Poucas coisas poderiam compensar mais a perda
de uma pessoa querida do que a possibilidade de encontrá-la novamente. Diversas
religiões pregam a crença na vida após a morte, mas o espiritismo vai além ao
ensinar que é possível, aqui e agora, fazer contato direto com quem já se foi:
as almas desencarnadas estariam em outro plano, prontas a aconselhar os vivos
rumo à perfeição espiritual. Para isso, vale-se dos “médiuns”, que acreditam
ser intermediárias entre vivos e mortos. Hippolyte Leon Denizard Rivail, o
auto-denominado Allan Kardec, afirma isso com todas as letras: para seus
seguidores, auto-denominados “espiritualistas”, a vida é uma sucessão de mortes
e renascimentos, e nesse meio-tempo a pessoa tem a oportunidade de
desenvolver-se.
Começa aí o abismo entre os “espiritualistas” e os evangélicos, que com base em textos bíblicos como Hebreus 9:27 (“Ao homem está estabelecido morrer uma única vez, vindo depois disto o juízo de Deus”), rechaçam a reencarnação. Há ainda muitas outras divergências: por exemplo quanto ao papel de Cristo. Se para os crentes Ele é o Filho de Deus e Salvador do mundo, na opinião kardecista é só um espírito iluminado, que alcançou a perfeição graças ao amor e bondade.
O apelo desse tipo de crença explica sua popularidade: o último Censo, o de 2000, encontrou pouco mais de 2,3 milhões de “espiritualistas”, mas muitos têm o kardecismo como “segunda crença”, à qual recorrem em momentos de aflição. Além disso, o espiritismo mesclou-se com credos de matriz africana como a umbanda e o candomblé, criando um “mix” de religiosidade popular. De acordo com a Federação Espírita Brasileira (FEB) há no país cerca de 15 mil “centros” das mais diversas linhas espiritualistas, interessadas numa religião onde não há amarras hierárquicas e onde cada um é responsável pelo própriocrescimento, sobretudo através da caridade. “Não há intermediação, nem velas ou imagens nos centros espíritas. O praticante precisa se prender a algo mais abstrato e pessoal”, explica a socióloga Célia da Graça Arribas. “Não é qualquer um que compreende esse sistema, por isso a importância do estudo constante”.
Começa aí o abismo entre os “espiritualistas” e os evangélicos, que com base em textos bíblicos como Hebreus 9:27 (“Ao homem está estabelecido morrer uma única vez, vindo depois disto o juízo de Deus”), rechaçam a reencarnação. Há ainda muitas outras divergências: por exemplo quanto ao papel de Cristo. Se para os crentes Ele é o Filho de Deus e Salvador do mundo, na opinião kardecista é só um espírito iluminado, que alcançou a perfeição graças ao amor e bondade.
O apelo desse tipo de crença explica sua popularidade: o último Censo, o de 2000, encontrou pouco mais de 2,3 milhões de “espiritualistas”, mas muitos têm o kardecismo como “segunda crença”, à qual recorrem em momentos de aflição. Além disso, o espiritismo mesclou-se com credos de matriz africana como a umbanda e o candomblé, criando um “mix” de religiosidade popular. De acordo com a Federação Espírita Brasileira (FEB) há no país cerca de 15 mil “centros” das mais diversas linhas espiritualistas, interessadas numa religião onde não há amarras hierárquicas e onde cada um é responsável pelo própriocrescimento, sobretudo através da caridade. “Não há intermediação, nem velas ou imagens nos centros espíritas. O praticante precisa se prender a algo mais abstrato e pessoal”, explica a socióloga Célia da Graça Arribas. “Não é qualquer um que compreende esse sistema, por isso a importância do estudo constante”.
Célia investiga o crescimento do kardecismo no país e a formação dos
primeiros grupos. De acordo com sua tese
de mestrado, essa crença chegou ao Brasil ao redor de 1860, com o primeiro
livro de Kardec, "O livro dos espíritos". A obra despertou interesse e seduziu
advogados, médicos, intelectuais, jornalistas e políticos, gente que mantinha
contato com a produção intelectual da França, então o principal centro cultural
do mundo. Essa formação elitizada provavelmente tenha sido a responsável por
manter a religião espírita focada principalmente na classe média, e a ênfase no
estudo explica o desenvolvimento das editoras do segmento. Segundo um
levantamento da Câmara Brasileira do Livro (CBL), esse nicho de mercado
faturou, só em 2006, quase R$ 100 milhões.
Para a mídia, a imagem de Chico Xavier, capaz de reunir pessoas de vários credos e ainda lhes dar esperança, é um alavancador de audiência. Não é a toa que novelas que exploram tema mediúnico são recorrentes na rede Globo. “A viagem” , “Alma gêmea” e “Escrito nas estrelas” exploraram esse filão. A vice-presidente da União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE-SP), Júlia Nezu, acha que Chico Xavier “veio para popularizar o espiritismo. Sua missão na terra foi de exemplificar o amor e decodificar a doutrina”, filosofa. Para ela, o sucesso dos temas espíritas reflete uma busca moderna: “As pessoas estão cansadas do materialismo e têm procurado uma resposta transcendental. O espiritismo traz essa resposta”.
