Quando falamos sobre as novas revelações adotadas pela Igreja, mencionamos o retorno a práticas judaicas diversas. Vimos também que isso pode ser um reflexo de uma velha, antiga heresia, a dos ebionitas, os quais criam que a Lei Mosaica deveria permanecer vigente, mesmo depois de Jesus tê-la abolido (como lemos a carta aos Hebreus, etc.). Eles defendiam que os cristãos deveriam obedecer aos 613 mandamentos dados aos judeus na velha dispensação! Aproxima-se desse pessoal a maioria dos pastores evangélicos, que defende a prática do dízimo. É óbvio que eles insistam em cobrar de suas ovelhas essa mensalidade, pois é daí que tiram seu sustento, como profissionais da fé que se tornaram. Muitos até estudaram anos em um seminário, e investiram tempo e dinheiro na formação, como qualquer outro profissional: médicos, psiquiatras, engenheiros, publicitários, advogados, economistas, todos passam pelo mesmo processo. E depois é lógico que queiram viver da profissão que escolheram.
Mais ou menos, pois enquanto muitos estudaram em seminários por anos a fio, e fizeram pós-graduação, mestrado e doutorado em teologia, outros mal sabem assinar o próprio nome; têm dificuldade em redigir um documento, e não entendem nem mesmo o estatuto da igreja – se é que suas igrejas possuem estatuto.
Outro dia eu comentei num desses portais de notícias sobre uma suposta intolerância que alguns segmentos querem impingir aos evangélicos. Não concordo que evangélicos sejam intolerantes, pois embora pastores divirjam entre si sobre alguns assuntos, na maioria são unânimes. Em questões essenciais à fé, as igrejas de diferentes denominações, correntes e tendências geralmente cooperam umas com as outras. Emblemático – e talvez desconhecido para os mais novos – é o caso de quando o evangelista Billy Graham veio ao Rio de Janeiro, fazer uma de suas cruzadas. Todas as igrejas evangélicas da cidade se uniram em esforço comum, para a preparação do evento. Fizeram grandes campanhas de oração, distribuíram folhetos em massa, e como resultado, milhares se converteram, contribuindo significativamente para a diminuição da criminalidade histórica da região. Mas isso foi antes de as igrejas virarem impérios feudais particulares, onde é cada um por si e espera-se que Deus seja por todos.
E para provar que há tolerância entre os evangélicos, mostro que há um ponto em que a concordância é quase total: a cobrança do dízimo. Em algumas, mais moderadas, a cobrança é velada e dissimulada. Todo domingo, e se bobear, em todo culto, tem aquela parte da “liturgia” em que recolhem-se “dízimos e ofertas”. Se você freqüenta uma dessas igrejas, experimente ficar uns dois meses sem ir à frente depositar seu envelopinho. Aos poucos será alvo de bullying religioso; veja quanto tempo agüentará.
Em outras o processo é mais rápido, pois o dízimo é abertamente exigido de cada ouvinte, e nem mesmo os visitantes e “não-membros” escapam do assédio. Já vi pastores de grandes igrejas receberem visitas “ilustres” segundo o mundo, políticos, empresários, artistas e atletas famosos, e dizerem lá do púlpito que naquela ocasião a coleta seria muito boa! Não se importaram com a alma das celebridades, mas com o bolso... É o tipo de reunião onde o dinheiro – doa a quem doer – é a porta de entrada para um mundo idealizado de prosperidade financeira, fim do aluguel, saúde inabalável, fim das dívidas, casamento sem problemas, filhos obedientes, carro do ano e por aí vai.
Em resumo – o sujeito tendo diploma ou não, cobra o dízimo do mesmo jeito. E aí cabe à gente pensar: se uns cobram por ignorância, será que os outros cobram por esperteza? Cada um julgue como achar melhor.
Em resumo – o sujeito tendo diploma ou não, cobra o dízimo do mesmo jeito. E aí cabe à gente pensar: se uns cobram por ignorância, será que os outros cobram por esperteza? Cada um julgue como achar melhor.
Seja como for, esse é o tipo de gente que coloca na Internet a justificativa supostamente bíblica para continuar metendo a mão no bolso da pobre ovelha. Assim é que, com espanto, vemos um seminário que ensina seus alunos como serem bons publicanos, isto é, coletores de dinheiro com diploma. Ou a Lagoinha apresentando lista de 26 razões pelas quais você deve sustentar a mega-estrutura que montaram. Ou então essa tal Gestêmani, com suas 50 razões! O império contra-ataca! Já vejo pastores defendendo na Internet 8, 27, 31, 33 e até 50 razões para te tomar dinheiro. Nesse ponto, se nivelam com os adeptos da igreja romana. Vejam aqui e aqui se é ou não é a mesma coisa. Farinha do mesmo saco! Será um passo rumo ao ecumenismo? O início da igreja de Satanás que existirá depois do arrebatamento? Pois já começam a tocar a melodia no mesmo tom.
Se você olhar direitinho, a maioria das citações que esse pessoal usa vem do Velho Testamento, quando a Igreja ainda não fora estabelecida na Terra. São mandamentos e ordenanças dados a Israel, no âmbito da Lei mosaica, a qual já foi abolida por Jesus quando disse “vim cumprir a Lei”(Mateus 5:17). Ele não a revogou, mas a cumpriu cabalmente. Com a Sua morte na cruz, todas aquelas 613 regras foram cumpridas. Se alguém insiste em cumprir ainda alguma dessas 613 leis, deve então cumprir todas as outras 612, pois “Pois qualquer que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, tem-se tornado culpado de todos” (Tiago 2:10). De modo que esta é apenas uma das razões para não ser dizimista!
