
Não, não é dos políticos. É de uma outra categoria de pessoas,
que também depende da credulidade e da falta de espírito crítico das massas
para poder sobreviver. Trata-se dos modernos “apóstolos”, que não perdem
oportunidade para tentar uma boquinha no governo. De preferência uma que lhes
agrade ideológica e politicamente (se é que têm noção dessas coisas); mas se
não der, não tem problema. O importante é entrar na festa; depois, se for o
caso, bandeia-se para a “oposição”, cospe-se no prato em que se comeu e
busca-se outra sombra melhor.
Aqui vai um exemplo claro. Recentemente apareceu na
mídia uma
notícia dando conta de que começou uma “campanha de jejum e oração pelas eleições”. Essa
campanha foi inventada por “líderes evangélicos” e “levitas” famosos. O objetivo? “proclamar
que o Senhor Jesus Cristo é o único Senhor e Rei soberano da República
Federativa do Brasil, por direito de criação e por direito de redenção”. E
também escolher “12.000 sentinelas
[intercessores] para levantar cobertura
espiritual sobre o Brasil que vai eleger novos gestores públicos em âmbito
estadual e federal”, e assim “acelerar,
ocupar e influenciar pessoas, cidades e nações com os valores do governo de
Deus”.
Uma espécie de manifesto explica que “a igreja deve experimentar um avivamento [com] poder de gerar a verdadeira mudança política e cultural na sociedade”.
Ora, sabemos da importância da intercessão – é uma prática que a
Bíblia incentiva. Abraão suplicou por Ló e este escapou da destruição; Moisés
intercedeu por Israel e foi ouvido; Samuel orou constantemente pela nação;
Daniel orou pela libertação do seu povo; Davi suplicou pelo povo; Cristo rogou
por Seus discípulos e fez especial intercessão por Pedro; Paulo é exemplo de
constante intercessão. Mas aqui já vemos a diferença entre o Velho e o Novo
Testamentos: antes, muitas vezes a nação era objeto da intercessão; agora, não.
Deus presentemente trata com indivíduos, e não com nações. Esse tratamento com
as nações será retomado na Tribulação: tanto é verdade que esse período consiste exatamente no julgamento das nações. Não há
intercessão “pelas nações” na Era da Igreja. Começa aí a confusão.
E de onde será que tiraram essa idéia de “12.000 sentinelas”?
Porque não 40 milhões, que é o número (estimado) de cristãos evangélicos do
Brasil? Será que o apelo á intercessão não se aplica a todos os cristãos? Por
que só a uma casta privilegiada e “sacerdotal”? E por que o número “12.000”?
Isso parece mais um apelo à crendice popular e cabalística, um certo
“misticismo” pseudo-cristão que eu chamo de “numerologia
evangélica”.
E mais: onde na Bíblia se encontra uma ordem de Jesus
Cristo, o Cabeça da Igreja, dizendo “Ide,
acelerai, ocupai e influenciai pessoas, cidades e nações com os valores do governo
de Deus”? Onde Ele ensina que precisamos “transformar nações [...] e
gerar mudança política e cultural na sociedade”? Qual é a passagem bíblica
que traz esses ensinamentos?
É sabido que esse pessoal pertence àquela facção da
Cristandade que atende pela pretensiosa denominação de “Nova Reforma
Apostólica” – o que já denota a sua arrogância. Querem se comparar, e até mesmo
superar, a Reforma do século XVI com Lutero, Calvino e outros heróis da fé.
Eles mesmos assumem isto, como você pode constatar aqui neste
link. O que eles pretendem? O que pensam? O que pregam?

