sábado, 13 de setembro de 2014

Contradições da Bíblia? 9


Existem acréscimos nas Escrituras?
De novo: os trechos de comentários que recebi, contendo dúvidas e críticas ao texto da Bíblia, serão transcritos neste tipo de letra.
A Bíblia às vezes é definida por algumas pessoas como “uma verdadeira colcha de retalhos, cujos autores, em sua maioria, são desconhecidos ou incertos, que ali expressaram suas crenças pessoais, imbuídas de conceitos, preconceitos, superstições e escassos conhecimentos científicos, comuns às pessoas das atrasadas sociedades de suas épocas”.
Eu já começo dizendo que os autores não são “desconhecidos ou incertos”. Não resta a menor sombra de dúvida sobre a autoria dos livros da Bíblia. Quem, em sã consciência, negaria que Moisés escreveu os cinco primeiros livros, quando eles próprios têm na introdução esta informação? Já sei, vão dizer que “como pode Moisés ter descrito a sua própria morte”? Obviamente, depois que Moisés morreu, um dos sacerdotes, ou muito provavelmente Josué, seu sucessor, incluiu a nota fúnebre, que aliás, faz a ligação com o livro seguinte, justamente o de Josué.
O mesmo ocorre com os livros do profeta Samuel, que descrevem a sua morte. O seu sucessor foi quem anotou o epílogo. Eruditos afirmam que o profeta Natã, o mesmo que repreendeu Davi, foi o responsável pelas informações sobre a morte de Samuel. Talvez o único livro que ainda tenha a autoria discutida seja a carta aos Hebreus. E eu pergunto: isto é motivo para dizer que a Bíblia é “uma colcha de retalhos cujos autores são incertos”? Ou essa opinião é apenas uma evasiva para que o ego encontre uma desculpa para descartar a Bíblia?
Dizem também que “os livros que a compõem foram escolhidos entre muitos, de forma aleatória, e, comprovadamente, aditados, editados, adulterados e mutilados de forma desonesta no decorrer dos séculos, tudo para favorecimento e atender a interesses particulares, além das reconhecidas dificuldades e falhas em sua tradução, de forma que, o que lemos hoje, não necessariamente espelha o seu conteúdo original”. Bem, já falei antes sobre tudo isso: cópia, alterações, traduções e intepretações. Não vou repetir, clique nos links e releia, se quiser.
A justificativa para essa “falta de credibilidade” consiste nos trechos a seguir, citados como sendo acréscimos aos textos originais, aqui ressaltados [entre colchetes]:
Mateus 17:21 – [mas esta casta de demônios não se expulsa senão à força de oração e de jejum]. O mesmo ocorre em Marcos 9:29 (“Esta casta não sai de modo algum, salvo à força de oração [e jejum]). Bem, em primeiro lugar, como diz Josh McDowell em “Evidências que Merecem um Veredito”, não é pelo fato de que uma palavra ou texto não se encontra nos manuscritos gregos mais antigos que tal texto deva ser rejeitado: “Quando se faz uma tradução utilizamos todos os textos, de todas as épocas e de vários idiomas. Podemos encontrar um texto em árabe, por exemplo, mais antigo que um texto grego. Isso não significa que, embora o texto grego não contenha (nesse nosso exemplo) a tal palavra, que ele não seja parte do escopo original, pois ela se encontra no texto em árabe! Sendo assim, todos os manuscritos devem ser usados para uma análise mais ampla e fidedigna do documento em estudo. O Novo Testamento tem aproximadamente 5 mil manuscritos gregos, 10 mil manuscritos em latim e 9 mil em outros idiomas. Todo esse material é importante em uma tradução”.
Em segundo lugar, a palavra “jejum” estando ou não ali, não faria diferença. Afinal, Jesus não está dizendo que, para a expulsão de certos tipos de demônios era necessário um período de oração e jejum. O princípio no texto é outro: onde há pouca fé, há pouca oração e jejum (Mateus 17:19,20). Onde há muita oração e jejum, resultante da dedicação genuína a Deus e à sua Palavra, há abundância de fé. Se os discípulos estivessem vivendo uma fé viva de oração e jejum como Jesus ensinou e praticou, poderiam ter resolvido o caso.
