terça-feira, 14 de janeiro de 2014

As 7 igrejas do Apocalipse (I):

Anteriormente, falamos da doutrina dos nicolaítas, a qual vem se infiltrando na Igreja desde o primeiro século, como podemos ver a partir do alerta de Jesus às igrejas de Éfeso e Pérgamo. Em Apocalipse 2:6, 15, somos informados de que Jesus odeia os “nicolaítas” de Éfeso; o Senhor elogia aquela igreja, que também os odiava. E na igreja de Pérgamo vemos que esse pessoal também já estava alojado, e que Jesus os odiava igualmente.
Também procuramos exemplificar como numa igreja aqui, bem pertinho de você, estão fazendo cerimônias estranhas, de “consagração de pastores”, que mais se assemelham a eventos maçônicos e católicos, tal a papagaiada que arranjam com vestimentas especiais para os líderes, diáconos e outros, numa clara demonstração de desejo de diferenciação entre o “clero”, o “sacerdócio”, os “oficiais”, e o povo em geral – os leigos, o laicato. Lamentável tudo isso, como você já pôde ver.
Mas eu gostaria de avançar um pouco mais e, diferente do que havia planejado antes, ir direto para a última das sete igrejas citadas em Apocalipse 2 e 3, a de Laodicéia. Esta é, segundo os melhores autores e intérpretes, aquela que representa a Igreja nos tempos finais da História. Cada uma, das sete mencionadas, possui características únicas, que se aplicam perfeitamente à perspectiva histórica.
Vimos que cada igreja de Apocalipse representa uma fase do Cristianismo:
(1) Éfeso (Apocalipse 2:1-7). Abandonara o primeiro amor (2:4). Já então, pouco antes do ano 100 da era cristã, parte da profecia de Jesus estava se cumprindo: “o amor de muitos esfriará”. A Igreja já vinha sendo perseguida desde Nero (em 64 d.C., quando provavelmente foram mortos Pedro e Paulo), e depois sob Domiciano (93 d.C.), quando aconteceu o exílio de João. O apóstolo já dizia em suas epístolas para que a Igreja tomasse cuidado com os falsos cristos, que se infiltrariam na assembleia e poderiam enganar os fiéis. Isso tudo pode ter causado o esfriamento de Éfeso.
(2) Esmirna foi a igreja que sofreria perseguição mais pesada (2:10) pelos imperadores romanos ao longo dos séculos II e III.
(3) Pérgamo precisava se arrepender (2:16). Representa a igreja mundana e, com efeito, no início do século IV a Igreja se torna estatal, patrocinada e protegida pelo governo de Constantino. É a igreja medieval, onde os nicolaítas conquistam o poder, com suas hierarquias – do clero sobre os leigos e dentro do próprio clero, com a transformação do ofício de bispo em título hierárquico – e com o fortalecimento do bispo de Roma, que passa a ser conhecido como “papa” (o chefe de todos os cristãos). E as igrejas evangélicas começam a cair novamente nesse erro, como vimos neste artigo.
(4) Tiatira abrigava uma falsa profetisa (2:20). Simboliza a igreja medieval, papal, corrupta, que floresceu e cresceu no período medieval, até a época do Renascimento e da Reforma. Entretanto, suas doutrinas heréticas permanecem em vigor até hoje e ultrapassam as fronteiras de Roma.
(5) Sardes é a igreja que tinha adormecido (3:2). Representa a Igreja da Reforma, que logo deitou-se nas doces lembranças das vitórias espirituais do passado, e estagnou.
(6) Filadélfia (3:7-13), cujo nome significa “amor fraternal”, representa a Igreja missionária, evangelística, fiel, principalmente dos séculos XVIII e XIX.
(7) Laodicéia, a igreja com a fé morna (3:16), que representa a igreja dos dias atuais, onde todos têm direitos iguais. Tudo é resolvido em consenso, democraticamente. Uma beleza, dirão alguns. O nome “Laodicéia” significa exatamente “justiça” (ou “julgamento”) “do povo” (cf. gr. Λαοδίκεια:
 laos = povo + dikeia = justiça). Ou seja, uma igreja democrática, bem ao gosto moderno, ocidental, contemporâneo. Uma pena, pois a Igreja deveria ser... teocrática, isto é, governada por Deus.
Laodicéia é típica da maioria das igrejas que se chamam cristãs-evangélicas em nosso tempo. Regra geral, consideram-se ricas e auto-suficientes, estão bem equipadas com edifícios e recursos humanos e materiais. Mas justamente por isso o Senhor a repreende: “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”.
Busca também poder político. Fazem-se acordos com emissoras de TV, inclusive com a criação de premiações especiais para seus artistas, como é o caso do famigerado troféu “Promessas”. Montam grupos de pressão no Congresso, com frente parlamentar para defender seus interesses. Negociam verbas e ministérios com o governo, em troca de apoio político. Seus “bispos” comungam do poder, ao contrário dos bispos da Igreja Primitiva, que não compactuavam com nenhuma autoridade mundana, muito pelo contrário.
Essas igrejas são governadas por homens ao invés da Palavra de Deus: seus líderes são, na maioria das vezes, eleitos democraticamente, conforme as preferências dos seus membros (II  Timóteo 4:3-4), ao invés de se reconhecerem aqueles que têm as necessárias qualidades espirituais (I Timóteo 3; Tito 1) como dons de Deus para a igreja (Efésios 4:11-12).
São inúteis para o Senhor, porque não pregam o Seu Evangelho: são conformadas com o mundo. São cegas com relação às coisas espirituais, sem discernimento, sem esperança quanto à vida eterna; não aguardam o retorno de Cristo (II Pedro 2:1-22, 3:3-4), nem o querem; pelo contrário, querem ficar aqui e exercer o governo nas coisas terrenas.  Veja aqui.
Diferentemente das demais igrejas, Laodicéia não recebe nenhum elogio, só repreensões! Que tristes tempos esses em que vivemos! E ainda assim, há crentes que dizem que não podemos criticar! Querem viver no erro? Então que vivam! Mas tenham em mente a dura repreensão do Senhor. Apesar de se considerar rica, o Senhor diz: “Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e vestidos brancos, para que te vistas, e não apareças a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas”. Ou seja, se vocês têm dinheiro, então comprem o que vale a pena comprar! Apesar de não quererem ser criticados, são como o reizinho da fábula: estão nus, todos estão vendo, mas se recusam a aceitar os fatos!
A repreensão é seríssima: “nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (3:15,16). Os laodicenses entenderiam muito bem essa repreensão, porque o grande problema da comunidade era o suprimento de água: suas fontes produziam água de má qualidade, que não se podia beber. Construíram então aquedutos para trazer água da cidade vizinha, Hierápolis, que possuía fontes termais (água quente); mas a água chegava a Laodicéia ainda morna, e as pessoas tinham que esperar que ela esfriasse para poder bebê-la. Sabemos que a água fria traz refresco, refrigério; e a água quente tem qualidades curativas, é usada para fazer limpeza e higiene; mas poucos fariam uso de água morna, a não ser para provocar o vômito. A analogia é claríssima! 
Outra prova de que esse tipo de igreja é centrada no homem, é que Jesus está do lado de fora: por isso Ele diz que “estou à porta e bato; se alguém ouvir e abrir, entrarei”. A questão é: será que vão ouvir Jesus batendo na porta? Será que não estão tão ocupados com suas festas, suas celebrações, seus jantares e suas homenagens, seus “louvorzões”, seus “troféus promessa”, a ponto de não ouvir o Senhor batendo à porta? Que situação triste!
Mas apesar de vivermos nos dias da igreja morna, existe também uma Igreja fiel e irrepreensível, que é invisível aos olhos do mundo. Uma Igreja que não tem carteirinha de membro, placa na porta, nem recebe diploma de dizimista. É contra esta Igreja que o mundo milita. É contra esta Igreja que reclama a igreja institucionalizada, denominacional, sistematizada. Felizmente, é esta a Igreja remanescente, que não comunga com o governo mundano de Laodicéia, que o Senhor Jesus vem buscar!
Laodicéia, juntamente com Tiatira e Sardes, ficará para trás no dia do arrebatamento. Com suas heresias, suas apostasias, seus costumes extra-bíblicos, formarão o núcleo da igreja apóstata do Anticristo, aceitando o ecumenismo global que constituirá a religião mundial liderada pelo Falso Profeta. É por isso que Deus diz: “Saí do meio dela”!

