Vimos antes que, por duas vezes,
durante mais de quatro séculos cada uma, parecia que Deus estava ausente. Na primeira vez, enquanto o povo sofria nas
mãos do Faraó egípcio, muitos talvez dissessem que a promessa da Terra
Prometida era uma ilusão. Se fossem olhadas apenas as circunstâncias, muita
gente talvez perdesse a fé. Pode ser esta a razão de tantos hebreus, ao saírem
sob a liderança de Moisés, ainda sentirem saudade das cebolas do Egito.
Acostumaram-se com a comida, com as músicas, com as (poucas) roupas. Estavam
adaptados, integrados, e por isso tiveram saudades das cheias anuais do rio
Nilo, que traziam a prosperidade passageira e a crença ilusória nas forças da
natureza. Não entendiam ainda o que era depender do maná que cairia dos céus,
de maneira sobrenatural. E em vez de entender que o silêncio de Deus era, de
fato, o tempo em que o Senhor preparava a terra de Canaã para recebê-los, se
desapontaram e logo se voltaram para o bezerro de ouro.
Na segunda vez, ao findar o livro
do profeta Malaquias, cessou a revelação profética por quatrocentos e trinta
anos, o mesmo tempo em que os antigos viveram no Egito. Somente com João Batista,
cerca do ano 30 da era Cristã, é que o povo ouviu outra vez um profeta da parte
de Deus. Por isso talvez muitos pensaram que era Elias retornando, o mesmo que
não havia passado pela morte, pois fora arrebatado num carro de fogo. Alguns
poucos, ainda movidos pela esperança do Messias, indagaram a João se era ele o
que havia de vir. Mas a maioria dos judeus estava preocupada com outras coisas:
os impostos que deviam ser pagos a César, e o medo das revoltas que aconteciam de
tempos em tempos, desde a época dos Macabeus, e que invariavelmente acabavam
com execuções públicas. A magnificência do Templo herodiano era um alívio, pois
restaurava um pouco do orgulho nacional, ao mesmo tempo que era mais uma carga
a ser sustentada com as ofertas compulsórias recolhidas por um sacerdócio cada
vez mais corrupto e comprometido com as autoridades. Poucos ainda descansavam
nas promessas. Esses
viram a vinda do Filho de Deus. Simeão, Natanael, Ana, e mesmo os magos do
Oriente, não se deixaram impressionar pela grandiosidade de Roma, pelo fausto
de Herodes, pela magnificência do Templo. Não estavam nem aí para a erudição
dos fariseus, para o humanismo e a modernidade dos saduceus; não se
contaminaram com a cultura dominante e “chique” dos gregos; não foram seduzidos
pelo poder como os herodianos. Não “esfriaram” durante os quatro séculos de
“silêncio profético”.
Eram homens e mulheres espirituais que procuravam
nas Escrituras a verdade. Por isso, o nascimento do Messias passou
despercebido da maioria das pessoas. Naqueles dias, depois de
Malaquias e antes de aparecer João Batista pregando no deserto, poucos judeus
esperavam um messias sofredor. Poucos estavam atentos ao cumprimento
das profecias. Como nos dias de Moisés, Deus até podia estar em
silêncio, mas estava trabalhando, preparando Israel – e o mundo – para a vinda
do Salvador.
Cristo veio ao mundo nos dias do Império Romano. O mundo
civilizado de então – pelo menos na porção ocidental – vivia sob um governo
único, uma lei universal. Era possível obter cidadania romana, ainda que a
pessoa não fosse romana de nascimento. O Império Romano mostrou as tendências
de unificar os povos de raças diferentes numa organização política. Na plenitude dos tempos, quando a maior parte do mundo
ficou sob uma lei e um governo, e todo o mundo falou a mesma língua
diariamente, Cristo veio, cumprindo as profecias. O mundo foi preparado para a
vinda de Cristo. O Apóstolo Paulo escreveu: “Mas
vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu filho” (Gálatas 4:4). Marcos afirmou o mesmo, dizendo: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo” (Marcos 1:15). E não é o que está em curso
novamente? Muitos que desdenham o dispensacionalismo e o arrebatamento
pré-tribulacional fingem não enxergar os sinais do arrebatamento e da segunda
vinda de Cristo. Havia paz na terra quando Cristo nasceu. Os soldados romanos
asseguravam a paz nas estradas da Europa, Ásia, e norte da África. Assim também
ocorrerá quando vier o Filho do Homem (I Tessalonicenses 5:3). A medida dos
cananeus está quase completa! Veja Gênesis
15:16.
Quando a Bíblia foi traduzida para o latim, foi usada uma versão adulterada
da “Septuaginta”, com a
inclusão de livros apócrifos que não faziam parte das Escrituras Hebraicas, dando
a impressão que esses acréscimos também fossem divinamente inspirados. É por
isso que muitos ateus e “intelectuais”, confundindo os profetas originais com
os anexos lendários dos quais falamos antes, dizem, por exemplo, que o livro de
Daniel foi escrito nessa época, depois das profecias já cumpridas. E que o
escritor de Esdras e Neemias é o mesmo da “Sabedoria de Salomão”, um livro
apócrifo claramente inspirado em idéias helenísticas. E depois, com
Constantino, os líderes eclesiásticos vão se politizar cada vez mais,
transformando o Cristianismo no catolicismo medieval que não aturava dissidências
(veja
mais aqui). Isto vai culminar nas resoluções do Concílio de Trento, pelas
quais a igreja católica adota como oficiais 7 dos livros apócrifos (Tobias,
Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, I Macabeus e II Macabeus)
e mais 4 apêndices/acréscimos a Ester (10:4-31) e Daniel (3:24-90, caps. 13 e
14), colocando-os no mesmo patamar dos livros inspirados. “Todo aquele que não recebe, como sagrado e canônico, todos esses
livros, e cada parte deles, como são comumente lidos na Igreja Católica, e que
estão contidos na edição da Antiga Vulgata Latina, ou deliberada e
propositalmente desprezar as tradições acima mencionadas, seja amaldiçoado”
(Concílio de Trento, quarta sessão, 1545) – Fonte.
