Indústria põe “pomba cristã” em tubo de
gel erótico e fatura com evangélico
Sexta, 29/09/2016 - A
fabricante brasileira de produtos eróticos Intt aposta em uma linha gospel para
vender mais. As únicas diferenças em relação aos produtos convencionais são as
embalagens, mais discretas e com uso de uma pomba (símbolo cristão), e os
aromas, mais suaves. Com essas pequenas adaptações, diz ter aumentado as vendas
em 30%. A empresa apresenta novidades em
produtos para casais evangélicos na Íntimi Expo, feira do mercado erótico
realizada em São Paulo a partir desta quinta (29) até 1º de outubro, no Centro
de Exposições Anhembi.
São seis lançamentos: géis comestíveis nos sabores menta, menta extraforte,
morango com champanhe, tutti-fruti e canetas com calda comestível nos sabores
brigadeiro e chocolate branco para escrever no corpo do parceiro. As novidades vêm se juntar a outros
quatro produtos da mesma linha lançados no começo do ano passado: um gel
excitante para aumentar a sensibilidade feminina; um gel que promete aumentar o
período de excitação do homem; um que diz reduzir o canal vaginal, dando
sensação de “primeira vez”; e um gel vibrador que causa pequenas contrações na
pele e nas mucosas. Os preços variam entre R$ 15 e R$ 19,90 e são vendidos em
sex-shops e por meio de consultoras de vendas porta a porta.

Atenção especial - Para Paula
Aguiar, presidente da Abeme (Associação Brasileira das Empresas do Mercado
Erótico e Sensual), os evangélicos precisam de atenção especial, pois, muitas
vezes, casam-se sem experiência sexual e podem se frustrar na relação. “Os produtos eróticos vêm para ajudar a
aumentar a intimidade entre os casais”, diz. Segundo Edson Ichikava,
analista do Sebrae-SP, a empresa inovou ao quebrar o paradigma em relação ao
público religioso. “Eles se aprofundaram
no segmento, ouviram o público desse nicho e desenvolveram um produto capaz de
atender às suas necessidades. Foram pioneiros e por isso estão tendo resultados”.
Ele diz que a principal dificuldade do mercado erótico é se desvincular da
ideia de pornografia. “Orientamos os
empresários a trabalhar mais a sensualidade, a saúde e o bem-estar dos casais,
a deixar itens como próteses menos explícitos”, declara. (Fonte)
Antes de mais nada: não tenho nada contra “apimentar
a relação” e coisas do tipo. Só queria comentar essa notícia do ponto de vista
do Marketing e da Propaganda aplicado aos cristãos e evangélicos. O chamado “público
gospel” é de fato um nicho de mercado interessante para quem quer que seja. Já
falei antes sobre isso aqui
. O que chama a atenção é a facilidade com esse “público” é engendrado nas mais
diversas e simples esparrelas. Nesse caso do mercado “erótico/sensual”, note as
expressões:
“evangélicos
precisam de atenção especial”;
“eles viam
potencial”;
“ouviram o
público”;
“desenvolveram
um produto capaz de atender às suas necessidades”;
“clientes
pediam embalagens mais discretas”;
“as únicas diferenças são as embalagens”;
“pequenas adaptações”;
“resolvemos
testar e, em um ano, já tivemos o aumento de 30% nas vendas”;
“estão tendo
resultados”.
Técnicas de Marketing e Propaganda, nada mais.
Dinheiro. Mercado.
Não deveria causar nenhum espanto o fato de que quem deu a
dica para a empresa que produz o agora “cristão” gel sensual tenha sido o casal
proprietário de uma sex-shop “evangélica”,
que dá palestras para casais, e que escreveu
um “romance” picante que conta, até mesmo encontros sexuais gays... Isso só confirma minha
teoria.

Na política ocorre o mesmo. Candidatos sempre
espiavam as igrejas com olho gordo. Participavam timidamente de cultos
evangélicos, davam uma palavrinha e pronto. Depois, começaram a “dar a paz do
senhor” (assim com minúsculas mesmo, porque não sabem nem o que significa; para
eles é um “saravá”, um “axé”, uma gíria localizada). Depois, começaram a “se
converter” – da mesma forma como certos cantores, que mudaram de religião na
decadência artística, mas continuaram a faturar no “novo mercado”.

Não preciso citar aqui o hediondo Eduardo
Cunha, que fez carreira e fortuna com base em propinas e comícios em eventos
evangélicos, sob a bênção não menos repulsiva de Silas Malafaia e “pastor”
Everaldo. Tudo farinha do mesmo saco. Os objetivos são os mesmos. Mas a
embalagem mudou. Ele é evangélico, membro destacado, quem sabe diácono,
provavelmente um dizimista fiel.
O produto não mudou, como o gel erótico:
apenas recebeu um rótulo de “evangélico”. Mas por dentro da “nova embalagem”, o
produto, o conteúdo, a fórmula, é tudo igual a antes. Nada mudou.
Cuidado com os “novos produtos” que aparecem nesse mercado
atraente que pulula dentro das igrejas e templos todo domingo.
O gel ainda é o mesmo de antes