O atual ocupante do trono do Vaticano,
Jorge Bergoglio, a.k.a. “papa” Francisco I (doravante abreviado neste blog para F1), disse, por ocasião de
sua posse, que há momentos em que parece que Deus está em silêncio. Referia-se
à existência do mal no mundo e à aparente impunidade reinante, apesar de Deus
ser justo. Eu gostaria que ele lesse este
link, mas é provável que isso não
ocorra. Mas já houve épocas em que as pessoas diriam que Deus estava ausente. Sabemos
de pelo menos dois períodos assim: o tempo compreendido entre o final de
Gênesis (quando os descendentes de Jacó desceram ao Egito) e o início de Êxodo
(quando então já são escravos dos egípcios); e entre o final de Malaquias
(último livro do Antigo Testamento) e o inicio do Evangelho de Mateus (primeiro
livro do Novo Testamento). Ambos os períodos coincidem pelo menos na duração:
430 anos cada.
Fato é que, antigamente, as Bíblias
vinham com quatro páginas em branco, entre o Antigo e o Novo Testamentos. Essas
páginas simbolizavam quatro séculos, o tempo em que “Deus permaneceu em
silêncio”, conhecido como “O Silêncio Profético”. “Esse intervalo [depois de Malaquias] pode ser melhor
compreendido se levarmos em consideração que nenhum profeta inspirado ergueu-se
em Israel, pois o Antigo Testamento já estava completo aos olhos dos judeus”,
informa a professora Cristina
Santiago, da Faculdade Batista Brasileira de Salvador, Bahia.
Sabemos que nesse tempo
ocorreram grandes, profundas e significativas mudanças tanto no panorama geral
da humanidade (gentios) e dos judeus em particular, nos aspectos geo-políticos,
culturais e religiosos. Você pode consultar uma enciclopédia para observar
certos fatos – a maioria deles preditos pelos profetas, em especial Daniel –
como por exemplo a sucessão de potências (impérios) dominantes. Babilônia,
Pérsia, Grécia e Roma se sucederam, e sob o governo dessas potências
estrangeiras o povo judeu foi sendo moldado para o maior advento da História
até então – a vinda do Messias. Eu destacaria como fatos cruciais dessa época,
e que podem ter algum paralelo com os nossos dias:
Nos últimos 100 anos do Velho Testamento e até um pouco mais adiante,
Israel esteve sob controle persa (entre 532 e 332 a .C.). Um tempo de
relativa paz, pois os persas até deram permissão para reconstruir o templo (IICrônicas 36:22-23; Esdras 1:1-5). Mas muitos judeus permaneceram na Pérsia: é
dessa época o livro de Ester. Os que voltaram a Israel se reorganizaram sob a
liderança de Esdras, Neemias, Ageu, Zacarias, o sacerdote Josué e, mais tarde,
Malaquias. Num primeiro momento, houve um reavivamento (Esdras 10; Neemias 10 a 13). Os judeus
abandonaram a antiga tendência à idolatria, mas passaram a valorizar demais o
formalismo e à religiosidade, sem a verdadeira essência espiritual. O império persa é a segunda potência profetizada
por Daniel anos antes (ver Daniel 7:5, 17; 8:20), pois o reino babilônico (o
primeiro animal) já fora substituído e seu último rei, Belsazar, derrotado
pelos medo-persas (Daniel 5:31-31 e 9:1);
A ascensão dos gregos, chefiados pelo macedônio Alexandre “o grande”. Ex-aluno
do filósofo Aristóteles e um mestre da política, promovia a cultura grega em
todo território conquistado. Como resultado, o Velho Testamento hebraico foi
traduzido para o grego, gerando a tradução conhecida como “Septuaginta”. Nota
importante. Aqui
começa a inclusão de livros não inspirados no Cânon Hebraico. Isto aconteceu
porque seus tradutores, judeus liberais, estavam mais interessados em
enriquecer o acervo do que era, na época, a maior biblioteca do mundo, em
Alexandria, no Egito, e de agradar a Alexandre, “o grande”. A versão “Septuaginta” (ou “dos 70” , alusão ao número de
escribas que trabalharam nela), e os tais livros inseridos jamais foram aceitos
pelos judeus ortodoxos. Esses livros refletem duas correntes rabínicas (“halákica” ou jurídica, e “hagádica” ou histórica, esta inclinando-se para o
apocalíptico), e formam mais ou menos três grupos:
Históricos (Livro dos Jubileus; Vida de Adão
e Eva; Ascensão de Isaías; III Esdras; O Testamento de Moisés; Eldade e Medade;
e mais tarde Macabeus e a História de João Hircano); Didáticos (Testamento dos
Doze Patriarcas; Salmos de Salomão; Ode de Salomão; Oração de Manassés; e depois
IV Macabeus); e os Apocalípticos (Livro de Enoque; Ascensão de Moisés; IV Esdras;
Apocalipse de Baruque; Apocalipse de Elias; Apocalipse de Ezequiel; e Oráculos
Sibilinos). Voltaremos aos apócrifos mais adiante.
