Quando falamos sobre o período de silêncio profético, descobrimos que durante aqueles 400 anos ou mais, no alvorecer do Novo Testamento,surgem vários grupos que não existiam em Israel no tempo dos profetas. Assim que vemos nos relatos dos evangelistas os fariseus, saduceus, herodianos, zelotes, escribas e doutores da lei; e também sabemos que haviam os essênios, apesar de não mencionados nos Evangelhos. Descrevemos algumas características de cada grupo, e nos desafiamos a ver em nós algumas delas. Olhando no espelho, vemos em nós muitas práticas dos fariseus, que Jesus condenou, de modo que precisamos fazer a cada dia uma séria reflexão.
O fariseu da parábola disse: “Graças te dou, ó Deus, porque não sou como esse publicano”; e por isso foi repreendido. Hoje, o fariseu se tornou símbolo de tudo que é detestável e indesejável na vida cristã. Até apareceu recentemente uma pesquisa - diga-se de passagem, tendenciosa, com perguntas capciosas e direcionadas - que pretendia identificar se os cristãos de hoje se parecem mais com Jesus ou com os fariseus. Polêmica à parte, eu acho que muitos cristãos se parecem mais mesmo é com os saduceus. Veja se concorda.
Como vimos antes, na época do domínio grego em Israel houve uma forte influência do estio de vida helênico sobre os judeus, uma verdadeira ameaça humanística e mundana. A revolta dos macabeus também foi, em parte, uma reação a esse mundanismo. Em Jerusalém fora construído um teatro do tipo
grego, e também um estádio para esportes, no mesmo esquema do famoso Circus Maximus de Roma,
um hipódromo em formato oblongo. Ali os jovens judeus começaram a ser seduzidos
pelo esporte, e começaram a abandonar as práticas mais
ascéticas de seus pais. Como os atletas competiam nus, os judeus, com medo e vergonha de serem discriminados, começaram a fazer uma espécie de “cirurgia plástica” para disfarçar a circuncisão!
ascéticas de seus pais. Como os atletas competiam nus, os judeus, com medo e vergonha de serem discriminados, começaram a fazer uma espécie de “cirurgia plástica” para disfarçar a circuncisão!
Pior ainda, como o estádio
ficava num plano inferior ao Templo, numa encosta de Jerusalém, as pessoas se
debruçavam na amurada do local sagrado para assistir às competições, virando as
costas para o santuário!
Não sei se os saduceus
chegavam a tanto, mas é fato que se orgulhavam de ser modernos, ao absorver a filosofia e
a cultura gregas. Eram como uma sombra dos gregos, a quem admiravam. Eram o oposto dos fariseus, que eram nacionalistas e
exclusivistas. De qualquer forma, o paralelo com
nossos dias não é difícil de ser traçado.
Os nossos saduceus começaram a
pulular depois da grande expansão evangélica dos últimos vinte ou trinta anos. Começaram
sua caminhada ao ver que o aumento do número de congregados poderia ser
acelerado, não com a pregação do Evangelho, o anúncio das Boas Novas de
salvação, conforme acontecia desde o século XIX em terras tupiniquins. De
repente, descobriram na outra América as técnicas de marketing e de propaganda. Pastores e outros líderes mandaram seus filhos e filhas - herdeiros do feudo de papai e de vovô - estudarem nos “States” para aprender com o Tio Sam as últimas novidades do mercado eclesiástico. Começaram a adquirir cada vez mais horários em rádio e televisão, não para
pregar a Palavra de Deus, mas para vender quinquilharias – CDs e DVDs toscos de
cantores toscos, camisetas, livretes toscos de autores toscos. É preciso atender à demanda do mercado... e que mercado!
Sob a iluminação bruxuleante de “novas revelações”, criaram aberrações supostamente baseadas na Bíblia, e assim
surgem esquemas de pirâmide como G12 ou M12, copiados de modelos de falcatruas
mundanas. “É moderno”, dizem. “A igreja cresce rápido”, defendem. E não se
importam se a igreja parece uma panela de pipoca, grande, vistosa, esparramando
pelas beiradas, mas sem nenhum valor nutricional.
Vivi uma época em que a música tocada nas igrejas era bastante amadora,
do ponto de vista instrumental e técnico. Ansiávamos por uma melhoria dos
músicos – que na época ainda não eram chamados de “levitas”. Batalhávamos para
conseguir instrumentos melhores, estudamos Música, ensaiávamos até a exaustão.
Aí apareceu uma nova geração que de fato melhorou o nível de execução musical.
A globalização ajudou a diminuir a diferença de preços entre as guitarras Giannini
(que já então faziam excelentes cópias das Fender e Gibson) e as sonhadas
Ibanez. E então conseguíamos comprar violões Ovation, baixos Rickenbaker, baterias Tama, amplificadores Peavey. Microfones Shure!
Mas se o nível técnico e instrumental subiu, em contrapartida a qualidade das letras caiu
vertiginosamente, a ponto de ouvirmos hoje em dia pérolas como “Filho meu, você me
rejeitou, porta na cara doeu... Ontem eu me lembrei de uma antiga oração que
você fez... tenho promessas arquivadas te esperando, filho...a gente vence junto
essa parada” (Thalles Roberto). Ou “És Deus de perto, e
não de longe” (Apascentar). Ou “não posso deixar que sigas sem me perceber” (Toque no Altar)... ou “E Ele vem saltando sobre os montes / Incendeia, Senhor, a
Tua noiva” (David Quinlan)... por aí vai... Quanta heresia! Quanta bobagem! Ai que saudade dos Vencedores
por Cristo, Logos e Jovens da Verdade! Hoje só temos, praticamente, “vendedores
de cristo”!
