Isso que se convencionou chamar de esporte, o qual é identificado
por uma sopa de letrinhas – MMA (mixed
martial arts), UFC (ultimate fighting
championship) e outras siglas – já é altamente duvidoso enquanto esporte,
pois seus benefícios, se é que existem, são questionáveis, e seus prejuízos são
notórios. E agora vêm pretensos evangélicos defender a sua prática, dentro das
igrejas, ainda por cima.
Eu poderia aqui traçar um paralelo com a
Igreja Primitiva, aquela que ainda não havia ainda se contaminado com os
costumes pagãos, e perguntar se alguma vez Pedro, Paulo ou qualquer outro
apóstolo teria a cara de pau de promover uma luta de gladiadores, “para
evangelizar”.
Imaginemos uma epístola dizendo que, para
atrair a atenção dos jovens, deveriam ser apoiadas e estimuladas sessões de
pancadaria, findas as quais os gladiadores – sem dentes, braços quebrados,
contusões generalizadas – se confraternizariam, dando glória a Deus. Então
haveria uma pregação, enquanto os diáconos limpariam o sangue da arena. Afinal,
é isso que estão propondo, e repetindo à exaustão, para tentar criar uma aura
de “normalidade”. Apenas quero dizer que Paulo, quando teve oportunidade de escrever a um jovem, no caso Timóteo, deu-lhe um conselho um tanto diferente do que se prega hoje. Paulo, depois de enumerar uma série de práticas e costumes que observara, escreveu: “Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão” (I Timóteo 6:11).
Ou os cristãos, ignorando esse mandamento - fugir dessas coisas - imitariam os pagãos? Será que na época da colheita das uvas,
quando os romanos celebravam suas festas em honra ao deus do vinho, os cristãos
também fariam uma festa como as “bacanais romanas”? O que você diria se aqueles cristãos fizessem um festival na mesma data das “bacanais”, regada a vinho, mas “em honra de Jesus”? Poderiam até dar um nome “quase” cristão, quem sabe “jesuscristália”? Se fosse hoje, a turma provavelmente se sairia
com diversas teorias para justificar tal prática: afinal de contas, Jesus dissera
que o vinho era parte da Santa Ceia. Os cristãos deveriam então aproveitar e fazer
encenações teatrais, versando sobre temas evangélicos, obviamente para atrair
os pagãos. Assim, esses não estranhariam a ocasião, afinal, teria tudo a ver com o
que eles já estavam acostumados. A bem da verdade, foi mais ou menos o que
fizeram, adotando a ocasião da “saturnália” para
comemorar a suposta data do nascimento de Cristo. Que nem mesmo nasceu em dezembro!
Por aqui, fazem mais ou menos a mesma coisa
das bacantes de outrora. Aproveitam a época da colheita do milho e celebram
festas “juninas”, com danças, quadrilhas, e obviamente, consumindo comidas à
base de milho (pipoca, pamonha etc.). Tudo para a “glória de Deus”. Para
“evangelizar”.
Métodos humanos. Não é o que fazem hoje? Pegam passagens fora
de contexto (por exemplo, “fiz-me grego para
assim ganhar os gregos”, I Coríntios 9) e tentam aplicar às suas
extravagâncias.
Com essa passagem isolada e fora de contexto, abrem a porta
para atrações variadas como shows de hip-hop, desfile de moda gospel,
luta de vale-tudo, balada gospel,
blocos carnavalescos, bailes de máscaras, e o que mais aparecer. Lembremos que
já existem várias “igrejas” para gays;
é para se assustar só de imaginar o que ainda pode ser “criado” por essas
mentes doentias.
Na verdade, é um método muito antigo, esse de
criar eventos para atrair multidões. Rômulo, um dos fundadores de Roma, “para conseguir ocasião e local favoráveis [para raptar mulheres e
assim povoar a cidade recém-fundada], ocultou seu ressentimento [por causa do
desprezo dos outros povos pelo seu convite] e preparou
jogos solenes em honra a Netuno Equestre [o deus Conso], os quais denominou Consualia. Mandou então anunciar o
espetáculo aos povos vizinhos e revestiu-o de todo o aparato possível na época,
a fim de torná-lo atraente e despertar curiosidade” (de acordo com o
historiador romano Tito Lívio, em “Ab
Urbe Condita”, cit. em História de Roma. Tradução de Paulo Matos Peixoto,
SP:Ed. Paumape, 1989, p. 32). O que seguiu depois foi o “rapto das sabinas”.
Vejam como a arte de criar pirotecnias para distrair os tolos é antiga.
Já critiquei antes as tais “festas juninas
evangélicas” e outras invenções “gospel”.
Alguns querem justificar essas esquisitices dizendo que “para pescar é preciso
usar a minhoca certa no anzol”, talvez tentando fazer uma alusão ao que Jesus
disse aos seus primeiros discípulos: “Vinde após mim, e
eu vos farei pescadores de homens” (Mateus 4:19).
