sábado, 3 de setembro de 2011

Mais vacas sagradas evangélicas

Ciro Zibordi conta sobre um pastor que percebeu uma nuvem negra sobre certa cidade, e “resolveu, num ‘ato profético’, percorrer a cidade inteira de carro, rua por rua, derramando azeite por onde passasse! Já pensou se a moda pega, e alguém queira ungir Nova York, Londres, Rio de Janeiro e São Paulo?! Haja azeite!”, completa Zibordi.
Em certa igreja
- continua - era dia de eleição, e “o pastor resolveu fazer um ‘ato profético’. Enrolou-se na bandeira do Brasil, ‘profetizou’ vitória sobre a nação, ungiu a bandeira e depois pediu que os presentes ‘profetizassem’ bênçãos para o Brasil, representado pela bandeira”. Resultado: isso durou mais de uma hora e não houve tempo para a exposição da Palavra. Não é isso que o Diabo quer? Roubar tempo e energia dos homens para que não dêem ouvidos à Palavra?
O “ato profético” consiste em fazer um ritual com certos elementos simbólicos, de forma que Deus fica obrigado a repetir e realizar, para atender aos adeptos dessa prática. Só que os indígenas fazem a mesma coisa desde a idade da pedra: tentam controlar os deuses com simbologias e representações acompanhadas de orações e sacrifícios. Satanistas e adeptos da Wicca fazem o mesmo. As pessoas que se vestem de branco no ano novo, vão à praia e dão três pulinhos nas ondas estão fazendo um “ato profético”.  Hoje tem tanta coisa chamada de “ato profético” que em nada diferem das simpatias, macumbas e afins. Simpatias gospel que vêm acompanhadas do famoso “se você não tiver fé, não irá acontecer”, uma ótima desculpa para o caso de o “ato profético não funcionar”.
Então talvez o pessoal de Toronto não tenha fé suficiente. Lá a Parada Gay é a segunda maior do mundo, só perdendo para a de São Francisco. O pessoal de Toronto precisa rir menos, fazer menos “atos proféticos” e evangelizar mais.
“Ato profético”, no fundo, não passa de feitiçaria gospel para que Deus faça o que as pessoas querem. Acham estarão “movendo as mãos de Deus”, se esquecendo de que, independente da profecia ou do ato, o que foi revelado por Deus acontece. Profecia é informação dada por Deus sobre o futuro. O Senhor revela os seus desígnios aos seus. Isso é fato. Mas nunca a Bíblia diz que Deus age de acordo com a vontade do homem. O que Deus mandava os profetas fazerem servia de ilustração a respeito do que havia de ocorrer, e não o contrário. Os profetas quebraram a botija, se deitaram de lado, se casaram com prostitutas, e muitas outras coisas, mas não para que Deus “mudasse a história” e fizesse de acordo com o determinado no “ato profético”, e sim para revelar ao povo daquela época a sombra das coisas que viriam!
Mário Persona diz que “todas aquelas coisas serviam para mostrar o que Deus iria fazer e agora já fez. Um judeu que visse a ‘sombra’ das coisas futuras naqueles objetos e gestos da antiga adoração judaica podia ser consolado. Mas hoje que temos a realidade que aquela sombra representava, não precisamos nos ocupar com a sombra, mas com a Pessoa que já chegou. Um exemplo: quando você vê a sombra de uma pessoa querida aparecendo no portal de sua casa, você se levanta da poltrona e se alegra. Mas assim que aquela pessoa passa pela porta você corre para o abraço. Mas o que você abraça, a sombra?! Só se estiver louco! Você deixa a sombra pra lá e abraça a pessoa. O cristão não precisa de ‘recursos audiovisuais’ para adorar em espírito e em verdade. Os judeus precisavam desses adereços e aditivos, como um templo visível, vestes, instrumentos musicais etc”.
Jesus curou doentes, ressuscitou mortos, acalmou o mar, proporcionou a pesca milagrosa, transformou água em vinho e muitas outras coisas não como “ato profético”, mas para manifestar o poder de Deus. “Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:30,31), não para que saíssemos aplicando lodo nos olhos dos cegos!
