Mas ao lado do “Sudário” há outro artefato que
acabou se transformando numa das mais controversas relíquias que existem – ou
não. Trata-se do “Santo Cálice”, também denominado “Santo Graal”, a taça que teria sido utilizada por Jesus na Santa Ceia.
Embora esse objeto não tenha sua autenticidade confirmada, especialistas se
reuniram na cidade de Valência, no leste da Espanha, em um “Congresso
Internacional” pelo 1750º aniversário de sua suposta chegada à Espanha.
Tema de inúmeras lendas, livros de estudiosos, misticismos
de todas as tendências e até de filmes como Excalibur e Indiana Jones, a taça
na qual Jesus teria tomado vinho com seus discípulos, pouco antes de ser
crucificado, tem sua posse reivindicada também por outras cidades ao redor do
mundo, passando por Santiago de Compostela e a badalada capela de Rosslyn, na
Escócia. No entanto, a pesquisadora
americana Janice Benett e o historiador alemão Michael Hessemann afirmam que
ela está de fato na catedral de Valência desde 1424. A igreja católica por
enquanto não reconhece oficialmente esta relíquia, mas Bento XVI celebrou uma missa
com o “Santo Cálice” quando visitou Valência em 2006. (http://noticias.gospelmais.com.br/valencia-quer-provar-que-tem-o-santo-graal.html)
Veja aqui quanta baboseira as pessoas levam a sério! Esta lenda já virou uma
espécie de ímã para todo tipo de lixo cultural e teorias estapafúrdias. Por
isso, é bom colocar tudo em pratos limpos: o famoso cálice não tem nada a ver
com Maria Madalena, Cavaleiros Templários ou sociedades secretas. E, aliás, o Graal
também não tem nada a ver com Jesus Cristo.
A existência de um suposto cálice milagroso onde o sangue do Messias teria sido recolhido não passa de uma invenção da Idade Média – uma história bolada pelo poeta mais famoso da época e, desde então, aumentada por autores posteriores. A lenda fez muito sucesso simplesmente por juntar duas grandes paixões do público medieval: cavalaria e fé. E foi sendo repaginada pelos séculos dos séculos – inclusive as teorias da conspiração tão populares no fim do XX e começo do XXI.
Poucos historiadores hoje duvidam de que Jesus e seus apóstolos realmente celebraram uma última ceia. Os Evangelhos narram a cerimônia. Sabemos até como era a bebida servida nessa época. Quanto às condições materiais do suposto Graal, podemos dizer que Indiana Jones estava certo – ao menos num quesito. No filme o arqueólogo escolhe como o verdadeiro Graal “o cálice de um carpinteiro”, feito de madeira e de aparência humilde. De fato, judeus das camadas populares provavelmente bebiam em recipientes de cerâmica ou madeira.
A existência de um suposto cálice milagroso onde o sangue do Messias teria sido recolhido não passa de uma invenção da Idade Média – uma história bolada pelo poeta mais famoso da época e, desde então, aumentada por autores posteriores. A lenda fez muito sucesso simplesmente por juntar duas grandes paixões do público medieval: cavalaria e fé. E foi sendo repaginada pelos séculos dos séculos – inclusive as teorias da conspiração tão populares no fim do XX e começo do XXI.
Poucos historiadores hoje duvidam de que Jesus e seus apóstolos realmente celebraram uma última ceia. Os Evangelhos narram a cerimônia. Sabemos até como era a bebida servida nessa época. Quanto às condições materiais do suposto Graal, podemos dizer que Indiana Jones estava certo – ao menos num quesito. No filme o arqueólogo escolhe como o verdadeiro Graal “o cálice de um carpinteiro”, feito de madeira e de aparência humilde. De fato, judeus das camadas populares provavelmente bebiam em recipientes de cerâmica ou madeira.
Pareciam simples cuias, como os da região de Qumran, no mar Morto,
como este da foto. No entanto, é muito pouco provável que os utensílios de mesa
utilizados por Jesus em sua refeição final tenham sido preservados. Para
começar, como afirma o Novo Testamento, a sala onde a ceia aconteceu era
alugada.
Além disso, o hábito de guardar relíquias começou cerca de um século
após a morte de Jesus. Para os primeiros seguidores de Cristo, o importante não
era preservar seus objetos pessoais, mas sim espalhar sua palavra. Mas aí,
diante da narrativa um tanto lacônica e resumida dos Evangelhos, surgiram
histórias de caráter popular e gnóstico, como o Evangelho de Nicodemos, do fim
do século IV, que narra como José de
Arimatéia e Nicodemos deram um enterro digno ao corpo de Jesus, e como o
soldado romano Longino feriu Cristo com uma lança. Logo começaram a circular
lendas sobre as relíquias do Sangue Santo – que José de Arimatéia e Nicodemos
teriam recolhido do corpo de Jesus – e sobre a lança sagrada, dois elementos
que voltariam depois na história do Santo Graal.
