
Durante um tempo, fiquei com uma dúvida. Pensei em escrever sobre a hediondez de que é capaz o ser humano afastado de Deus, como no caso terrível do jogador Bruno. Mas os meios de comunicação já exploraram ao máximo esse triste episódio. Pois o ex-goleiro do Atlético Mineiro e Flamengo diz que é evangélico, e pelo menos um pastor de BH confirmou que ele quase foi batizado em sua igreja, conhecida na cidade como a “igreja dos jogadores”.


Note bem, não de acordo com nosso senso do que é certo e errado, mas de acordo com a Bíblia. Assim, depois de receber mundos de e-mails pedindo para não votar em tal e qual deputado, outros dizendo que se eleita Dilma Roussef seria presa em Nova York , incluindo montagens com a sua ficha policial, fiquei me perguntando se as pessoas que divulgam essas notícias têm consciência do que estão fazendo, ao repercutir certos valores que muitas vezes não conhecem.
Então resolvi fazer esta postagem política.
É sabido que certos veículos de comunicação exercem grande influência junto à população em geral. A TV , por exemplo. O Brasil é um dos países onde há o maior número de aparelhos
instalados. Há mais TVs do que geladeiras. Também não há dúvidas de que a principal emissora do país, em termos de audiência, é a TV Globo.
O que nem todos sabem – ou pelo menos fingem não saber – é que a TV Globo foi, desde sempre, é e sempre será, uma porta-voz das classes superiores da sociedade brasileira. E como tal, irá, sempre, agir a favor dos interesses dessas classes. Foi assim quando ela se posicionou claramente a favor de Fernando Collor e contra Lula, violando um dos princípios básicos do jornalismo, que é a neutralidade – conceito por si discutível, mas ao editar o famoso debate entre os candidatos, assumiu de vez a manipulação dos fatos a favor de uma das partes. Para quem não sabe, ou esqueceu, basta procurar no Youtube a versão original e a editada.
A TV Globo ignorou por completo a épica campanha pelas eleições diretas para presidente da república. Não saía nada nos telejornais, e nem uma linha no O Globo. É como se não tivessem existido as multidões de 200.ooo pessoas, em média, que compareciam a cada comício, nas principais cidades do país. Até aqui, nenhuma novidade. O que estranha é a tentativa de se apresentar como neutra.
Já a revista Veja atribui as enchentes do início deste ano, em São Paulo , governado pelo PSDB/DEM, à natureza. No Rio, o desastre é culpa do governo do PMDB, aliado ao governo federal (clique aqui para ver).
E eis que acontece em São Paulo um certo “Fórum Democracia e Liberdade de Expressão”, o qual reuniu, em 1º de março, a tropa de elite do jornalismo nacional para “debater ameaças” à liberdade de imprensa. Compareceram, dentre outros, Roberto Civita, dono do grupo Abril (leia-se “Veja”), Otavio Frias (Folha de S. Paulo), Demetrio Magnolli (Época e Folha), Arnaldo Jabor, William Waack, Carlos Alberto Sardenberg (todos da Globo) e outros luminares de mesma estirpe. Ora, o que se viu, ao custo de R$500 o ingresso, foi a edição de uma cartilha conservadora e de uma pauta para cobrir as próximas eleições. Todos contra Lula e o governo, em prol de Serra e do conservadorismo, assim como foi em 2006. É o chamado “pensamento único” em relação a temas como privatizações, flexibilização de direitos trabalhistas, desregulamentação do mercado etc.

Em segundo lugar, há que se desconfiar da própria ideologia política de tais “líderes evangélicos”, se é que a têm. Porque são como ondas do mar, levados para onde o vento sopra. Há pouco tempo atrás, Lula era a encarnação do capeta.


Outros ainda, em busca da lendária “terceira via”, elegeram Marina Silva como a esperança da nação, porque “é evangélica”. Será que se esqueceram onde estava Marina há dois anos? Há dez ou vinte anos?