Hermes Fernandes opina sobre o jejum que Jesus fez antes de confrontar Satanás. Ele jejuou “não para ficar mais forte, e sim, para ficar mais fraco. O texto não diz que depois de jejuar Jesus ficou mais forte espiritualmente. Em vez disso, diz que depois de jejuar por quarenta dias e quarenta noites, teve fome (Mateus 4:2). Fome é sinal de fraqueza, e não de força. E Ele tinha de ficar fraco e com fome para que a tentação do Diabo fosse legítima. Se Ele não estivesse com fome, de nada adiantaria Satanás Lhe sugerir que transformasse as pedras em pães”. (fonte deste comentário)
Dessa forma, o “acréscimo” ensina que, com o jejum, o demônio sairá; não porque o exorcista está de barriga vazia, mas por que a sua força está no Nome de Jesus, na oração e na dependência do poder de Deus, pois o exorcista em questão está demonstrando sua fraqueza e incompetência para, por si, expulsar o demônio. Ou seja – quer retirar o trecho da Bíblia? À vontade, a sua falta não fará diferença e a lição bíblica será ensinada da mesma forma; basta ao leitor prestar atenção e seguir uma das regras mais básicas e elementares de interpretação: a Escritura pela Escritura se explica.
Seguindo:
Mateus 18:11 – [Porque o Filho do homem veio salvar o que se havia perdido]. É um verso que tanto poderia estar nessa passagem, como em outra qualquer, ou até mesmo em nenhuma, porque mesmo que não existisse, ou fosse suprimido, como desejariam os puristas, a mensagem central do Evangelho seria a mesma. O mesmo trecho se repete em Lucas 19:10, com o “acréscimo” de apenas uma palavra: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Será que a alegada inclusão desse trecho em Mateus desqualifica o Evangelho de Mateus? Será que essa frase em Mateus contém alguma heresia ou está em desacordo com a mensagem que a Bíblia transmite, desde o início até o final? Está esse trecho em contradição insolúvel com qualquer outro da Escritura?
Mateus 19:9 – “Eu vos digo porém, que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, e casar com outra, comete adultério; [e o que casar com a repudiada também comete adultério]. Também não vejo nada de mais, pois a frase entre colchetes está aí apenas para explicar melhor o texto imediatamente anterior. A sua desejada supressão não prejudicaria em nada a mensagem.
Marcos 11:26 – [Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está no céu, não vos perdoará as vossas ofensas]. Vejamos o que vem antes: “25 Quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que também vosso Pai que está no céu, vos perdoe as vossas ofensas”. Aí sim o “acréscimo”: [Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está no céu, não vos perdoará as vossas ofensas]. Experimente ler a passagem “pulando o acréscimo”. Veja se foi perdido o sentido original, ou se o “acréscimo” ajuda a entender o que o texto original queria dizer.
Marcos 15:28 - [E cumpriu-se a escritura que diz: E com os malfeitores foi contado]. Faça o mesmo exercício que indiquei acima.
Marcos 16:9-20 – relatos da ressurreição, aparições e ascensão de Jesus. Se os suprimirmos, a Escritura fica prejudicada? Não, por que lemos o mesmo nos outros Evangelhos. Saberíamos dos fatos da mesma forma. E se os mantivermos, a credibilidade da Bíblia aumenta ou diminui? Não altera, por que sabemos que os relatos são verdadeiros, e não foi uma invenção mirabolante de ninguém. Para mais detalhes sobre a ressurreição, leia aqui.
Lucas 9:54-56-54 - “Vendo isto os discípulos Tiago e João, disseram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir [como Elias também fez]? Ele porém, voltando-se, repreendeu-os, [e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las]. E foram para outra aldeia”. Idem, idem. A supressão dos trechos entre colchetes não altera a passagem.
Lucas 17:36 - [Dois homens estarão no campo; um será tomado, e o outro será deixado]. Idem, idem... 
23:17 – [E era-lhe necessário soltar-lhes um pela festa]. A soltura de Barrabás, idem, idem idem... é somente uma explicação para o leitor.
Atos 8:37 – [E disse Felipe (ao eunuco etíope): é lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele (o eunuco), disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus]. Pois bem, suponhamos que se retire todo esse versículo. Também não altera em nada! Veja que eu mesmo tive que incluir (entre parêntesis, com letra diferente) algumas palavras, somente para esclarecer a você, leitor(a). Se eu não incluísse essas palavras (entre parêntesis), e se você não conhecesse o texto original, até entenderia, mas teria que ir abrir a Bíblia para ver direitinho a quem Felipe disse que “é lícito”, e quem lhe teria respondido “creio”. É apenas uma explicação. Não polui nem adultera o texto!
