Todo dia 8 de janeiro, mais de 500 mil pessoas se reúnem no santuário Cruz Gil, em Corrientes, Argentina, para venerar o “santo” mais popular do país: “Gauchito Gil”. Vestidos de vermelho, montados a cavalo, de bicicleta ou a pé, numa fila interminável, devotos se juntam ano após ano em frente ao local onde, segundo a lenda, ele foi executado há mais de um século. Eles deixam dinheiro, garrafas, jóias, fotografias e acendem velas vermelhas. Os devotos de Gauchito Gil celebram seu santo durante três dias. A cor vermelha, o álcool e o “chamamé” são símbolos indispensáveis desta festa. Antonio Mamerto Gil Nuñez, mais conhecido como “Gauchinho Gil” ou “Curuzu Gil”, é talvez um dos mais importantes representantes da hagiologia profana da Argentina.
Não há registros históricos sobre
sua vida, porém, reza a lenda que teria nascido por volta de 1847 e morrido por
volta de 1874 na província de Corrientes. De acordo com a tradição, ele se
alistou como soldado na Guerra do Paraguai e participou ainda da guerra civil entre
os federais e os unitários argentinos. Mais tarde, desertou do exército porque
Deus teria lhe aparecido em sonhos, pedindo que ele não derramasse mais o
sangue dos seus irmãos. Depois disso, se tornou um “gaúcho” marginal que
conduzia o gado e praticava roubos, repartindo as sobras entre as famílias mais
humildes. Porém, foi preso pela polícia e executado a oito quilômetros da
cidade de Mercedes num certo 8 de janeiro.
Desde então, é considerado por
alguns com um marginal e por outros como um santo. O certo é que, há mais de cem
anos, o culto ao “Gauchinho Gil” vem crescendo na Argentina e já passa os
limites da fronteira daquele país. É atualmente venerado por centenas de
milhares de peregrinos que visitam o santuário construído no local onde sua
tumba se encontra.
Quase um século depois da morte de
Gauchito, também na Argentina, Miriam Alejandra Bianchi se tornou uma das
santas populares contemporâneas mais famosas do país. Esta ex-professora morreu
em um acidente , mas seus devotos garantem que ela
já fazia milagres em vida. Gilda , nome
artístico de Miriam, era uma ex-professora nascida em 1961, que se tornou cantora de cúmbia (um ritmo popular em alguns países
latino-americanos) no início da década de 1990. Gravou quatro discos e várias
canções foram incorporadas por
setores da classe média, sendo cantadas até mesmo por torcidas de futebol.
Em 7 de setembro de 1996, Gilda, a
filha e a mãe, mais os músicos de sua banda, morreram num acidente
rodoviário ao viajar para um show que ocorreria em Entre Rios. Gilda
estava então no auge da carreira. Depois de sua
morte, a figura de “santa” cresceu e se transformou num novo símbolo da
religião popular argentina. Milhares de devotos e fanáticos procuram sua tumba,
no cemitério de Chacarita (em Buenos Aires), e também ao santuário oficial,
erguido no local do acidente, para cumprir promessas e pedir a concessão de
graças. Todos esperam algo em troca. Saúde , trabalho, amor, um carro ou até mesmo uma casa estão entre os pedidos mais comuns. Enquanto alguns visitam seu túmulo, como forma de recordá-la, outros cantam em sua homenagem. Eles deixam cartas, fotos, rosários e santinhos com a imagem da própria
Gilda.
No México, os traficantes de drogas
também têm seu lado religioso. Jesús Malverde, um bandido que viveu no início
do século XX, é adorado por pessoas comuns e pelos narcotraficantes da América
do Norte. Em seu templo, situado em Culiacán, no estado de Sonaloa, chegam
centenas de pessoas para lhe pedir um milagre, deixando flores, velas,
bilhetes, fotos e até recipientes com camarão em agradecimento por uma boa
pesca. De acordo com uma certidão de nascimento descoberta recentemente, Jesús
Malverde nasceu em 15 de fevereiro de 1888. O resto faz parte da lenda. Segundo
lenda, este jovem viveu no final do século XIX na cidade mexicana de Culiacán,
onde ganhou popularidade por assaltar e roubar os fazendeiros ricos da região e
repartir o produto do roubo entre os pobres da região. Depois de oferecer uma
recompensa pela captura dele, o governo finalmente conseguiu prender Malverde,
que foi condenado à morte na forca. Um decreto governamental proibiu o
sepultamento de seus restos mortais, que ficaram expostos ao relento e ao
escárnio público.
Depois de sua morte, que ocorreu,
segundo os fieis, em 3 de maio de 1909, as pessoas começaram a atribuir a
Valverde uma série de milagres e graças. Mais tarde, começou a ser
conhecido como o “padroeiro” dos narcotraficantes, e disseram que ele até salvou
da morte o filho de um chefe do tráfico. Desde então, vários traficantes
passaram a visitar a capela dedicada a Malverde em busca de sua proteção. Algo assim como se Pablo Escobar fosse canonizado.
