Os ebionitas
Nós já vimos antes que desconhecer a História é correr o risco de repetir os mesmos velhos erros. Vimos rapidamente como Hitler deu um grande passo rumo à derrota na Segunda Guerra Mundial, ao tentar conquistar a Rússia e ser pego pela vastidão do território e pelas agruras do inverno russo, assim como Napoleão mais de um século antes.
Nós já vimos antes que desconhecer a História é correr o risco de repetir os mesmos velhos erros. Vimos rapidamente como Hitler deu um grande passo rumo à derrota na Segunda Guerra Mundial, ao tentar conquistar a Rússia e ser pego pela vastidão do território e pelas agruras do inverno russo, assim como Napoleão mais de um século antes.
Vimos também como velhas heresias e “moveres”
se recobrem de roupas novas, a fim de enganar os incautos e os que insistem em
permanecer na limitação de conhecimento e de discernimento. Assim que vimos
como o montanismo começou com boas intenções, mas errou ao considerar a
inspiração interior e as manifestações sobrenaturais mais importantes que a
própria Palavra, caindo no fanatismo e por isso, no descrédito. O que acaba contribuindo,
infalivelmente, por desacreditar a Bíblia e suas promessas perante o mundo
incrédulo.
E da mesma forma, isto é, olhando para trás,
podemos ver outros ensinos que um dia cresceram dentro da Igreja e acabaram por
criar vários problemas, ao misturar a Palavra de Deus com interpretações
tendenciosas de homens equivocados.
O movimento chamado “ebionismo” foi um
desses, cujos ecos ainda podemos ouvir depois de 20 séculos. O ebionismo (do hebraico, evyonim, “pobres”) pregava que Jesus de Nazaré não teria vindo abolir a Torah como
prega a doutrina paulina. Ensinavam
que tanto judeus como gentios convertidos deveriam obedecer a todos os mandamentos da Lei de Moisés, incluindo a guarda
do Sabbath e a circuncisão (os gentios que se convertessem a Deus deveriam ser circuncidados).
Conforme relatam Eusébio de Cesaréia (História
Eclesiástica, 3:27) e Epifânio de Salamina (Panarion 30:3:7 e 30:13:1-2) os
ebionitas usavam um único evangelho incompleto e truncado (chamado de “Evangelho dos Ebionitas”). Considerado
como sendo o Evangelho de Mateus escrito em hebraico, era de fato
significativamente menor do que o Evangelho canônico de Mateus, originalmente
escrito em grego. Este evangelho era
também chamado de “Evangelho segundo os Hebreus”, e também é citado
por Jerônimo.
As origens do ebionismo parecem ser antigas.
O choque entre os cristãos “judaizantes” e os cristãos gentios já é aparente no
livro de Atos, onde a discussão entre os dois grupos obriga à convocação
da assembléia dos apóstolos (Atos 15 ). Em Atos 21:20-21 onde consta
que havia em Israel milhares de judeus que criam em Jesus Cristo e eram “zelosos observadores da Lei”. Houve
confronto, pois os judaizantes entendiam que Paulo mandava desobedecer a Lei. Eu
entendo que foi esta a razão de Paulo haver feito o famoso “voto em Cencréia”
(que muitos cristãos ainda hoje usam para justificar o “fazer votos”). Penso
que Paulo, como judeu, até podia fazê-lo, e somente o fez para mostrar aos
judeus que ainda era judeu. Nós não, não somos judeus e não precisamos “fazer
votos”.
Voltando à História, os judeus cristãos de Atos
15:1 e Atos 21:20 não eram ainda chamados ebionitas (esta
denominação somente começou a ser usada mais tarde), mas na prática já eram
ebionitas. A briga entre judaizantes e os anti-iudaizantes aparece também
em Gálatas 2:11-21, onde Paulo relata que Cefas (Pedro), temendo
a rejeição dos judeus, ainda seguia seus costumes, talvez por influência de
Tiago e por sua vez influenciando a Barnabé. Paulo não concordava com isso e repreendeu a Pedro duramente.
Talvez em razão desse episódio, há indícios de que os ebionitas reverenciavam
Tiago como exemplo a ser seguido.
