sábado, 25 de maio de 2013

Os saduceus modernos

Quando falamos sobre o período de
silêncio profético, descobrimos que durante aqueles 400 anos ou mais, no alvorecer do Novo Testamento,surgem vários grupos que não existiam em Israel no tempo dos profetas. Assim que vemos nos relatos dos evangelistas os fariseus, saduceus, herodianos, zelotes, escribas e doutores da lei; e também sabemos que haviam os essênios, apesar de não mencionados nos Evangelhos. Descrevemos algumas características de cada grupo, e nos desafiamos a ver em nós algumas delas. Olhando no espelho, vemos em nós muitas práticas dos fariseus, que Jesus condenou, de modo que precisamos fazer a cada dia uma séria reflexão.
O fariseu da parábola disse: “Graças te dou, ó Deus, porque não sou como esse publicano; e por isso foi repreendido. Hoje, o fariseu se tornou símbolo de tudo que é detestável e indesejável na vida cristã. Até apareceu recentemente uma pesquisa - diga-se de passagem, tendenciosa, com perguntas capciosas e direcionadas - que pretendia identificar se os cristãos de hoje se parecem mais com Jesus ou com os fariseus. Polêmica à parte, eu acho que muitos cristãos se parecem mais mesmo é com os saduceus. Veja se concorda.
Como vimos antes, na época do domínio grego em Israel houve uma forte influência do estio de vida helênico sobre os judeus, uma verdadeira ameaça humanística e mundana. A revolta dos macabeus também foi, em parte, uma reação a esse mundanismo. Em Jerusalém fora construído um teatro do tipo grego, e também um estádio para esportes, no mesmo esquema do famoso Circus Maximus de Roma, um hipódromo em formato oblongo. Ali os jovens judeus começaram a ser seduzidos pelo esporte, e começaram a abandonar as práticas mais
ascéticas de seus pais. Como os atletas competiam nus, os judeus, com medo e vergonha de serem discriminados, começaram a fazer uma espécie de “cirurgia plástica” para disfarçar a circuncisão!
Pior ainda, como o estádio ficava num plano inferior ao Templo, numa encosta de Jerusalém, as pessoas se debruçavam na amurada do local sagrado para assistir às competições, virando as costas para o santuário!
Não sei se os saduceus chegavam a tanto, mas é fato que se orgulhavam de ser modernos, ao absorver a filosofia e a cultura gregas. Eram como uma sombra dos gregos, a quem admiravam. Eram o oposto dos fariseus, que eram nacionalistas e exclusivistas. De qualquer forma, o paralelo com nossos dias não é difícil de ser traçado.
Os nossos saduceus começaram a pulular depois da grande expansão evangélica dos últimos vinte ou trinta anos. Começaram sua caminhada ao ver que o aumento do número de congregados poderia ser acelerado, não com a pregação do Evangelho, o anúncio das Boas Novas de salvação, conforme acontecia desde o século XIX em terras tupiniquins. De repente, descobriram na outra América as técnicas de marketing e de propaganda. Pastores e outros líderes mandaram seus filhos e filhas - herdeiros do feudo de papai e de vovô - estudarem nos “States” para aprender com  o Tio Sam as últimas novidades do mercado eclesiástico. Começaram a adquirir cada vez mais horários em rádio e televisão, não para pregar a Palavra de Deus, mas para vender quinquilharias – CDs e DVDs toscos de cantores toscos, camisetas, livretes toscos de autores toscos. É preciso atender à demanda do mercado... e que mercado!
Sob a iluminação bruxuleante de “novas revelações”, criaram aberrações supostamente baseadas na Bíblia, e assim surgem esquemas de pirâmide como G12 ou M12, copiados de modelos de falcatruas mundanas. “É moderno”, dizem. “A igreja cresce rápido”, defendem. E não se importam se a igreja parece uma panela de pipoca, grande, vistosa, esparramando pelas beiradas, mas sem nenhum valor nutricional. 
Vivi uma época em que a música tocada nas igrejas era bastante amadora, do ponto de vista instrumental e técnico. Ansiávamos por uma melhoria dos músicos – que na época ainda não eram chamados de “levitas”. Batalhávamos para conseguir instrumentos melhores, estudamos Música, ensaiávamos até a exaustão. Aí apareceu uma nova geração que de fato melhorou o nível de execução musical. A globalização ajudou a diminuir a diferença de preços entre as guitarras Giannini (que já então faziam excelentes cópias das Fender e Gibson) e as sonhadas Ibanez. E então conseguíamos comprar violões Ovation, baixos Rickenbaker, baterias Tama, amplificadores Peavey. Microfones Shure!
Mas se o nível técnico e instrumental subiu, em contrapartida a qualidade das letras caiu vertiginosamente, a ponto de ouvirmos hoje em dia pérolas como “Filho meu, você me rejeitou, porta na cara doeu... Ontem eu me lembrei de uma antiga oração que você fez... tenho promessas arquivadas te esperando, filho...a gente vence junto essa parada” (Thalles Roberto). Ou És Deus de perto, e não de longe (Apascentar). Ou “não posso deixar que sigas sem me perceber” (Toque no Altar)... ou “E Ele vem saltando sobre os montes / Incendeia, Senhor, a Tua noiva” (David Quinlan)... por aí vai... Quanta heresia! Quanta bobagem! Ai que saudade dos Vencedores por Cristo, Logos e Jovens da Verdade! Hoje só temos, praticamente, “vendedores de cristo”! 