Atos 15:34 – [Mas pareceu bem a Silas ficar ali]. Vejamos o verso anterior e o seguinte para opinar se há prejuízo, ou se é o mesmo caso acima. “33 E, tendo-se demorado ali por algum tempo, foram pelos irmãos despedidos em paz, de volta aos que os haviam mandado. [34 Mas pareceu bem a Silas ficar ali]. 35 Mas Paulo e Barnabé demoraram-se em Antioquia, ensinando e pregando com muitos outros a palavra do Senhor”.
Como se vê, uma simples explicação que não faria falta se fosse retirada, satisfazendo a vontade dos céticos de serem “revisores de estilo de Deus”, como Carl Sagan, que afirmou que Deus deveria ter escrito melhor a Bíblia. Na verdade, “a Bíblia é confusa” e “Deus devia ser mais claro” são falácias insustentáveis usadas por vários céticos. Richard Dawkins por exemplo, talvez o mais notório ateu da atualidade, tem entre os seus seguidores os que o vêem como um biólogo renomado. Outros o entendem como o líder de um movimento de ódio à religião. Então, segundo a tese da “revelação contraditória”, então Richard Dawkins não existe, por causa dessas diferentes interpretações de suas obras. Ele deveria ser mais claro para que saibamos de fato o que ele é!
Atos 28:29 – (cito o verso anterior para se ter uma idéia melhor do por quê do “acréscimo”) 28 Seja-vos pois notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles ouvirão. [29 E, havendo ele dito isto, partiram os judeus, tendo entre si grande contenda]. Nada disto apresenta dificuldade para o leitor honesto, aquele que não quer apenas “procurar chifre em cabeça de cavalo”, e sim entender o que a Bíblia pode dizer para nós, hoje. É por isso que muitas traduções trazem em itálico (esse tipo de letra inclinada) os trechos que não estão presentes no original, mas foram incluídos para preencher lacunas comuns e inteligíveis no grego, mas que perdem o sentido no português. Neste caso, o trecho “acrescentado” dá uma informação a mais. Se for retirado, não há prejuízo ao contexto.
Lucas 17:36 é tido como acréscimo, mas no verso anterior, lemos: “Duas [mulheres estarão] juntas moendo; uma será tomada, e a outra será deixada”. O original é assim: “Duas juntas moendo; uma será tomada, e a outra será deixada”. “Mulheres e estarão” são palavras acrescentadas, na tradução em Português, para dar à frase a forma gramatical correta em nosso idioma. Nada de mais. A frase do versículo seguinte, o 36, apenas exemplifica ainda mais o que Jesus quer dizer, que é a iminência do arrebatamento, a sua imprevisibilidade. Arrebatamento que, aliás, também é contestado pelos céticos.
A bem da verdade, o que não é contestado pelos céticos? Esse é o papel deles, e pela sua existência dou graças a Deus. Eles nos fazem estudar mais a Bíblia. E estudando a Bíblia continuaremos a tentar elucidar esses “mistérios” e “discrepâncias”.
Isso me obriga a falar mais uma vez de Aristóteles. Eu sempre pensei que Aristóteles era um cara genial, mas parece que me enganei, pois ele disse que morcego era uma ave; e se usarmos os mesmos critérios que alguns céticos aplicam à Bíblia, concluiremos que: 
a) Aristóteles era um ignorante; 
b) não foi quem dizia ser; 
c) seus escritos foram alterados/editados por seus discípulos ao longo dos séculos; 
d) ou então ele nunca existiu, é uma invenção de filósofos carentes de sentido para suas vidas insignificantes e mesquinhas. Afinal, ele expressou “suas crenças pessoais, imbuídas de conceitos, preconceitos, superstições e escassos conhecimentos científicos, comuns às pessoas das atrasadas sociedades de sua época”.
Eu terminaria com uma questão que busca ilustrar o que é a desonestidade de usar dois pesos e duas medidas. O que você acharia de um homem, tido como sábio, que angariou muitos discípulos desde a antiguidade, mas ele mesmo não tenha escrito nada? O que se sabe sobre ele foi escrito muito depois da época em que se crê que ele tenha vivido. O que hoje se atribui a ele foi na verdade escrito por seus seguidores, anos depois. Ele nunca saiu de sua própria terra. Nem mesmo se pode afirmar com certeza que ele tenha existido de fato, tendo havido controvérsias sobre isso, por parte dos estudiosos, pois não se sabe ao certo as datas de seu nascimento e morte. 
Sabe de quem estou falando? 
De Tales de Mileto. E também de Sócrates. E também Siddartha Gautama, mais conhecido como “Buda”.
A analogia é por sua conta.