Mas eles acham que não. O que se fazia na idade da pedra sim, era feitiçaria, fruto de mentes ignorantes e supersticiosas. A macumba e as simpatias também ficaram para trás. Hoje, a “igreja” alcançou um nível espiritual muito profundo e elevado (é de propósito mesmo, para ilustrar a confusão em que vive o “povo de Deus”), de modo que o que se faz nas igrejas dos tempos atuais “movem as mãos de Deus por meio de atos proféticos” e representações acompanhadas de muita oração e jejum.
Os profetas do Antigo Testamento realizavam atos simbólicos, para ilustrar os atos que Deus iria realizar, pois eram coisas que Ele determinara na Sua presciência. Mas os “atos proféticos” das “igrejas” projetam os desejos e vontades de seus “líderes”, “apóstolos”, “patriarcas” e outros títulos de nobreza. Enquanto os profetas bíblicos falavam o que Deus mandava dizer, os profetas de hoje dizem para Deus o que Ele deve fazer. Fazem de Deus seu escravo. Mas como Deus não é escravo, não é em Deus que eles crêem.
A iniciativa em Newark – de que falamos aqui – foi liderada pelos pastores Bernard Wilks e Ed Silvoso, e pretende encontrar pelo menos uma pessoa para andar em cada uma das milhares de ruas das cidades fazendo orações. Ambos são membros da Coalizão Internacional de Apóstolos (ICA – International Coalition of Apostles), que teve início em 2001 com a “Nova Reforma Apostólica”. Os chefes dessa “reforma” são C. Peter Wagner e Cindy Jacobs, que defendem a chamada teologia dominionista, a qual diz que até 2032 os evangélicos irão dominar o mundo.
No Brasil também existe “Conselho de Apóstolos”, formado por Neuza Itioka (Ministério Ágape Reconciliação), Valnice Milhomens (Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo), Jesher Cardoso (Missão Shekinah), Arles Marques (Comunhão Cristã Igr. Apostólica), Francisco Nicolau (I. Bat. das Nações), Sinomar Fernandes (Minist. Luz para os Povos), Paulo Tércio (Igr. Apost. Novidade de Vida), Alexandre Nunes (Igr. Apost. Ágape de Ubatuba), Márcio Valadão (Lagoinha), Paulo de Tarso (Igr. Apost. Betlehem), Ebenézer Nunes (Igr. Apost. Batista Viva), Mike Shea (Minist. Casa de Davi), Dawidh Alves (Minist. Tabernáculos – que nome artístico, hein? Dawidh... legal!), Luiz Scultori (Minist. Apost. Terra Santa), e Hudson Medeiros (Rede Bras. de Intercessão, Oração e Jejum); (Fonte: Pavablog). Mas toda a turma conhecida como “neo-evangélicos” faz essas estrepulias: Terra Nova, Rodovalho, Marco Feliciano, a IURD com seus despachos gospel, etc. Depois procure sobre esse povo na Internet e comprove o que andam fazendo.
Esse pessoal todo, ligado ao dominionismo, sobre quem já vimos alertando há tempos, fincou pé em várias denominações, não só as “neopentecostais”, mas também na Assembléia de Deus e nas históricas como a batista, como vimos na lista acima. O “ministério” Diante do Trono, por exemplo, da “batista” da Lagoinha: em suas raízes vemos o Instituto Christ For The Nations (“Cristo para as Nações”, do Texas). A líder do DT estudou lá e foi treinada nas técnicas e doutrinas de crescimento de igrejas, de C. Peter Wagner – que é praticamente o cérebro mundial do neopentecostalismo. Já André Valadão passou pela escola Rhema, de Kenneth Hagin.
Quando estavam estudando por lá (década de 1990) as forças mundiais do cristianismo radical – que se propunha converter o mundo todo até o ano 2000 – estavam se agrupando em torno dos Bush na chamada “direita evangélica” – leia mais aqui, aqui, aqui e aqui. Nesse movimento estão Vineyards, a igreja de Toronto, os pregadores da prosperidade e da “unção do riso”, Paul Cain e os veteranos do movimento “chuva serôdia”, os dominionistas e certas alas ecumênicas e carismáticas do catolicismo romano. Alinhados ao ecumenismo católico estão Benny Hinn e Marcos Witt, respectivamente, “líder e profeta”, e “líder de louvor”, que vêm moldando as mentes e corações de toda uma geração de crentes.
