terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mitos e fatos: a atuação da midia no Oriente Médio

F#####  Israel (...) quero que aquela M##### exploda mesmo! Vamo lá Irã, tocar terror nesses sionistas de M##### (...) Sonho em ver uma bomba nuclear explodindo em Telaviv!

Este foi um comentário – anônimo, como sempre – que apareceu na postagem anterior, um sujeito que provavelmente se acha o bambambam da política internacional, dando seu abalizado veredito sobre a situação no Oriente Médio. Passado o momento nauseante de ler palavras tão sábias, percebe-se que é apenas mais um teleguiado da mídia chamada imparcial, que entretanto, prima em esconder o outro lado da noticia.
Ao contrário do nosso erudito comentarista, aqui procuro ir além dos textos do Jornal Nacional e, com na semana passada, mostro tanto a opinião do pessoal de Israel como a dos iranianos – e aqui vão alguns mitos que a imprensa ocidental vem veiculando, ao lado do que realmente acontece. Para evitar que tais boquirrotos aprendam antes de escrever bobagens como a que abre este artigo.
Mito nº1: Os jornalistas que fazem a cobertura do Oriente Médio são movidos pela busca da verdade.
Fato: Ninguém deveria se surpreender ao ser informado que os jornalistas no Oriente Médio compartilham do mesmo interesse por sensacionalismo que seus colegas que cobrem assuntos domésticos. Como os repórteres de TV, cuja ênfase no visual acaba tratando superficialmente o assunto. Por exemplo, quando um correspondente da NBC em Israel foi questionado por que os repórteres vinham para as manifestações dos palestinos na Margem Ocidental, que eles sabiam ser encenadas, sua resposta foi: “Precisamos das fotos”[1]. Em países como a Síria, a Arábia Saudita, o Irã ou a Líbia, as redes de TV não têm liberdade para obter as imagens que lhes interessam, por isso as buscam em Israel.
Israel freqüentemente enfrenta a situação difícil de tentar contradizer imagens com palavras. “Quando um tanque entra em Ramallah, isso não é bonito na TV”, explica Gideon Meir, do Ministério do Exterior de Israel. “Certamente podemos explicar porque estávamos lá, e é o que fazemos. Mas são só palavras. Contra fotos, temos de lutar com palavras” [2]. O problema que Israel enfrenta foi ilustrado por Tami Allen-Frost, presidente da Associação da Imprensa Estrangeira e produtor da ITN britânica: “A cena mais forte que fica na mente é a de um tanque numa cidade” [3].
Mito nº2: As autoridades árabes dizem aos jornalistas o mesmo que falam ao seu próprio povo.
Fato: Os líderes árabes constantemente expressam seus pontos de vista de forma diferente em inglês do que em árabe. Eles revelam seus verdadeiros sentimentos e posições aos seus constituintes em sua língua nativa. Para consumo externo, entretanto, eles aprenderam a falar em tom moderado. Geralmente apresentam pontos de vista muito diferentes quando falam em inglês para as audiências do Ocidente. Há muito tempo, os árabes já se tornaram mais sofisticados na apresentação da sua causa. Eles agora aparecem rotineiramente nos noticiários da TV americana, são citados na mídia e se apresentam como pessoas razoáveis com queixas legítimas. Aí está o Mahmoud Abbas insistindo para que a Palestina seja um membro pleno da ONU, mesmo sem ter pelo menos uma força policial decente que coíba o uso de armas por menores de idade. Alguém aí sabe o que ele diz em Gaza sobre esse assunto? Será assim tão diplomático? O que a maioria dessas mesmas pessoas diz em árabe está freqüentemente muito longe do moderado e razoável. Como os israelenses podem traduzir facilmente o que é dito em árabe, eles estão bem informados sobre os pontos de vista dos seus inimigos. Os americanos, porém, bem como outros povos, podem ser facilmente persuadidos pela apresentação enganosa de um político árabe.
Para dar apenas um exemplo, o negociador palestino Saeb Erekat é freqüentemente citado pela mídia ocidental.  