Tocam muito bem! Não
fazem cultos, nem pregam mais nas praças, colégios e universidades, mas seus shows são uma beleza, uma
maravilha tecnológica, com técnicos importados, como sempre, da outra
América... já o conteúdo... “pula,
dança, tira o pé do chão”... lembrei outra vez da panela de pipoca.
E como os judeus de séculos passados, tentam esconder sua circuncisão. Um certo
“levita” foi a um programa de TV apropriadamente chamado “Caldeirão” e,
perguntado sobre como era sua música, não disse que era cristã,
evangélica ou adoração (como diria um “levita” de verdade). Disse que era música moderna “sem setorizar... rap
de contexto social positivo”...
escondeu a marca que mostrava que ele era diferente!
Os saduceus demoliram os muros que separavam o templo
do ginásio. E aí passaram a promover lutas dentro dos prédios que um dia
abrigaram reuniões de oração. Dizem que luta-livre
e boxe na igreja não tem nada de mais. Se você acha que estou exagerando,
clique aqui,
aqui,
aqui e
aqui.
Dizem que é para atrair os jovens que gostam desse esporte.
E se “os jovens” gostarem de fazer sexo sem compromisso, o que
farão para atraí-los? Bem, já tem meio caminho andado: já existe “nudismo
gospel”; criaram “boate
gospel” pra fazer “balada
gospel” (aqui
também) regada a “cerveja
gospel”; já funciona a “sex-shop gospel” (onde deve ter
“camisinha gospel” para vender, pois filme “pornô
gospel” também já tem). “Pole-dance
gospel” também já está na praça! Só falta o “motel gospel”. Tudo
para “manter o jovem na igreja”: festa junina “gospel”, carnaval “gospel”, Halloween “gospel”... Não deveríamos nos espantar, pois até garota-de-programa (prostituta)gospel já tem - e é até dizimista!
Os saduceus também defendem acordos
com o mundo: acham que se os cristãos evangélicos se associarem a emissoras de
TV, ganharão tratamento diferenciado. Os “levitas” foram pioneiros
nessa mutreta!
Admiram a “cultura
moderna”, a
“música moderna”, a “moda moderna”, os cabelos, as roupas, as tatuagens e piercings. Irmãs que vão “à igreja” de
blusa “frente-única” e calça de academia. Ou então usam vestidos que parecem camisolas, e minissaias que parecem abajures. Homens usando brinco. Pastores
fazendo implante de cabelo, delineando a sobrancelha, fazendo lipo-aspiração e
redução do estômago. Pastores
gastrônomos. Estão aí mesmo, agora mesmo, numa igreja perto de você.
Avançados, integrados na cultura e na sociedade. Pós-modernos. Saduceus!
E por vezes, até se confundem com os herodianos. Envolvidos com
o mundo político, freqüentam os gabinetes das autoridades. Franqueiam
o púlpito aos candidatos, à destra e à sinistra. Negociam verbas, horários
na televisão, emissoras de rádio, cargos no
governo. Até fazem oração
para Deus proteger o fornecedor da propina. Não raro acabam
investigados pela Polícia Federal e pela Receita. Mas sempre voltam,
apoiando o candidato em quem meteram o pau na eleição passada, ou metendo
o pau em quem apoiaram antes.
Os saduceus criticam os fariseus por sua política isolacionista,
exclusivista; e agem de maneira diametralmente oposta. Escondem os sinais da circuncisão e adotam os
costumes mundanos, promovendo banquetes
faraônicos em suas mansões nababescas em homenagem a políticos, mesmo
sabendo que esses “homenageados” são a escória da política nacional.
E como se não bastasse, realizam
“cultos” em suas “igrejas” para mostrar publicamente sua íntima ligação com
essas figuras abomináveis!
Outros são mais sutis. Adotam uma filosofia liberal e
para serem bem-vistos pelo populacho, pela mídia e pelas celebridades, evitam
falar qualquer coisa que possa “ofender” os pecadores. Dizem que não são como
os fariseus, separados. Não, dizem que Jesus andava com bêbados e prostitutas,
então o que é que tem a gente andar com bêbados e prostitutas? Jesus acolhia a
todos, e disse à mulher pega em adultério “não te condeno”! Por que
condenaríamos essas pessoas “desassistidas”? Convenientemente, esquecem-se de que
Jesus disse àquela mulher: “vai, e não
peques mais”. Não, isso não podemos dizer, soaria farisaico
demais!
Então, passam a usar música
de John Lennon como tema de “pregação”, ainda que ela diga que “não existe céu nem
inferno”. Começam a apoiar
militantes homossexuais, para receber aplausos. Aceitam pastores
divorciados (também
aqui) - ver I Coríntios 7:10-11. Negam
a volta de Cristo (também aqui neste
link). Negam
a soberania de Deus. Como no tempo de Jesus, saduceus não
crêem no mundo espiritual: “os saduceus dizem
que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito” (Atos 23:8). Esse
aqui também não; e nem esse
aqui, e nem
esse. Talvez por isso fazem o que fazem!
Posso ficar até a semana que vem dando exemplos de saduceus modernos.
Mas vou parar aqui: prefiro que você mesmo(a) procure à sua volta. Ou dentro de você.
Das duas uma: ou dizemos como o fariseu da parábola – “Graças te dou ó Deus, porque não sou como
esse pessoal aí” – ou assumimos nosso saduceísmo.
Espero que o povo de Deus faça uma reflexão e veja se não está
adotando a cultura dominante hoje na sociedade. Se não estamos com vergonha,
escondendo a nossa circuncisão. “A circuncisão que
é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas
de Deus” (Romanos 2:20).
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