quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dean Sherman também prega o dominionismo

Dean Sherman, um dos fundadores e principais apoiadores da JOCUM (Jovens Com Uma Missão), é um dos defensores do dominionismo. No seu livro “Guerra Espiritual para Todos os Cristãos” (1995), ele dá atenção especial a este assunto no capítulo 8, “Utilizando a vossa autoridade dada por Deus”, dizendo que a autoridade divina deve ser usada para incapacitar o reino de Satanás e governar o mundo por Cristo: “Deus... deu o livre arbítrio ao homem bem assim como domínio ou autoridade… e que Ele nunca lha retirou” (pg.118). E depois indica que, devido à desobediência, essa autoridade caiu nas mãos de Satanás: “Deus transferiu parte da Sua autoridade para o homem, e o homem passou-a a Satanás” (pg.119). Ele prossegue: “Jesus também nos deu autoridade para operar: ‘Eu dou-vos autoridade para pisar serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada de modo algum vos molestará’ (Lucas 10:19)… Todo demônio, todo culto e religião, toda obra e toda influência – estão sujeitos à autoridade que nos foi dada por Jesus… A autoridade mudou de mãos legalmente mais uma vez, e pertence de novo ao homem… Se não repreendermos o diabo, ele não será repreendido. Se não o empurrarmos, ele não nos deixará. Depende de nós… devemos prosseguir e exercer a nossa autoridade em nome de Jesus” (pg. 130-132).
O autor se baseia em 1 João 4:4 – “Maior é Aquele que está em vós, que aquele que está no mundo”. Ele admoesta os cristãos por não utilizarem este grande poder e autoridade: “Muitos cristãos nunca viveram vitória ou paz desde que foram salvos… Como é que vamos combater os principados que assolam as nações se não pudermos ser vitoriosos?” (pg.128). Ele diz que a nossa responsabilidade não termina com vitórias pessoais sobre o pecado e as tentações, visto que fomos dotados de poder para atacar e remover os principados que agem sobre as nações. Isto é guerra espiritual estratégica, destinada a derrubar as fortalezas de Satanás no mundo – um guerreiro de Cristo pode conseguir sozinho o que quer que seja:
“Acreditamos realmente que Jesus e qualquer cristão são mais fortes que qualquer força do universo? Haverá algum lugar onde eu possa ir, onde as forças à minha volta sejam mais poderosas que Jesus em mim?… Esta sociedade secular, humanista e satânica, é menos do que o que está dentro de todo o cristão” (pg.129). Ele diz que se nós não tomarmos parte na batalha, somos responsáveis pela perpetuação do reino de Satanás na Terra: “Temos de enfrentar o inimigo. Ele é um adversário derrotado, mas continuará a manter o seu terreno com êxito, até exercermos contra ele a autoridade que Deus nos deu” (pg. 134).
Sherman também se refere a Romanos 8:35-39 para mostrar que não existe qualquer poder no mundo que nos possa separar do amor de Deus. Ele está convencido de que nós podemos fazer confiadamente a guerra para a conquista do mundo para Deus, e assumir o nosso papel de soberanos com Cristo.
Uma leitura superficial pode levar à conclusão errada de que Sherman compreende e corretamente aplica as promessas bíblicas, usando sua divina autoridade contra Satanás. Sua visão de libertar a humanidade da influência maligna pode soar muito corajosa. Se tal ideal se concretizasse, daria lugar a uma dramática manifestação do reino de Deus na Terra.
No entanto, não existe - infelizmente - evidência palpável de vitórias de vulto contra Satanás. Será que podemos culpar os cristãos fracos? Um exame cuidadoso dos ensinamentos do autor revela-nos uma perigosa falta compreensão dispensacional da Bíblia. Ele interpreta erradamente aspectos-chave da luta entre a retidão e o mal na dispensação da igreja e ensina que os poderes malignos perderam legalmente a sua base de poder depois da primeira vinda de Cristo, e podem ser removidos rápida e individualmente, por cristãos suficientemente corajosos.
