sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sobre apóstolos e profetas:

Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos.
Mas a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo. Por isso foi dito: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. (...)
E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro; antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual o corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor.
Portanto digo isto, e testifico no Senhor, para que não mais andeis como andam os gentios, na verdade da sua mente, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração; os quais, tendo-se tornado insensíveis, entregaram-se à lascívia para cometerem com avidez toda sorte de impureza.
Mas vós não aprendestes assim a Cristo, se é que o ouvistes, e nele fostes instruídos, conforme é a verdade em Jesus, a despojar-vos, quanto ao procedimento anterior, do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; a vos renovar no espírito da vossa mente; e a vos revestir do novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade.
Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos membros uns dos outros.
(...)
Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tem necessidade. Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas ó a que seja boa para a necessária edificação, a fim de que ministre graça aos que a ouvem. E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia sejam tiradas dentre vós, bem como toda a malícia. Antes sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.

Isto é o capítulo 4 de Efésios quase todo.
Fiz questão de copiá-lo assim, quase todo, somente para falar um pouco de um pequeno trecho que anda muito na moda hoje em dia: o versículo 11. “E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres”. Muito usado por aqueles que pretendem justificar a existência de “apóstolos” como Valdemiro Santiago, Estevam Hernandes, Doriel de Oliveira, Neuza Itioka, Valnice Milhomens e inúmeros, inúmeros mesmo, outros assemelhados, uns famosos, outros tentando ser famosos.
A pergunta é – há apóstolos hoje?
Sim... e não.
Sim porque todos somos apóstolos, num certo sentido, pois a palavra “apóstolo” significa “enviado”. Jesus nos enviou, a todos e a cada um de nós, cristãos, para pregar o evangelho a toda criatura, até os confins da terra. Por isso somos todos apóstolos. Também devemos ser mestres, evangelistas, e profetas, exercendo os diversos ministérios que fazem o Corpo crescer (v. 12).
David Brainerd, Adoniram Judson, Salomão Ginsburg, o casal Bagby, Richard Wurmbrand, e mais recentemente, o Irmão André, são exemplos de apóstolos modernos. Charles Spurgeon e David Wilkerson, para mim estão mais para profetas, se bem que David Wilkerson, no inicio de seu ministério entre as gangues de Nova York, tenha sido um apóstolo, sem a menor sombra de dúvida. Charles Wesley, João Calvino, Dwight L. Moody: verdadeiros mestres. George Whitfield, Charles Finney, Boothe, Billy Graham: evangelistas. E por aí vai. E nenhum deles jamais reivindicou nenhum título!
By the other hand, Paulo foi o último Apóstolo – no sentido de que os Apóstolos primitivos foram o fundamento da Igreja. I Coríntios 15:5-9 diz que (Jesus) “…apareceu a Cefas, e depois aos doze; depois apareceu a mais de quinhentos irmãos duma vez, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos;  e por derradeiro de todos apareceu também a mim, como a um abortivo. Pois eu sou o menor dos apóstolos, que nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus”.
Vejamos que na mesma carta aos Efésios, no cap. 2: 20, Paulo diz que somos “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra da esquina”. Preste atenção sempre ao contexto da carta, para entender o tópico sobre apóstolos e profetas do cap. 4 (aliás, o mesmo deve ser feito quanto à famosa armadura do cap. 6: é preciso ter em mente o contexto para entender o que é batalha espiritual – veja mais aqui).
Nesse sentido, como é sabido e notório que o fundamento da Igreja está posto, firmado sobre a Pedra de Esquina (Jesus), e como ninguém pode lançar outro fundamento, então não existem mais Apóstolos no sentido original dos “primeiros discípulos”. Eles foram o fundamento, ou melhor, lançaram o fundamento (firmaram, colocaram o fundamento, como pedreiros que construíram a base do edifício), como diz Paulo, e nós somos o edifício (cf. I Coríntios 3:9 e I Pedro 2:5). Entretanto, nesse edifício, há algumas pedras que querem ser fundamento... se nem Paulo se considerava digno de ser chamado Apóstolo, por que essas antas modernas, que nem conhecem a História da Igreja, se consideram mais dignos do que Paulo?