Acontece que:
1 – a
pesca com anzol, usando minhoca ou qualquer outra isca, é, para dizer a
verdade, um engodo, um engano. Engana-se o peixe com uma “comida falsa”, ou uma
comida que significa a sua ruína. O peixe morde a isca pensando que vai se alimentar, mas no fim
acaba se dando mal. Será que é isso que queremos quando “evangelizamos”?
Oferecemos um engodo aos incrédulos, uma “comida falsa”, uma mentira? Bem, eu
acho que é isso o que muitas “igrejas” estão fazendo. Oferecem promessas vãs,
prosperidade financeira, vitória em todas as áreas, até casamento e “sorte no
amor”... isso até o cara cair na real e, desiludido, abandonar a fé, se é que
um dia chegou a ter fé. Se é que um dia chegou a ser instruído nos caminhos de
Deus. Se é que um dia conheceu a Deus e Seu plano de salvação.
2 – Ao
contrário dos pescadores de anzol, os discípulos entenderam perfeitamente o que
Jesus queria dizer com ser “pescadores de homens”, “porque
eram pescadores” (Mateus 4:18). Até por que Jesus contou depois a
parábola do Reino, o qual é “semelhante a uma
rede lançada ao mar, e que apanhou toda espécie de peixes. E, quando cheia,
puxaram-na para a praia; e, sentando-se, puseram os bons em cestos; os ruins,
porém, lançaram fora. Assim será no fim do mundo: sairão os anjos, e separarão
os maus dentre os justos, e lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá choro
e ranger de dentes” (Mateus 13:47-50).
E no final, Jesus perguntou: “Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles:
Entendemos” (v. 51). Mas parece que os “apóstolos” modernos e
seus seguidores não entenderam ainda.
Nós somos os
pescadores. Cabe-nos
lançar a rede, não anzóis com minhocas e iscas. Vem todo tipo de peixe,
e não nos é dada ordem para fazer mais nada. Os anjos separarão os peixes que
prestam dos que não prestam, “os bons e os maus” (da mesma forma que separarão
o joio do trigo). Não precisamos enganar, jogar iscas, engabelar ninguém. Não
precisamos armar presepadas, shows,
festa junina, escola de samba, luta livre, mágica, equilibrista, mulher
barbada, atrações variadas, “para atrair os peixes”. Não precisamos fazer da
igreja um circo. A Palavra de Deus deveria ser suficiente para que as pessoas desejassem “ir à igreja”!
Mas muitos preferem os métodos humanos, cheios de
criatividade, e vazios da Palavra de Deus. Se pudermos ir ainda mais longe,
para buscar a origem da “teoria da minhoca”, chegaremos ao Éden, onde a
serpente apresentou a Eva uma espécie de “minhoca”, ou um engodo, uma isca, sem
esclarecer o que viria depois. O que nos
permite concluir que usar de engano nem é mais um método humano, mas satânico.
Por que haveríamos de fazer a mesma coisa?
A única coisa que transforma o Homem e o traz
para o Reino de Deus é a pregação do Evangelho, da “boa nova”, da “boa
noticia”.
Qual é essa “boa noticia”? Diante de tanta coisa ruim que
vemos todo dia nos jornais, a crise, o desemprego, seqüestros, assassinatos,
motorista bêbado atropelando inocentes, banco quebrando, protestos,
roubalheiras, CPI, corrupção, a bolsa caindo e o dólar subindo... deveria ser
uma ótima noticia saber que nossas dívidas podem ser canceladas, perdoadas,
totalmente zeradas. Saber que devíamos uma quantia que nunca poderia ser paga,
mas que Alguém veio e disse: “Pode deixar, Eu pago tudo. Você não deve mais
nada. Está resolvido... está consumado”. Quem não gostaria de receber uma
noticia dessas?
Isso não dizemos aos incrédulos. Preferimos dizer:
“olha, vai lá na minha igreja hoje, vai ter uma apresentação de grupo de
jovens, uma coreografia; vai ter a cantata do coral, é muito bonita; o cantor
fulano vai cantar, a banda tal vai tocar; depois vai ter uma canjicada, uma
feijoada, uma batatada”. Outros vão além: “vamos lá ver a luta de MMA, vamos na
balada gospel, na ‘arena jovem’, no funk gospel, o barato vai ser doido, mano, véio”. Mas nunca dizemos “vamos lá
hoje, vai ter uma pregação sobre a Palavra de Deus, e você vai aprender que
precisa entregar sua vida a Jesus, senão você vai para o inferno; o pastor vai
explicar por que precisamos largar o pecado e seguir a Jesus como os discípulos
fizeram, largaram tudo e O seguiram. Vamos orar para que Deus liberte as
pessoas e mude seus corações”. Não; preferimos a minhoca.
É isso – só isso – que devemos fazer
para que as pessoas venham para o Reino de Deus: mostrar a Palavra, sem rodeios,
sem chantilly em cima, para adoçar ou
enfeitar. É isso que precisamos anunciar para que os peixes saltem para dentro
da rede, sem precisar ser enganados por minhocas pegajosas, moscas de borracha e peixinhos de plástico colorido.
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