Outro “santo” famoso do México é o “menino Fidencio”, um famoso curandeiro. José Fidencio Síntora
Constantino nasceu em 13 de novembro de 1898 no Vale das Covas, em Guanajuato. Porém ,
foi no povoado de Espinazo, uma pequena cidade interiorana, que começou a ficar conhecido
como curandeiro. Fidencio atendia a todos os tipos de casos, incluindo câncer,
lepra, cegueira e paralisia. Era conhecido como “menino” devido à voz afinada. Os métodos de cura aplicados que o Menino Fidencio aplicava incluíam
desde um balanço usado para balançar os doentes para curá-los até afundar os
pacientes num lamaçal conhecido como Charquinho, que segundo os devotos tinha
propriedades curativas. Um dia, o Menino Fidencio
anunciou aos seus seguidores que voltaria depois da morte, e os fieis acreditam que ele
realmente retorna na forma de espírito a cada vez que é invocado. Assim,
atualmente, os fiéis de Fidencio buscam a cura através do espírito de Fidencio (que morreu em 1938). Ou seja, uma forma de espiritismo!
Estes “santos” são apenas alguns exemplos, porque os mexicanos mantém outras devoções.
Uma delas é a adoração a La Santa Muerte, por exemplo, uma estátua de esqueleto coberta com um capuz e com uma foice nas mãos, ou seja, a tradicional
figura da morte. Os altares e o culto da Santa Muerte podem ser encontrados em
todo o México.
Assim vemos que essas devoções populares no México, na Argentina e outros lugares -
poderíamos incluir nessa lista, a devoção ao Padre Cícero e outros “santos
tupiniquins” - são degenerações do sentimento religioso que cada ser humano
possui. Todos possuem uma sede espiritual. Todos anseiam em ter comunhão com um
poder superior a si mesmo. Neste afã, vão procurar mitigar esta sede em fontes
poluídas, e aí entra o engano de demônios conforme a Palavra de Deus adverte.
Jesus disse que Satanás é o pai da mentira (João 8:44) e de que ele, sendo o
príncipe deste mundo (14:30) seria obviamente atuante em enganar os seres
humanos, mantendo os mesmos longe da verdadeira adoração a Deus.
Se você estudar os “santos”
católicos, a imensa maioria surgida durante
a Idade Média européia, verá que as coincidências são alarmantes. O
ambiente era muito parecido, e o processo de “canonização” também: primeiro, a
crendice popular aumenta, mas a hierarquia do Vaticano resiste. Depois, temendo
perder os fieis para o misticismo exagerado e o espiritismo, Roma acaba por
aceitar tais figuras como “santos” oficiais, incorporando (eepa) o milagroso ao
seu panteão. Assim, fica tudo “elas por elas”, todo mundo sai ganhando. Não
duvido que com o tempo o traficante virará “são” Malverde, o médium de Espinazo
será “são” Fidencio e assim por diante. Talvez demore, mas é o fluxo natural do
catolicismo: não importam os meios, importa apenas o fim, que é o aumento das
suas fileiras, seja a que preço for. Misticismo, mediunidade, comunicação com
os mortos, mistura com o paganismo e crenças populares – tudo, menos a Bíblia.
Foi assim com “são” Francisco:
o “papa” de sua época chegou a repreendê-lo e ameaçar colocar seus seguidores,
os “franciscanos”, na clandestinidade; mas depois, devido à pressão popular,
acabou guindando-o ao status de “santo”.
Joana D’Arc era considerada bruxa
e louca, sendo queimada na fogueira igual aos outros hereges, como os protestantes
e judeus (sim, a igreja católica fez isso e só parou porque hoje isso é feio e
a imprensa às vezes denuncia seus erros). Depois, mudou de idéia e disse que
não, a bruxa herege era, na verdade, uma “santa”. Há vários outros exemplos,
mas o espaço é pequeno.
Se os católicos lessem a Bíblia, e a
obedecessem, veriam que é inútil pedir bênçãos aos que já morreram, porque Jesus disse: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás
(Mateus 4:10). O anjo disse a João: Adora somente a
Deus (Apocalipse 19:10; 22:9). O próprio apóstolo Pedro, aos pés
de cuja estátua muitos se ajoelham hoje, recusou ser adorado por Cornélio (Atos
10:25,26). E em termos de intercessão a nosso favor, ninguém – nem mesmo Maria
– mas somente Jesus Cristo tem o poder de advogar por nós: “Porque
há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus,
homem” (I Timóteo 2:5).
Espero que você pare
para pensar sobre isto.656.630