Os Apóstolos de então contribuíram para a formação do cânone das Escrituras, com ensinos que são o fundamento da nossa fé (cf. I Coríntios 3:10-12; Efésios 2:20; I Tessalonicenses 2:6).
Os de hoje destroem com suas asneiras a base da fé, ao dizer que Jesus foi criado! Essa doutrina surgiu com um monge chamado Ário, bispo de Alexandria, lá pelo século IV. A cidade sempre foi um centro de cultura helenística, e alguns de seus bispos contribuíram para a inclusão de idéias dos filósofos gregos no cristianismo. Nesse ambiente, Ário começou a ensinar que, separado do Deus Pai, Criador do mundo, havia o “Logos”, Filho - unigênito, mas que fora criado pelo Pai, antes da fundação dos séculos. Depois Deus, trabalhando com o Filho, criou o Espírito Santo, que era subordinado ao Filho. Assim, para Ário havia uma espécie de hierarquia, meio como o panteão dos gregos (Zeus, Hades, Poseidon etc.) - o Espírito Santo seria uma criatura subordinada ao Logos (Filho), que por sua vez era uma criatura do Pai. Todos divinos, mas diferentes na hierarquia e até mesmo na substância ou constituição. Isto foi refutado como heresia e a idéia abandonada.
E aí um gênio semi-analfabeto aparece com a mesma idéia. Desconhecer a História da Igreja, como muitos “apóstolos” iletrados ali da esquina, é cometer os mesmo erros que, séculos atrás, causaram divisão, fomentaram heresias, e desviaram a muitos da sã doutrina. Paulo já avisara que nos últimos tempos viriam falsos apóstolos e falsos mestres, ensinando doutrinas de demônios.
Ora, afirmar que Jesus é uma criatura, é ou não é doutrina de demônio? As Testemunhas de Jeová pregam a mesma coisa, e também os muçulmanos, os mórmons, e se a gente procurar mais fundo, os espíritas também! Todos negam a Divindade Plena de Jesus: Ele foi apenas um profeta, um exemplo, um homem perfeito, mas não é igual a Deus! Sim, porque, se foi criado, mesmo sendo a primeira obra de Deus, não é igual a Deus. Percebe a heresia camuflada de piedade?
Não julgamos o homem, a pessoa, mas as suas obras sim. E essas obras, doa a quem doer, são más. E mais, a partir do momento em que o sujeito se coloca acima dos outros, peca. O ministério, o dom, passa a ser usado como título ou cargo, e aí começa o desvio.
Veja cada um desses “apóstolos” modernos, que na maioria das vezes são “auto-ungidos”, “auto-proclamados”, “auto-consagrados”. Tudo começou com a onda de “bispos”, depois “apóstolos”, e agora até “patriarca” já tem.
Se você se lembrar bem, há uns 15, 20 anos, não existia essa apostolada toda, essa bispaiada toda; o líder evangélico era simplesmente “o pastor”. Um ou outro era “reverendo”. Aí, para sair da mesmice e se destacar na multidão, começaram alguns a se auto-intitular “bispos”, mesmo sem ter as características que a Bíblia exige para tal (veja mais sobre bispos aqui). E apareceu de repente um bando enorme de bispos – e “bispas”, para corromper de vez a Igreja e a nossa Língua Portuguesa.
E quando o mercado ficou inflacionado de bispos, eis que surgiram os apóstolos, uma casta superior de iluminados, que comanda a galera. Tem até um conselho mundial de apóstolos, que é a nata da nata, e define os rumos do “movimento apostólico” do planeta, enviando suas “pautas” ao maior número possível de filiais e repetidoras, mundo afora.
Mas não pára aí: alguns, não contentes com esse “apostolado”, se auto-proclamam agora “patriarcas”. Chega, para não desviar do assunto “apóstolo”, mas lembro que tem denominação “evangélica” que criou até “bispo-primaz” (também aqui e aqui) – talvez esteja em gestação um híbrido da igreja evangélica com a ortodoxa grega ou russa, sei lá.
Eu só peço que se comparem os Apóstolos Antigos com os “apóstolos” modernos, como os Antigos agiam e como agem os de agora, o que diziam os Antigos e o que dizem os de agora, como viviam os Antigos e como vivem os de agora; e aí veremos quem é quem.
É por isso que, fora do sentido de “enviados”, “embaixadores de Cristo” (que todos nós somos), não existem apóstolos hoje em dia. Porque os que usam tal “título”, o fazem neste sentido mesmo – de “título” para se diferenciar dos demais.
Em todo caso, convido você a comparar esses “apóstolos” modernos com o que determina Paulo aos Efésios, verso por verso. Sem dó.

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