domingo, 23 de maio de 2010

Batalha Espiritual: ataque ou defesa?

A Bíblia diz que estamos num combate, no meio de uma escaramuça. No Novo Testamento a Igreja quase sempre é descrita com uma linguagem oriunda do campo militar. Há uma idéia popular de que a Igreja é um hospital onde as pessoas serão curadas: o Novo Testamento nos dá base para afirmar que há espaço para a cura interior.
Mas essa visão não leva em consideração que a Igreja seja como um exército que marcha, em plena campanha, em batalha. Não é por acaso que os teólogos entendem a Igreja como sendo Igreja militante e Igreja triunfante. Militante porque está em luta contra as hostes do mal, o pecado e o mundo.
Entendendo o contexto de Efésios 6 - Seguindo regras simples de interpretação, quando vamos pregar sobre um texto ou estudar uma passagem, é sempre bom levar em conta o quadro maior. No caso desse texto em particular isso é extremamente importante. Essa passagem tem sido mal usada por pessoas que defendem as mais loucas idéias na área de conflito ou batalha espiritual. Contudo, quando nos colocamos dentro do contexto e da perspectiva da carta, temos uma visão privilegiada do ponto de vista do autor.
Quando Paulo escreveu aos Efésios estava preso em Roma, e desejava confortar os que sabiam da sua prisão. Ele explica à Igreja de Éfeso, e talvez a outras Igrejas da região, que Deus havia permitido que ele, mesmo sendo designado para pregar aos gentios, tivesse sido lançado na prisão, ficando impedido, assim, de realizar o seu ministério. É isso que ele diz no capítulo 3, no verso 13: “Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória.” O propósito de Paulo era mostrar que aquilo que era motivo de dúvida ou perturbação, na realidade representava a glória deles. E ele faz isso expondo a doutrina da Igreja, mostrando o propósito de Deus para a Igreja.
Como vimos antes, a carta começa falando sobre a soberania de Cristo (cap. 1), a salvação que Ele nos provê pela graça e o acesso que agora temos ao Pai (cap. 2). Depois, no cap. 3, aprendemos sobre o mistério de Cristo, que é a Igreja, cujo funcionamento é explicado no cap. 4, com base no comportamento individual detalhado no fim do cap. 4 no cap. 5 e início do cap. 6. e, por fim, conclui exortando a Igreja a se preparar contra as astutas ciladas do inimigo. Os efésios ouviram tantas coisas maravilhosas a respeito do que eles eram em Cristo Jesus, do que Deus providenciou, que certamente devem ter ficado tão cheios de alegria e de gozo que Paulo sentiu a necessidade de dizer: “ainda não chegamos lá, vocês vão encontrar oposição no mundo para viver como Igreja de Deus, para experimentar em termos práticos tudo o que Deus tem para vocês”. Ele disse então: “vocês vão encontrar oposição, não de homens de carne e sangue como nós, mas dos principados e potestades que estão nos lugares celestiais que querem nos destruir. Portanto, vocês têm que tomar toda a armadura de Deus para poder resistir às tentativas dessas forças que vão tentar impedi-los na carreira cristã”. Então, quando olhamos para o capítulo 6 de Efésios, particularmente os versos 10 a 20, com a perspectiva da carta como um todo, à luz da eclesiologia de Paulo, algumas lições se tornam evidentes quanto à batalha espiritual.
Em primeiro lugar, devemos ver que o propósito de Paulo é ensinar a Igreja a resistir. Esse é o seu ponto principal. A ordem é: “ficai firmes”. O imperativo aparece três vezes, no versos 1, 13 e 14: “ficai firmes” é a exortação de Paulo.
Combate ou resistência? Alguns entendem essa passagem como uma convocação ao combate. Contudo, ela é uma exortação a que a Igreja resista. Outra coisa que a gente observa é que o soldado cristão, aqui descrito, está numa posição de defesa, a partir inclusive da descrição das armas que lhe são dadas – ele não está partindo para o combate, para conquistar novos campos, para assaltar o inimigo ou derrubar uma fortaleza. Na realidade, ele já conquistou, já colocou o pé em território inimigo. O que ele tem que fazer é resistir firme, esse é o peso da passagem. A Igreja já é vitoriosa, está assentada com Cristo nos lugares celestiais, como Igreja invencível e imbatível. Cristo já venceu todas as batalhas por ela.
O triunfo romano -Colossenses 2: 14-15: “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Essa é uma linguagem militar, das batalhas do mundo antigo. Quando um adversário era vencido era despojado: o vencedor lhe tirava os bens, as mulheres, os filhos, o gado e ainda levava todas as armas, para que não houvesse outra rebelião.
Essa figura é bastante conhecida - “o triunfo romano”; um general, voltando vitorioso, entrava em triunfo com os prisioneiros amarrados atrás dele. E aí as mulheres, as crianças e os velhos jogavam terra, tomate, até excrementos nos derrotados. Eles eram expostos ao desprezo. Paulo deliberadamente está dizendo que, na cruz, Cristo desarmou os principados e potestades; é a mesma expressão que aparece em Efésios. O inimigo foi deixado nu e exposto ao desprezo.
Nesta cena da série “ROMA” da HBO, vemos o triunfo de César e a humilhação/execução do chefe gaulês derrotado, Vercingetorix. A cena é pesada, mas mostra exatamente o que Paulo quis dizer quando se referiu a Satanás e seus príncipes em Colossenses 2:15, “tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz”. 


