente do que pregam os alegoristas, porque Paulo assume a existência literal de Hagar, Sara, a nuvem, o Sinai etc. Ele os cita como alegorias apenas para fins de ilustração, e nunca interpretou a profecia alegoricamente: tribulação literal (I Tessalonicenses 5:1-3), anticristo literal (II Tessalonicenses 2:8-12), ressurreição literal (I Coríntios 15), literal retorno de Cristo (I Tessalonicenses 3:13, 4:14), reino literal (II Timóteo 4:1), literal cumprimento de promessas de Israel (Romanos 11:25-27).
Por tudo isso o método literal de
interpretação da Bíblia é preferível e normal, pois é o modo pelo qual a
linguagem humana é comumente interpretada. Deus tem revelado a Sua verdade
através dos meios normais da linguagem humana. O sentido literal normal
da Escritura deve prevalecer, a não ser que o contexto indique claramente que o
sentido é simbólico. Veremos isso quando falarmos sobre os animais puros e impuros, mais adiante, onde muito mais que informações biológicas e de zoologia, há uma lição espiritual para nós, hoje.
Arthur E. Bloomfield, “O Futuro
glorioso do Planeta Terra”, Ed. Betânia, 6ª Ed., 1987; Christopher A. Hall, “Lendo as
Escrituras com os Pais da Igreja”, Ed. Ultimato, 2000
488.750
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