Já
estudamos bastante sobre a profetisa Jezabel. Agora
vamos ver um outro profeta que se lhe assemelha, e tem até uma doutrina
própria: Balaão. O nome significa “devorador”, segundo a Enciclopédia Bíblica
de O. S. Boyer (Ed. Vida, 21ª edição, pg. 93). Era
profeta, disso não resta dúvida, pois o que ele profetizou se cumpriu. Sem ter
conhecido Abraão, repetiu o que Deus dissera ao patriarca: confira Números 24:9
com Gênesis 12:3. O verso 17 de Números 24 é claro, e também 0 20. Não obstante
o seu o seu dom profético, Balaão era ganancioso; séculos depois, Pedro
explicou que ele estava de olho no dinheiro, comparando-o aos obreiros
corruptos de sua época (II Pedro 2:12-19). E olha que antes Balaão havia
recusado uma fortuna para amaldiçoar a Israel! O problema é que ele profetizou
em nome de Deus, mas também era adivinho e vidente idólatra. Números 22:6,7 diz
que Balaque tinha fé nas pragas de Balaão, e que levou a ele o valor combinado
pelos “encantamentos”. Era uma espécie de “benzedeira”. O anjo de Deus disse
que o caminho dele era perverso (v. 32).
Calma, só falta mais uma. Tá acabando. Na semana que vem.
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Ao
que parece, Balaque deve ter aumentado a oferta, pois
Pedro diz que “Balaão amou o prêmio da injustiça” (II
Pedro 2: 15), apesar de ter recusado a primeira negociação. Ele teria ensinado
Balaque a colocar tropeços diante dos filhos de Israel. Mário Persona diz que “foi a contragosto que Balaão profetizou
bênção para Israel”, e cita Números 24:15-17: “Então proferiu a sua
parábola, e disse: Fala Balaão, filho de Beor, e fala o homem de olhos
abertos; Fala aquele que ouviu as palavras de Deus, e o que sabe a
ciência do Altíssimo; o que viu a visão do Todo-Poderoso, que cai, e se lhe
abrem os olhos. Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, MAS NÃO DE PERTO” [grifo
acrescentado]. Continua dizendo que “o
versículo 17 é a sentença de condenação que Balaão foi obrigado a proferir
contra si próprio. Ele ficou ciente de que veria a Deus, porém não de perto.
Compare com Lucas 16:23, na qual Abraão é uma representação da presença de Deus
(“e no inferno [hades], ergueu
os olhos, estando em tormentos, e VIU AO LONGE Abraão, e Lázaro no seu
seio’)”
[grifo acrescentado].
Isso
nós só podemos deduzir, pois o cap. 24 de Números termina com
Balaão e Balaque indo cada um para o seu caminho, e parece que a história
termina aí. Mas o cap. 25 começa com os filhos de Israel se prostituindo com as
moabitas e sacrificando aos deuses delas. A razão disto só descobrimos em 25:17-18
e 31:15,16, que nos mostram que quando os homens de Israel pecaram, logo após
Balaão ter profetizado bênçãos, foi pelo conselho do mesmo Balaão ao rei
Balaque. Que conselho foi esse?
Balaão
deu a Balaque uma estratégia para desviar Israel do caminho
e assim talvez impedir que Israel guerreasse contra Moabe. Os hebreus ficariam
distraídos e deixariam os moabitas em paz: era só misturar os filhos de Israel
com as filhas dos moabitas. A Bíblia nos conta que os israelitas não só fizeram
sexo com as moabitas, como também seguiram os seus deuses.
Quais
eram esses “deuses moabitas”, a quem os hebreus
adoraram, seguindo a “doutrina de Balaão”? Os moabitas eram uma nação irmã dos
amonitas (Gênesis 19:37,38) e ambas tinham parentesco distante com Israel, pois
Ló, pai de Moabe e Amon, era sobrinho de Abraão. Tanto moabitas, como edomitas
e amonitas temeram quando Israel saiu do Egito e se aproximou de Canaã. A
religião moabita era politeísta. Em Números 25:3 e noutras passagens, Baal-Peor
é mencionado provavelmente como uma deidade moabita. A deusa Ashtar (“Astaroth”,
“Asera”) também é mencionado na Pedra Moabita e na coluna
de Balu‘a. II Reis 3:27 confirma que os moabitas ofereciam sacrifícios humanos.