Hoje, em algumas denominações evangélicas, ocorre algo
semelhante. A “palavra profética do apóstolo” [sic] é tida como divinamente
inspirada, infalível, e ai de quem ousar discordar “do ungido”. Há registros aí
para quem quiser ver, que líderes denominacionais dizem abertamente para o povo
não ler a Bíblia!
No final do período do “silêncio profético”, Herodes resolveu
agradar ao povo embelezando o Templo de Jerusalém. Diz o historiador Flávio
Josefo que Herodes o dobrou de tamanho, em relação ao de Salomão. Isso não
expressava sua fé – ele nem judeu era – mas foi uma tentativa de conciliar seus
súditos. O Templo de Jerusalém, decorado com mármore branco, ouro e pedras preciosas,
tornou-se proverbial, motivo de orgulho dos judeus. Ver Marcos 13:1. Não é o
que vemos hoje? Com o crescimento das denominações, surgem os mega-templos das
mega-igrejas, e seus líderes incrédulos, que não são pastores, mas homens de
negócios. Dizem que estão fazendo a réplica do templo “de Salomão”; entretanto,
esse de São Paulo, por ser muito maior, foge muito da especificação bíblica, e
ainda por cima, segue
as linhas gerais do templo de Herodes, não do de Salomão. Em todo caso,
isso nem importa tanto, porque Deus não habita em templos há muito tempo... mas
homens carnais insistem em construí-los para sua própria e particular glória. Como nos dias de Herodes, Deus não só não habita lá como já nem mesmo visita
os locais de reuniões de certos públicos; foi-se a glória! Deus se retirou, mas
o povo não percebeu ainda, como os judeus de outrora, que transformaram o
templo em si no objeto de seu culto, mesmo que Deus não se manifestasse havia
séculos!
Há um silêncio profético. É mais eloqüente a corrupção, não
apenas no sentido político ou econômico, mas a corrupção da moral e dos
costumes, com a proposição de leis contrárias à família, à liberdade de culto e
de opinião, com larga repercussão na mídia partidária e tendenciosa, com vasto
apoio de artistas e “intelectuais”. Como nos tempos apostólicos, o mundo odeia
o Evangelho, e faz de tudo para calar os profetas. O mundo não quer que se
denuncie o pecado, e protesta contra a libertação da escravidão, pois isto significa
o fim de seus ganhos, de sua fama, de sua exposição sob os holofotes. Atos
17:5-9; 19:24-41.
Podemos ter certeza de uma coisa: ao fim desse período de aparente
silêncio de Deus, algo grande vai acontecer. Quando ocorreu a libertação do
povo de Deus, na época de Moisés, um longo tempo de provação havia forjado uma
tribo semi-bárbara em um povo unido em sua fé no Deus de seus antepassados;
eles tiveram que se apegar às Promessas! Quando Jesus veio, Israel já amargava
um longo tempo de sequidão, onde não se tem noticias de profetas que
consolassem o povo; mas havia a Palavra Escrita, que prometia o Messias.
Hoje, devemos nos ater à Palavra Escrita e às promessas de Deus.
A semelhança com o tempo do silêncio profético também é vista aqui: em nossa
busca por “profetas”, não nos deixemos enganar pelos picaretas que procuram
preencher a suposta lacuna com “novas revelações”.
Habacuque clamou: “Até quando,
Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás?” (1:2). Mas às vezes Deus se expõe
através do silêncio. Embora possa parecer que durante esses períodos da
história bíblica – e em nossas próprias histórias – que Deus esteja distante, a
mão poderosa do Altíssimo estava operando por trás das cortinas, oculta ao
sofrimento do seu povo, preparando um libertador, um resgatador. Deus não
estava omisso, pelo contrário. O que Ele determinou estava sendo posto em ação
e as pessoas estavam alheias, assim como acontece hoje em relação às profecias
do tempo do fim e do juízo de Deus.
Muitas vezes não ouvimos a voz de Deus por causa de nossa comemoração,
como naquela música que diz “festa, alegria”! Pode ocorrer de nunca nos
lembramos de abaixar a música e acabar com a festa. Não criamos um ambiente
necessário para ouvir a voz de Deus. Nem sempre Deus fala na ventania ou no terremoto,
mas de modo manso e suave (I Reis 19:11,12).
Estava Deus em silêncio no período
inter-testamentário? Não. Ele preparava o cenário para a vinda do Seu Filho.
Está Ele em silêncio agora, já que a Bíblia foi selada no livro de Apocalipse?
De forma alguma! Ele já revelou o que tinha a ser revelado, assim como revelou
nos supostos “silêncios” anteriores; o que precisamos é atentar para as
concretizações do que está escrito.
Fontes de informações:
(http://www.verdade-viva.net/quatrocentos-anos-de-silencio/, baseado no livro “O Período Interbíblico”, do pr. Enéas
Tognini)
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