Peter Wagner mesmo defende o crescimento exponencial do número
de membros, usando técnicas de network-marketing,
a popular “pirâmide”, como G12, M12 etc. E diz que o “apóstolo moderno” é “espontaneamente reconhecido pelas igrejas”.
E aí sou obrigado a perguntar: quem, dessa lista de “apóstolos modernos”, foi “espontaneamente
reconhecido” pelas igrejas? Na maioria dos casos, eles foram impostos como
tais, devendo a obediência a eles ser adotada por decreto, sob risco de
excomunhão. Interessante é que se trata
de uma “ação entre amigos”: eles mesmos dizem que para ser apóstolo, precisa ser
“ungido” por outro “apóstolo”. Ou seja, fica tudo no mesmo clube. Você duvida?
Diga a algum membro dessas igrejas que você não crê no apostolado de um desses
fulanos, para ver o que acontece. Eu mesmo levantei essa questão antes, neste
link: “será
que existem apóstolos hoje em dia”?
Pode-se então notar claramente que o objetivo não é, como
parece, “interceder pela transformação da
nação” - o que em si é altamente questionável, pois a Bíblia não nos manda
“transformar nações” e sim pregar o Evangelho a pessoas, indivíduos, uma vez
que salvação na presente dispensação é de caráter pessoal e não nacional, o que
eu explico melhor aqui neste
link e neste
outro . O objetivo, na verdade, é participar do governo terreno “em nome
de Deus”, exatamente como defendia Agostinho em sua obra “A Cidade de
Deus”. Agostinho defendia a ideia de que o reino de Deus é exercido pela igreja
na terra. Um equívoco total, fruto de uma visão de mundo muito pessoal. Ele
escreveu isso por volta do ano 400 da era cristã, quando a igreja, então se
transformando de cristã em católica, crescia com o apoio do governo temporal.
Agostinho imaginou então que a igreja poderia governar o mundo por sua
influência no poder político, aliando-se aos reis e magistrados. Daí o costume
medieval de sempre o rei ser coroado pelo bispo ou até mesmo pelo “papa”. Mas
nada disso se aplica à verdadeira Igreja de Cristo.
Os ensinos desses novos “apóstolos” estão levando muitos
evangélicos a pensar que estão preparando a Terra para o reinado de Cristo. Sua
doutrina se traduz, basicamente, nesses pontos:
I) Satanás usurpou o
domínio da Terra através da tentação de Adão e Eva;
II) A Igreja é o
instrumento de Deus para recuperar esse domínio;
III) Jesus não pode voltar, nem voltará, até que a Igreja tenha recuperado o domínio, pelo controle das instituições governamentais e sociais da Terra (leia mais aqui).
III) Jesus não pode voltar, nem voltará, até que a Igreja tenha recuperado o domínio, pelo controle das instituições governamentais e sociais da Terra (leia mais aqui).
Assim, vende-se a idéia de que, entrando (e dominando)
a esfera política, aceleramos a vinda de Cristo para que, quando Ele chegar, o
poder já esteja consolidado nas mãos da igreja, por meio de seus “apóstolos” e –
incrível isso – seus “generais”!

Isso é uma das maiores mentiras do Diabo. A verdade é que, como a
Igreja será arrebatada a qualquer momento, jamais terá destaque na Terra sem a
companhia do Noivo. Enquanto a Igreja de Jesus estiver na Terra, habitando
corpos de carne, jamais alcançará, como Cristo não alcançou, qualquer destaque
entre os homens. Aqui está o engano. Não há nas Escrituras margem para se
crer que a Igreja reinará ou governará na presente era (antes do Arrebatamento).
Pelo contrário! Entretanto, os que não se guiam pelas Escrituras são levados a
crer que estão aperfeiçoando o que Deus projetou. Por isso “nova reforma”,
o “novo de Deus”, um “novo mover”, “novas revelações”, “estabelecer um novo
tempo”! Preste atenção!
Eles pregam a “teologia da substituição”, como os
católicos. Deus teria deixado Israel de lado, por sua incredulidade, e
estabelecido “um novo Israel”, e agora a igreja é a beneficiária das bênçãos
antes prometidas a Israel. Duas consequências graves dessa teoria: o anti-semitismo
(pregado por muitos pastores), já que Israel negou Jesus e merece sofrer
(baseado em Mateus 27:25, “o seu sangue caia
sobre nós e nossos filhos”), e a teologia da prosperidade, que
assume para si as promessas de bens terrenos – que eram para Israel (baseados
em Deuteronômio 30:9; Josué 1:3; Isaías 61:6, etc.).

Vejam esse Silas Malafaia. Primeiro, em 2010
disse que apoiava
Marina, porque ela
seria “evangélica”. Depois, quando ela passou a andar de beijos e abraços
com o notório ex-terrorista Fernando Gabeira e Alfredo Sirkis, no então Partido
Verde, com o “pai-de-santo” Luiz Bassuma e recebeu apoio total e irrestrito do
padre “new-age” Leonardo Boff, voltou atrás e vislumbrou em José Serra a sua
chave para a prosperidade. Não deu certo.


Ainda mais quando esse “líder espiritual” manifesta sua
opção política a cada quatro anos; e pior ainda, quando muda de opinião com as
estações do ano. Quando cisma de “levantar
intercessores para mudar a nação”, para que a nação e o governo sejam de
acordo com o que ele acha. Sinto muito,
mas estou fora desses caras.
Fontes
externas: