Outro dia o portal de notícias Gospel + publicou uma matéria polêmica. Era para saber o que os leitores achavam das festas juninas, e se os evangélicos podiam ou não participar. Naturalmente apareceram opiniões extremamente variadas: alguns acham que não tem nada a ver, outros acham que vale tudo, outros ainda vieram com a batida desculpa de que devemos “nos fazer de gregos para ganhar os gregos”, etc.


Mas um grande número de cristãos entende que deve afastar-se das festas juninas mas, ao mesmo tempo abre espaço para a realização de arraiais gospel - festas caipiras evangélicas. Posição defendida por evangélicos neo-pentecostais. Entretanto, é recomendável lembrar as palavras do apóstolo Paulo:
“Portanto, meus amados, fugi da idolatria. Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo. Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos somos unicamente um pão, um só corpo. Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos, acaso, mais fortes do que ele?” (1 Coríntios 10:14-22).
No texto, Paulo trata da participação dos cristãos em rituais pagãos (Bíblia de Estudo de Genebra, p.1357). Sua convicção é que a idolatria produz uma ligação espiritual - um vínculo com demônios. Para o apóstolo, o problema não era se sujeitar à opressão demoníaca ao comer coisas ligadas a ídolos, mas sim depreciar sua comunhão com Deus, ou seja, agir de modo inconsistente com a aliança com Jesus, e, deste modo, provocar o “zelo” do Senhor (1 Coríntios 10:18-22). Isto pode ser transposto à questão das festas juninas por meio de um argumento de quatro pontos:
- Veneração a santos fere não apenas a recomendação de 1 Timóteo 2:5, mas também Êxodo 20:3-6: é idolatria.
- As festas juninas, ligadas à veneração de santos, são idólatras.
- O cristão, de acordo com 2 Coríntios 10:14, deve fugir da idolatria.
- Portanto, o cristão deve fugir das festas juninas.

Mas, o que dizer da “alma caipira” que reside em nós, que nos motiva a acender fogueira, assar mandioca e batata-doce e comer bolo de fubá? Qual o problema, por exemplo, de realizar uma noite caipira ao som de “xote santo” e, quem sabe, até brincar inocentemente de quadrilha gospel? Ou criar uma “Festa dos Estados”, com barracas de comidas típicas ou algo semelhante, quem sabe até como estratégia para atrair visitantes?
É que, de fato, a produção de versões gospel das festas juninas não é recomendável. Primeiro, porque o evangelicalismo está saturado de versões gospel: baladas gospel, axé gospel e até o “créu” gospel. Chega de baboseiras! Não fomos chamados a imitar o mundo e sim a transformá-lo (1 João 2:15-17).

Sendo assim, é mais adequado considerar as festas juninas gospel entre as coisas que o apóstolo Paulo chama de lícitas, mas inconvenientes e não-edificantes (1 Coríntios 10:23). Nessa questão, pensemos primeiramente nos interesses do corpo de Cristo, e não nos nossos (1Coríntios 10:24). Não se trata de ser contra comer bolo de milho, canjica ou pé-de-moleque. Desfrutemos dessas coisas, porém, na privacidade de nossos lares ou fora do contexto de festas caipiras nos meses de junho e julho. Não porque essas comidas sejam pecaminosas em si, mas para evitar associações indesejáveis.
A Bíblia não prescreve nenhuma festa ligada a profetas ou apóstolos, muito menos a ninguém “canonizado”. Não há espaço para crença em santos mediadores. Segundo as Escrituras, “há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Timóteo 2:5).
Somos livres para participar de festas juninas?
Não. Ao participarmos de tais festas, nos ligamos com a idolatria.
Devemos realizar eventos caipiras gospel?
Devemos participar de tais eventos?

Os que defendem que os cristãos devem participar dessas festas dizem que Jesus “andava com bêbados, prostitutas e pessoas do povo”, que transformou água em vinho e portanto aprovava festas populares. Até em baladas Jesus ia, diz a “pastora” da bolha de neve. Argumentos bastante inconsistentes, pois, de fato, Jesus foi de enterro a casamento, mas não há nenhum relato dEle em festa de Moloque ou Baal, ou se preferirem, Júpiter ou Vênus, mesmo com o louvável intuito de pregar.
Nunca.
Paulo e Barnabé não procuraram participar de festas “populares”, mas quando confrontados com uma situação dessas... (Atos 14):
“14 Quando, porém, os apóstolos Barnabé e Paulo ouviram isto, rasgaram as suas vestes e saltaram para o meio da multidão, clamando
15 e dizendo: Senhores, por que fazeis estas coisas? Nós ... vos anunciamos o evangelho para que destas práticas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar, e tudo quanto há neles;
16 o qual nos tempos passados permitiu que todas as nações andassem nos seus próprios caminhos.
17 Contudo não deixou de dar testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos chuvas do céu e estações frutíferas, enchendo-vos de mantimento, e de alegria os vossos corações.
18 E dizendo isto, com dificuldade impediram as multidões de lhes oferecerem sacrifícios”.

“Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o” (l Reis 18:21).
“Odeio, desprezo as vossas festas” (Amós 5:21).
E, de mais a mais, João Batista nem mesmo nasceu em junho (veja aqui: http://doa-a-quem-doer.blogspot.com/2008/12/quando-nasceu-jesus.html). Todo mundo – inclusive os “devotos” do “santo” – já está careca de saber que a data de 24 de junho faz parte das festividades solstício de verão no hemisfério norte (o dia mais longo do ano), desde a mais remota antiguidade pagã. E tem gente querendo levar isto para dentro das igrejas...
Doa a quem doer.