Havia outras divindades como Camós (Jeremias 48:13).
Vemos,
portanto, que Baal provavelmente tenha sido adorado
pelas moabitas que seduziram os israelitas em Peor. O conselho, ou a
doutrina de Balaão, era que os israelitas fossem seduzidos pelas mulheres
moabitas – tanto sexualmente como religiosamente (25:1,2), e se voltassem para
Baal, como faria Jezabel séculos mais tarde. Cometeram adultério físico e
espiritual, e nem ligavam mais para o que os outros dissessem (25:6). Isto é
confirmado por Apocalipse 2:14. É importante notar que a idolatria e a
prostituição (imoralidade) estão juntas. Ora, não foi exatamente isso que Jezabel também fez, no tempo do
profeta Elias, conforme vimos nas semanas passadas?
Uma das primeiras
menções de Baal na Bíblia é esta de quando Balaque levou Balaão a Bamote-Baal
(que significa “altos de Baal”) para ver o povo de Israel. O culto a Baal era
marcado por uma devassidão que envergonharia Sodoma e Gomorra. Todos os anos, sua
morte e a ressurreição eram repetidas simbolicamente, já que a passagem da seca
para a estação das chuvas era explicada como a ressurreição do deus, e com a
idéia do sêmen sagrado fecundando a terra em forma de chuva, os cultos
centravam-se na atividade sexual. Para despertar Baal a se acasalar com Astarote,
entregavam-se a orgias. A religião cananéia requeria o serviço de “prostituição
sagrada” de homens e mulheres disponíveis como sacerdotes. Logo, a pessoa para
adorar a Baal tinha que copular com um ou vários desses sacerdotes. Isso é
visto no livro de Oséias, onde a esposa do profeta não era apenas uma
prostituta, mas adoradora de Baal. “Naquele dia, diz o Senhor, ela me
chamará: Meu marido e já não me chamará: Meu Baal. Da sua boca tirarei os nomes
dos baalins, e não mais se lembrará desses nomes” (Oséias
2:16-17).
O termo “Baal”
aparece em Romanos 11:4, e no texto original em grego é precedido pelo
artigo feminino he.
Comentando sobre isto, John Newton escreveu num ensaio sobre o tema, onde
afirma: “Embora em hebraico ele seja do
gênero masculino [hab·Bá·ʽal], o senhor, todavia Baal é chamado [he Bá·al], = a senhora, na Septuaginta; Oséias
2:8; Sofonias 1:4; e no Novo Testamento, Romanos 11:4. Na adoração
licenciosa deste andrógino, ou deus de dois sexos, os homens, em certas
ocasiões, usavam vestimenta feminina, ao passo que as mulheres se apresentavam
em traje masculino, brandindo armas.” — Ancient Pagan and Modern Christian Symbolism (Simbolismos Pagãos
Antigos e Cristãos Modernos), de T. Inman, 1875, p. 119 (link). Nem é preciso
dizer nada sobre a homossexualidade...
Como
vimos, Jezabel reintroduziu em Israel o culto
a Baal, com todas as suas derivações, ou seja, a idolatria em si e a
promiscuidade sexual, que era parte daquele culto. É interessante notar como as
igrejas de Apocalipse, assim como o povo de Israel, vira e mexe caem nas mesmas
faltas. A Éfeso, Jesus disse que ali havia “nicolaítas” (Apocalipse 2:6), que
já estudamos aqui e aqui.
Esses mesmos picaretas estavam em Pérgamo também (v.15). E Jesus repreende
Tiatira porque ela tolera Jezabel, falsa profetisa, que “ensina
e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas a
ídolos” (v. 20). E se voltarmos a Pérgamo, notamos que
ela abrigava os que seguiam a “doutrina de Balaão”, que também era “comerem
das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem”
(v. 14).
Como
se vê, Jezabel e Balaão se conectam em dois pontos:
ambos eram profetas (ela, de Baal, e ele até chegou a profetizar em nome de
Deus, mas se corrompeu depois); e ambos induziram o povo de Deus a “comerem
das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem”.
Isso é chamado de “doutrina de Balaão”.
“Ah,
mas na minha igreja não
tem esse negócio de prostituição e ídolo não, misericórdia”... será que
não? Os adoradores de Baal acreditavam que, com seus rituais religiosos,
estimulavam os deuses a seguir o mesmo modelo. Era uma espécie de magia
simpática, realizada na esperança de que os deuses imitassem seus adoradores,
repetindo seus atos e assim garantissem prosperidade.