Semana que vem: Tiatira.

Curiosidades:
Se você procurar na Internet por Denizli ou Pamukkale, descobrirá que são cidades da Turquia conhecidas por seus hotéis turísticos do tipo spa, por causa das fontes de água quente; era exatamente nessa região que se situava a antiga Laodicéia, um pouco ao norte de Denizli. Tente no Google Earth.
O apóstolo Paulo se esforçou para introduzir o Evangelho em Laodicéia, onde provavelmente esteve evangelizando. “E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos” (Atos 19:10). De Laodicéia ele teria escrito aos Colossenses. Crê-se que escreveu também uma epístola aos laodicenses (acerca da qual se refere em Colossenses 4:16); entretanto, se chegou mesmo a escrevê-la, deve ter-se perdido.
A região é o vale do rio Lico, conhecida na Antiguidade como Ásia Menor, e tinha três cidades principais: Colossos, conhecida por suas fontes de água fria (próxima a um lago), Hierápolis, com suas fontes termais, e Laodicéia. Esta fica no principal cruzamento de estradas a cerca de 80 km de Éfeso e 64 km de Filadélfia. A cidade em si estava totalmente imersa na cultura grega. As questões de justiça da região eram ouvidas em Laodicéia e fundos eram depositados nos bancos da cidade para segurança.
Na mitologia grega, Dicéia era era uma deusa menor da Justiçauma das Horas, deusas guardiãs da ordem natural, filhas de Zeus e Têmis, o que reforça o nome “Laodicéia” como significando “justiça do povo”.
Os laodicenses, entre os quais havia uma grande colônia judia, haviam reunido consideráveis fortunas, e se orgulhavam de sua cidade. Os rebanhos produziam uma excelente lã negra, de altíssimo preço. Por isso os laodicenses se achavam ricos e bem vestidos. As ruínas de três templos cristãos evidenciam que a igreja local também era rica, do ponto de vista financeiro.
Curiosamente, nunca se descobriram quaisquer sinais de que a igreja de Laodicéia tenha tido êxito na propagação do evangelho, apesar de sua riqueza material; ao contrário de Éfeso, historicamente provada como muito eficaz no evangelismo.

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