A Bíblia é rica em simbologias. Muita gente se confunde ao ler textos dos profetas. Cheios de visões, às vezes enigmáticas, não é de hoje, mas principalmente hoje, causam algumas confusões. Principalmente quando cismam de ler Apocalipse – talvez um dos textos mais simbólicos já escritos – sem considerarem o contexto, e acabam fazendo interpretações confusas e não raro, bastante heréticas.
Não é a intenção aqui fazer interpretações ou
soltar profetadas. Vou fazer apenas um exercício, do tipo “e se...”
Um símbolo profético muito interessante se
refere, em Apocalipse, a um período de tempo contado em dias – 1260 dias. Em
Apocalipse lemos que viria sobre a terra um período de grande dificuldade e
eventos espantosos, a que Jesus já havia se referido anteriormente como “a
tribulação” ou “a grande tribulação”. É importante notar que 1260 dias
equivalem a três anos e meio, e também a quarenta e dois meses.
Veja por exemplo Apocalipse 12:6, onde lemos que “a mulher fugiu para
o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali
fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias”.
Apocalipse
12:14 completa: “E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que voasse
para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e
metade de um tempo, fora da vista da serpente”.
Apocalipse 13:5 explica que “foi-lhe [à
besta] dada uma boca, para proferir grandes coisas e blasfêmias; e
deu-se-lhe poder para agir por quarenta e dois meses”.
Apocalipse 11:2 diz explicitamente: “pisarão a cidade
santa por quarenta e dois meses”.
Daniel 7:25, uma passagem que todos os estudiosos consideram ser uma conexão direta com esses trechos de Apocalipse, também faz essa referência ao período da tribulação “um tempo, e tempos, e a metade de um tempo”, ou seja, um ano + dois anos + meio ano. Três anos e meio = 42 meses = 1260 dias. Todas as passagens aludem com absoluta precisão ao
tempo de duração desse período tenebroso.
Na data de hoje, 20 de julho de 2019, faltam exatos 1260 dias
para terminar o atual governo. Temos pela frente exatos três anos e meio.
O atual presidente, eleito com massivo apoio dos
setores conservadores e religiosos – e entre esses, a quase totalidade dos
ditos cristãos evangélicos – foi guindado ao poder, como se sabe, com base na
promessa de impedir o “comunismo”. Seja lá o que entendem por “comunismo”.
Não
vamos entrar em detalhes porque todos já sabem a história da facada, o
uso indevido das redes sociais, o estranho processo contra seu principal
oponente, etc. Vamos considerar apenas o que ele fez depois de eleito. É quase impossível perceber que a chegada desse
homem ao palácio presidencial trouxe, em apenas seis meses de governo, uma
série de situações extremamente preocupantes.
Senão, vejamos.
Defende porte de armas para a população como
medida de proteção pessoal (assumindo o fracasso da política nacional de
segurança), levando o país aos tempos do faroeste.
Foi a Israel e ao Muro das Lamentações, mas diferente
de outros chefes de Estado, ignorou a comunidade palestina. Para piorar, prometeu
mudar a embaixada brasileira de Telavive para Jerusalém, e causou mal-estar
entre as nações árabes, que retaliaram boicotando as importações de bens
brasileiros e prejudicando milhares de produtores aqui. Os filhos do presidente
são um capítulo à parte. Um deles quis ser engraçadinho com o Hamas e já entrou
no radar dos extremistas.
A declaração tacanha de sua ministra (evangélica) de que crianças têm que usar roupas de cores pré-determinadas (nem os regimes mais totalitários ousaram tal interferência na vida das pessoas).
Anunciou que vai acabar com a TV pública.
Cortou diversas verbas de caráter social,
inclusive dispensando milhares de médicos cubanos que prestavam serviço à
população carente em lugares onde outros médicos não iam, e onde falta o
serviço público de saúde, mas aumentou em 63% os gastos com publicidade. Em
três meses, foram gastos R$ 75,5 milhões com propaganda. A Record e o SBT
lideram o ranking dos veículos que mais receberam dinheiro do governo.