A lenda estava mais ou menos nesse pé quando surgiu o escritor francês Chrétien de Troyes. Ninguém sabe exatamente de onde Chrétien de Troyes tirou a inspiração para seus romances, por volta do ano 1180. Ele já fazia sucesso com histórias sobre os cavaleiros da Távola Redonda, especialmente Lancelote, o mais valoroso deles. É então que ele decide escrever uma nova saga sobre Percival, um jovem nobre que perde o pai e é criado pela mãe.
“Percival é uma espécie de bom selvagem, não sabe se comportar em sociedade por ter sido criado no meio da mata”, afirma José Rivair Macedo, especialista em história medieval da UFRGS. Numa outra versão Percival era um brucutu que, ao encontrar um grupo de cavaleiros na floresta fica tão fascinado que parte para a corte do rei Arthur, torna-se cavaleiro e sai em busca de aventuras. E é aí que o Graal finalmente entra em cena. Percival chega ao castelo do Rei Pescador, onde presencia uma tal “procissão do Graal”, e vê uma lança que sangra (a lança de Longino?) e “um graal” - a palavra é usada de modo genérico por Chrétien.
A lenda estava mais ou menos nesse pé quando surgiu o escritor francês Chrétien de Troyes. Ninguém sabe exatamente de onde Chrétien de Troyes tirou a inspiração para seus romances, por volta do ano 1180. Ele já fazia sucesso com histórias sobre os cavaleiros da Távola Redonda, especialmente Lancelote, o mais valoroso deles. É então que ele decide escrever uma nova saga sobre Percival, um jovem nobre que perde o pai e é criado pela mãe.
“Percival é uma espécie de bom selvagem, não sabe se comportar em sociedade por ter sido criado no meio da mata”, afirma José Rivair Macedo, especialista em história medieval da UFRGS. Numa outra versão Percival era um brucutu que, ao encontrar um grupo de cavaleiros na floresta fica tão fascinado que parte para a corte do rei Arthur, torna-se cavaleiro e sai em busca de aventuras. E é aí que o Graal finalmente entra em cena. Percival chega ao castelo do Rei Pescador, onde presencia uma tal “procissão do Graal”, e vê uma lança que sangra (a lança de Longino?) e “um graal” - a palavra é usada de modo genérico por Chrétien.
Uma passagem do filme “Excalibur”
(dirigido por John Boorman em 1981) mostra de forma emblemática e cheia de imagens
sub-liminares que a descoberta do significado do Graal (uma sabedoria
gnóstica?) liberta o homem dos seus medos e lhe dá liberdade. Noutra passagem o
mago Merlin diz ao Rei Arthur: “A era dos
deuses acabou... agora é o tempo dos homens e seus feitos”. O segredo do
Graal tornaria os homens superpoderosos.
“A tradução para o português seria escudela”, diz Macedo - uma travessa, do tipo usada hoje para servir peixes ou carnes. Ironia das ironias: o Graal original não é um cálice, mas um prato! Chrétien dá a entender que o Graal carregava uma única hóstia, que servia de alimento para o pai do Rei Pescador, gravemente ferido. Depois que Percival deixa o castelo, encontra um eremita, que lhe diz que o Graal é “uma coisa muito santa”, e a história termina aí, sem final. Há quem ache que Chrétien tenha morrido antes de concluí-la.
Os autores que vieram depois de Chrétien juntaram o mistério do Graal com o Evangelho de Nicodemos e as imagens religiosas da época para sugerir que, na verdade, a “coisa muito santa” era o prato (ou o cálice) onde José de Arimatéia e Nicodemos teriam recolhido o sangue de Jesus.
Embora as histórias incorporem elementos da mitologia celta, seu pano de fundo é basicamente católico.
“A tradução para o português seria escudela”, diz Macedo - uma travessa, do tipo usada hoje para servir peixes ou carnes. Ironia das ironias: o Graal original não é um cálice, mas um prato! Chrétien dá a entender que o Graal carregava uma única hóstia, que servia de alimento para o pai do Rei Pescador, gravemente ferido. Depois que Percival deixa o castelo, encontra um eremita, que lhe diz que o Graal é “uma coisa muito santa”, e a história termina aí, sem final. Há quem ache que Chrétien tenha morrido antes de concluí-la.
