O feriado
de Corpus Christi é uma das festas tradicionais dos católicos. Sua data é
estabelecida a partir da Páscoa, a qual é comemorada no primeiro domingo depois
da lua cheia de 21 de março. Antes tem a
“Quaresma” (período que compreende os 40 dias que antecedem a Páscoa; leia mais
aqui)
e o “Domingo de Ramos”, que antecede o domingo “de Páscoa”. Depois vem o
“Pentecostes”, 50 dias depois da Páscoa, e aí sim, o “Corpus Christi”, a
quinta-feira após o domingo de Pentecostes. Ufa! Quinta-feira porque se crê que
Jesus celebrou a última ceia numa quinta-feira, véspera da “sexta-feira da
paixão”. Leia mais sobre isto aqui.
A celebração da data teve início em
1193, por iniciativa de uma freira belga, Juliana de Cornillon, que
disse ter visto a Virgem Maria pedindo para que ela realizasse uma grande festa
para “honrar o corpo de Jesus na eucaristia”. Anos mais tarde, em 1264,
o “papa” Urbano IV através da “bula”Transituru do Mundo,
decretou a celebração oficial, com a finalidade de honrar Jesus Cristo, pedir
perdão pelo que foi feito a Ele e protestar contra os que negavam a
presença de Deus na “hóstia sagrada”.
A crença diz que, no momento em que o
sacerdote proclama as palavras “Isto é o meu corpo e isto é o meu
sangue” (em latim, “hoc est corpus
meus”), ocorreria a transubstanciação, um fenômeno por meio do qual
a substância do pão e a do vinho (neste caso, a hóstia e vinho) se transformam no
corpo e sangue de Cristo (apenas como curiosidade, essa expressão latina se
transformou com o tempo na fórmula de bruxaria e feitiços,“hocus-pocus”).
A base para essa crendice é buscada nas
palavras de Jesus, quando falou a respeito do pão que abençoara: “Tomai e comei, este é o meu corpo”, e do
cálice: “bebei dele todos, pois este é o meu sangue”
(Mateus 26:26, 28). Mas forçar um significado literal nessas palavras cria numerosos problemas de
interpretação e tende a subestimar o que a Bíblia comumente usa como expressões
figuradas.
Por exemplo, quando alguns homens de Davi
arriscaram suas vidas para trazer-lhe água de Belém, ele a recusou dizendo: “beberia eu o sangue dos homens que foram a risco de
sua vida?” (II Samuel 23:17). A Bíblia fala de Jesus como sendo
uma “porta”, a “vinha”, a “rocha” (João 10:9; 15:5; I Coríntios 10:4). Todos
reconhecem essas afirmações como sendo entendidas em sentido figurado. Isto
também é verdade em relação ao pão e ao vinho: são símbolos do corpo e do
sangue. Cristo prometeu estar presente quando “dois
ou três estiverem reunidos em
Meu Nome”; e assim, rejeitar a idéia de que
Ele se torna literalmente presente em pedaços de pão ou dentro de um cálice não
significa rejeitar a Sua presença espiritual entre os crentes. São duas coisas completamente diferentes. Jesus não precisa de algo físico para manifestar Sua presença entre nós, conforme atestam Suas aparições aos apóstolos e aos discípulos em Emaús, por exemplo. Não foi necessário nenhuma cerimônia especial para que Ele aparecesse entre os que o seguiam.
O corpo e o sangue: depois que Jesus abençoou o pão e
o vinho, eles não foram transformados em Seu corpo e sangue, uma vez que Ele
literalmente ainda estava ali. Ele não sumiu para reaparecer na forma de pão e
vinho. Depois de abençoar o vinho, ele ainda o chamou de “fruto da vide”, não
sangue literal! Ver Mateus 26:29. Quando Ele bebeu o vinho, Ele bebeu Seu
próprio sangue? Se o vinho se tornasse sangue, bebê-lo teria sido um sacrilégio
e uma abominação, de acordo com Deuteronômio 12:16 (“não
comerás do sangue; sobre a terra o derramarás como água”) e Atos
15:20 (“que se abstenham das contaminações dos
ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue”).