Depois do assassinato brutal de dois adolescentes israelenses em 9 de maio de 2001, os jornalistas pediram seus comentários. O Washington Post noticiou sua resposta. Ele disse em inglês numa conferência de imprensa: “Matar civis é um crime, quer seja cometido pelos palestinos ou pelos israelenses”, mas esse comentário não foi reproduzido em língua árabe na mídia palestina[4]. O aspecto incomum dessa história: o próprio Washington Post revelou que o comentário de Erekat foi ignorado pela imprensa palestina.
Mito nº3: Os jornalistas – e o público em geral – conhecem bem a história do Oriente Médio e, assim, sabem colocar os eventos atuais no contexto apropriado.
Fato: Uma causa das más interpretações sobre o Oriente Médio e da parcialidade da mídia nas reportagens é a ignorância dos jornalistas sobre a região. Poucos repórteres falam hebraico ou árabe, de modo que têm pouco acesso às principais fontes. Muitas vezes eles repetem histórias que leram nas publicações em inglês da região, ao invés de fazerem reportagens independentes. Quando tentam colocar os eventos no contexto histórico, eles freqüentemente entendem mal os fatos e criam uma impressão incorreta ou enganosa. Um exemplo: durante uma narração sobre a história dos lugares sagrados em Jerusalém, Garrick Utley, da CNN, disse que os judeus podiam orar junto ao Muro das Lamentações durante o governo jordaniano (de 1948 a 1967)[5]. Na verdade, os judeus eram impedidos de visitar esse que é o seu lugar mais sagrado. Esse é um aspecto histórico essencial, que ajuda a explicar a posição de Israel com relação a Jerusalém.
Mito nº4: Os israelenses não podem negar a veracidade das fotos que mostram seus abusos.
Fato: Uma foto pode valer mil palavras, mas muitas vezes as palavras usadas para descrever a foto são distorcidas e enganosas. Não há dúvida de que os fotógrafos e os câmeras de TV procuram as imagens mais dramáticas que possam encontrar, quase sempre apresentando os brutais “Golias” israelenses maltratando os sofredores “Davis” palestinos. Entretanto, falta normalmente o contexto.
Num exemplo clássico, a Associated Press distribuiu para o mundo inteiro uma imagem dramática. Ela foi publicada no New York Times[6] e causou revolta internacional porque a legenda, fornecida pela Associated Press, dizia: “Um policial israelense e um palestino no Monte do Templo”. Tirada na época da revolta palestina após a controvertida visita de Ariel Sharon à mesquita de Al-Aksa, a foto parecia ser um caso flagrante da brutalidade israelense. Entretanto, foi constatado que a legenda era incorreta e que a foto, na verdade, mostrava um incidente que deveria ter conduzido à impressão exatamente oposta, se tivesse sido noticiado corretamente: a vítima não era um palestino agredido por um soldado israelense, mas um policial israelense protegendo o estudante judeu-americano Tuvia Grossman, que estava num táxi apedrejado por palestinos. Grossman foi puxado para fora do táxi, surrado e esfaqueado. Ele conseguiu se livrar e fugiu para perto do policial israelense. Nesse momento um fotógrafo fez a foto. Além de identificar a vítima de forma errada, a Associated Press também informou incorretamente que a foto tinha sido tirada no Monte do Templo. Na verdade, o incidente aconteceu em outra parte de Jerusalém!
Quando a Associated Press foi alertada sobre os erros, fez uma série de correções, que não esclareceram a história de forma completa. Como geralmente acontece quando a mídia comete erros, o dano já tinha sido feito. Muitos veículos que usaram a foto não publicaram posteriormente as devidas explicações.
Outro exemplo de como fotos podem ser tanto dramáticas quanto enganosas, foi uma imagem da Reuters mostrando um menino palestino sendo preso pela polícia israelense no dia 6 de abril de 2001. O menino estava obviamente atemorizado e molhou as calças. Mais uma vez a foto atraiu a atenção do mundo inteiro e reforçou na mídia a imagem dos israelenses como ocupantes brutais que abusam de crianças inocentes. Nesse caso, o contexto foi enganoso. Outro fotógrafo da Reuters tirou uma foto um pouco antes, mostrando o mesmo menino jogando pedras em soldados israelenses. Poucos veículos publicaram essa primeira foto.
Mito nº5: A imprensa não justifica os atos terroristas.
