domingo, 23 de outubro de 2011

31 de outubro, aniversário da Reforma:

Já falei antes sobre os acontecimentos que tiveram lugar, inicialmente, na Europa ainda medieval, dominada pelas trevas do catolicismo sincrético e místico, poluído pelas religiões pagãs que aos poucos foram se infiltrando no cristianismo e provocaram a necessidade da reforma que ficou conhecida pelo nome de “protestante”.
Já falei também que quando esse movimento chegou ao Brasil, houve um grande crescimento numérico e um despertamento espiritual que chegou a transformar o perfil da população brasileira, como se pode ver através dos recenseamentos periódicos. A própria mídia já se rendeu a esse fato, tato que de tempos em tempos as Veja, Época e IstoÉ da vida surgem com capas com grandes reportagens sobre “os novos evangélicos” e outros títulos desse tipo. Quase sempre a reportagem vem encharcada com os velhos estereótipos que os jornalistas (agora sem diploma universitário) insistem em conservar, e rescende ao já tradicional temor da cúpula católica. Mas será que os evangélicos brasileiros estão de fato honrando os princípios fundamentais da Reforma, que agora e aproxima de seu quinto centenário?
Será que a maioria dos crentes sabe quais são as cinco “solas” que foram as bases da libertação da idolatria, da escravidão espiritual e do animismo que levava as pessoas a cultuarem objetos mágicos, relíquias, e até mesmo homens com fama de “santos” e milagreiros? Será que a igreja brasileira não se tornou aquilo que combatia no início? Será que o Brasil é mesmo “do Senhor”, como alguns evangélicos repetem todo dia? Essa frase – “o Brasil é do Senhor” – não terá se tornado um mantra, uma reza vazia, uma “confissão positiva” que está longe da verdade? Tem adiantado alguma coisa os sucessivos anos proféticos que cada igreja e cada denominação tem proclamado todo 1º de janeiro? Uma igreja diz que o ano novo é o “ano de Pedro, em que “vamos caminhar sobre as águas”. Outra diz que é o “ano de Ester, pois é “o ano de reinar sobre todas as coisas”; aquela outra afirma aos quatro ventos que “é chegado o tempo da colheita”, e mais aquela outra resume tudo, dizendo que simplesmente vai acontecer o “de repente de Deus”, seja lá o que for isso.
Enquanto isso, no mundo real, liga-se a televisão e assiste-se a todo tipo de crimes. No trânsito, beberrões saem da balada em carros importados e atropelam trabalhadores que esperam o ônibus na parada. Bebês ainda com o cordão umbilical pendurado na barriga são deixados para morrer em terrenos baldios. Mulheres e crianças são espancadas e mortas porque o sujeito “não aceita o fim do relacionamento”.
A mutreta atinge dimensões continentais quando não se sabe quem vai pagar o Itaquerão e os elefantes brancos de Brasília, Natal e Campo Grande, estádios de 60.000 lugares onde o campeonato local tem média de público de menos de 2.ooo. Ou melhor, sabe-se sim. Eu e você, amigo leitor. Esse país é “do Senhor”?
A Igreja, que deveria fazer a diferença, está perdida entre a multiplicação desenfreada de filais, como células cancerígenas descontroladas, com uma multiplicidade de “visões” antagônicas, e o namoro com o poder político, cada uma tentando eleger “seus representantes”, ou pelo menos influenciar políticos de modo que sejam favorecidas mais adiante. Praticamente todo escândalo político tem evangélico na receita: veja a lista dos envolvidos no escândalo das ambulâncias, no rolo das passagens aéreas ou no mensalão do DEM, de Brasília – para ficar só nesses. Esse Brasil é “do Senhor”?
Muitos que se auto-intitulam “apóstolos”, “bispos”, “profetas” e outros títulos de nobreza, arrotam que são ungidos e não devem ser criticados, para no outro dia serem vistos nas páginas dos jornais, metidos em roubalheiras babilônicas, tráfico de armas, pedofilia. Pastores adúlteros se escondem em refúgios secretos e de lá mandam mensagens cheias de psicologia via Youtube. “Patriarcas” cheios de si tacham os outros de endemoninhados. “Bispos” dizem o mesmo dos cantores evangélicos (bem, talvez só a porcentagem mereça ajustes). “Anciãos” (literalmente, pois são cheios de cabelos brancos) que deviam fazer a diferença, ou pelo menos se dar ao respeito da idade, assediam sexualmente as mulheres da igreja... estão queimando a imagem dos reformadores, que pregavam o retorno à pureza do Evangelho original.