Os autores que vieram depois de Chrétien juntaram o mistério do Graal com o Evangelho de Nicodemos e as imagens religiosas da época para sugerir que, na verdade, a “coisa muito santa” era o prato (ou o cálice) onde José de Arimatéia e Nicodemos teriam recolhido o sangue de Jesus.
Embora as histórias incorporem elementos da mitologia celta, seu pano de fundo é basicamente católico.
O Graal funciona como um símbolo
da Eucaristia, o sacramento da transformação do pão e do vinho no corpo e no
sangue de Cristo. Beber (ou comer) do objeto restaura a saúde do rei e, de
quebra, leva o cavaleiro direto para o Paraíso – exatamente os atributos da
doutrina da Eucaristia.
Com a popularidade do mito, várias igrejas passaram a reivindicar a posse do cálice, como Valência, na Espanha, e Gênova, na Itália (o mais provável é que sejam objetos de origem árabe, do começo da Idade Média). Um outro, descoberto na Síria no começo do século 20 (o “cálice de Antioquia”) chegou a ser tido como o Graal original até se descobrir que não passava de uma lâmpada a óleo.
Código da bobagem - A lenda do Graal atingiu popularidade recente graças ao livro “O Código Da Vinci”, que afirma que o Santo Graal na verdade seria o sang real – o “sangue real” dos filhos de Jesus com Maria Madalena, que teriam migrado para a França, protegidos ao longo dos séculos pelo chamado Priorado de Sião.
Tudo isso é bobagem, usada pelo escritor americano Dan Brown (e outros antes dele) para aumentar a popularidade de seus livros. Primeiro, as evidências de que Jesus e Maria Madalena tenham casado e tido filhos são nulas (assim como as de uma suposta viagem dela para a França). O Priorado de Sião é uma fraude criada por um vigarista francês no princípio do século XX (assim como o livro falso chamado “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, usado como pretexto para perseguir judeus por todo o mundo). E a expressão sang real é só uma leitura equivocada da expressão san greal, “Santo Graal”, por alguns escritores do século XV. E portanto, uma igreja reivindicar a posse de um artefato lendário é a maior bobagem que se pode conceber. Até agora.
Com a popularidade do mito, várias igrejas passaram a reivindicar a posse do cálice, como Valência, na Espanha, e Gênova, na Itália (o mais provável é que sejam objetos de origem árabe, do começo da Idade Média). Um outro, descoberto na Síria no começo do século 20 (o “cálice de Antioquia”) chegou a ser tido como o Graal original até se descobrir que não passava de uma lâmpada a óleo.
Código da bobagem - A lenda do Graal atingiu popularidade recente graças ao livro “O Código Da Vinci”, que afirma que o Santo Graal na verdade seria o sang real – o “sangue real” dos filhos de Jesus com Maria Madalena, que teriam migrado para a França, protegidos ao longo dos séculos pelo chamado Priorado de Sião.
Tudo isso é bobagem, usada pelo escritor americano Dan Brown (e outros antes dele) para aumentar a popularidade de seus livros. Primeiro, as evidências de que Jesus e Maria Madalena tenham casado e tido filhos são nulas (assim como as de uma suposta viagem dela para a França). O Priorado de Sião é uma fraude criada por um vigarista francês no princípio do século XX (assim como o livro falso chamado “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, usado como pretexto para perseguir judeus por todo o mundo). E a expressão sang real é só uma leitura equivocada da expressão san greal, “Santo Graal”, por alguns escritores do século XV. E portanto, uma igreja reivindicar a posse de um artefato lendário é a maior bobagem que se pode conceber. Até agora.
O pior de tudo é que o catolicismo, em sua sanha de misturar toda e
qualquer besteira lendária com suas histórias de santos e milagres, a fim de
arrecadar novos adeptos, manter os antigos sempre alienados e resgatar os que
escaparam de suas garras, acoberta tais fraudes sob o manto da piedade e do
zelo religioso, em nome da tradição. Leia mais sobre
este tema clicando aqui.
Melhor fariam se seguissem o que os apóstolos, que eles dizem obedecer, escreveram
séculos atrás:
“Porque não seguimos fábulas engenhosas quando
vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós
fôramos testemunhas oculares da sua majestade” (I Pedro 1:16).
Contra todas essas lendas, homens corajosos e
que amavam a Palavra de Deus acima de tudo, mais até do que suas próprias
vidas, disseram “não” a esse estado de coisas e abandonaram o cipoal de
maracutaias em que se tornou a igreja. Queriam eles apenas reformar o que
estava errado, e por isso ficaram conhecidos como reformadores. E em razão de
seu protesto contra a ditadura espiritual, o movimento ganhou o nome de Reforma
Protestante, em um 31 de outubro, quase quinhentos anos atrás.
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