segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Vem aí mais uma festa pagã

Todo mundo já sabe que o “Natal” celebrado em dezembro é, na verdade, uma celebração pagã, como você já viu aqui, aqui e aqui, para ficar só nesses. Já sabemos que Jesus não nasceu em dezembro (você pode conferir isto aqui), e que a maioria dos enfeites que vemos nas portas das casas, nas praças das cidades e até dentro das igrejas evangélicas são, no fundo, símbolos pagãos. Mas não vou falar mais sobre isso. Vou falar agora de uma outra data pagã que todos, sem exceção, comemoramos. Trata-se do chamado “Ano Novo”.
O primeiro dia do ano é dedicado à confraternização. É o dia da “Fraternidade Universal”. É hora de pagar as dívidas e devolver tudo que se pediu emprestado ao longo do ano, de fazer um balanço da vida e de começar o ano com as contas acertadas. Nas igrejas, geralmente o coral canta o “Aleluia” de Haendel, fazem-se batismos, e naquelas mais sérias toma posse a diretoria eleita para o próximo período. Nas outras, o ungido-chefe solta suas profetadas, geralmente promessas de prosperidade para quem for fiel no dízimo e nas ofertas, como neste link. Algumas há que até promovem “festas de réveillon”, 
eventos que em quase nada se diferenciam daqueles que ocorrem em clubes e boates, um monte de gente vestindo branco, com direito a queima de fogos de artifício, literalmente transformando o dinheiro dos fiéis em fumaça. E todo mundo achando bacana.
De fato, todas as culturas que têm calendários anuais celebram o “Ano Novo”, no Ocidente também chamado réveillon, termo oriundo do verbo francês “réveiller”, que significa “despertar”.
No Brasil é tradição popular procurar algum lugar que tenha água, geralmente as praias, mas também servem rios e lagos, onde a data reúne milhares de pessoas para verem os fogos de artifício. As tradições consistem em usar branco e jogar flores para “Yemanjá”, uma espécie de “deusa do mar” de origem africana, popularizada pela famigerada Rede Globo em inúmeras novelas e minisséries. No Rio de Janeiro, precisamente na praia de Copacabana, milhões se aglomeram para ver o espetáculos e dar pulinhos nas ondas “para dar sorte”, rituais que atraem e encantam turistas de todo o mundo.
Na Itália, o ano novo é a mais pagã das festas, sendo recebido com fogos de artifícios, que deixam todas as pessoas acordadas. Dizem que os que dormem na virada do ano dormirão todo o ano e na noite de São Silvestre, santo cuja festa coincide com o último dia do ano. Em várias partes do país, dois pratos são considerados essenciais, o pé de porco e as lentilhas. Os romanos em especial se reúnem na Piazza Navona, Fontana di Trevi e Piazza del Popolo.
A mais famosa passagem de Ano Novo nos EUA é em Nova Iorque, na Time Square, onde o povo se encontra para beber, dançar, correr e gritar. Há pessoas de todas as idades e níveis sociais. Durante a contagem regressiva, uma grande maçã vai descendo no meio da praça e explode exatamente à meia-noite, espalhando balas e doces.
Em Sydney, às nove da noite começa a queima de fogos em frente à Ópera House e à Golden Bridge, o principal cartão postal da cidade. Para assistir ao espetáculo, os australianos se juntam no porto. Depois, vão para casa para passar a virada do ano com a família e só retornam às ruas na madrugada, quando os principais destinos são os “pubs” e as praias.
Na França, o principal ponto é a avenida Champs-Elysées, em Paris, próximo ao Arco do Triunfo. Os franceses assistem à queima de fogos, cada um com sua garrafa de champanhe (para as crianças, sucos e refrigerantes). Em outros tempos, assistia-se à saída do “rally” Paris-Dacar, no Museu Trocadéro, uma corrida que terminava semanas depois no Senegal, mas que por problemas de segurança nos países africanos acabou sendo disputada na América do Sul (embora mantendo o tradicional e charmoso nome).
Na terra da Rainha, grande parte dos londrinos passa a meia-noite em suas casas, com a família e amigos. Outros vão à Trafalgar Square, umas das praças mais belas da cidade, à frente do National Gallery. Lá, assistem à queima de fogos. Depois, se espalham pelas várias festas simultâneas na cidade.
Na Alemanha, as pessoas reúnem-se no Portal de Brandemburgo, no centro, perto de onde ficava o Muro de Berlim.  
Mas nem todos comemoram o “Ano Novo” na mesma data.
Para os chineses, o maior festival do ano é o Novo Ano Chinês. Só que ele não é na virada de 31 de dezembro para 1º de janeiro: ele é comemorado entre 15 de Janeiro e 15 de Fevereiro de acordo com a primeira lua nova depois do início do Inverno. Lá é habitual limparem as casas e fazerem muita comida (como os bolinhos “yau gwok, símbolo de prosperidade). Há muitos fogos de artifício e as ruas ficam cobertas de pequenos pedaços de papel vermelho.
Os muçulmanos têm seu próprio calendário que se chama “Hégira”, que começou no ano 632 d.C. do nosso calendário. A passagem do Ano Novo também tem data diferente – 6 de Junho, quando Mohammad fez a sua famosa peregrinação entre Meca e Medina.
As comemorações do Ano Novo judaico, chamado “Rosh Hashanah”. A “festa das trombetas” dura dois dias do mês Tishrê, que ocorre em meados de setembro ao início de outubro pelo calendário ocidental. As festividades são a oportunidade para se deliciar com as tradicionais receitas judaicas: o “Chalah”, uma espécie de pão; é costume sempre se comer peixe porque ele nada sempre para frente.
