quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ligações perigosas

ou, Josué e os gibeonitas
 
Me causou espanto e depois preocupação quando me deparei com noticias a respeito de uma possível aproximação entre pastores, auto-proclamados “porta-vozes da comunidade evangélica”, e a  rede Globo de Televisão. Veja aqui matéria a respeito. Me espantei porque desde sempre essa emissora é inimiga declarada dos evangélicos deste país. 
Senão vejamos: 
- Duas Caras (com cenas tão descaradamente preconceituosas em relação aos evangélicos que chocaram até os católicos; a trama apresentava um casal gay mas curiosamente contava com música de Aline Barros na trilha!); tinha ainda um pastor que vivia pedindo orientações à mãe, dona de um terreiro de macumba (!); 
- Avenida Brasil, onde uma evangélica tinha recaídas” (?) e incorporava a pomba-gira;
- A série “Ó Pai Ó” (em especial o episódio 10, “A Cara do Pai”); 
- América, novela de 2005, onde a recatada Creusa (Juliana Paes) de dia usava roupas comportadas, e à note traía o marido incorporando uma espécie de “pomba-gira; óbvio, foi concebida por ela, sempre ela, auto-denominada escritora, Glória Perez...
- Meu Bem Querer, de 1998, onde duas irmãs “evangélicas se revezavam em “ficar com o mesmo homem;
- Insensato coração (veja um trecho “elogiando pastores);
- Decadência: sem comentários. 
Recentemente divulgou-se: a próxima novela das nove tem o título provisório de Em Nome do Pai, e está sendo escrita por Walcyr Carrasco, que já ressabiado, prometeu um personagem evangélico, sem caricaturas. Afirmou o escritor que seja católico, evangélico, budista, espírita ou rosa-cruz como eu, a fé transforma. É sobre isso que vou falar na novela, revelando ainda que vai ter uma das tramas mais originais da novela, um triângulo [amoroso]... se Deus quiser. Veja você se Deus vai querer triângulo amoroso e ainda mais escrito por um rosa-cruz... Será que um rosa-cruz, de sobrenome carrasco, contratado pela Globo, vai retratar fielmente um evangélico? Me poupe. Isso é só mais uma pegadinha: escolheram para interpretar uma maria-chuteira convertida uma atriz de comédia famosa por ridicularizar evangélicos...
Além do mais, a própria mídia já reconhece que para fazer sucesso tem que ter escândalo. Leia aqui sobre isso.
Não preciso citar outras produções que fazem apologia ao candomblé, em especial as baseadas em JorgeAmado e Dias Gomes. Ou até mesmo um tosco programa de auditório, em seu episodio de 3/12/2012, com direito a sermão e apelo... Mas lembro a “guerra santa” forjada para criar animosidade com os evangélicos, com o pano de fundo da rivalidade com a Rede Record, de propriedade do mesmo grupo que controla a Igreja Universal. E me preocupei porque essa “aproximação” me lembra uma passagem bíblica.
O livro de Josué (cap. 9) descreve o encontro dos hebreus com os gibeonitas, um povo que habitava ao norte de onde fica Jerusalém hoje. Quando os israelitas chegaram a Canaã, vindos do Egito, logo começaram a conquistar as cidades e se multiplicar. As notícias de suas vitórias se espalharam e logo os de Gibeão perceberam que Deus estava com Josué e seu povo. Talvez tenham percebido que os cananeus, de modo geral, seriam derrotados, pois ficou claro a eles que Israel era um instrumento de Deus para castigar a extrema maldade daqueles povos. A medida da ira de Deus havia se esgotado; durante o tempo dos hebreus no Egito, os cananeus atingiram um nível de degradação raramente visto. E então Deus decidira acabar com eles, usando os israelitas como flagelo. Ver Deuteronômio 9:5 (certos intelectualóides nunca leram essa passagem e vivem questionando por que Deus mandou matar tanta gente; aí está a explicação).
É importante esclarecer quem eram esses “cananeus” (descendentes de Canaã, neto de Noé): 
- os heveus, que habitavam próximo a Gibeão, a oeste do monte Hermom (Josué 11:3 e Juízes 3:3). Um heveu violentou Diná, filha de Jacó (Gênesis 34); 
- os heteus, um ramo dos hititas (Gênesis 10:15-17; 23:10; 25:9); 
- amorreus do sul e leste de Jerusalém e Transjordânia (“além do Jordão”, Números 13:30). Deram trabalho aos israelitas, como quando Josué pediu a Deus que o Sol e a Lua parassem (Josué 10:4,5); 
- os ferezeus (ou perizeus), que no tempo de Abraão viviam na região de Betel (Gênesis 13:7). Nos dias de Jacó havia uma colônia deles próximo a Siquém (Gênesis 34:30);
- jebuseus (de “Jebus”, o antigo nome de Jerusalém e arredores, Josué 10:23,24). Somente quando Jerusalém foi proclamada por Davi capital de Israel (II Samuel 5:6-9) é que eles foram definitivamente removidos. Mas não exterminados, pois o templo de Salomão foi edificado numa área que pertencera ao jebuseu Araúna (II Samuel 24:18-25);
- girgaseus (Gênesis 10:16). Acredita-se que ocupavam a margem ocidental do Jordão, a oeste de Jericó.
