sábado, 6 de novembro de 2010

Marketing evangélico

“Assim como no tempo de Neemias, depois de proféticos 52 dias de reforma”, o Renascer Hall, antigo Espaço Renascer, foi inaugurado no sábado 30 de outubro de 2010 com muita festa, celebrando o encerramento do “Jejum das Grandes Portas de Pedro”. O “apóstolo” Estevam Hernandes agradeceu a participação dos “príncipes”: “Tudo o que há de tecnologia de ponta está aqui… Isso só foi possível pelo esforço de cada um. Vocês estão pisando em um verdadeiro milagre, pois a obra foi concluída em 52 dias!”, acrescentou. Ainda falta finalizar o estacionamento, o restaurante e a quadra de futebol, além dos espaços Kids e Teens. E terminou a arenga dizendo que “a glória da segunda casa será muito maior que a da primeira”.
Esse tal “Renascer Hall” funcionou como sede da igreja enquanto o templo da rua Lins de Vasconcelos (chamado sede internacional) esteve em obras, e depois passou a sediar eventos como encontro de mulheres, festas do Projeto Amar, shows etc. “O prédio está completamente preparado para receber com excelência nossos eventos, já que temos toda a estrutura elétrica, som e iluminação preparada para isso”, disse a “bispa” Fê, uma das herdeiras do negócio.
Na ocasião, baseado em Ezequiel 36:8-11 e 24-31, Estevam disse que “o Senhor está se voltando para nós de uma maneira diferenciada... Deus tem para nós um novo
tempo, o Seu povo pode esperar os melhores dias. É como no tempo de Noé: aquele que estiver na arca não será destruído”; e que Deus vai nos “lavrar”, ou seja, retirar as impurezas, como o lavrador prepara a terra antes do plantio. “Seremos uma terra preparada para receber a semente. Deus vai semear na sua vida a divina semente. Este é um tempo de grandes e poderosas colheitas”. Citou também Isaías 28:21, onde diz que o Senhor fará coisas estranhas e inéditas no meio do Seu povo. “Ele vai fazer uma obra que não foi feita ainda… Ele vai fazer além daquilo que você pediu ou pensou!”, disse. No final, celebraram a “Santa Ceia do Senhor” e comemoraram este “novo tempo de conquistas”. Fonte: Igospel / Gospel Prime (http://www.gospelprime.com.br/renascer-hall-e-inaugurado-apos-52-dias-de-reforma/#comment-21710)
Esta notícia revela que a Renascer usa em sua estratégia todos os elementos do marketing. Nas definições mais conhecidas do marketing, estão “o processo de atrair e manter clientes” (Theodore Levitt) e “uma orientação da administração que visa proporcionar a satisfação do cliente e o bem estar do consumidor a longo prazo, como forma de satisfazer os objetivos e as responsabilidades da organização” (Philip Kotler). E não é exatamente nisto que as igrejas se transformaram de uns anos para cá? Não todas, mas com certeza umas mais do que outras...
Assim, adotam-se técnicas de marketing como ferramenta de crescimento da igreja, em lugar da pregação do Evangelho, do ensino da Palavra, da mensagem de arrependimento e de salvação. Senão, vejamos:
A Empresa – para poder vender bem, toda empresa precisa passar uma boa imagem. A Renascer busca construir uma imagem tipo o Itaú das igrejas evangélicas, que traz modernidade, avanço, vanguarda, inovação. Isso seduz o cliente! Mesmo que as taxas sejam exorbitantes, é bacana ser cliente de uma empresa líder de mercado! Mesmo que alguns tropeços arranhem a imagem da empresa, como veremos adiante.
Os 4 P’s - um conceito de marketing que destrincha Produto, Praça, Preço e Propaganda. Alguns autores já expandiram esses 4 Ps para 6, outros para 7, mas os 4 originais continuam sendo os principais pilares da teoria. Trabalharei com esses apenas para demonstrar o raciocínio, mas se quiser você mesmo (a) pode expandir e pesquisar outras similaridades da igreja com o mercado.
O Produto: é a prosperidade. Não se evidencia a salvação, o arrependimento, a vida de santidade, oração e estudo da Palavra. Não. É só promessa de vitória e prosperidade. Renúncia é palavra inexistente nesse dialeto.
A Praça (ou Rede de Distribuição) tem a ver com a facilidade de distribuição do produto, ou seja, uma vasta rede de filiais que satisfaça o cliente em rede nacional, com fachada e discurso de vendas o mais parecido possível com a matriz: e aqui entra a identidade corporativa.
O Preço – esse é fácil. Nenhum freqüentador desses ambientes está isento ou “liberado” de contribuir financeiramente. Para isto, usam o velho e batido argumento do dízimo, uma prática de outra era, adaptado à era da igreja (leia mais sobre esse assunto aqui e também aqui); e ainda por cima misturado com o discutível conceito da “semeadura”. Para ser abençoado financeiramente você tem primeiro que ”semear” dinheiro na sacola. Mais uma doutrina bíblica virada pelo avesso. Falamos disto com detalhes outra hora.
A Promoção (e aqui entram tanto a “promoção de vendas” como a publicidade e a propaganda): é cada dia um invento novo. Alguns, reconhecemos, de fato foram coisas boas, como a divulgação da música gospel (embora nem todas do gênero sejam boas); e a Marcha Para Jesus. Mas depois dos shows e da marcha, vieram as baladas gospel, funk gospel, e agora já tem até luta de “vale-tudo”.