Entre os povos antigos, a primeira comemoração de que se tem notícia, chamada de “festival de ano novo”, ocorreu na Mesopotâmia entre 3.000 e 2.000 a. C. Na Babilônia, a festa começava na ocasião da lua nova indicando o equinócio da primavera, ou seja, um dos momentos em que o Sol se aproxima da linha do Equador, quando os dias e noites têm a mesma duração. Segundo o The World Book Encyclopedia: “Nessa ocasião, o deus Marduque resolvia qual seria o destino do país no ano seguinte”. A comemoração do ano-novo dos babilônios durava 11 dias e incluía sacrifícios, procissões e ritos de fertilidade.
Os assírios, persas, fenícios e egípcios comemoravam o ano-novo no mês de setembro (como os judeus, na época das colheitas). Já os gregos celebravam o início de um novo ciclo entre os dias 21 ou 22 do mês de dezembro. Nota-se que nem sempre se comemorou o “ano novo” quando ou como o conhecemos hoje.
Você já deve ter se perguntado porque setembro é o nono mês, e não o sétimo, como sugere o seu nome, assim como outubro (é 10º e não o 8º), novembro (11º e não o 9º) e dezembro (12º e não o 10º). A explicação é simples: eles eram de fato o 7º (setembro), 8º (outubro) 9º (novembro) e 10º (dezembro). Mas tudo mudou a partir do ano 46 a.C.. Até então o ano começava em 1º de março (mês do deus Marte), mas foi trocado em 153 a.C. para 1º de janeiro e mantido no calendário juliano, adotado em 46 a. C. A partir daí oficializou-se a nova ordem dos meses, e março passou a ser o terceiro. Além do mais, dois meses passaram a homenagear o chefe do Estado, julho (“Iulius”) e agosto (“Augustus”). Veja que esse negócio de puxar saco de político não vem de agora. O deus Jano (em latim “Ianus”, o deus dos portões, de cujo nome deriva o nome do mês de janeiro) era venerado pelos romanos e o primeiro dia desse mês era consagrado a ele, que era representado com duas faces - uma voltada para frente e a outra para trás, simbolizando os términos e os começos, o passado e o futuro. De fato, ele era tido como responsável por abrir as portas para o ano que se iniciava - o que fazia muito mais sentido do que um “começo” no terceiro mês. Como o nosso calendário é originário do romano, dele herdamos os nomes dos meses. E também muitos festejos. 
Ainda assim, durante a Idade Média, o “Ano Novo” era festejado em 25 de Março, data que marcava a chegada da primavera. As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1º de abril. Em 1582 a igreja católica consolidou a comemoração, quando adotou o calendário gregoriano.O “papa” Gregório XIII, aliás, como a maioria dos “papas”, era admirador das tradições romanas, e instituiu o 1º de janeiro como o primeiro dia do ano. Os franceses, que não toleravam o “papa”, resistiram à mudança e quiseram manter a tradição. Só que as pessoas passaram a pregar peças e ridicularizar os conservadores, enviando presentes estranhos e convites para festas que não existiam mais. Assim, nasceu o Dia da Mentira, que é a falsa comemoração do Ano Novo (até hoje em 1º de abril).
A data mudou, a cultura mudou, mas o clima de festa continua. Como relata a Encyclopedia de McClintock e Strong, em Roma, no dia 1º de janeiro, as pessoas “entregavam-se à intemperança e a várias formas de superstições pagãs”.
Ritos supersticiosos continuam até hoje. Por exemplo, as pessoas saúdam o ano-novo apoiadas apenas no pé direito. Segundo um costume tcheco, come-se sopa de lentilhas, e os portugueses comem bacalhau com batatas, ao passo que a tradição eslovaca dita que se deve colocar dinheiro ou escamas de peixe debaixo da toalha de mesa. Esses rituais, cujo objetivo é espantar a má sorte e garantir a prosperidade, simplesmente perpetuam a antiga crença de que a virada do ano é uma ocasião para decidir destinos. Preferencialmente usando roupa branca.
Por que soltamos fogos de artifício? E por que buzinadas, apitos e gritos de
 alegria? A tradição é muito antiga e faz referência à algazarra para espantar os maus espíritos. Os fogos de artifício eram parte integrante das comemorações religiosas dos chineses, e foram observados pelos jesuítas que lá chegaram no século XVI. Os fogos de artifício eram usados para “afugentar demônios no Ano Novo e em outras ocasiões comemorativas”. “Desde os mais antigos tempos pagãos, as pessoas têm carregado tochas e feito fogueiras ao ar livre por ocasião das grandes comemorações religiosas. Nada era mais natural do que acrescentar às festividades luzes de fogos de artifício espetacularmente coloridas e que se movimentavam”, declara Howard V. Harper, em seu livro “Days and Customs of All Faiths” (“Feriados e Costumes de Todas as Crenças”).
E aí a gente pergunta, como aquele famoso cachorrinho chiuauha: qual a necessidade disto? Por que o cristão não adota diariamente a postura de reavaliar as suas atitudes, pensar sobre as falhas que cometeu e sobre os acertos que precisa fazer com os outros? Por que espera um ano inteiro para fazer o planejamento das suas atividades, por que deixam para 31 de dezembro as promessas de “ler a Bíblia toda”, evangelizar mais, ser mais fiel, ser uma pessoa melhor? Por que esperar uma data pagã para ter comunhão com os irmãos, se o mandamento de Jesus era para fazer isso todas as vezes em que se celebrar a Sua morte e ressurreição? (I Coríntios 11:23-30). Será por que simplesmente são apenas promessas vazias, destinadas ao esquecimento em poucas semanas?
Eu confesso que não sei.
Por causa disto há entre vós muitos fracos e enfermos, e muitos que dormem.

Fontes:


582.940