A Escritura mostra isso de forma indiscutível! Em João 12: 31-33 Jesus diz aos discípulos: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. Isto dizia, significando de que gênero de morte estava para morrer”. Nessa passagem, Jesus diz que na Sua morte o príncipe desse mundo seria expulso. Ele está dizendo a mesma coisa que Colossenses e Gênesis 3:15. As expressões “esmagar a cabeça”, “desarmar”, e “expulsar o príncipe desse mundo” referem-se, todas elas, a Satanás.
Os relatos de expulsão de demônios estão apenas nos Evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas. Por que João não narra nenhuma expulsão de demônios? A resposta é a seguinte: João estava preocupado com a maior de todas as expulsões, a expulsão central. Na Sua morte, Jesus expulsou definitivamente a Satanás, o príncipe desse mundo. João, assim, não narra outras expulsões de demônios.
Voltando a Efésios 6, considerando as peças da armadura, veremos que cada uma delas nada mais é do que tudo aquilo que pertence, naturalmente, ao crente, a qualquer um: “verdade de Deus”, “justiça de Cristo”, “fé”, “evangelho” e “palavra de oração”. Não há na passagem nenhuma arma secreta. Todos os crentes em Cristo Jesus possuem essas armas. Para muitos, a armadura é o próprio Cristo. Revestir-se da armadura de Deus é a mesma coisa que revestir de Cristo, em quem estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Não há nada no texto que dê margem às técnicas especiais de caça ao Diabo ensinadas pela “Batalha Espiritual”.
Paulo começa a tratar dessa batalha (Efésios 6:10) dizendo: “Sede fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder”. Essa expressão aparece no capítulo primeiro, quando Paulo ora, no verso 18, para que fossem iluminados os olhos do entendimento daquela Igreja e o coração, para que soubessem qual era a esperança da vocação deles, a riqueza da glória da herança dos santos e a suprema grandeza do seu poder para com os que crêem, segundo a eficácia da força do Seu poder.  
Assim, Paulo exorta a Igreja a que se apodere da vitória de Cristo, daquele poder que ressuscitou Cristo dentre os mortos e O colocou à direita de Deus nos lugares celestiais. Portanto, o guerreiro que está descrito aqui já é vencedor, já conquistou, já colocou o pé no solo inimigo. O que Paulo manda é que esse guerreiro resista às tentativas do inimigo de recuperar aquilo que ele já perdeu e que foi tomado pelo nosso Capitão, o Senhor Jesus.
Uma das ênfases da “Batalha Espiritual” é que a Igreja deve entrar em conflito direto com os principados e potestades; nós temos que sair caçando o Diabo para lhe tomar o território, derrubá-lo, conquistá-lo e implantar a doutrina de Cristo nesses locais. Como se o Diabo já não fosse um inimigo derrotado... Mas o que Paulo está dizendo não é isso. Ele diz que nós já somos vencedores. Sua recomendação é para que a Igreja resista aos ataques.
Precisamos estar conscientes de que estamos numa guerra espiritual. As pessoas que estão lá fora, no mundo, estão debaixo do poder dos demônios e a Igreja tem que ter consciência disso. Porém, mais do que em qualquer outro momento da sua história, a Igreja deve fincar os pés na Escritura e fazer dela o seu manual prático. O que não puder ser provado pela Escritura, ou deduzido de uma forma legítima da Escritura, deve ser rejeitado e colocado fora. A chamada da Igreja, a essa altura, é para a suficiência da Escritura, e todas as nossas práticas devem passar por esse crivo. A nossa oração é que tomemos uma posição de firmeza sem negar a realidade dessas coisas, combatendo-as biblicamente, tomando toda a armadura de Deus que nos é concedida em Cristo. Que Ele nos abençoe!
Com informações baseadas em estudo do Pr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes -http://solascriptura-tt.org/Seitas/Pentecostalismo/BatalhaEspiritual-OMovimento-Nicodemus.htm

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