Os gibeonitas eram aparentados a esses povos que vinham sendo dizimados. Apesar da sua força militar e da grandiosidade da sua cidade (Josué 10:2), previram a derrota,  porque Deus lutava por Israel (5:1). Temerosos, criaram então um ardil para enganar os israelitas.  Os homens de Gibeão, talvez em conluio com as cidades hevéias de Quefira, Beerote e Quiriate-Jearim, enviaram uma delegação a Gilgal. Os “embaixadores”, com roupas velhas e sandálias gastas, levando mochilas estragadas e pão bolorento, apresentaram-se como “de uma terra distante”; portanto, “fora do caminho” das conquistas de Israel. Reconheceram a mão de Deus no que havia acontecido aos egípcios. Mas, malandramente, não fizeram menção do que acontecera a Jericó e Aí, pois essa notícia era recente e não poderia ter chegado ainda à sua “terra mui distante” antes da sua suposta partida. A delegação de Israel mordeu a isca, e fizeram um pacto de amizade.
Todos sabem o que houve. Mesmo depois de descoberto o estratagema, os israelitas tiveram que sair em socorro dos gibeonitas, pois precisavam honrar a “sociedade”. Romper o pacto lançaria dúvidas sobre a fidedignidade de Israel e causado desprezo pelo Nome de Deus entre as nações. 
Alguns paralelos podem ser traçados sem esforço. O povo de Deus hoje está sendo iludido pelos cananeus da Globo. Esses incrédulos não são amigos de Deus nem do seu povo; mas já perceberam como o Evangelho cresce no Brasil.
Há cerca de trinta anos, os protestantes brasileiros somavam menos de 10 milhões, cerca de 8% duma população total de 120 milhões. Hoje, estão entre 20 e 25% do total – 40 a 50 milhões (não entro aqui no mérito se são “crentes fiéis”, praticantes, ou apenas nominais). De acordo com o IBGE, um crescimento de 61% apenas nos últimos dez anos. Deuteronômio 7:7 já dizia: “O Senhor não tomou prazer em vós nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que todos os outros povos; pois éreis menos em número do que qualquer povo”.
Esse povo se multiplicou. Evangélicos hoje possuem mais rádios, gravadoras, editoras, jornais; já têm canais de TV próprios e ocupam inúmeras faixas de programação em diversos veículos de mídia. Fazem-se representar nos três poderes da nação. Contam-se muitos entre atletas e artistas de várias modalidades (embora alguns sejam bastante polêmicos). Suas músicas romperam as barreiras das rádios comunitárias e hoje têm faixas próprias em portais seculares (como UOL, Terra etc.) e em operadoras de TV a cabo; não raro, tocam durante a exibição do “gol da rodada”. Lojas virtuais de aplicativos para I-phone e Android possuem espaços exclusivos, agrupados na prateleira “gospel”. Os cananeus gostando ou não, o povo de Deus está ocupando espaço.
Mas os gibeonitas também estão aí, nas redondezas, e ainda praticam o ditado “se não pode com eles, junte-se a eles”, como fizeram com Josué. Negociam com pastores oferecendo engodos como o “Troféu Promessa”, como se estivessem propagando o Evangelho ou o Nome de Deus. Muitos caem nessa esparrela, hipnotizados pelas luzes da ribalta e das chamadas televisivas. Fingem não saber que o interesse dos gibeonitas é o próprio ventre. Gibeão só quer manter a sua “fatia do mercado”, ou seja, mesmo com o crescimento evangélico, não quer perder a boquinha. Se os “crentes” não compram trilha sonora de novelas, porque não gravar DVDs no “padrão Globo de qualidade”, embalar em capas esfuziantes e vender aos que antes evitavam o Jardim Botânico[1]? Deus? Evangelho? Bíblia? Não, deixa isso pra lá. Como no tempo de Josué, eles não dizem toda a verdade. E como naquela época, os israelitas não perguntam a Deus se este negócio é Dele (Josué 9:14).  Entram de cabeça, achando que aparecer na Globo é “para a glória de Deus”, e que “a Globo está se rendendo ao Evangelho”. Em vez de lutar pela Verdade pedem por mais ilusão e mais ficção. Aceitam o pão bolorento dos gibeonitas.
