quarta-feira, 10 de março de 2010

Socorro, eles voltaram!


Como tirados de folhas amareladas pelo tempo, eles ressurgem... São os “levitas”, os “grandes” homens e mulheres que “ministram o louvor”. Um pouquinho só de conhecimento bíblico já nos faz ver que por trás disso tudo há um grande equívoco.
Quem se diz levita não sabe o que está dizendo. Pode ser que o desejo de ser levita surja de uma vontade de possuir títulos, o que é bem comum em nosso meio. Apóstolos, Bispas e Bispos, que assim se auto-denominam, são comuns, assim como quem busca no Velho Testamento coisas que já foram abolidas há pelo menos 2.000 anos. As pessoas precisam disso; afinal, ser levita é ser especial, ser diferente da massa que assiste ao culto (isso mesmo: as pessoas não participam, assistem ao culto). Ser levita é ser parte do grupo seleto, pessoas que surgiram lá no Antigo Testamento, ficaram omissos por 2.000 anos e agora ressurgem assustadoramente.
Primeiramente, perguntamos: na igreja de Jesus tem levita? Paulo ensina que não há “nem grego nem judeu”; quanto mais levita, que, como se sabe, é um descendente de Israel, a tribo que Deus consagrou para Seu serviço.
Ocorre que no culto cristão não há esse ministério especial, pelo menos não há registro dele nas cartas de Paulo, nem na História da Igreja Primitiva. Pelo contrário, a carta aos Hebreus é explícita ao dizer que o ministério levítico acabou quando Jesus, na Sua morte, rasgou o véu do Templo...
Segundamente, se alguém insiste em ser chamado por este “título”, que fique claro que deve cumprir os rituais concernentes a tal posição, qual sejam: ser mesmo judeu, descendente de Levi; ser circuncidado; não tocar em coisas impuras, incluindo mulher menstruada, animais mortos e alimentos não permitidos pela Lei Mosaica; não fazer nenhum trabalho no sábado; não cortar o cabelo de forma arredondada; não danificar a ponta da barba; não misturar na sua roupa forro de lã e de linho; e mais uns seiscentos mandamentos, mais ou menos. Feito isso, tudo bem, é levita.
Para gente assim, sugiro uma leitura rápida (nem precisa ser muito profunda) do livro de Hebreus. Se restar alguma dúvida, leia novamente... mas se ainda tiver alguma dúvida, que procure a Sinagoga mais próxima.
Depois ficam indignados e dizem que não tem nada a ver com o judaísmo. Mas então por que os nomes desses conjuntos são sempre tirados do Velho Testamento? “Trazendo a Arca” (de onde para onde?), “Toque no Altar” (esqueceram de avisar pra eles que na igreja não tem altar, só no Templo de Jerusalém), “Aliança do Tabernáculo” (ai, ai), “Exodus”, “Elias & Enock”, etc. Uma exceção talvez seja “Amigos do Noivo”. Quer dizer então que eles não fazem parte da Noiva? Ou então, são apaixonados, coisa que o NT não recomenda, pois a paixão é da carne e passageira...
Esse movimento de levitas é um caso clássico. Pessoas que mal chegam a estar na frente da igreja dirigindo cânticos, e já se sentem “levitas”.
Nosso meio musical passa por momentos terríveis. É uma enxurrada de coisas de baixa qualidade (que alguns insistem em chamar de música), tanto nas rádios que se dizem evangélicas, como nas igrejas idem. Há cânticos que não dizem absolutamente nada. Cantamos porque o ritmo é gostoso, às vezes agitado, às vezes meloso, mas não dizem nada! A coisa é séria.
Que pena não se ouvir mais Vencedores Por Cristo, Logos, Sergio Pimenta, João Alexandre, Jorge Camargo, Guilherme Kerr etc. Gente comprometida não só com a qualidade da melodia, mas também com letras sadias, bíblicas, que nos fazem bem. Engraçado é que nenhum deles quer o título de “levitas”. Não precisam! São sérios, comprometidos... não vivem atrás de títulos, nomes, caras e bocas.
Danilo Fernandes, do blog Genizah (http://www.genizahvirtual.com/2009/09/carreira-muicai-ministerios-de-louvor-e.html), diz o seguinte a respeito dos modernos levitas profissionais:
“Os artistas cristãos são profissionais com carreiras. Carreiras, não ministérios... se o artista quer ser ministro de louvor e quer ter um ministério, não pode cobrar para cantar em púlpitos e, principalmente, deve se comportar como tal, se preparar e se dedicar com temor e tremor à Obra do Senhor. Seu comportamento como ministros será observado, como se faz e se exige dos obreiros na casa do Senhor. Sua vida deve ser reta e exemplo para os irmãos. As letras de suas músicas devem ser bíblicas, escrutinadas pela Igreja. O que não dá é querer agir como artista de carreira quando se trata de dinheiro e vida pessoal, pregar sem estar preparado, usar o palco como púlpito ou plataforma política, desfilando doutrinas vazias, abusando dos atos proféticos, das jam sessions com o “espirito” (sabe-se lá de quem), usando um falso ministério como escudo ungido e selado. Fuja deste! Quem faz assim não é ministro de outro senão de Baal. É prostituto cultual. Este quer enganar. Explorar a fé alheia”.
