sábado, 7 de janeiro de 2012

Decadência

Em 1995, a rede Globo de TV, que de tempos em tempos tenta se aproximar vorazmente dos evangélicos, veiculou uma minissérie que contava a historia de um pastor picareta, interpretado pelo budista Edson Celulari. Claramente inspirada no líder da igreja Universal, a produção global representou uma pesada escaramuça na batalha das TVs, mas também levantou debates sobre os evangélicos do Brasil, ou melhor, sobre o ponto a que chegara o movimento evangélico.
Edir Macedo foi impiedosamente caricaturado nos 12 capítulos da minissérie, alegadamente uma “ficção”; mas o objetivo real era denegrir “os crentes”, que começavam a apresentar um grande crescimento numérico por todo o país. Em grande parte impulsionados pela vertente neo-pentecostal, da qual a Universal é um dos principais componentes, os evangélicos continuavam – e continuam – sendo detestados (quase sempre de forma velada, mas às vezes abertamente) pelos setores mais conservadores e retrógrados deste país, capitaneados pela grande mídia e pela igreja católica.
No folhetim global, roubo, assassinatos, traição e adultério eram o tempero principal (como, de resto, tudo que sai da Globo), sob o pano de fundo de uma igreja liderada por um homem inescrupuloso. A imensa boiada, a mesma que costuma xingar pela rua os atores que interpretam vilões nas novelas, confundindo o artista com o personagem, obviamente nem pensou em “ficção”, e mais um estereótipo foi grudado no couro dos evangélicos. Agora, além de atrasados, ignorantes, pobres e intolerantes, também eram bobos guiados por pastores mal-intencionados.
Eu penso que, além de criar revolta em alguns setores do protestantismo, e ter intensificado o que alguns pseudo-intelectuais chamaram de “guerra santa”, o episódio provocou reflexão e auto-análise pelos cristãos evangélicos mais conscientes, que na mesma época já se preocupavam com os rumos que a fé reformada ameaçava tomar. E que, infelizmente, parecem ter se concretizado.
E assim a profecia do Balaão global acabou se cumprindo, e o que se vê hoje entre os evangélicos dificilmente pode ter outro nome que não “decadência” mesmo, à luz da regra de fé e prática que deveria nortear os cristãos deste país – a Bíblia Sagrada.
Senão vejamos.
De lá para cá, o crescimento numérico não parou. A própria Universal, por meio de sua afiliada Record, intensificou os ataques à “Vênus platinada”, ousando fazer denuncias que até então só eram ventiladas nas faculdades de comunicação. As origens obscuras e tenebrosas da fortuna dos Marinho (donos da Globo), suas ligações com os porões da ditadura, as maracutaias com políticos do naipe de ACM-vô e Collor, mutretas variadas envolvendo a CBF, e muitas outras podreiras de ontem e de anteontem vieram e vêm à tona nas noites da Record. Isso não serviu para apagar a imagem duvidosa de Edir Macedo – até porque é indefensável o vídeo em que ele aparece num retiro ensinando a seus discípulos como arrecadar mais dinheiro. Mas serviu para que muitos e muitos crentes, em especial os neo-pentecostais, meio que se unissem num movimento “anti-globo”, um tanto descentralizado e desorganizado, mas até certo ponto eficaz.
E nesse fechamento de corpo, os líderes dessas novas denominações acabam se fortalecendo, porque em boa medida assumem um papel de mártires, de renegados, de perseguidos. Muitos até são mesmo, mas outros usam dessa situação para esconder suas próprias manotas. Estão aí inúmeros exemplos, e para não espichar muito cito o casal Hernandes e seus dólares. Seus seguidores até hoje acham que foram presos injustamente, e que a imprensa exagerou nas cores dos sucessivos escândalos. Mais ou menos como o “papa” B16, ao minimizar o peso dos escândalos de pedofilia na sua igreja, jogando a culpa na imprensa; ou como muitos em Alagoas que até hoje acham que o Collor foi derrubado pela imprensa do Sul, que teria raiva dos nordestinos.
Outra conseqüência desse “isolamento” é a supervalorização da palavra do líder. E o que o líder fala tem o mesmo peso da Bíblia: o “apóstolo” falou, a água parou. Daí que poucos têm a coragem de buscar na Bíblia a confirmação do ensino do líder, como faziam os bereanos. 
Vemos então desvios cada vez mais cabulosos da prática neo-testamentária, e a adoção de elementos estranhos ao culto cristão: é um tal de rosa ungida, sabonete abençoado, nó no travesseiro, óleo de soja poderoso, toque de shofar, água e vinho “de Israel”, vassoura consagrada para varrer a casa e espantar o mal, quebra de maldição hereditária, dança profética, oferta alçada, dízimo, bízimo e trízimo, toalhinha milagrosa,  
dançarinas evangélicas de roupa branca no culto de “réveillon... não venham me dizer que isto é cristianismo. Isto é feitiçaria, fetichismo, superstição, culto de objetos que se aproxima do culto das relíquias católicas. Ou em uma palavra: decadência.