Tocam muito bem! Não fazem cultos, nem pregam mais nas praças, colégios e universidades, mas seus shows são uma beleza, uma maravilha tecnológica, com técnicos importados, como sempre, da outra América... já o conteúdo... “pula, dança, tira o pé do chão”... lembrei outra vez da panela de pipoca.
E como os judeus de séculos passados, tentam esconder sua circuncisão. Um certo “levita” foi a um programa de TV apropriadamente chamado “Caldeirão” e, perguntado sobre como era sua música, não disse que era cristã, evangélica ou adoração (como diria um “levita” de verdade). Disse que era música moderna “sem setorizar... rap de contexto social positivo”... escondeu a marca que mostrava que ele era diferente!
Os saduceus demoliram os muros que separavam o templo do ginásio. E aí passaram a promover lutas dentro dos prédios que um dia abrigaram reuniões de oração. Dizem que luta-livre e boxe na igreja não tem nada de mais. Se você acha que estou exagerando, clique aqui, aqui, aqui e aqui. Dizem que é para atrair os jovens que gostam desse esporte.
E se “os jovens” gostarem de fazer sexo sem compromisso, o que farão para atraí-los? Bem, já tem meio caminho andado: já existe “nudismo gospel; criaram “boate gospel” pra fazer “balada gospel (aqui também) regada a “cerveja gospel; já funciona a sex-shop gospel (onde deve ter “camisinha gospel” para vender, pois filme “pornô gospel também já tem). “Pole-dance gospel” também já está na praça! Só falta o “motel gospel”. Tudo para “manter o jovem na igreja”: festa junina gospel, carnaval gospel, Halloween gospel... Não deveríamos nos espantar, pois até garota-de-programa (prostituta)gospel já tem - e é até dizimista!
Os saduceus também defendem acordos com o mundo: acham que se os cristãos evangélicos se associarem a emissoras de TV, ganharão tratamento diferenciado. Os “levitas” foram pioneiros nessa mutreta!
Admiram a “cultura moderna”, a “música moderna”, a “moda moderna”, os cabelos, as roupas, as tatuagens e piercings. Irmãs que vão “à igreja” de blusa “frente-única” e calça de academia. Ou então usam vestidos que parecem camisolas, e minissaias que parecem abajures. Homens usando brinco. Pastores fazendo implante de cabelo, delineando a sobrancelha, fazendo lipo-aspiração e redução do estômago. Pastores gastrônomos. Estão aí mesmo, agora mesmo, numa igreja perto de você. Avançados, integrados na cultura e na sociedade. Pós-modernos. Saduceus!
E por vezes, até se confundem com os herodianos. Envolvidos com o mundo político, freqüentam os gabinetes das autoridades. Franqueiam o púlpito aos candidatos, à destra e à sinistra. Negociam verbas, horários na televisão, emissoras de rádio, cargos no governo. Até fazem oração para Deus proteger o fornecedor da propina. Não raro acabam investigados pela Polícia Federal e pela Receita. Mas sempre voltam, apoiando o candidato em quem meteram o pau na eleição passada, ou metendo o pau em quem apoiaram antes.
Os saduceus criticam os fariseus por sua política isolacionista, exclusivista; e agem de maneira diametralmente oposta.  Escondem os sinais da circuncisão e adotam os costumes mundanos, promovendo banquetes faraônicos em suas mansões nababescas em homenagem a políticos, mesmo sabendo que esses “homenageados” são a escória da política nacional.
E como se não bastasse, realizam “cultos” em suas “igrejas” para mostrar publicamente sua íntima ligação com essas figuras abomináveis!
Outros são mais sutis. Adotam uma filosofia liberal e para serem bem-vistos pelo populacho, pela mídia e pelas celebridades, evitam falar qualquer coisa que possa “ofender” os pecadores. Dizem que não são como os fariseus, separados. Não, dizem que Jesus andava com bêbados e prostitutas, então o que é que tem a gente andar com bêbados e prostitutas? Jesus acolhia a todos, e disse à mulher pega em adultério “não te condeno”! Por que condenaríamos essas pessoas desassistidas? Convenientemente, esquecem-se de que Jesus disse àquela mulher: “vai, e não peques mais”. Não, isso não podemos dizer, soaria farisaico demais!
Então, passam a usar música de John Lennon como tema de “pregação”, ainda que ela diga que “não existe céu nem inferno”.  Começam a apoiar militantes homossexuais, para receber aplausos. Aceitam pastores divorciados (também aqui) - ver I Coríntios 7:10-11. Negam a volta de Cristo (também aqui neste link). Negam a soberania de Deus. Como no tempo de Jesus, saduceus não crêem no mundo espiritual: “os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito” (Atos 23:8). Esse aqui também não; e nem esse aqui, e nem esse. Talvez por isso fazem o que fazem!
Posso ficar até a semana que vem dando exemplos de saduceus modernos. Mas vou parar aqui: prefiro que você mesmo(a) procure à sua volta. Ou dentro de você.
Das duas uma: ou dizemos como o fariseu da parábola – “Graças te dou ó Deus, porque não sou como esse pessoal aí” – ou assumimos nosso saduceísmo.
Espero que o povo de Deus faça uma reflexão e veja se não está adotando a cultura dominante hoje na sociedade. Se não estamos com vergonha, escondendo a nossa circuncisão. “A circuncisão que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Romanos 2:20).

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