Todo mundo
já sabe que o “Natal” celebrado em dezembro é, na verdade, uma celebração pagã,
como você já viu aqui, aqui
e aqui, para ficar só nesses. Já sabemos que
Jesus não nasceu em dezembro (você pode conferir isto aqui), e que a
maioria dos enfeites que vemos nas portas das casas, nas praças das cidades e
até dentro das igrejas evangélicas são, no fundo, símbolos pagãos. Mas não vou
falar mais sobre isso. Vou falar agora de uma outra data pagã que todos, sem
exceção, comemoramos. Trata-se do chamado “Ano Novo”.
O primeiro dia do ano é
dedicado à confraternização. É o dia da “Fraternidade Universal”. É hora de
pagar as dívidas e devolver tudo que se pediu emprestado ao longo do ano, de
fazer um balanço da vida e de começar o ano com as contas acertadas. Nas
igrejas, geralmente o coral canta o “Aleluia” de Haendel, fazem-se batismos, e
naquelas mais sérias toma posse a diretoria eleita para o próximo período. Nas
outras, o ungido-chefe solta suas profetadas, geralmente promessas
de prosperidade para quem for fiel no dízimo e nas
ofertas, como
neste link. Algumas há que até promovem “festas de réveillon”,
eventos que em quase nada se diferenciam daqueles que
ocorrem em clubes e boates, um monte de gente vestindo branco, com direito a
queima de fogos de artifício, literalmente transformando o dinheiro dos fiéis
em fumaça. E todo mundo achando bacana.
De fato, todas as culturas que têm calendários
anuais celebram o “Ano Novo”, no Ocidente também chamado réveillon, termo oriundo do verbo francês “réveiller”, que significa “despertar”.
No Brasil é tradição popular procurar
algum lugar que tenha água, geralmente as praias, mas também servem rios e
lagos, onde a data reúne milhares de pessoas
para verem os fogos de artifício. As tradições consistem em usar branco e jogar
flores para “Yemanjá”, uma espécie de “deusa do mar” de origem africana,
popularizada pela famigerada Rede Globo em inúmeras novelas
e minisséries. No Rio de Janeiro, precisamente na
praia de Copacabana, milhões se aglomeram para ver o espetáculos e dar pulinhos
nas ondas “para dar sorte”, rituais que atraem e encantam turistas de todo o
mundo.
Na Itália, o ano
novo é a mais pagã das festas, sendo recebido com fogos de artifícios, que
deixam todas as pessoas acordadas. Dizem que os que dormem na virada do ano
dormirão todo o ano e na noite de São Silvestre, santo cuja festa coincide com
o último dia do ano. Em várias partes do país, dois pratos são considerados
essenciais, o pé de porco e as lentilhas. Os romanos em especial se reúnem na Piazza
Navona, Fontana di Trevi e Piazza del Popolo.
A mais famosa passagem
de Ano Novo nos EUA é em Nova Iorque, na Time Square, onde o povo se encontra
para beber, dançar, correr e gritar. Há pessoas de todas as idades e níveis
sociais. Durante a contagem regressiva, uma grande maçã vai descendo no meio da
praça e explode exatamente à meia-noite, espalhando balas e doces.
Em Sydney, às nove da noite começa a queima de fogos em frente à Ópera House e à Golden Bridge, o principal cartão
postal da cidade. Para assistir ao espetáculo, os australianos se juntam no
porto. Depois, vão para casa para passar a virada do ano com a
família e só retornam às ruas na madrugada, quando os principais destinos são
os “pubs” e as praias.
Na França, o principal ponto é a avenida Champs-Elysées, em Paris,
próximo ao Arco do Triunfo. Os franceses assistem à queima de fogos, cada um
com sua garrafa de champanhe (para as crianças, sucos e refrigerantes). Em
outros tempos, assistia-se à saída do “rally” Paris-Dacar, no Museu Trocadéro, uma
corrida que terminava semanas depois no Senegal, mas que por problemas de
segurança nos países africanos acabou sendo disputada na América do Sul (embora
mantendo o tradicional e charmoso nome).
Na terra da Rainha,
grande parte dos londrinos passa a meia-noite em suas casas, com a família e
amigos. Outros vão à Trafalgar Square, umas das praças mais belas da cidade, à
frente do National Gallery. Lá, assistem à queima de fogos. Depois, se espalham
pelas várias festas simultâneas na cidade.