Outro dia saiu nos portais de noticia que em alguns países como Afeganistão, Paquistão e outros “istão” por aí, o Cristianismo está em vias de extinção. O assunto é muito sério, porque cristãos estão sendo perseguidos, torturados e mortos por causa de sua fé. Mas eu comentei que aqui no Brasil também o Cristianismo está em extinção e pode desaparecer em breve.
Sabemos que na Turquia, Oriente Médio e Norte da África, outrora repletos de comunidades cristãs bastante significativas e importantes, os cristãos hoje são uma minoria ínfima da população. O declínio se deu por diversas causas, como a ofensiva muçulmana em séculos passados, dentre outras razões. Mas aqui no Brasil a decadência, a meu ver, se aproxima mais do fenômeno que transformou o Cristianismo primitivo em catolicismo: o estreitamento da religião  com o poder, político e econômico; a crescente pasteurização e diluição dos valores da fé para alcançar maior popularidade e aceitação; e a adoção de um discurso mais tolerante, menos agressivo, que não inclua tanto as palavras “inferno”, “pecado”, “arrependimento”, “mudança de vida”, para não espantar o freguês em potencial. Se possível, até mesmo adotar alguns hábitos e costumes dos gentios, para criar uma boa imagem. Exatamente o que a Igreja fez após Constantino decretar o cristianismo como religião oficial do Estado – o resto vocês já conhecem. Deu no que deu.
É como Israel, que havia saído do Egito, mas o Egito não havia saído deles. Estavam no caminho da Terra Prometida, prestes a tomar posse da Promessa. Mas ainda andavam com as lembranças das carnes do Egito, as cebolas do Egito, a cervejinha do Egito, o pagode do Egito, as dançarinas do Egito. Gostavam tanto dessas coisas que tentaram trazer para o seu culto. Em Juízes e em Ezequiel vemos como o culto judaico ficou poluído, os costumes ficaram miscigenados, e até o templo de Jerusalém recebeu uma “decoração” adequada a esses costumes (leia Ezequiel 8:5-18). A Igreja está bem próxima disso. Jerusalém se aproximando da Babilônia.
Posso ilustrar isso com alguns acontecimentos recentes: este, este e este.
Para mim, isso é decadência. Por mais que muitos “líderes” e um grande número de amebas descerebradas repita o mantra de que Deus estaria “abrindo as portas”, a aproximação da Globo é uma forma de ela reconquistar o mercado perdido. Começou fazendo parceria com “levitas”, depois patrocinando festival de música gospel, e agora convidando esses “artistas” para o Domingão do Faustão e o Caldeirão do Huck; não me admiraria se nas próximas novelas começassem a tocar músicas da Ana Paula ou do André Valadão. As amebas dirão que é Deus abrindo as portas; ora, se Deus abriu as portas, por que os “levitas” não cantaram músicas evangelísticas? Eu não me espantaria se essas canções melosas servirem de tema para alguma cena “de cama” na novela das 8 (que começa às 10).  
Afinal, o que tais “levitas” apresentaram nos programas citados? Músicas “genéricas”, placebos sonoros sem impacto nem mensagem, sem falar nada de Bíblia, mas pelo contrário, falando de festa, alegria, tira o pé do chão, vamos pular, “mãe-natureza”, “rap gospel de conteúdo social positivo [sic]”, sol, verão e outras idiotices que você pode comprovar nos vídeos acima, inclusive com coreografias executadas por vedetes, chacretes, panicats ou outras etes, como se queira definir tais bailarinas; strippers rebolando seminuas, que você vê claramente em todos esses vídeos. Dessa forma não se pode esperar nenhum crente retratado com fidelidade na telinha global. Essa é a imagem e a mensagem que estão passando.
Tenham certeza: os autores dos folhetins estão observando, agora mesmo, o que acontece nos “cultos” evangélicos de hoje em dia. Cultos que parecem reuniões de filhos de Belial, e não de filhos de Deus. Porque os filhos de Belial, como os filhos de Eli, conhecem os ritos e a linguagem do culto a Deus, mas possuem outras motivações. Leia I Samuel caps. 2:12-36 a 4:22 . Foi assim que a Globo montou a igreja retratada na minissérie “Decadência” há 17 anos: até hinos e corinhos eles criaram “para dar mais realismo”. Eles estão de olho. 
E nessa imagem que está sendo criada pelos próprios “evangélicos”, não tem maquiagem que dê jeito, nem parceria comercial que alivie a barra. 
Não tem mídia que conserte uma imagem cada vez mais rota. Vejam a participação das “evangélicas” no Big Brother. Usam com sabedoria a porta aberta para dar um bom testemunho, ou entram no jogo e acabam fazendo parte do que geralmente acontece na casa?
Solução para a decadência? O contrário da decadência, a ascensão.
A dependência total da Palavra de Deus, a obediência única e exclusivamente ao Senhor dos Senhores, a observância dos Seus ensinos. O abandono total das superstições humanas, dos costumes “dos gentios”, das ordenanças de homens. Ter aversão a “novas revelações” e outras invenções, cujo único resultado é o afastamento da Verdade.
Sempre é tempo de dar as costas às cebolas do Egito. Sempre é tempo de abandonar o caminho que desce de Jerusalém para Jericó. Sempre é tempo de dar meia volta e retornar para Sião.

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