Essa turma ajudou a construir milhares de templos no mundo todo, inclusive o primeiro templo de Paul/David Yonggi Cho na Coreia. O poder econômico foi usado para levantar templos e ministérios cristãos no mundo e, em particular, na Coréia, como parte da estratégia ocidental na guerra-fria, isto é, aumentar o numero de crentes criaria um muro para combater o comunismo - pensavam os especialistas. Daí houve pesado investimento tanto para Cho quanto para o reverendo Moon (que diz ser Jesus e salvador da humanidade). Se todo esse esforço fosse para evangelização pura e sem mistura, tudo bem, mas o que vemos é o uso da máquina religiosa para gerar poder e domínio político e econômico/financeiro.
É daí que saem as “instruções dos apóstolos” para aumentar estratosfericamente o número de clientes nas igrejas; colocar milhares no estádio, rodear cidades, jogar óleo de helicóptero, até urinar nos cantos da cidade. Colocar bandeiras (costume pagão medieval, visto que muitas têm símbolos satânicos e ocultistas, que ficam lá cercando os pobres crentes, totalmente abertos à visitação de espíritos disfarçados de Espírito Santo)... tudo isto vem de seminários como Cristo Para as Nações, onde Ana Paula estudou, e do moderno dominionismo, que quer dominar toda a terra a qualquer custo. Foi com apoio técnico e aparelhagem de última geração dos amigos americanos que eles dominaram o mercado gospel; e agora também com o apoio da Rede Globo. Basta ler os créditos finais nos DVDs deles, para verificar que a parte técnica é toda “made in USA”.
Há livros publicados por esse “ministério”, onde se ensina a fazer “atos proféticos” como o que fizeram na beira do rio Arkansas. Colocaram água do rio num jarro de barro, acrescentaram sal, e depois jogaram de novo a água no rio, “declarando palavras de bênção”, como “o rio Arkansas vai alegrar a cidade de Deus, haja benção sobre este rio”, blá, blá, blá. Não satisfeitos, se deitaram no chão, dois a dois, para que o espírito (que certamente não o Espirito Santo, porque este habita nos crentes...) passasse por entre cada dupla para chegar até o rio e purificar as suas águas. Ou seja, pura macumbaria. Outro livro ensina como fazer “música profética”, pular e gritar no palco, fazer hu, hu, hu e levar a multidão a pular e fazer gestos extravagantes. Em breve falaremos da música e da adoração, se é assim ou não.
Só não sei de onde  tiraram a idéia maluca de, depois de lavar os pés, jogar a água do chulé na platéia (veja aqui se estou fofocando). Revelação instantânea? Mistério não revelado? Vai saber...
A “editora” desse “ministério” publicou um livro da “profeta e apóstola” Barbara Wentroble, que faz parte do “Conselho” presidido por C. Peter Wagner. Esses e outros “líderes” se reúnem todo ano para “definir os rumos do mover de Deus”. Eles chamam isto de “távola-redonda” e em alguns sites associados a eles há figuras de cavaleiros medievais. Há “revelações” de que veio anjo com taça de ouro, palavra profética revelando qual a melhor data para as tropas entrarem no Iraque, profecia dizendo que a rota da seda seria dada aos crentes e outros absurdos. Na Antiguidade, a “rota da seda” era o caminho por onde vinha a valiosa seda chinesa para os mercados europeus passando pelo Afeganistão, Irã, Iraque e Síria, ou seja, o tal espírito disse que daria “as riquezas das nações” contanto que fizessem na data certa a guerra no Iraque...
Eu termino dizendo que não há na Bíblia nada que autorize a Igreja do Novo Testamento a rodear cidades, ungir bandeiras, quebrar botijas, jogar sal em rios, dar tiro no diabo (aqui tem o vídeo), derramar vinho em encruzilhadas, tocar shofar... nada disso adianta nada, não muda nada, não altera a vida das pessoas, não muda os rumos da nação, doa a quem doer.
O que muda a vida das pessoas e os rumos da nação é o que Jesus ordenou à Igreja: “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). “Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mateus 28:19,20).
E isto para mim basta.
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