Alguns anos haviam se passado após a morte de Josué e da geração que havia conquistado Canaã. As 12 tribos iam se estabelecendo gradativamente na terra prometida. Cidades foram conquistadas, batalhas foram ganhas e a terra produzia os primeiros frutos. Israel não era mais escravo do Egito. Embora acontecessem conflitos de tempos em tempos com os povos vizinhos, agora Deus havia cumprido sua promessa e os filhos de Abraão habitavam em sua própria terra. Mas... “levantou-se outra geração que não conhecia ao Senhor, nem tampouco a obra que Ele fizera a Israel”.
O que aconteceu?
Essa “nova geração” acostumou-se à vida relativamente fácil na terra de Canaã. Como nasceram depois da libertação, não viram os flagelos sobre o Egito, nem o mar se abrir deixando Israel passar a seco e o exército de Faraó se afogar; não viram o Sinai fumegante. Não viram a nuvem de dia e a coluna de fogo à noite, nem as águas do Jordão pararem para a Arca passar. Não viram as muralhas de Jericó caírem.
Viviam “normalmente”. Mas “não conheciam ao Senhor, nem a obra que Ele fizera a Israel”. Achavam que estavam ali desde sempre. Que a terra sempre fora deles. Que nunca haviam sido escravos. Nada sabiam sobre as lutas das gerações anteriores para, com a ajuda de Deus, estabelecer aquele estado de coisas, aquela situação relativamente estável que permitia plantar e colher, comer e beber, casar-se e dar-se em casamento.
Quantas pessoas hoje, que estão há pouco tempo no Corpo, também acham que as coisas sempre foram assim como são hoje? Quantas pessoas não fazem idéia de como era difícil ser filho de Deus há 20, 30 anos atrás? Quando não havia “celebridades” em times de futebol; quando não havia “popstars” evangélicos... aliás, nem rádio evangélica. Quando muito, comprava-se um horário (geralmente a preços abusivos, às cinco da manhã), e por 5, 10 minutos, fazia-se uma pregação rápida e uma oração... música, nem pensar.
Aliás, os músicos evangélicos da época preocupavam-se em evangelizar por meio de apresentações nas praças, colégios e no interior, debaixo de gozação, desprezo e indiferença; ou em edificar o povo de Deus por meio do louvor, adoração e testemunho. Não havia shows. Não havia entrevista na TV. Não havia vendas milionárias de discos (ainda não existia CD nem DVD)... Mas essa geração conhecia ao Senhor, e abriu caminho para que hoje você possa ligar entrar no seu carro e sintonizar uma rádio que pelo menos se chama cristã. Ou várias.
Uma geração atrás, não era fácil testemunhar na escola. Você era discriminado, isolado, seus amigos te evitavam. Quando você conhecia outro crente na escola, era a maior alegria! Você podia enfim compartilhar, orar junto, ter com quem conversar. Com quem evangelizar. Senão seus colegas iriam para o inferno.
Hoje não: o evangelho é mais conhecido. Todo mundo tem um amigo que é da igreja tal e da igreja qual. Tem muito freqüentador de igreja nas escolas. Não precisa mais evangelizar os colegas. Eles vêem a pregação pela TV. Pra quê se preocupar em ficar pregando? Eles vêem pregação pela TV ou pela Internet, se quiserem. Além do mais, temos que respeitar a diversidade. A opção do outro. A escolha do outro. Se ele quiser ir para o inferno, é problema dele. Não posso interferir na escolha. Aliás, será mesmo que existe inferno? Ninguém fala mais sobre isso... Será que é mesmo preciso perguntar às pessoas se eles querem receber a Jesus como Senhor e Salvador? Ninguém pergunta mais isso, nem nas “igrejas”... Será que as pessoas querem conhecer ao Senhor? Será que nós queremos que as pessoas conheçam ao Senhor? Será que nós conhecemos ao Senhor?
As gerações passadas suportavam todo tipo de humilhação e discriminação porque conheciam ao Senhor, e a obra que Ele fizera a Israel. As gerações passadas não vendiam a bendita esperança e o privilégio de evangelizar e testemunhar por um prato de lentilhas, uma música tocada no Fantástico ou no show da Xuxa; ser entrevistado no jornal das 7; ser eleito vereador ou deputado “representante dos evangélicos”. Um prato de lentilhas ou 30 moedas de prata, tanto faz.