Hoje vemos
nas igrejas ditas evangélicas os famigerados “atos proféticos”. Como se sabe,
trata-se de “ações realizadas por homens,
profetas de Deus com determinado sentido profético... sinais que apontam para o
reino espiritual e que tem conseqüências no reino físico [sic]... minha ação
profética tem alto valor no reino do espírito que se expressa no mundo físico”,
os próprios adeptos declaram. Como aqui
– onde o autor do texto declara ter como modelo, dentre outros, Tereza de
Calcutá (lembra do que falei sobre a infiltração católica no meio evangélico,
que não mais se fala “mal” do catolicismo, mas têm-no como exemplo?). E também aqui, aqui,
aqui
temos explicações, justificativas até dicas de “ferramentas criativas” para
“atos proféticos”. Cuidado, alguns dão náusea.
Não
é difícil relacionar os “atos proféticos” com a macumba.
Basta compararmos as duas metodologias. Um trabalho de macumba nada mais é do que
o homem valendo-se de ritos e objetos, a fim de manipular a ação da divindade.
Jostein
Gaarder, na obra “O Livro das Religiões” (Cia.
Das Letras), descreve o que é “magia”: “...
o ser humano que se vale de ritos mágicos está tentando coagir as forças e potências
a obedecer à sua ordem – que com freqüência consiste em atingir finalidades
concretas. Desde que os rituais mágicos sejam realizados corretamente, o
mago acredita que os resultados desejados decerto ocorrerão, por uma
questão de lógica”.
Se
você trocar “mago” por “pastor”, “apóstolo”, ou mesmo
“levita”, obterá um retrato fiel da espiritualidade dita evangélica da
atualidade. Atos proféticos e pontos de contato (como sabonetes, chaves, e
rosas ungidas) possuem a mesma utilidade dos objetos dos rituais de magia.
Mensagens enviadas ao “mundo do espírito”, a fim de que o “pastor” e o “crente”
consigam conquistar alguma coisa desejada no “mundo físico” – mesmo que seja
com objetivos elevados, como resgatar a cidade e a nação. Ato profético,
portanto, é um meio de o homem [tentar] manipular o mundo espiritual, inclusive
a ação dos demônios.
O
pastor vira um xamã, revestindo-se da mesma mística e dos
mesmos poderes que antes eram propriedade dos feiticeiros e “pais de santo”. Os
crentes, assim como os que buscam os terreiros, transformaram-se em adoradores
mercenários, a procura de um “cristo talismã”, que lhes desamarre os caminhos.
Veja você se
não é a mesma coisa que faziam os adoradores de Baal. Praticavam certos atos
achando que seu deus os imitaria e repetiria essa pantomima patética! Quando
fazemos “atos proféticos” visando alterar os acontecimentos, para “provocar nos
lugares celestiais o que fazemos na terra”, estamos fazendo um culto pagão, que
busca “atrair a divindade”.
Os homens tentam
controlar as divindades fazendo oferendas para que elas lhes atendam e lhes
abençoem, quando Deus faz isso graciosamente. Em busca de prosperidade, oferecemos
um sacrifício – dinheiro, por exemplo. Depositamos parte da renda na esperança
de receber de volta tudo multiplicado, num “princípio da semeadura” totalmente
desvirtuado da Palavra de Deus. Quando ofertamos dinheiro para ter prosperidade
como recompensa, usando erradamente o “princípio da semeadura”,
estamos na verdade fazendo uma oferenda a Baal.
Como
os seguidores de Baal, querem que o seu deus lhes dê prosperidade, que
mande “chuva” do céu mediante essa troca. O Deus de Elias deu a chuva, sem
precisar de nada em troca para ser aplacado, sem ser subornado ou comprado.
Baal, que exigia sacrifício para atender aos seus devotos, foi desmascarado
como um ídolo vulgar, pois era incapaz de resolver o problema e responder os “atos
proféticos” feitos pelos seus sacerdotes e adoradores. É importante ressaltar
que Baal traz prosperidade, não o odiado Mamom (que é a riqueza). Podemos
rejeitar Mamom, mas cultuamos Baal todo domingo. E quem ensina isto é a
doutrina de Balaão e a falsa profetisa Jezabel, doa a quem doer.Calma, só falta mais uma. Tá acabando. Na semana que vem.
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