Um ministro das relações exteriores que defende o
contato com seres extraterrestres.
Presidente liberou estrangeiros de visto de
entrada no país, e ainda por cima fez apologia do turismo sexual: “quem quiser
vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”.
Um ministro da educação que afirma que as
universidades devem ser varridas porque seriam antros de nudismo, orgias
sexuais e consumo de drogas, além de defender a sua total privatização
impedindo, assim, o acesso de milhões de jovens que não têm como pagar pelo
ensino público.
Sem falar nas ligações cada vez mais claras com o crime organizado, milícias no Rio de Janeiro e tráfico internacional de drogas em avião presidencial.
Ações da Petrobras se desvalorizaram mais de
8% em um único dia, fazendo a empresa perder R$ 32 bilhões, porque o presidente
interferiu na política de preços da companhia, desagradando ao mercado –
exatamente o que ele acusava o governo anterior, e que prometeu não fazer.
Liberou centenas de agrotóxicos proibidos no resto do mundo. Nossos produtos agrícolas serão banidos lá fora, mas nós teremos que engolir isso – literalmente.
A “reforma” previdenciária vai retirar direitos
históricos da população mais pobre, com o aumento absurdo da idade mínima, a
redução dos valores das aposentadorias e pensões (inclusive das pessoas com
deficiências). De R$ 1 trilhão “economizados”, mais de 80% serão retirados dos
contribuintes que ganham até dois salários mínimos. Em síntese, os
brasileiros terão que trabalhar mais e ganharão menos, desmentindo a propaganda
oficial que fala em “fim dos privilégios”. Se esta fosse a intenção, o governo
deveria trabalhar pela taxação de lucros e dividendos, imposto sobre grandes
fortunas e heranças, cobrar as empresas devedoras (quase esse R$ 1 trilhão) e
quem sabe, taxar a arrecadação das igrejas, que trariam um aporte significativo
de recursos para equilibrar as contas.
Nomeou parentes para cargos públicos, com
salários milionários – inclusive embaixadas importantes. Imagine se o
ex-presidente Lula ou a ex-presidente Dilma indicassem filhos ou outros
parentes para cargos públicos, ainda mais com relevância internacional como
embaixadas. Os pastores estariam enlouquecidos em seus púlpitos e as ruas já
teriam sido ocupadas pelas camisas amarelas...
E para terminar o rol das aberrações, assim como o
anticristo de Apocalipse exerce o poder político mas tem um falso profeta que o
ajuda, legitimando seus atos absurdos e o defendendo perante a opinião pública e
principalmente junto ao segmento religioso, temos os tuítes diários de Silas Malafaia,
cujo espírito crítico fui enterrado há anos junto com o seu chamado para
pastorear o rebanho. Note mais uma vez: estudiosos são unânimes em dizer que a
grande massa de religiosos deste planeta seguirá um líder asqueroso,
hipnotizados por ele e por seu falso profeta.
Só se passaram seis meses e já vimos quase de
tudo. Até vídeo pornográfico no Twitter do presidente.
Agora pense nos próximos 1260 dias.
Sabemos que a verdadeira tribulação apocalíptica ainda não se
iniciou, porque será de proporções mundiais e não locais. Mas sabemos também
que muitos antítipos do Anticristo têm surgido pelo mundo (cf. II João 1:7).
Poderíamos citar várias figuras pela História (uma disciplina bem negligenciada
ultimamente; se fosse estudada com mais afinco, pouparíamos muitos
dissabores...), como Nero, Napoleão, Átila, Hitler, Stalin. Todos tinham algo
de anticristo, algumas semelhanças, algumas atitudes, mas serviram apenas de
aviso. De exemplo do que está por vir. Ainda não eram “O” anticristo de
Apocalipse, mas uma amostra grátis. Uma degustação.
Talvez tenhamos, hoje, um exemplo bem forte e com muitos
sinais proféticos.
Deus nos dê força para suportarmos essa “mini-tribulação”
de 1260 dias.
Este texto tem 1260 palavras.
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