Fato: Pelo contrário, a imprensa aceita ingenuamente as alegações de que os ataques contra civis inocentes são atos de “combatentes pela libertação”. Em anos recentes, algumas empresas jornalísticas desenvolveram uma resistência contra o termo “terrorista” e substituiram-no por eufemismos como “militante”, porque não querem ser vistas tomando partido ou julgando os responsáveis. Por exemplo, depois que um homem-bomba palestino explodiu uma pizzaria no centro de Jerusalém em 9 de agosto de 2001, matando 15 pessoas, o atacante foi descrito como um “militante”... Em contraste, todos os meios de comunicação chamaram os ataques de 11 de setembro de atentados terroristas.
Clifford May, da Middle East Information Network, chamou a atenção para a cobertura da mídia: “Nenhum jornal escreveria: ‘Militantes atingiram o World Trade Center...’, nem diria: ‘Eles devem considerar-se combatentes pela libertação, e quem somos nós para julgá-los? Nós somos jornalistas’!”... A noção de que o “combatente pela liberdade” para uns é o “terrorista” para outros simplesmente não é verdadeira. É possível definir o terrorismo. Eis como o FBI define a palavra: Terrorismo é o uso ilegal da força ou violência contra pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, a população civil ou qualquer segmento dela, com propósitos políticos ou sociais[7]. Se a mídia julgasse os eventos usando essa simples definição, os jornalistas não teriam dificuldades em usar a palavra “terrorista”.
Mito nº 6: A TV Al-Jazeera é a “CNN árabe”, proporcionando ao mundo árabe uma fonte objetiva de notícias.
Fato: Al-Jazeera, fundada no Qatar, é amplamente assistida em todo o mundo árabe. O canal começou em 1996 como um projeto de estimação do emir do Qatar, xeque Hamad bin-Khalifa al-Thani, e ganhou destaque durante a guerra no Afeganistão, por causa de seus antigos contatos com os dirigentes do Talibã e com Osama bin Laden. Divulgando uma variedade de pontos de vista, incluindo opiniões dos funcionários da administração Bush, a rede buscou criar a impressão de que é uma fonte de notícias objetiva. Mas na realidade, ela é um canal de propaganda extremista. Um intelectual muçulmano culpou a rede por incitar as massas contra o Ocidente e por transformar bin Laden em celebridade. “Há uma diferença entre dar oportunidade para que opiniões diferentes [sejam ouvidas] e colocar no ar assassinos armados para que divulguem suas idéias”, disse o Dr. Abd Al-Hamid Al-Ansari, decano de Shar’ia e Direito na Universidade do Qatar[8]. Numa entrevista ao programa “60 Minutos”, um correspondente da Al-Jazeera, ao se referir à cobertura de notícias do conflito, disse que os palestinos morrem como mártires. Quando o entrevistador Ed Bradley replicou que os israelenses os chamariam de terroristas, ele respondeu: “Esse é um problema deles. É um ponto de vista”. Quando lhe perguntaram como eles descrevem israelenses mortos por palestinos, a resposta foi: “Damos-lhes o nome certo: israelenses mortos por palestinos”. Bradley disse ainda que a cobertura da intifada pela Al-Jazeera foi responsável por incitar manifestações pró-palestinas por todo o Oriente Médio[9].
Tudo isto mostra que antes de dizermos “que se dane Israel”, ou que deviam explodir esta ou aquela cidade, precisamos pelo menos procurar saber o que ocorre “do outro lado”. E mais uma vez, queiram ou não, doa a quem doer, tudo o que ocorre na região tem sua explicação nas páginas da Bíblia e do Corão – ali estão as raízes da eterna beligerância entre árabes e israelenses.
E achem legal ou achem ruim, nas páginas da Bíblia estão escritos os próximos capítulos, como eu disse na semana passada e reafirmo agora. (com base em www.us-israel.org/jsource/myths/ - http://www.Beth-Shalom.com.br)

Notas:
1. Near East Report (5 de agosto de 1991).
2. Jerusalem Report (22 de abril de 2001).
3. Jerusalem Report (22 de abril de 2001).
4. Washington Post (10 de maio de 2001).
5. CNN (10 de outubro de 2000).
6. New York Times (30 de setembro de 2000).
7. Washington Post (13 de setembro de 2001).
8. Al-Raya (Qatar), (6 de janeiro de 2002).
9. 60 Minutos, "Inside Al-Jazeera" (10 de outubro de 2001)


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