Na Alemanha, as
pessoas reúnem-se no Portal de Brandemburgo, no centro, perto de onde ficava o
Muro de Berlim.
Mas nem todos comemoram o “Ano Novo” na mesma data.
Mas nem todos comemoram o “Ano Novo” na mesma data.
Para os chineses, o maior
festival do ano é o Novo Ano Chinês. Só que ele não é na virada de 31 de
dezembro para 1º de janeiro: ele é comemorado entre 15 de Janeiro e 15 de
Fevereiro de acordo com a primeira lua nova depois do início do Inverno. Lá é
habitual limparem as casas e fazerem muita comida (como os bolinhos “yau gwok”, símbolo de prosperidade). Há muitos fogos de artifício e as
ruas ficam cobertas de pequenos pedaços de papel vermelho.
Os muçulmanos têm seu
próprio calendário que se chama “Hégira”, que começou no ano 632 d.C. do nosso
calendário. A passagem do Ano Novo também tem data diferente – 6 de Junho, quando
Mohammad fez a sua famosa peregrinação entre Meca e Medina.
As comemorações do Ano
Novo judaico, chamado “Rosh Hashanah”. A “festa das trombetas” dura dois dias
do mês Tishrê, que ocorre em meados de setembro ao início de outubro pelo
calendário ocidental. As festividades são a oportunidade para se deliciar com
as tradicionais receitas judaicas: o “Chalah”, uma espécie de pão; é costume
sempre se comer peixe porque ele nada sempre para frente.
Entre os
povos antigos, a primeira comemoração de que se tem
notícia, chamada de “festival de ano novo”, ocorreu na Mesopotâmia entre 3.000
e 2.000 a .
C. Na Babilônia, a festa começava na ocasião da lua nova indicando o equinócio
da primavera, ou seja, um dos momentos em que o Sol se aproxima da linha do
Equador, quando os dias e noites têm a mesma duração. Segundo o The World Book Encyclopedia: “Nessa ocasião, o deus Marduque resolvia qual seria o destino do país
no ano seguinte”. A comemoração do ano-novo dos babilônios durava 11 dias e
incluía sacrifícios, procissões e ritos de fertilidade.
Os assírios, persas,
fenícios e egípcios comemoravam o ano-novo no mês de setembro (como os judeus,
na época das colheitas). Já os gregos celebravam o início de um novo ciclo
entre os dias 21 ou 22 do mês de dezembro. Nota-se que nem
sempre se comemorou o “ano novo” quando ou como o conhecemos hoje.
Você já deve ter se perguntado porque setembro é o nono mês, e não o sétimo, como sugere o
seu nome, assim como outubro (é 10º e não o 8º), novembro (11º e não o 9º) e
dezembro (12º e não o 10º). A explicação é simples: eles eram de fato o 7º
(setembro), 8º (outubro) 9º (novembro) e 10º (dezembro). Mas tudo
mudou a partir do ano 46 a.C.. Até então o ano
começava em 1º de março (mês do deus Marte), mas foi trocado em 153 a .C. para 1º de janeiro e
mantido no calendário juliano, adotado em 46 a . C. A partir daí oficializou-se a nova ordem
dos meses, e março passou a ser o terceiro. Além do mais, dois meses passaram a
homenagear o chefe do Estado, julho (“Iulius”) e agosto (“Augustus”). Veja que
esse negócio de puxar saco de político não vem de agora. O deus Jano (em latim “Ianus”, o deus dos portões, de cujo nome deriva o nome do mês de janeiro) era venerado pelos romanos e o primeiro dia desse mês era consagrado a ele, que era representado com duas faces - uma voltada para
frente e a outra para trás, simbolizando os términos e os começos, o passado e
o futuro. De fato, ele era tido como responsável por abrir as portas para o ano que se
iniciava - o que fazia muito mais sentido do que um “começo” no terceiro mês. Como o nosso calendário é originário do romano, dele herdamos os nomes dos meses. E também muitos festejos.
Ainda assim, durante a Idade Média, o “Ano Novo” era festejado em 25 de
Março, data que marcava a chegada da primavera. As festas duravam uma semana e
terminavam no dia 1º de abril. Em 1582 a igreja católica consolidou a
comemoração, quando adotou o calendário gregoriano.O “papa” Gregório XIII,
aliás, como a maioria dos “papas”, era admirador das tradições romanas, e instituiu
o 1º de janeiro como o primeiro dia do ano. Os franceses, que não toleravam o “papa”,
resistiram à mudança e quiseram manter a tradição. Só que as pessoas passaram a
pregar peças e ridicularizar os conservadores, enviando presentes estranhos e
convites para festas que não existiam mais. Assim, nasceu o Dia da Mentira, que é a
falsa comemoração do Ano Novo (até hoje em 1º de abril).