Com maciço apoio da mídia (rádio, TV, literatura, eventos, Internet) literalmente vale tudo para manter a distração. Tenha medo – tenha muito medo – do que pode estar vindo por aí. Algumas igrejas já fazem até congresso com sorteio de carro, outras organizam cruzeiros em alto-mar com brincadeiras e atrações! Veja aqui: http://www.youtube.com/watch?v=AtdJRsiImbU&feature=related! e aqui: http://img838.imageshack.us/img838/323/avivamento2010ganheumca.jpg. 
Olha só, estou avisando, vai piorar!...
Aliás, clientes seduzidos e encantados são outra premissa do marketing eficaz. A mensagem de que “Deus vai dar ao seu povo tempos melhores, como no tempo de Noé”, é uma heresia descarada. Jesus disse que nos dias de Noé a coisa era braba. Noé não pegou moleza, pelo contrário, nem sua pregação prosperou: era uma geração profética – mas não teve prosperidade! Ele pregou um tempão e ninguém se converteu! O povo queria era ficar na boa, comendo e bebendo, até que veio o dilúvio. Só a família de Noé se salvou, mas não teve moleza. Não teve “um novo tempo”, não. Mas esse papo seduz, encanta e cativa o cliente. Faz parte da técnica de venda. Nenhum vendedor mostra a dificuldade de operação do produto na hora da venda, é tudo uma maravilha sem fim. Ou então dissimula, como o Terra Nova ao instruir seus capangas a usar mensagem sub-liminar, torcendo a interpretação da Bíblia para pedir votos para José Serra (veja aqui). Diferente de Jesus, que pregou uma mensagem sem rodeios, e disse que abraçar a fé cristã não seria fácil: leia Lucas 14:26, Mateus 10:38, Marcos 8:34, e de Paulo, que não usou de sutilezas para engabelar ninguém (Colossenses 2:8 e I Coríntios 9:15). Quem vai a um lugar desses está pedindo para ser engabelado! E é isso o que acontece; quando se diz que “Ele vai fazer uma obra que não foi feita ainda… Ele vai fazer além daquilo que você pediu ou pensou”, o cliente pode encaixar qualquer coisa que acontecer dentro desta “profecia”. Aliás, chega dessa conversa de “tempo novo”. Isso já encheu a paciência.  
Esse pessoal tem algum tipo de obsessão. A tudo atribuem um significado místico ou “profético”. Se a obra durou 52 dias, se acham iguais a Neemias, que reconstruiu as muralhas de Jerusalém em prazo igual. Se tivesse durado 49 dias, seriam sete semanas, talvez se comparando a Daniel... E assim por diante. Qualquer número teria uma interpretação “profética”, um significado sobrenatural – falamos mais sobre isto aqui.
Uma coisa tenho que admitir: o cara é um gênio do marketing. Ele já foi profissional da área (ou melhor: ainda é). O que se pode concluir é ele saiu do marketing, mas o marketing não saiu dele.
Finalmente, um conceito mais moderno do marketing, o Branding:
1 – o nome: obviamente o nome Renascer Hall é para concorrer com outras casas noturnas, casas de shows e boates, antigamente conhecidas como “casas de baile”, doa a quem doer: Credicard Hall, Citibank Hall, Chevrolet Hall, QualquerCoisa Hall. O objetivo é criar uma associação com diversão, lazer, distração, música, divertimento, alegria, descontração, agregando a marca “Renascer” e seus atributos já citados (inovação, vanguarda etc.). Isso já fascina o público-alvo, jovens urbanos de 16-30 anos, classe média, com poder aquisitivo suficiente para deixar nos caixas um bom punhado de dólares, entre valor do ingresso, consumação e souvenirs. Ah, e o espaço é segmentado, tem também as áreas Teen e Kids.
2 – os seus defensores formam uma tropa de choque que não raciocina, apesar de incontáveis arranhões: prisão dos líderes por evasão de divisas, sonegação e formação de quadrilha, inúmeros processos na justiça, desabamentos de prédios com mortos e feridos, debandada de garotos-propaganda como Kaká, sua esposa patricinha e alguns pseudo-bispos como o tal Zé Bruno (aliás, isto lá é nome de bispo? E bispa Fê? Bispo Tide? Estão de brincadeira?). 
Isto se chama, em marketing, “fidelidade à marca”. Seus usuários – os defensores da marca – continuam a defender ferrenhamente não a Bíblia, Cristo ou o Evangelho da Salvação, mas seus carismáticos chefes; para isso, não hesitam em se tatuar com inscrições no mínimo estranhas. Eu nunca soube de nenhum discípulo se tatuar com o nome de Jesus. E ainda aqui usam, de novo, um verso da Bíblia (“Sê fiel até a morte”, Apocalipse 2:10), para criar a associação com o slogan ”Renascer até morrer”. Mais mensagem subliminar.
E permanecem agarrados à instituição, apesar de coisas absolutamente sem sentido, como “Grandes Portas de Pedro”. Que raios de portas são essas? É preciso um grande esforço de imaginação para encontrar qualquer correlação disto com as Escrituras! Mas a mente está anestesiada pelos estroboscópios...
Encerramos com uma frase de David Wilkerson: Quanto pior se torna o pastor, mais cria diversão para multidões: confia em números e finanças para medir o próprio sucesso.

Que Deus tenha misericórdia de Sua Igreja e lhe conceda tempo para o arrependimento!

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- atualizado em 17/11/2014