Na época dos gregos houve forte influência do estilo de vida helênico,
uma ameaça humanística e mundana a Israel. A Grécia foi o terceiro animal
predito por Daniel (8:20-22). Aqui surgem os Macabeus. Antíoco IV “Epifânio”
(175-164 a .C.),
descendente de um dos generais de Alexandre, odiava os judeus e destituiu o
sumo sacerdote, proibiu o sacrifício diário e erigiu um altar a Zeus dentro do
templo, chegando a sacrificar ali um porco. Em 167 a .C., Matatias, um
sacerdote, rebelou-se. Seus filhos Judas, Simão e Eleazar (conhecidos como “os
Macabeus” ou “Hasmoneus”), depois de muitas batalhas conquistaram Jerusalém e purificaram do templo, instituindo a festa “da dedicação” para
comemorar a tomada da Cidade Santa e a consagração da Casa de Deus (Hannukah, “festa das
luzes”, João 10:22). A revolta dos macabeus fortaleceu o nacionalismo e fomentou
grupos como os zelotes, que “zelavam” pela observância da lei e odiavam os estrangeiros,
usavam de violência e promoviam até mesmo atentados e assassínios. A esse grupo pertencera Simão, discípulo de Jesus (Mateus 10:4; Lucas 6:15; Marcos3:18; Atos 1:13).
A chegada dos romanos, o quarto e terrível animal de Daniel 7:7, 19, é
a profecia que se cumpriu parcialmente entre 63 a .C. (quando o general
Pompeu conquista a Judéia) e 70 d.C. (quando Tito incendeia o templo construído
por Herodes – que está sendo replicado
agora mesmo em São Paulo). Parcialmente porque parte disto se completará
quando vier o Anticristo, mas isto é outro assunto. Sob o domínio romano se
dá o ressurgimento da esperança messiânica, quando aparecem os essênios, não
mencionados na Bíblia, mas que professavam uma vida austera de separação quase
monástica, abstinência, meditação, trabalho zeloso, comunidade de bens e
celibato. Nas cavernas do Mar Morto, em 1948 d.C., se encontraram muitos dos
seus escritos, onde se nota seu interesse apocalíptico, e diversas porções das
Escrituras que permitem comprovar que não houve alteração no texto sagrado
desde aquele tempo. Para desgosto dos agnósticos e críticos da Bíblia.
Durante o período greco-romano, surgiram outros grupos políticos e
religiosos relevantes. Os antecedentes dos fariseus foram os reformadores dos tempos de
Esdras e Neemias. Quando Matatias revoltou-se, os “hassidim” (“piedosos”) o
apoiaram e, mais tarde foram denominados “perushim” (“separados”). Os fariseus adicionaram à Lei de Moisés a
tradição oral – eventualmente considerando suas próprias interpretações mais
importantes que o próprio texto original (veja Marcos 7:1-23), e se tornaram legalistas
e sem compaixão.
Um outro grupo era o dos saduceus, ricos e aristocratas, que
tinham poder no Sinédrio (um tipo de parlamento ou Suprema Corte, que assim como as sinagogas, se consolidou durante esses séculos). O nome “saduceu” possivelmente
vem de Zadoque, o sumo sacerdote dos tempos de Davi (II Samuel 8:17 e 15:24). Rejeitavam
todos os livros do Velho Testamento menos os mosaicos. Ensinavam que não há ressurreição,
nem galardão, nem castigo, como os
atenienses de Atos 17:32, talvez por estarem cansados de ver tantas desgraças.
Negavam a
existência de espíritos e anjos; enfatizavam a liberdade da vontade humana. Enquanto
os fariseus eram nacionalistas, a tendência dos saduceus era absorver a
filosofia e a cultura grega. Eram como uma sombra dos gregos, a quem admiravam.
O terceiro segmento era o dos herodianos, uma espécie
de elite social religiosa que apareceu, obviamente, no reinado de Herodes. Tinha muitos sacerdotes, que davam
apoio ao rei e aos costumes romanos, para com isso conseguir vantagens
(Mateus 22:16-18; Marcos 3:6).
Outro grupo era o dos escribas, da tribo de Levi como os sacerdotes, sendo também escrivães e escritores. Nos tempos de Cristo eram conhecidos como os “doutores da lei”, aceitos como autoridades na interpretação da lei mosaica. Pertenciam à seita dos fariseus, mas eram uma classe à parte.
Qual é o paralelo com nossos dias? Quem são os fariseus
de hoje? Talvez
não seja difícil identificá-los. Podemos facilmente associar alguns conhecidos
nossos à imagem de santarrão, o popular “santo-do-pau-oco”. Só não devemos os
esquecer de olhar no espelho de vez em quando.Outro grupo era o dos escribas, da tribo de Levi como os sacerdotes, sendo também escrivães e escritores. Nos tempos de Cristo eram conhecidos como os “doutores da lei”, aceitos como autoridades na interpretação da lei mosaica. Pertenciam à seita dos fariseus, mas eram uma classe à parte.