A data mudou, a
cultura mudou, mas o clima de festa continua. Como relata a Encyclopedia de
McClintock e Strong, em Roma, no dia 1º de janeiro, as pessoas “entregavam-se à
intemperança e a várias formas de superstições pagãs”.
Ritos supersticiosos continuam até hoje. Por exemplo, as pessoas saúdam o ano-novo apoiadas apenas no pé direito. Segundo um costume tcheco, come-se sopa de lentilhas, e os portugueses comem bacalhau com batatas, ao passo que a tradição eslovaca dita que se deve colocar dinheiro ou escamas de peixe debaixo da toalha de mesa. Esses rituais, cujo objetivo é espantar a má sorte e garantir a prosperidade, simplesmente perpetuam a antiga crença de que a virada do ano é uma ocasião para decidir destinos. Preferencialmente usando roupa branca.
Por que soltamos fogos de artifício? E por que buzinadas, apitos e gritos de alegria? A tradição é muito antiga e faz referência à algazarra para espantar os maus espíritos. Os fogos de artifício eram parte integrante das comemorações religiosas dos chineses, e foram observados pelos jesuítas que lá chegaram no século XVI. Os fogos de artifício eram usados para “afugentar demônios no Ano Novo e em outras ocasiões comemorativas”. “Desde os mais antigos tempos pagãos, as pessoas têm carregado tochas e feito fogueiras ao ar livre por ocasião das grandes comemorações religiosas. Nada era mais natural do que acrescentar às festividades luzes de fogos de artifício espetacularmente coloridas e que se movimentavam”, declara Howard V. Harper, em seu livro “Days and Customs of All Faiths” (“Feriados e Costumes de Todas as Crenças”).
Ritos supersticiosos continuam até hoje. Por exemplo, as pessoas saúdam o ano-novo apoiadas apenas no pé direito. Segundo um costume tcheco, come-se sopa de lentilhas, e os portugueses comem bacalhau com batatas, ao passo que a tradição eslovaca dita que se deve colocar dinheiro ou escamas de peixe debaixo da toalha de mesa. Esses rituais, cujo objetivo é espantar a má sorte e garantir a prosperidade, simplesmente perpetuam a antiga crença de que a virada do ano é uma ocasião para decidir destinos. Preferencialmente usando roupa branca.
Por que soltamos fogos de artifício? E por que buzinadas, apitos e gritos de alegria? A tradição é muito antiga e faz referência à algazarra para espantar os maus espíritos. Os fogos de artifício eram parte integrante das comemorações religiosas dos chineses, e foram observados pelos jesuítas que lá chegaram no século XVI. Os fogos de artifício eram usados para “afugentar demônios no Ano Novo e em outras ocasiões comemorativas”. “Desde os mais antigos tempos pagãos, as pessoas têm carregado tochas e feito fogueiras ao ar livre por ocasião das grandes comemorações religiosas. Nada era mais natural do que acrescentar às festividades luzes de fogos de artifício espetacularmente coloridas e que se movimentavam”, declara Howard V. Harper, em seu livro “Days and Customs of All Faiths” (“Feriados e Costumes de Todas as Crenças”).
E aí a gente pergunta,
como aquele famoso cachorrinho chiuauha: qual a necessidade disto? Por que o cristão
não adota diariamente a postura de reavaliar as suas atitudes, pensar sobre as
falhas que cometeu e sobre os acertos que precisa fazer com os outros? Por que
espera um ano inteiro para fazer o planejamento das suas atividades, por que
deixam para 31 de dezembro as promessas de “ler a Bíblia toda”, evangelizar
mais, ser mais fiel, ser uma pessoa melhor? Por que esperar uma data pagã para
ter comunhão com os irmãos, se o mandamento de Jesus era para fazer isso todas
as vezes em que se celebrar a Sua morte e ressurreição? (I Coríntios 11:23-30).
Será por que simplesmente são apenas promessas vazias, destinadas ao esquecimento
em poucas semanas?
Eu confesso que não sei.
Por causa disto há entre vós muitos fracos e enfermos, e
muitos que dormem.
Fontes:
582.940