sábado, 1 de maio de 2010

Criação ou evolução?

A maior parte dos brasileiros acredita que o ser humano é fruto de uma evolução guiada por Deus, segundo pesquisa Datafolha publicada no jornal Folha de S.Paulo. De acordo com a pesquisa, 59% acreditam que o ser humano é o resultado de milhões de anos de evolução, mas em processo guiado por um ente supremo. A pesquisa entrevistou 4.158 pessoas com mais de 16 anos, com margem de erro de 2%.
De acordo com a pesquisa, a crença na criacionismo é maior entre os entrevistados com menor renda e escolaridade. O número de evolucionistas, que acreditam apenas na teoria da evolução proposta por Charles Darwin, é maior entre aqueles com maior renda e escolaridade: a
penas 8% consideram que a evolução ocorre sem interferência divina. 
Um em cada 4 brasileiros crê em Adão e Eva, e que o homem foi criado por Deus há menos de 10 mil anos. A maioria das pessoas crê em Deus e Darwin. Os 25% de criacionistas da Terra jovem (que atribuem menos de 10 mil anos a nosso planeta de 4,6 bilhões de anos) surpreendem porque o fundamentalismo bíblico, em que as Escrituras são interpretadas literalmente, não faz parte das tradições religiosas do Brasil.
A igreja católica, ainda a mais influente no país, jamais condenou a evolução. Pelo contrário até, o Vaticano vem já há algumas décadas flertando discretamente com o autor de "Origem das Espécies".
Em 1950, o papa Pio XII, na encíclica "Humani generis", classificou o darwinismo como "hipótese séria" e afirmou que a igreja não deveria rejeitá-la, embora tenha advertido para o mau uso que os comunistas poderiam fazer dessa teoria. Em 1996 foi a vez de João Paulo II declarar que a evolução era "mais do que uma hipótese". Boa parte dos evangélicos se limita a apontar "problemas" no neodarwinismo, tentando reservar algum espaço para Deus, que pode ter papel mais ou menos ativo.
Para alguns, Deus pode ser um tipo de “demiurgo” (que se limitou a criar o mundo com todas as suas leis, incluindo a seleção natural) e retirou-se. Para outros, Ele é "Deus ex machina" que interfere o tempo todo, sendo um agente ativo na humanidade, desde o atendimento às orações até o controle dos acontecimentos históricos.
Em tese, qualquer algumas dessas posições se encaixam na afirmação de que Deus e evolução atuariam juntos. A evolução funcionaria como um guarda-sol que abriga de católicos a deístas, passando por entusiastas do "design inteligente", o criacionismo com pretensões científicas.
Teologia intuitiva? Como os adeptos de religiões que defendem a literalidade do Gênesis não chegam nem perto de 25% da população, é forçoso reconhecer que a boa parte das pessoas que abraçaram a hipótese de Adão e Eva o fez seguindo suas próprias intuições, sem prestar muita atenção ao que afirmam suas respectivas lideranças espirituais. Essa impressão é reforçada quando se considera que a adesão ao criacionismo bíblico se distribui de forma generosa entre todos os credos. Umbandistas (33%) e evangélicos pentecostais (30%) ficam um pouco acima da média nacional, mas católicos comparecem com 24% e evangélicos não pentecostais, com 25%.
Uma nota curiosa vai para os que se declaram ateus. Entre eles, 7% também se classificam como criacionistas da Terra jovem e 23% como partidários da evolução comandada por Deus.
Os resultados obtidos no Brasil contrastam com os colhidos nos EUA, mas se aproximam com os de nações europeias. Entre os norte-americanos, a proporção de criacionistas bíblicos chega a 44%. Os evolucionistas com Deus são 36%, e os neodarwinistas puros, 14%. Esses números foram apurados em 2008 pelo Gallup, numa pesquisa que vem sendo aplicada naquele país desde 1982 e que serviu de modelo para a sondagem do Datafolha.
Em relação à Europa, o Brasil se encontra mais ou menos na média. De acordo com uma pesquisa de 2005 do Eurobarômetro, que aferiu o número de pessoas que rejeita a evolução, os criacionistas por ali variam de 7% (Islândia) a 51% (na islâmica Turquia), com a maioria dos países apresentando algum número na casa dos 20%.
Folha/Notícias Cristãs (
http://news.noticiascristas.com/2010/04/um-em-cada-4-brasileiros-cre-em-adao-e.html)