A igreja evangélica brasileira hoje é “mais respeitada”. Há um certo “ethos” evangélico, isto é, a mídia e a sociedade em geral nos reconhece como um grupo numeroso, que tem opiniões próprias e certo padrão de comportamento, mais em termos sócio-econômicos do que religiosos, onde ainda há muitos preconceitos (vide as representações e caracterizações de crentes em novelas – tipo aqui, aqui e aqui). Mas esse relativo e limitado “respeito” foi construído a duras penas por quem de fato conhecia o Senhor. As gerações passadas. Que, aliás, eram menos numerosas, mas construíram uma imagem baseada em valores como honestidade, rigor no viver, no falar e no vestir, na discrição; e não na extravagância. Diferente do mundo e não em conformidade com ele.
A geração atual não parece conhecer o Senhor, nem o que Ele fez ao Seu povo! Mas sabe o valor de 30 moedas de prata. Conhece o sabor de um prato de lentilhas.
A “nova geração” que surgiu em Israel procurava se identificar com os povos em redor, porque os valores de Deus lhes eram desconhecidos. Eles viram que a geração anterior era diferente do mundo, e isso não os agradou. Eles quiseram ser semelhantes aos seus vizinhos. Não queriam ser discriminados, nem diferentes. Queriam fazer tudo que os povos ao redor faziam.
Os povos que havia ao redor deles vestiam-se de outro modo, falavam de outro modo. Não falavam só de Deus e da Bíblia. Cantavam diferente de Israel. Ritmos mais modernos. Namoravam e casavam como queriam. Gastavam seu tempo como queriam.
Os povos que havia ao redor deles comiam de outra forma.
Os povos que havia ao redor deles serviam a outros deuses.
E Israel começou a segui-los.
Juízes 2:11-14: Então os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, servindo aos baalins; abandonaram o Senhor Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses dos povos que havia ao redor deles, e os adoraram; e provocaram o Senhor à ira, abandonando-o, e servindo a baalins e astarotes. Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e ele os entregou na mão dos espoliadores, que os despojaram; e os vendeu na mão dos seus inimigos ao redor, de modo que não puderam mais resistir diante deles.
A Igreja hoje está sendo influenciada pelos povos ao seu redor. Basta olhar nossos planos, nossas aspirações e desejos. Nossos métodos de fazer negócios; nossas reuniões, nossas conversas, nossas músicas, nossos shows, nossas rádios, nossos programas de televisão. Nossos passatempos. Os filmes que assistimos. Os políticos que elegemos.
É por isso que somos entregues nas mãos dos espoliadores, e é por isso que não temos como resistir diante deles. A nova geração não conhece ao Senhor, e por isso segue aos baalins e astarotes. Nós não nos ajoelhamos diante de suas imagens, mas seguimos suas doutrinas. Doutrinas novas, que surgiram depois que a geração anterior se foi. Doutrinas e ensinamentos que foram escritos depois que paramos de ler a “velha” doutrina. Depois que paramos de ler a Bíblia e começamos a buscar “novas revelações”. Nos esquecemos “da obra que Ele fizera a Israel”.
Já vi e ouvi mais de um “pastor” dizer que “crente velho é difícil”. Talvez seja mesmo: quem está há mais tempo no Evangelho já aprendeu a ler a Bíblia e buscar de Deus a interpretação, o discernimento e a sabedoria, e não cai fácil em qualquer heresia ou inovação. Não vai em qualquer modismo ou “nova unção”. Crente novo, muitas vezes, vai no entusiasmo, na adrenalina, na emoção, e tem medo de confrontar “o ungido”, mesmo quando esse “ungido” diz e faz besteiras. O que nós precisamos é acabar com esse negócio de “nova geração”, “geração disso” e “geração daquilo”, “geração profética” e “geraçãoextravagante”, e voltar a ser simplesmente a geração eleita. A geração que segue a vontade de Deus, que busca conhecer a Deus e não se esquecer de Suas obras para com Seu povo.
O Salmo 103:2,7 diz:
“Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios. [O Senhor] fez notórios os seus caminhos a Moisés, e os seus feitos aos filhos de Israel”.
Eu penso que é tempo de se arrepender de viver em conformidade com o mundo. De seguir aos baalins e astarotes da vida. De trazer à memória todos “os Seus benefícios”! Pois “é de eternidade a eternidade a benignidade do Senhor sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos filhos, sobre aqueles que guardam o seu pacto, e sobre os que se lembram dos seus preceitos para os cumprirem” (v. 17 e 18), e Ele “Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a sua ira” (v. 9).
Eu penso que é tempo de se arrepender de viver em conformidade com o mundo. De seguir aos baalins e astarotes da vida. De trazer à memória todos “os Seus benefícios”! Pois “é de eternidade a eternidade a benignidade do Senhor sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos filhos, sobre aqueles que guardam o seu pacto, e sobre os que se lembram dos seus preceitos para os cumprirem” (v. 17 e 18), e Ele “Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a sua ira” (v. 9).