Eles apresentam várias justificativas, mas todas são meras falácias, isto é, argumentos baseados em premissas equivocadas, que induzem a uma conclusão tendenciosa. Veja a seguir alguns desses argumentos toscos, nos quais só cai quem tem preguiça de pesquisar na Palavra.
Falácia nº 1 – “Quem diz que o dízimo é da Lei está errado, pois o dízimo é anterior à Lei”. Refutação: a circuncisão, o sábado e os animais puros e impuros também são anteriores à Lei, e nem por isso as igrejas adotam essas coisas. Só porque é antigo? Então também pode ter duas esposas, já que essa prática também é anterior à Lei?
Falácia nº 2 – “Os cristãos primitivos eram dizimistas”. Querem fundamentar essa falácia com Mateus 23:23 (“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé. Importa-vos praticar estas coisas [dar o dízimo], mas sem omitir aquelas [a justiça, a misericórdia e a fé]”) e Hebreus 7:5 [os levitas têm ordem de receber os dízimos do povo]. A refutação é simples: nessas passagens específicas, tanto Jesus como o escritor de Hebreus se dirigem a... Israel. Você por acaso é judeu? Vive sob a Lei mosaica? Mas eles vão adiante e dizem que como a maioria dos primeiros cristãos era judia, “provavelmente eram dizimistas”. Sim, eram judeus. E tanto eram judeus que Paulo os instou a abandonar as práticas judaicas. Leia a epístola aos Gálatas.
Falácia nº 3 – “Quem não dá o dízimo fica debaixo de maldição”, cf. Malaquias 3:9. Ora, a passagem de Malaquias é dirigida especificamente aos sacerdotes que retinham o dízimo e não o repassavam aos levitas, cf. 1:6 e 2:1. O fato de Deus dizer que a maldição atingiria toda a nação é justamente porque os sacerdotes representavam a nação, assim como o rei. Confira com II Samuel 24. Esse sistema sacerdotal acabou quando o véu do Templo se rasgou!
Falácia nº 4 – “Quem não dá o dízimo na igreja, dá na farmácia, no hospital, no mecânico. O devorador come mais do que os 10%”. Malaquias, assim como Joel 1:4 e 2:25, quando fala do devorador e outros tipos de pragas, refere-se a isso mesmo, as pragas da lavoura! Eram gafanhotos mesmo, e não demônios. Deus não vai mandar demônio comer o seu dinheiro se você “não ofertar”; Deus não vai fazer você ficar doente nem seu carro estragar por pirraça, porque você foi pão-duro. Isso é terrorismo espiritual. O cristão deve ser generoso, mão-aberta, e contribuir para a obra que é verdadeiramente de Deus: evangelização, missões, caridade, ajuda aos irmãos na fé; mas que “contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria” (II Coríntios 9:7). Para o pastor é fácil dar dízimo: o que ele deposita no gazofilácio volta para o próprio bolso na forma de salário! Desse jeito até eu viro dizimista! Se o pastor fosse dizimista para valer, se ele “amasse ofertar”, deveria dar o dízimo em outra igreja. Assim o dinheiro não voltaria para ele.
Falácia nº 5 – “Entre o povo de Israel, todos dizimavam. 10% é justo porque todos dão igual”. Outra falácia, pois o dízimo não era para “todo mundo”. Quem não tinha renda não dizimava, mas recebia dos que ofertavam. Parece que tentam ancorar essa falácia em Êxodo 30:15 – “O rico não dará mais, nem o pobre dará menos do que o meio siclo, quando derem a oferta do Senhor” ... mas a passagem continua: “para fazerdes expiação por vossas almas”. Note o grifo: é claro que Deus aqui está ordenando uma “oferta pela expiação da alma” – o que obviamente Jesus já cumpriu! Afirmar o contrário disto é heresia da braba, pois então a Obra de Jesus está incompleta - ainda precisamos completar com uma graninha todo mês! Misericórdia!
Falácia nº6 - “... dai, pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:20; Marcos 12:17; Lucas 20:25). Muitos pregadores, ao discorrerem sobre a passagem acima, afirmam que “dar a César é pagar impostos, e dar a Deus é dizimar”. Mas se analisarmos essa passagem direito não vemos, em nenhum momento, qualquer dos evangelistas relacionando esta afirmação de Jesus ao dízimo. O contexto aqui é a tentativa dos fariseus de pegar Jesus em alguma contradição, para assim tirar-lhe a confiabilidade, ou então colocá-lo em apuros perante a autoridade romana. Eles perguntaram se os judeus deviam pagar impostos a Roma. Jesus, que não era bobo, percebeu a artimanha e acabou com a questão: “Me mostrem a moeda; de quem é esta cara estampada na moeda?” Os inquisidores responderam de pronto: “De César”. Então Jesus conclui: “Dai, pois a César o que lhe pertence, e a Deus o que é Dele”. Pelo mesmo raciocínio, olhe para as cédulas de dinheiro e as moedas. De quem é este brasão? Quem atribui valor a estas cédulas? Por outro lado, o que existe neste universo que possui estampada a imagem do Deus onipotente? O que Deus criou que possui a sua marca e que para Ele possui valor? A resposta: o ser humano! Deus não precisa de dinheiro, tudo é Dele. Ele não quer seu dinheiro; dê a Deus o que é Dele. E o que Ele quer é uma oferta da sua vida. Dê a Ele aquilo que possui Sua marca registrada. Pois é isso que Ele quer. Quer agradar à Deus? Dê a Ele uma oferta que Ele aceitará: entregue sua vida incondicionalmente a Ele!
Outras duas falácias - “A igreja deve administrar o dízimo”, e “a Casa do Tesouro agora é a igreja”, eu desmonto nas próximas postagens, se Deus permitir.