A triste constatação é de que a Bíblia é que está certa, quando diz que “o mundo jaz no maligno” (I João 5:19); e para maior tristeza, o Brasil também.
Não porque Jesus não queira, ou porque o Diabo é mais forte e não quer devolver a Terra toda ao seu legítimo dono. Não – leia ate o final para entender o que eu tento dizer.
O fato é que ainda não é chegada a hora de o Senhor Jesus retomar a posse desta terra – e de todas as nações. Se estudarmos direitinho as profecias acerca deste assunto, veremos que a situação geral só irá piorar, culminando com a chegada do Homem da Apostasia, o Filho da Perdição, que se opõe a tudo que é de Deus – o Anticristo. Nesses tempos tenebrosos, cabe à Igreja pregar o evangelho a toda criatura, pois foi o que Jesus ordenou. Não ficar querendo assumir o poder na política, nas cidades e nas nações, para assim mudar o mundo. Não é para ficar “guerreando em alto nível”, “destronando potestades”, “rodeando lugares”; não. A ordem é para levar o evangelho a toda a Terra, fazer discípulos de todas as nações (isto é, de todas as partes), e não “fazer das nações, discípulas”. É para pregar às pessoas, não às nações, pois às nações está reservado o juízo. As nações são rebeldes (Salmo 2:1-3). E Deus só vai tratar com elas nesse nível depois de arrebatada a Igreja. A Igreja invisível não vai “converter a nação”. Muitas pessoas da nação serão salvas, mas a nação é rebelde; aliás, as nações não entregarão o poder a Cristo, e sim ao Anticristo (Apocalipse 17:13).
É por isso que a Igreja não vai dominar o Brasil, não vai conquistar as cidades, muito menos Brasília, como dizem congressos e encontros de cunho dominionista por aí. Não é pessimismo ou espírito derrotista. É fato que muitos estão sendo salvos das drogas, do crime, da prostituição, de uma vida sem sentido; muitas igrejas, congregações e instituições fazem grandes trabalhos evangelísticos país afora. Muitos crentes anônimos ainda saem de casa levando folhetos que distribuem pelas ruas, no ônibus e no metrô. Ainda há um remanescente fiel – sete mil que não dobraram os joelhos diante de Baal. E é a esses que Deus ouve e permanece mantendo as janelas do céu abertas, dando ainda oportunidade de salvação às últimas pedras do Seu edifício, cf. Efésios 2:21.
Por isto é que não vai ser ouvido nenhum brado de leão no Planalto central nem nos morros do Rio, antes que o Leão de Judá venha resgatar seu povo Israel da batalha do Armagedom, no fim da tribulação. 
Só aí o governo do mundo será assumido pelo Rei dos Reis, conf. Apocalipse 11:15, e então poderemos dizer sem medo de errar que “o Brasil é do Senhor Jesus”, e também a Argentina, a Líbia, o Sudão, o Vietnam,a Coréia do Norte, o México, Luxemburgo e a Estônia. Todas as nações poderão dizer a mesma coisa, e subirão a Jerusalém de ano a ano prestar culto ao Senhor dos Senhores (Isaías cap. 66 e Zacarias 14:16). Então Deus atenderá plenamente a oração que o Seu povo vem fazendo há dois mil anos: “Venha o teu reino”. O Reino de Deus abrangerá enfim toda a terra, cf. Daniel 2:35, 44, 45 e cap. 7:13, 14, 18.
Essa sim será uma reforma completa, não só na religião – como a que foi feita no século XVI – mas sim de to o planeta, suas instituições políticas, na ecologia e nos direitos humanos...
Por isso penso que ainda é tempo de retornarmos aos princípios da Reforma e os voltarmos ao Evangelho puro e simples. É tempo de pregar o Evangelho a toda criatura, enquanto ainda é dia. É tempo de abandonar o desejo de poder político, de prosperidade e independência financeira. É tempo de Reforma.
É tempo de decorar e viver os cinco “solas”:
Sola Scriptura
Sola Fide
Sola Gratia
Solo Christo
Soli Deo Gloria.

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