Por isso fico a pensar: por causa do “trato com os gibeonitas”, quando chegar a hora de defender a Globo, o que será que ouviremos de alguns púlpitos? O que dirão esses que se arvoram em “lideres evangélicos”? Eu não sei se rio ou se choro: igrejas que no passado denunciavam os escândalos globais, pedindo aos membros que não assistissem nem comprassem nada relacionado à “Vênus Platinada”, agora celebram com estardalhaço sua parceria com a emissora! Também aqui. E é assim que vemos umas cabeças-de-camarão defendendo esse acordo em vários sites e blogs, geralmente editados por gente nova, que não viveu os tempos duros da conquista e da oposição cananéia (Juízes 2:10).  
Isso não vai dar certo: os objetivos são incompatíveis. Diz Julio Severo: ganhar audiência é a meta da Globo; ganhar almas para Cristo é a meta do verdadeiro cristão... AGlobo fechou 2012 com o pior ibope de sua história. Para quem queria entender a ‘bondosa’ atitude da emissora de se aproximar de líderes e cantores evangélicos de destaque, a resposta é óbvia: melhorar o ibope”. “Que sociedade tem a justiça com a injustiça? ou que comunhão tem a luz com as trevas?” (I Coríntios 6:14). Efésios 5:11 - “E não vos associeis às obras infrutuosas das trevas, antes, porém, condenai-as”. Desobedecendo a esses princípios, há contaminação, como os israelitas fizeram. Não apenas pouparam os cananeus, ao contrário do que Deus ordenara; mas se associaram a eles.
Muitos povos desapareceram da Terra Prometida, como os enaquins (Josué 11:21-23);  os zuzins (Gênesis 14:5); e os refains (Gênesis 15:20), provavelmente os “de grande estatura”, como o rei de Basã, cuja cama media 4x2 metros (Deuteronômio 3:11). Mas outros permaneceram. Juízes 1 conta como os israelitas “não expulsaram aos jebuseus que habitavam em Jerusalém; pelo que estes ficaram habitando com os filhos de Benjamim... Manassés não expulsou os habitantes de Bete-Seã e suas vilas... porém os cananeus persistiram em habitar naquela terra... Também Efraim não expulsou os cananeus que habitavam em Gezer; mas os cananeus ficaram habitando no meio dele, em Gezer. Também Zebulom não expulsou os habitantes de Quitrom, nem os de Naalol; porém os cananeus ficaram habitando no meio dele... os aseritas ficaram habitando no meio dos cananeus, os habitantes da terra, porquanto não os expulsaram. Também Naftali não expulsou os habitantes de Bete-Semes, nem os de Bete-Anate; mas, habitou no meio dos cananeus”.
E a conseqüência foi que, “habitando, pois, os filhos de Israel entre os cananeus, os heteus, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus, tomaram por mulheres as filhas deles, e deram as suas filhas aos filhos dos mesmos, e serviram aos seus deuses. Assim os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, esquecendo-se do Senhor seu Deus e servindo aos baalins e às astarotes. Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e ele os vendeu na mão de Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia; e os filhos de Israel serviram a Cusã-Risataim oito anos” (Juízes 3:5-8). Começou aí a longa e difícil servidão dos israelitas sob a tirania daqueles a quem deveriam ter exterminado. Castigo, juízo, punição severa!
Associaram-se a eles, e acabaram dominados por eles. Séculos mais tarde Esdras (9:1) disse: “O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas, não se têm separado dos povos destas terras, das abominações dos cananeus, dos heteus, dos perizeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos 
egípcios e dos amorreus”. Conseqüências que se estenderam por séculos!
Ao contrário da Globo, dos portais “gospel” e de grandes congregações por aí, este espaço é pequeno e de pouco ibope; meu alcance é pequeno. Mas ainda assim espero que alguns desses “líderes” ávidos por holofotes leiam isto, ou algo semelhante, e ponham a mão na consciência; que avaliem o risco a que estão expondo o povo de Deus, ao fazer acordo com gibeonitas. Se você compartilha da minha preocupação, se você está entre os “sete mil que não dobraram seus joelhos” (I Reis 19:18 ), me ajude e dê um tweet, encaminhe para outros, e “toque a trombeta em Sião!” (Joel 2:1).
Se não concorda, boa sorte. Espere sentado(a) para um dia assistir, feliz e sorridente, a alguma heroína evangélica pregando o Evangelho numa próxima novela, logo após a reapresentação do tal troféu.
Que Deus tenha misericórdia de nós.


201230



[1] Bairro do Rio de Janeiro onde fica a sede da TV Globo.