Hoje, muitas igrejas não têm ministros de louvor, têm animadores. “Levante as mãos”, “feche seus olhos”, “diga para o irmão que está ao seu lado”, “faça isso”, “faça aquilo”... e lá ficam eles, levitas, mandando e desmandando no auditório, achando que isso é ministrar o louvor. Lembram um antigo comercial em que o animador falava: “agora, só os homens... agora, só as mulheres... agora, só os baixinhos”...
O louvor, ainda que manifestação coletiva na reunião dos salvos, é algo pessoal. Cada um tem seu jeito, seu “estilo”; mas nós queremos a uniformidade de gestos, atos e palavras, verdadeiros robôs levíticos, porque na verdade desconhecemos a profundidade do louvor e da sua força naquele que louva, seja de que jeito for. Ora, às vezes é bom um louvor mais “carismático”, às vezes um mais tranqüilo, e ainda que o cântico seja agitado, nem sempre a pessoa quer bater palmas, ou levantar as mãos. Isso é de cada um, e não devemos julgar quem levanta ou não as mãos, porque isso não foi, não é, e nunca será, parâmetro de espiritualidade.
Falta percepção maior do que realmente estão fazendo. Se você não levantar as mãos, o irmãozinho do lado já faz cara feia: “Esse deve estar em pecado”. O “levita” despeja umas gracinhas: “tem gente que não levanta a mão... tá cansado... tá derrotado...” . Isso nos rouba a individualidade e a comunhão pessoal desse momento do culto, o momento em que nos rendemos inteiramente na presença de Deus.
E ainda há os que pedem uma “resposta” da “platéia”. O “levita” puxa a música: “Quem tá feliz diga amém!!” e a platéia grita “Améééém!” ...e o indivíduo que perdeu seu emprego, descobriu uma doença, viu ruir seu casamento, descobriu que seu melhor amigo lhe traiu, enfim por qualquer motivo que nos faça tristes (afinal ainda somos humanos!) se vê num dilema terrível: ou ele grita “amééém!” e mente diante daquele a quem se deve adorar não só em espírito, mas em verdade, ou não grita nada e sai de lá com dois problemas, o que ele já trazia de casa e a sensação de que é o único que não está “ligado” com o Senhor. Como se esquecêssemos que o próprio Mestre chegou a declarar em um momento que sua alma estava “angustiada até a morte”, e garanto que nesse momento ele (Jesus) não responderia “amééém!” aos convites irresponsáveis dos “levitas” de hoje.
O louvor deve ser visto com mais cuidado pelos líderes. Nossas igrejas caminham por mares perigosos na área musical: heresias e desvios bíblicos, sutilmente, vão se alastrando, e quando percebemos é tarde demais, pois a cultura já está enraizada. E a cada dia novas aberrações surgem, como podemos perceber.
Em algumas reuniões o momento máximo é quando se toca o shophar, instrumento feito com um chifre de carneiro, que segundo os seus “usuários” tem poderes nas regiões celestiais. Qual o problema de se tocar um instrumento judaico em nossos cultos? Nenhum. Desde que seja apenas mais um instrumento, que sirva para harmonizar ou então enriquecer a música que se canta em apresentação ao nosso Grande Deus. É aqui que surge o problema. O shophar não é apenas um instrumento, ele é O instrumento. Desenvolveu-se uma "teologia" para o uso do shophar: um instrumento espiritual que anula o poder do demônio; para alguns, é a própria voz de Deus na terra. Qualquer evento tem que ter shophar, senão não é abençoado, não está na "unção". O shophar virou a "galinha dos ovos de ouro" dos levitas. Todos querem tocá-lo, todos querem seu poder e unção.
"Grandes nomes" estão difundindo a cultura do shophar; já se escreveu por aí que o shophar faz os poderes celestiais tremerem; Mike Shea, o “apóstolo do louvor”, tem tocado o shophar em vários eventos. Em um CD, o shophar foi tocado por um "espírito" que uns dizem ser de Deus: o som “divino” do shophar "apareceu" na gravação, o que mereceu, nas notas técnicas a seguinte informação dos instrumentistas: "Shophar - ?".
Isso está acontecendo em nosso meio. O toque do shophar é um toque bonito. Nada contra. Mas que seja apenas mais um instrumento como o violão, o teclado, a bateria, a castanhola, o clavicórdio, o xilofone ou a marimba, pois o que faz a diferença não é o instrumento, mas quem o toca. Com consagração, vida cristã no altar, coração aquecido, até tocar "caixinha de fósforo" chegará ao céu como cheiro suave, oferta viva ao que é digno de receber o melhor.
Louvai ao Senhor com todos os instrumentos! Principalmente, com santidade de vida, sacrifício vivo, santo e agradável a Deus - nosso culto racional!


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