Duas reflexões:
A primeira é que uma das poucas coisas boas, se é que há alguma, em ver Edir Macedo ao lado da presidente Dilma é saber que a Globo se mordeu e espumou de raiva, sendo obrigada a cortar a transmissão abruptamente. Isso é muito bom! Fazer raiva na Globo não tem preço!
A segunda é mais séria.
Como diria Lula, “nunca antes na história deste país” teve tanto evangélico (ou pelo menos gente que se acha evangélica). Não por acaso, a visita a um bom número de igrejas já faz parte do roteiro de qualquer político. O PV de Marina Silva, por exemplo, apesar de defender a união civil de homossexuais, o aborto, a legalização de drogas e outros temas que quase custaram a cabeça a outros candidatos, ganhou pontos abençoados desse rebanho e forçou o segundo turno em outubro passado. Apesar da anencefalia coletiva, ou talvez por causa dela, é um contingente nada desprezível.
É preciso afagar a manada. E a forma mais fácil é lhe dando uma parcela, ainda que ínfima, desse poder e visibilidade. Isso agrada a massa.
Nos portais de notícias que aceitam comentários, a aparição do “bispo” na posse causou júbilo entre as hostes iurdianas. Um comentário dizia, eufórico, que “ninguém agüenta nós da universal” (sic). O comentarista tem razão; mas eu fico pensando na grande diferença dos “bispos” da atualidade para os verdadeiros bispos da história da Igreja.
João, por exemplo. É, aquele mesmo que escreveu um evangelho, três epístolas e o Apocalipse. Aquele que junto com Pedro foi o primeiro discípulo a chegar à tumba vazia. Aquele a quem Jesus amava.


Entre o tumulto em Atos e a carta em Apocalipse, se passaram cerca de 40 anos. Nesse meio tempo, pelo menos oito imperadores subiram ao poder: Nero em 54, Oto, Galba e Vitélio em 67/68, Vespasiano em 69, Tito em 79, Domiciano em 81 e Nerva em 96.

Para se ter uma idéia, o historiador Tácito escreveu que os cristãos eram, para os romanos, “o que há de abominável e infame no mundo... uns foram revestidos de peles de animais ferozes e jogados aos cães pra serem devorados; outros eram pregados em cruzes; muitos foram queimados vivos, embebidos de matéria inflamável, acesos para servirem de tochas à noite” (Anais da Historia Romana, XV:44).
Mas hoje... são outros tempos, dirão alguns.
Sem dúvida, são outros tempos.
Hoje o político precisa da igreja, e a igreja precisa do político. E nessa dependência mútua, abre-se espaço para o comércio, o negócio, a combinação: você não me atrapalha que eu não te atrapalho. Você me ajuda que eu te ajudo. Você fala, que eu te escuto.
E aí pergunto, mais uma vez: a Igreja precisa disto? Jesus, a quem pretendemos representar nesta terra, precisa disto? A Igreja precisa do poder terreno? Precisamos “tomar posse da nação”? Evidentemente, todo cidadão tem o direito de votar e ser votado, de acordo com suas convicções. Congressistas cristãos podem agir como sal e luz, barrar certas leis etc., mas têm o direito de exigir poder e holofotes? Podem barganhar verbas? Prometer votos em troca de concessão de emissoras de rádio e canais de TV?

Mas... são outros tempos.
O bispo agora não é mais queimado vivo não, que absurdo, ele é convidado para a posse presidencial.
Nunca antes na história deste país se viu tal coisa, dirão alguns. Nem da Igreja, digo eu.
O bispo agora não vive distante da política; ele não é mais oposição a César. O bispo agora janta com César. César precisa do bispo, e vice-versa. E se você quiser saber o que é ser bispo, clique aqui.
O bispo agora não vive distante da política; ele não é mais oposição a César. O bispo agora janta com César. César precisa do bispo, e vice-versa. E se você quiser saber o que é ser bispo, clique aqui.
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Há oito meses, a IURD reuniu mais de 1 milhão de pessoas no mesmo local, e a TV Globo não noticiou o encontro. Só o jornal O Globo deu foco ao “congestionamento” e à “sujeira”, com o título pejorativo de “Caos universal e autorizado”. Valdemiro Santiago, auto-proclamado “apóstolo” e chefe da Mundial, é dissidente da IURD e nunca antes teve espaço na Globo, mas ofereceu R$15 milhões mensais por um horário no SBT. Dinheiro não falta, para isso existe o “bízimo” e o “trízimo”. Teria sido paga a matéria do JN, ou a Globo resolveu contra-atacar a Universal com a Mundial?
Será que vai ter próximos capítulos? Será que vale a pena ver de novo a guerra santa?
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