Depois
de passar boa parte dos anos 1980 na lista negra das nações que
apoiavam organizações terroristas, a Líbia mudou de estratégia e tentou vender
ao mundo a imagem de nação civilizada. Liderado há décadas pelo ditador Muammar
Khadafi, famoso em outros tempos por financiar, treinar e abrigar movimentos
terroristas dos mais diversos matizes, o país procurou se reaproximar das
nações chamadas desenvolvidas e democráticas, e Khadafi foi visto ao lado de
luminares como o Nicolas Sarkozy e Lula. Os líderes ocidentais,
sempre de olho no petróleo, esqueceram-se momentânea e convenientemente de que
Khadafi estava por trás do atentado que destruiu no ar um Boeing 747 (Jumbo) da
PanAm próximo à cidade de Lockerbie, na Escócia, matando centenas de pessoas, e
também foi figurinha carimbada durante a Guerra do Líbano na década de 1980,
quando Israel se viu forçado a invadir o país vizinho a fim de tentar acabar
com os terroristas do Hezbollah – situação bem similar à atual, onde a ação
agora é ao sul e o inimigo é o Hamas.
Khadafi, num esforço para se tornar simpático ao Ocidente, reconheceu e assumiu a ação
terrorista, e ainda pagou somas milionárias às famílias das vítimas de
Lockerbie, como forma de indenização. Mas também buscava reatar laços
diplomáticos rompidos desde quando fazia parte, junto com o Irã do aiatolá
Khomeini e a União Soviética de Brejhnev, do então “eixo do mal”, como disse
Ronald Reagan. Nada disto funcionou e Khadafi foi pego no meio da onda de
revoltas que varreu o Oriente Médio: acabou como um cão danado, espancado e
morto com um tiro na cabeça, deixando aos “rebeldes”, como Saddam Hussein, seus
charutos, seus carros de luxo, suas esposas e seus castelos.
As mesmas perguntas que se fazem em relação ao Egito se aplicam
à Líbia. Não se sabe ao certo qual será a direção que o novo governo tomará, se
transformarão o país numa democracia à européia, de moldes neoliberais, ou se
entrarão no caminho do radicalismo islâmico à moda do Hamas. Ninguém sabe até
onde vai o desejo dos líbios por democracia e pela autodeterminação dos povos,
conceitos que se aplicam a todas as nações, menos quando o assunto é Israel.
Todos os árabes e muçulmanos querem Jerusalém, ignoram a história judaica, e pregam
a completa extinção do Estado Judeu – se houver alguma exceção, por favor me
avisem. Basta dizer que Trípoli, assim como Beirute e o Cairo, sempre foram em
anos passados o que é hoje o Afeganistão e a Faixa de Gaza, esconderijo de
terroristas, arsenal de onde saem bombas e mísseis para atentados e refúgio dos
inimigos de Israel. Estou mentindo?
Poucos anos atrás, a Líbia negociou a compra de armas russas, de acordo com a
agência de notícias russa Interfax. “Um
acordo prevendo a conclusão da compra de um enorme carregamento de armas,
valendo mais de 2 bilhões de dólares, pode ter sido feito durante a visita de
Khadafi a Moscou”, disse uma fonte não-identificada da indústria
armamentista à Interfax. Tanto a embaixada da Líbia em Moscou quanto a
exportadora russa de armas se recusaram a comentar. Navios de guerra russos
visitaram a Líbia indicando o estreitamento dos laços entre Trípoli e Moscou,
que apoiou Khadafi durante a era soviética.
A
Líbia possui sistemas de mísseis terrestres, como o S-300, o TOR-M1 e
Buk, assim como vários aviões de guerra, dezenas de helicópteros e cerca de 50
tanques, disse a fonte consultada pela Interfax. Sabe-se de contratos para
modernizar as armas líbias da época soviética, segundo a agência. A Líbia negociou
outros 4,5 bilhões de dólares em dívidas com a Rússia pela compra de
armamentos, segundo a Interfax. Muitas dívidas da época soviética são difíceis
de mensurar, por terem sido feitas em rublos (fonte).
E agora até o Brasil está vendendo aviões militares para a Líbia (leia aqui e aqui).
Que
finalidade será dada aos armamentos do exército líbio? Agora de
mãozinhas dadas com a OTAN, não restam ameaças externas à Líbia. Ao contrário
do que se pensa, a União Européia, e não as nações árabes ricas, é a principal
financiadora dos palestinos. A OTAN não se permitiria perder novamente o acesso
aos poços de petróleo, e com certeza os defenderá com unhas e dentes. Então, o
único inimigo externo da Líbia seria... Israel.
Motivos não faltam. Socorro a seus “irmãos palestinos”, por exemplo, é razão mais do
que suficiente para formar uma coalização anti-Israel junto com os outros
árabes e muçulmanos. E a isso, muito provavelmente, a ONU não se oporia, com a
maioria dos países membros a favor da criação do Estado Palestino. De modo que
a “solução final” de Hitler – o extermínio dos judeus – ainda é, hoje em dia, um
sonho para muitos árabes/muçulmanos (e para alguns que comentam de vez em quando neste blog). Uma guerra total de coalizão contra Israel pode ser o
caminho, assim como somente uma “coalizão” conseguiu destronar Khadafi e, antes dele, Saddam Hussein.
Resta saber até que ponto os Estados Unidos, enfraquecidos política,
econômica e diplomaticamente, conseguirão segurar a maré anti-Israel. Nota: não
somos contra a criação do Estado Palestino, pois a autodeterminação dos povos é
um conceito sagrado da democracia e da diplomacia internacional, embora as
potências ocidentais se achem no direito de meter o pé na porta de qualquer um
em nome de seus “valores” e interesses. Agora, um Estado palestino com capital
em Jerusalém, historicamente capital de Israel há 3000 anos, retorno às
fronteiras de antes da Guerra dos 6 dias (1967), retirada dos colonos judeus...
aí já é assunto para se discutir longamente em outro artigo.
Basta dizer que árabes e/ou muçulmanos controlam 24 nações na
região... 99,5% por cento do total das terras do Oriente Médio, enquanto cabem
a Israel só 0,5% deste mesmo mapa. Porque nenhum desses países cogita ceder parte de seu
vasto território aos “irmãos palestinos”? O Egito, por exemplo, poderia ceder o
Sinai, que é ali pertinho de Gaza, e ainda poderia usar o território do Estado
Palestino assim constituído como “tampão” entre si e Israel. Ou a Síria, que
poderia ceder a Transjordânia aos seus queridos irmãos “sem terra”. Até onde a
questão da eterna procura da paz no Oriente Médio está entrelaçada com os
acontecimentos proféticos narrados na Bíblia? Quando, afinal acontecerá o tão
sonhado acordo de paz entre Israel e seus vizinhos? O que podemos esperar? Na
próxima semana, quando fecharmos essa série, talvez possamos vislumbrar um
pouco do roteiro desse drama.
Até lá.
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