No fundo, os ebionitas criam que Cristo
nada mais era do que um “novo Moisés”. Negavam sua preexistência, sua
encarnação e seu nascimento virginal. No conceito ebionita, embora Jesus fosse
o Messias, era puramente humano. Somente no batismo Jesus foi ungido como
Messias, ou seja, adotado como Filho de Deus, e sendo descendente de Davi,
tornar-se-ia o rei do povo de Israel e seu último grande profeta. Em sua
opinião, Jesus era um judeu fiel, piedoso, profeta e mestre inigualável. Já Paulo
de Tarso teria sido um apóstata da Lei e não foi um verdadeiro apóstolo de
Jesus Cristo; as Escrituras Sagradas para eles eram o somente o Antigo
Testamento e o seu já citado Evangelho, que contém o núcleo da doutrina
ebionita. Com base em Mateus 5:17-19, onde consta que Jesus Cristo disse
que não veio abolir a Lei nem os Profetas,
mas sim cumpri-la, deduziam que a Lei nunca será abolida, e que por isso devemos
obedecer a todos os mandamentos da Lei. Em Mateus 7:21-23 Jesus Cristo diz
que nem todos os que crêem Nele entrarão no Reino de Deus,
mas sim somente aqueles que fazem a vontade de Deus, e que muitos que pregam
o evangelho e
fazem milagres em nome Dele ficarão de fora, porque praticam a iniqüidade. Isto
explica por que este evangelho era o único aceito pelos ebionitas.
Há quem diga que os primitivos cristãos eram
todos “ebionitas” (“pobres”), como Epifânio (LC, xxx, 17), Orígenes (LC, ii,
1), e outros. Muitos cristãos primitivos achavam bom serem pobres, pensando em Lucas
6:20, 24: “Felizes os pobres, pois a eles pertence o
reino de Deus.... Ai de vós, ricos! Pois já tendes recebido vossa consolação”.
Mas alguns estudiosos modernos distinguem os ebionitas de outros grupos
como, por exemplo, os nazarenos. Jeffrey Butz, em The Secret Legacy of Jesus, diz que ebionitas e nazarenos se confundiam. “Depois da devastação da Guerra Judaica... não
há qualquer demarcação clara ou transição formal de nazarenos para ebionitas;
não houve mudança repentina de Teologia e Cristologia” (pg. 137); “Os escritos de pais apostólicos tardios
falam dos nazarenos e ebionitas com se eles fossem grupos judaicos diferentes, mas
estão errados. Os nazarenos e os ebionitas eram o mesmíssimo grupo...” (op.cit.,
pg 137).
Os “pais da igreja” diziam que eles eram literalmente
pobres, porque tinham pensamentos “pobres” a respeito de Cristo. Por fim, desprezado
por cristãos e judeus, o
ebionismo constituiu uma ramificação separada e organizou sua própria
literatura religiosa.
Onde queremos chegar com tudo
isto?
Que por não conhecermos a história
da Igreja, corremos o risco de repetir os mesmo erros. Hoje mesmo podemos
ver vários indícios de que o ebionismo está vivo e muito bem de saúde. Até
comprou uma roupa nova, com a qual costuma comparecer aos cultos toda semana.
Duvida? Então veja se estou exagerando.
Quantas denominações hoje em dia já não desenvolveram
sua teologia particular, através de “seminários”, editoras, gravadoras de
músicas, e até mesmo canais de rádio e TV? Auto-suficientes, numa espécie de feudalismo
evangélico, produzem tudo de que necessitam, alimentando pequenos
erros que quando são apenas figueiras sem frutos, cheias de folhas, ainda
vai... O pior é quando os frutos nocivos começam a cair em outras searas e
espalhar o veneno. Comunidades fechadas em si mesmas são um indício de
sectarismo; no caso, ebionismo. Olhe bem o terreno onde está pisando.
Elementos judaicos no culto – hoje, em algumas congregações e
templos evangélicos, você
pensa que está numa sinagoga. Bandeiras de Israel, “sacerdotes” usando tallit e kippah, “levitas” tocando shofar.
Não raro, um grande destaque é dado a um menorah
de plástico dourado. E alguns vão além, blasfemando de Deus ao fazer uma
réplica ordinária da Arca da Aliança, tão vagabunda e sem valor que qualquer um
pode tocar sem o perigo de ser fulminado, como aconteceu com Uzá e a Arca
verdadeira (I Samuel cap. 6). Já falei sobre isto também aqui.