Que evidência nas Escrituras nos apresenta ele para a eliminação rápida do mal? Romanos 8:35-39 descreve-nos um cenário totalmente diferente daquele que Sherman tem em mente. Nessa seção é-nos mostrado que os cristãos estão envolvidos numa prolongada batalha, em que podem encontrar pela frente tribulações, angústia e perseguições; podem até morrer como mártires por Cristo. Mas nenhuma destas coisas pode alterar ou abalar a sua fé. Perseverar espiritualmente não quer dizer que tenham poder para derrubar fortalezas malignas na sociedade e vencer o inimigo. Significa simplesmente que, embora possam enfrentar oposição e perseguição ou ser mortos na batalha, ninguém os pode arrancar da mão de Deus. Esta promessa nem mesmo nos dá a mais leve sugestão de cristãos receberem poder para conquistar e governar o mundo. Eles são passageiros e peregrinos no iníquo mundo presente (1 Pedro 2:11; Gálatas 1:4).
A promessa feita aos 72 discípulos em Lucas 10:19, que teriam autoridade para pisar serpentes e escorpiões e sobre o inimigo, foi feita apenas para esta particular situação. Ela serviu ao mesmo fim dos sinais especiais que se seguiram à pregação dos primeiros apóstolos, como consta em Marcos 16:17-18. Os professores John F. Walvoord e Roy B. Zuck dizem no seu Comentário do Conhecimento Bíblico, pg. 196: “Estes versos mencionam cinco tipos de sinais que acompanhariam os crentes. Sinais são acontecimentos sobrenaturais demonstrativos da origem divina da mensagem apostólica (Marcos 16:20). Tais sinais autenticavam a fé proclamada pelos primeiros crentes, não a fé pessoal que qualquer deles exercia (2 Coríntios 12:12; Hebreus 2:3-4)”.
Se os cristãos fossem de fato instruidos no sentido de expulsar Satanás, e de o privar das suas bases de poder, a Bíblia por certo não teria sido tão clara ao afirmar o fato que durante esta era nós teriamos sempre de enfrentar o mal, e que a malignidade aumentaria no tempo do fim, conduzindo à grande tribulação sob a égide do dragão (Satanás), do Anticristo e do falso profeta. Satanás apenas será derrubado como governante na segunda vinda de Cristo, altura em que será encarcerado no poço sem fundo por mil anos (Apocalipse 20:1-3). Apesar destes fatos bíblicos, há muitos professores cristãos, como Dean Sherman, George Otis, Cindy Jacobs, Ted Haggard, Peter Wagner e outros, que apresentam visões diferentes. Eles têm muitos adeptos em todo o mundo.
A África do Sul também tem a sua quota nas experiências do reino-agora. Um cristão duma cidade no Cabo Ocidental, notou os seguintes incidentes: “Certo irmão veio com muita sinceridade à nossa cidade, para amarrar o diabo em nome do Senhor Jesus e por fim à sua atividade maligna. Pouco tempo depois tal irmão foi embora, mas também deixou para trás o diabo – tão livre como dantes! Outros seguiram seu exemplo, tentando mais uma vez amarrar Satanás e derrubar suas fortalezas, mas sem qualquer resultado.”
O mesmo se pode dizer
de inúmeros esforços semelhantes, por pessoas que tentaram expulsar o diabo e os seus espíritos territoriais de países como a América, a Turquia e Israel, ou de cidades como Jerusalém, Tel Aviv, Nova York, Washington, Londres e Cidade do Cabo. Caminhadas em oração sem se dar o testemunho aos perdidos são comuns, e os missionários que não participam dessas “estratégias” correm o risco de perder a sua credibilidade e apoio financeiro entre os crentes do reino-agora, que têm uma extraodinária tendência para os acontecimentos sensacionais e dramáticos.
A Bíblia promete vitória pessoal a cada crente na luta contra o diabo, mas o panorama mundial continuará a se deteriorar cada vez mais perto do fim, à medida que o pecado alastra num mundo rebelde que rejeita Cristo. Isto conduzirá à grande tribulação sob o reino do Anticristo (Mateus 24:21). Devemos travar a boa batalha da fé até à vinda de Cristo (1 Timóteo 6:12; Lucas 21:36). O Seu reino será manifestado publicamente apenas quando Ele vier como Rei dos reis – não antes disso.

Texto original - Prof. Johan Malan, Middelburg, South Africa - (http://www.bibleguidance.co.za/Portarticles/Dominionismo.htm)