A revista Le Monde Diplomatique, em sua edição 36 (julho de 2010) aponta uma série de lobistas que apareceram recentemente nos canais americanos CNN, FoxNews e MSNBC. Dentre eles, o general aposentado Barry McCaffrey, por exemplo, defendeu que a guerra no Afeganistão deveria continuar por pelo menos mais 3 a 10 anos. A emissora não informou que o “especialista” trabalhava para uma das maiores empresas militares privadas do mundo, responsável por um contrato de US$5,9 bilhões com Pentágono.
Bernhard Whitman apareceu em 2008 na FoxNews como especialista em economia, e acusou o governo americano de “não entender nada de economia” por não ajudar a mega-seguradora AIG, em dificuldades financeiras. A Fox não disse ao público que Whitman era funcionário da AIG. O governo ajudou a AIG, e o resto da crise financeira que afundou os Estados Unidos, todo mundo conhece.
Em 2009 Richard Gephardt, bastante conhecido no meios políticos e sindicais americanos, apareceu na MSNBC afirmando que não era essencial um seguro social que era um dos pilares da reforma do sistema de saúde americano. Nada foi dito sobre a atuação do entrevistado como consultor de laboratórios da indústria farmacêutica e companhias de seguro privadas. Se isso ocorre do lado de cima o Equador, por que não aconteceria aqui? Qual seriam os interesses reais da turma acima citada, e seu “Fórum da Liberdade de Expressão”? Quais seriam os reais interesses dos chamados “formadores de opinião” da mídia? O que move certos líderes “espirituais” a se manifestarem a favor desse ou daquele candidato, desde vereador até os presidenciáveis?
Em 2009 Richard Gephardt, bastante conhecido no meios políticos e sindicais americanos, apareceu na MSNBC afirmando que não era essencial um seguro social que era um dos pilares da reforma do sistema de saúde americano. Nada foi dito sobre a atuação do entrevistado como consultor de laboratórios da indústria farmacêutica e companhias de seguro privadas. Se isso ocorre do lado de cima o Equador, por que não aconteceria aqui? Qual seriam os interesses reais da turma acima citada, e seu “Fórum da Liberdade de Expressão”? Quais seriam os reais interesses dos chamados “formadores de opinião” da mídia? O que move certos líderes “espirituais” a se manifestarem a favor desse ou daquele candidato, desde vereador até os presidenciáveis?
Prefiro formar minha própria opinião, que certamente não será totalmente isenta de inclinações ou preferências ideológicas, mas com certeza não será baseada no que certos “líderes” inconstantes alardeiam do alto de seus púlpitos, de seus congressos, de seus livros e agora também de seus blogs; e muito menos do que sai no Jornal Nacional ou no Fantástico. Minha posição política será sempre pautada não pela imprensa conservadora e seus “especialistas”, mas pelos programas dos candidatos e dos partidos; pelo exame de suas vidas públicas, de suas realizações enquanto administradores e de seus projetos para a classe à qual tenho orgulho de pertencer: a uma classe trabalhadora, de gente comum, que recebe salário e paga imposto em dia. Que não é dono de empresa, que não lucra com a especulação de juros, que não tem conta no exterior, que não vive às custas de exploração de terceiros. Esse sou eu.
Assim, que motivos eu teria para eleger um candidato que irá limitar meus direitos adquiridos à força de mobilização, de união? É evidente que, para um empresário, um dono de fábrica, um banqueiro, alguém que pertence às elites, faz todo sentido apoiar políticos desse tipo. Para mim, não. Para você, não sei. Pode ser que faça sentido. Ou que você pense fazer sentido.
Pense em quem você está colocando no poder. Será que esse sujeito a quem você está pensando em dar seu voto irá te defender, de fato? Ou irá fazer a vontade daqueles que lhe prestaram apoio, lhe doando milhões para que legisle de acordo com o patrocinador, e que se dane o povo, que esses candidatos e seus porta-vozes globais fazem questão de tentar apagar da História?
Elementos que nada fazem para diminuir as diferenças sociais, para minimizar os problemas da nação como um todo e não apenas beneficiar determinados grupelhos?
Por que motivos eu votaria em um candidato só porque tal “líder evangélico” determinou que é o que Deus quer para o país? Que credibilidade têm tais líderes, que como camaleões mudam de cor a cada estação? Certamente não mais do que os tais “especialistas” que aparecem dando seus palpites nos telejornais. Na maioria, tanto esses “especialistas da mídia” como alguns “líderes evangélicos” estão com o rabo preso.

Com informações da Revista Brasil, nº46, abril de 2010.
Ilustração: Eugenio Neves (capturada na Internet)