Outros templos são mais bizarros. Você não
precisa nem entrar para pensar que está num ambiente judaico: eles pretendem
ser a cópia do templo
“de Salomão”. Uma cópia inexata, para ser honesto, pois não somente a
fachada e os principais elementos arquitetônicos são copiados do templo “de
Herodes” (e não do “de Salomão”, como pensam). E mesmo que fosse esse o templo
construído por Salomão, as dimensões estão totalmente fora das
especificações... é ou não é uma tentativa tosca de reviver o Judaísmo? Não
contentes em vender miniaturas de objetos de Israel, azeite de oliva e água do
Rio Jordão, querem reconstruir um templo que o próprio Senhor declarou que não
ficaria pedra sobre pedra (Mateus 24:1,2). Indo na contra-mão de Deus, será que
esse pessoal nunca ouviu falar do que aconteceu a quem reconstruiu o que Deus
destruiu? Por favor, leia Josué 6:26 e I Reis 16:34.
Atos proféticos - outra tentativa de reviver “os
dias gloriosos” dos profetas do Velho Testamento, quando a Igreja ainda era um
mistério. Era uma época em que os profetas eram instruídos por Deus a fazer
certas coisas para ilustrar uma realidade espiritual. Como jogar sal (II Reis
2:21, Ezequiel 43:24), enterrar um vaso de barro (Jeremias 32:14), derramar
líquidos (Josué 6:20, I Samuel 7:6; 10:1; I Reis 18:33 etc.). Isso não nos
autoriza a tentar provocar acontecimentos com esses “atos”! Tudo aquilo servia
para mostrar o que Deus iria fazer - e agora já fez. Um judeu que visse a “sombra”
das coisas futuras naqueles objetos e gestos era consolado. Mas nós já temos a
realidade que a sombra representava: não precisamos mais da sombra, e sim da
Realidade que já chegou. Os antigos profetas anunciavam Jesus para que o mundo
o reconhecesse quando Ele viesse, mas os “atos proféticos” das igrejas atuais não
traduzem a imagem de Cristo. Quando achamos que devemos obedecer às vozes que
ouvimos e às visões que temos, nos mandando fazer coisas que Jesus não mandou, diminuímos
o Filho de Deus. Quando as “revelações” e o “novo de Deus” se sobrepõem às
palavras do próprio Cristo, estamos fazendo Dele só mais um profeta a quem
podemos escolher seguir ou não, como os ebionitas. De novo: os profetas
bíblicos falavam o que Deus mandava dizer; os “profetas” de hoje dizem para
Deus fazer o que eles querem. Não obedecem a Jesus. E por isso adotam práticas judaicas: ungir objetos, lugares e pessoas é apenas mais um desses
erros grotescos, sobre os quais já falamos aqui.
Essa coisa da unção, por sua vez, dá margem à
ressurreição de um sistema já revogado, que é a hierarquia sacerdotal: levitas,
sacerdotes, sumo-sacerdote. Para os judeus era comum ter uma pessoa que entrava
no Santo dos Santos uma vez por ano e falava diretamente com Deus. Mas quando
os discípulos, ainda tendo isto em mente, perguntaram a Jesus quem deveria
ocupar os cargos próximos a Ele no Reino vindouro, Ele cortou pela raiz: “Não será assim entre vós” (Mateus 20:26). A
carta aos Hebreus – ou seja, aos judeus – mostra exaustivamente que esse
esquema acabou; mas os ebionitas dizem que não, que o velho sistema ainda está
vigente com sua hierarquia, e ainda acrescentam outros cargos: agora não temos
só bispos, temos também bispa, apóstola, bispo-primaz, e até patriarca. Veja aqui, aqui,
aqui,
aqui, aqui,
aqui,
aqui,
aqui,
aqui, aqui,
aqui,
aqui,
e mais um monte. Digite no Google e confira.
Outro costume já extinto há pelo menos dois mil
anos, mas que insistem em reviver – pelo lucro que dá a uns poucos espertos – é
a prática do dízimo e seus correlatos, as ofertas alçadas e de primícias. Mas
como isso está ficando muito comprido, prefiro abrir um novo tópico mais à
frente para tratar especificamente desse assunto.
Por ora, ilustro dizendo que tenho
amigos que defendem o dízimo com base em Mateus 5:17... ebionitas!
Para mim isto é judaísmo infiltrado na
Igreja, revivendo coisas que já foram abolidas. O que cabe à Igreja dos gentios
está escrito duas vezes na Bíblia: em Atos dos Apóstolos cap. 15:20, 29 e cap.
21:25.
Acatelai-vos do
fermento dos fariseus!
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