Comentário - O apóstolo Paulo abordou os filósofos em Atenas, centro da filosofia e cultura no primeiro século, demolindo a concepção grega das origens e o ponto de vista evolucionista e politeísta das escolas estóica e epicurista, “duas eminentes correntes filosóficas greco-romanas que eram essencialmente evolucionistas”[1]. O apóstolo mencionou, por três vezes, a atividade criadora de Deus: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação” (Atos 17.24-26).
Não é preciso ir muito além dos escritos de Darwin para encontrar a fonte da teologia da evolução. Em dado momento, Darwin cogitava ingressar no clero da Igreja Anglicana, mas mudou radicalmente por conta de sua incapacidade para entender a presença do mal num mundo criado por Deus, conforme explica: “Parece-me que há muita miséria no mundo. Eu não consigo me convencer de que um Deus benevolente e onipotente tenha intencionalmente criado um gato com a finalidade de caçar um camundongo”[2]. Numa carta escrita a um amigo, ele chegou a denominar e escrever com todas as letras: “Minha divindade ‘a seleção natural’”[3]. Embora os livros didáticos não definam a teologia da evolução, ela pode ser identificada.
Em primeiro lugar, a teologia da evolução forma a base para o dogma do humanismo secular, segundo consta nos Manifestos Humanistas. O Manifesto Humanista I, escrito em 1933, inicia com uma conclamação para a necessidade de se criar uma nova religião que se adapte à era vindoura. Seus dois primeiros pilares de fé consideram “o universo como auto-existente e não criado” e propõem que o ser humano “é uma parte da natureza, o qual surgiu como resultado de um processo contínuo (i.e., evolução)”.[4] “Os humanistas ainda crêem que o teísmo tradicional, particularmente a fé no Deus que ouve orações e que, supostamente, ama e cuida das pessoas, escuta e entende suas orações, e que é capaz de fazer algo em favor delas, é uma fé reprovada e obsoleta. O salvacionismo [...] ainda se mostra nocivo, distraindo as pessoas com falsas esperanças de um céu após a morte. Mentes racionais confiam em outros meios para sobreviver [...] Nenhuma divindade nos salvará; temos que nos salvar a nós mesmos”.[5]
A religião dos humanistas é, portanto, a fé na evolução e, para eles, somente os mais aptos sobreviverão.
Talvez com medo de serem desprezados, alguns teólogos desejam fazer a união da evolução com o Deus da Bíblia, como escreve John F. Haught, God After Darwin: A Theology of Evolution, Boulder, CO: Westview Press, 2000, p. 190-191:
“Uma visão de futuro biblicamente inspirada oferece uma estrutura mais adaptável tanto para a ciência evolutiva quanto para a busca religiosa por significado [...] Em vez de atribuir a Deus um plano “inflexível” para o universo, a teologia evolucionista prefere considerar a “visão” de Deus para o mesmo [...] O deus da evolução não determina as coisas de antemão, nem egoisticamente esconde apenas para Si a alegria de criar...”
Os riscos são altos: as conseqüências são vida eterna ou morte eterna. O plano de Satanás é sagaz; ele quer convencer as pessoas de que são produto de uma força evolutiva impessoal e que, portanto, não são responsáveis perante qualquer ser divino. O conflito não é simplesmente acerca das origens, mas acerca dos destinos.
E isto a igreja católica parece ignorar, ao afirmar que é possível misturar as duas teologias, a bíblica e a evolucionista. Como, aliás, essa instituição tem feito ao longo dos séculos, o famoso “sincretismo”.

Comentário baseado em artigo de William L. Krewson, professor do Instituto de Estudos Judaicos de The Friends of Israel na Philadelphia Biblical University (EUA), publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, maio de 2009.

Notas:
1 Henry M. Morris, The Long War Against God, Grand Rapids: Baker Book House, 1989, p. 211. Na discussão do tema (p. 211-218), Morris faz menciona o diálogo “Timaeus”, de Platão, que revela uma antiga explicação das origens com base no acaso (c. 400 a
.C.).
2 Francis Darwin, org., The Autobiography of Charles Darwin and Selected Letters, Nova York: Dover Publications, 1958, p. 249.
3 id. ibid, p. 62.
4 Humanist Manifesto I, publicado no site: www.americanhumanist.org/about/manifesto1.html.
5 Paul Kurtz, org., Humanist Manifestos I and II, Buffalo, NY: Prometheus Books, 1973, p. 13, 16


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