De fato, crer que os elementos da Ceia se
transformam literalmente na carne e sangue de Cristo cria inúmeros problemas.
Tertuliano conta que os sacerdotes de seu tempo tinham muito cuidado para que
nenhuma migalha de pão caísse no chão, para não machucar o corpo de Cristo. Na
Idade Média, gastou-se muito tempo discutindo o que fazer se alguém, após
“receber a comunhão”, vomitasse; ou se um cachorro ou rato tivesse oportunidade
de roubar um pedaço de Jesus. No Concílio de Constança, por exemplo, debateu-se
se algum homem derramasse o sangue de Cristo sobre sua barba, se deveriam
queimar a barba do homem ou queimar o homem e sua barba juntos!
Mesmo com todos
esses problemas, até
o momento sem respostas lógicas e escriturísticas, este é o momento mais
importante da celebração de Corpus Christi – as hóstias até então não
consagradas, tornam-se consagradas. E assim o sacerdote sacrifica de novo o próprio Cristo,
como assevera o Concílio de Trento “Se
alguém disser que na missa um verdadeiro e apropriado sacrifício não é
oferecido... que seja amaldiçoado”.
E a coisa vai mais além:
entender que a cada missa Cristo é novamente
oferecido em sacrifício é claramente contrário que o próprio Jesus afirmou
sobre sua morte na cruz: “Está consumado”!
Está feito, acabado, terminado; não precisa ser feito de novo! Hebreus 10:10-14
esclarece essa questão de forma cabal: “É nessa vontade
dele que temos sido santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre. Ora,
todo sacerdote se apresenta dia após dia, ministrando e oferecendo muitas vezes
os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar pecados; mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos
pecados, assentou-se para sempre à direita de Deus, daí por diante esperando,
até que os seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. Pois com uma só oferta tem
aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados”.
É por
isso que a Bíblia ensina que o partilhar do pão e do vinho é um ato em memória do que Jesus fez por
nós: um memorial, uma recordação, um marco, para que não seja esquecido aquele
episódio! Foi isso que Jesus disse: “E tomando pão, e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho,
dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de
mim” (Lucas 22:19).
E também os apóstolos
reafirmaram esse entendimento, cf. Paulo
em I Coríntios
11:23- 25, que, ao explicar à Igreja como deveria ser celebrado esse momento,
repetiu letra por letra o que o próprio Jesus dissera anos atrás: “Porque eu recebi do
Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi
traído, tomou pão; e, havendo dado
graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que é por vós; fazei isto em
memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as
vezes que o beberdes, em memória de mim”.
Este é o
mesmo relato de Mateus cap. 26 e Marcos cap. 14. Nada de fórmulas mágicas,
mistérios, transformações miraculosas, misticismo. Apenas uma reunião para
lembrar a morte de Cristo em nosso lugar, como o cordeiro que era sacrificado
para remissão dos pecados do povo. E o corpo partido e o sangue derramado são
simbolizados pelo pão e pelo vinho. Qual a dificuldade em se entender isto?
Qual a necessidade de se mistificar e criar um ritual complicado para essa
ocasião?
Dessa forma, só me resta terminar citando não
uma lenda ou estorinhas, mas a própria Escritura, que adverte que, repetindo o
que não necessita de repetição, inventando mitos sobre a morte de Jesus, muitos
“estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo novamente
ao vitupério” (Hebreus 6:6). Cabe a você decidir se vai seguir
os preceitos da Santa Palavra de Deus, ou as tradições toscas e semi-pagãs dos
homens.
Com
informações de Editores HowStuffWorks Brasil e Ralph Woodrow,
“Babilônia, religião de mistérios – antiga e moderna”.
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