Mas, e os saduceus? Será que ainda existem por aí?
Acho que sim. Admiram a “cultura moderna”, os métodos modernos de administração
e crescimento, de arrecadação de recursos; a “música moderna”, a “moda
moderna”, os cabelos, as roupas, as tatuagens e piercings. Irmãs que vão “à igreja” de blusa “frente-única” e calça
de academia de ginástica. Homens usando brinco. Pastores fazendo implante de
cabelo, delineando a sobrancelha, pintando as unhas, fazendo depilação, lipo-aspiração e redução do estômago.
Pastores
gastrônomos. Líderes evangélicos que apoiam união homossexual. Estão aí mesmo, agora mesmo, numa igreja perto de você. Avançados,
integrados na cultura e na sociedade. Igrejas “inclusivas”. Louvam a Deus na “balada” com funk e
hip-hop “para Jesus”. Dizem que luta-livre
e boxe na igreja não tem nada de mais. Modernos. Não crêem no mundo
espiritual nem têm certeza da Eternidade. Pós-modernos.
E os herodianos? Ah, é fácil. Envolvidos com o
mundo político, freqüentam os gabinetes das autoridades, em troca de apoio.
Franqueiam o púlpito aos candidatos, à destra e à sinistra. Negociam verbas,
horários na televisão, emissoras de rádio, cargos no
governo. Até fazem oração
para Deus proteger o fornecedor da propina. Não raro acabam
investigados pela Polícia Federal e pela Receita. Mas sempre voltam,
apoiando o candidato em quem meteram o pau na eleição passada, ou metendo
o pau em quem apoiaram antes.
Não sei se existem
zelotes. Pelo
menos não são idênticos aos dos tempos bíblicos: não cometem atentados, ao que
se saiba. Na essência, até que seria bom haver alguns que “zelassem” pela
Palavra com ardor, rejeitando as profetices
apócrifas de falsos apóstolos, e que não permitissem que “estrangeiros”
tivessem preeminência entre o povo de Deus. Que abominassem acordos
com os cananeus. Que lutassem contra os abusos com a mesma garra e
obstinação dos macabeus, até que a Casa de Deus seja limpa de todo sacrifício
impuro, e o fogo estranho seja apagado do altar.
Essênios, que mesmo sem precisar ir morar
longe dos outros, preservassem um modo de vida separado do mundo, e que
aguardassem esperançosamente a Vinda do Messias.
Vivemos os últimos dias. Como os hebreus no Egito, e os judeus sob o governo de Roma, somos pressionados pelas leis do Faraó e de César. Os governantes deste mundo não aceitam que tenhamos outro Senhor, ainda mais poderoso do que eles próprios. Também sabemos que não há novas revelações: a Palavra de Deus está completa, e nenhum profeta – se ainda os há – por mais ungido que seja, não pode acrescentar nada a ela. Temos que agir como os filhos de Jacó: nos agarrarmos à promessa da libertação. Deus não está surdo; Ele apenas aguarda o momento certo para agir. Temos que permanecer atentos ao toque da trombeta que anunciará o instante de levantarmos acampamento e partirmos para a Terra Prometida.
Vivemos os últimos dias. Como os hebreus no Egito, e os judeus sob o governo de Roma, somos pressionados pelas leis do Faraó e de César. Os governantes deste mundo não aceitam que tenhamos outro Senhor, ainda mais poderoso do que eles próprios. Também sabemos que não há novas revelações: a Palavra de Deus está completa, e nenhum profeta – se ainda os há – por mais ungido que seja, não pode acrescentar nada a ela. Temos que agir como os filhos de Jacó: nos agarrarmos à promessa da libertação. Deus não está surdo; Ele apenas aguarda o momento certo para agir. Temos que permanecer atentos ao toque da trombeta que anunciará o instante de levantarmos acampamento e partirmos para a Terra Prometida.
Temos que
ser como os poucos judeus que, apesar da tirania de César, não perderam a
esperança e aguardaram a chegada do Messias prometido. Havia muito tempo que não
aparecia um profeta novo, o último fora Malaquias. Mas, firmes na promessa,
perseveraram e viram a vinda do Filho de Deus. Simeão, Natanael, Ana, e mesmo
os magos do Oriente, não se deixaram impressionar pela grandiosidade de Roma,
pelo poder de Herodes, pela magnificência do Templo. Não estavam nem aí para a
erudição dos fariseus, para o humanismo e a modernidade dos saduceus; não se
contaminaram com a cultura dominante e “chique” dos gregos; não foram seduzidos
pelo poder como os herodianos.
Sejamos como Simeão, Natanael, Ana e os magos do
Oriente. Fiquemos firmes na promessa!
continua...
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