O sucesso recente do filme sobre a vida de Chico Xavier é prova disso. Em dois meses, foram 3 milhões de espectadores, sinal de que a doutrina dos espíritos estáem
alta. E tem mais
filme sobre o assunto vindo por aí. Não falo mais nada para não dar asa a
cobra. Fato é que os 450 livros,
supostamente “psicografados” pelo “médium”, já venderam mais de 18 milhões de exemplares. Chico Xavier é o campeão
das letras espíritas, devido a uma série de fatores, como sua origem humilde:
pobre, estudou apenas até a quarta série do ensino primário. Por isso, ao
contrário das obras filosóficas de Kardec, seus escritos são extremamente
acessíveis, com princípios doutrinários rudimentares;
seu caráter desprendido (doou toda a renda de seus livros à caridade, montou
centros assistenciais e vivia de maneira modesta) e sua compleição física
frágil ajudaram a moldar um ar de santidade, venerado
por seus seguidores. Diariamente, devotos de vários pontos do país dirigem-se
até Uberaba simplesmente para rezar diante de sua estátua. Muitos chegam a
atirar cartas por cima do muro da casa do falecido, transformada em museu.
Para a mídia, a imagem de Chico Xavier, capaz de reunir pessoas de vários credos e ainda lhes dar esperança, é um alavancador de audiência. Não é a toa que novelas que exploram tema mediúnico são recorrentes na rede Globo. “A viagem” , “Alma gêmea” e “Escrito nas estrelas” exploraram esse filão. A vice-presidente da União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE-SP), Júlia Nezu, acha que Chico Xavier “veio para popularizar o espiritismo. Sua missão na terra foi de exemplificar o amor e decodificar a doutrina”, filosofa. Para ela, o sucesso dos temas espíritas reflete uma busca moderna: “As pessoas estão cansadas do materialismo e têm procurado uma resposta transcendental. O espiritismo traz essa resposta”.
O sucesso recente do filme sobre a vida de Chico Xavier é prova disso. Em dois meses, foram 3 milhões de espectadores, sinal de que a doutrina dos espíritos está
A caridade é a bandeira mais vistosa do espiritismo. Fazer o bem é a receita da
perfeição – crença expressa no slogan “fora
da caridade, não há salvação” –
na verdade, um trocadilho com a doutrina católica que diz que “fora da igreja (católica, obviamente) não há salvação”. Mas embora
alguns defensores tentem intelectualizar o credo dizendo que se trata de uma
doutrina científica, um anzol para fisgar novos adeptos é a emoção. “O
espiritismo mexe com os sentimentos e emoções das pessoas. Afinal, qual a mãe
que não gostaria de falar novamente com um filho morto?”, diz Manoel Castillo,
com a experiência de ter sido espírita por mais de uma década. A favor dessa opinião,
sabe-se que depois de guerras e catástrofes há um surto de “aparições” de
espíritos mandando recados do além, o que acaba seduzindo os vivos que perderam
entes queridos. Foi assim após a Guerra Civil americana, foi assim após a
Guerra do Paraguai, após a I Guerra Mundial e por aí afora. “Acontece que
as pessoas são enganadas. A história que se conta por lá é muito bonita, mas a
verdade é que os chamados ‘espiritos do bem’ são demônios”, diz Manoel
Castillo.
O testemunho é semelhante ao de muitos outros. O envolvimento inicial com a fé
espírita começa com uma alegada mediunidade. Graça, esposa de Manoel, conta que
chegou a ter contato com o que considerava espíritos de luz. Quantos espíritas
– e ex-espíritas também – não contam que seu primeiro contato com esse credo
pseudo-científico foi por meio de alguém que afirmava ser o prosélito um
“médium”, que precisava “se desenvolver”?
O pastor Milton Vieira da Silva, do Ministério Rhema e autor do livro “Espiritismo – Conhecendo os cultos afro”, diz que o principal problema da doutrina espírita é a redução do papel de Jesus, o que desautoriza o conjunto de crenças espiritualistas como cristãs. “Eles veem Cristo como um dos melhores profetas, um mestre iluminado por excelência e o melhor homem que já existiu – menos como Senhor e Salvador da alma humana”. Vale dizer que o islamismo também vê Jesus dessa forma. Portanto, assim como o islamismo, o espiritismo não pode ser considerado uma religião cristã, pois nega os principais ensinamentos cristãos: o pecado original, a queda, a salvação propiciada pelo sacrifício de Jesus na cruz, o diabo e sua influência, o céu e o inferno. Para o espiritismo,
o diabo e os demônios são espíritos desencarnados que ainda não evoluíram; não há céu nem inferno, e o homem, em última instância, não depende de Cristo, mas de si mesmo, pois evolui graças às boas obras praticadas em cada encarnação. Sua explicação para a existência do mal é que quem sofre está sendo purgado do mal que praticou em outra vida. Poucos ensinos poderiam ser mais anti-bíblicos do que esse!
O pastor Milton Vieira da Silva, do Ministério Rhema e autor do livro “Espiritismo – Conhecendo os cultos afro”, diz que o principal problema da doutrina espírita é a redução do papel de Jesus, o que desautoriza o conjunto de crenças espiritualistas como cristãs. “Eles veem Cristo como um dos melhores profetas, um mestre iluminado por excelência e o melhor homem que já existiu – menos como Senhor e Salvador da alma humana”. Vale dizer que o islamismo também vê Jesus dessa forma. Portanto, assim como o islamismo, o espiritismo não pode ser considerado uma religião cristã, pois nega os principais ensinamentos cristãos: o pecado original, a queda, a salvação propiciada pelo sacrifício de Jesus na cruz, o diabo e sua influência, o céu e o inferno. Para o espiritismo,
o diabo e os demônios são espíritos desencarnados que ainda não evoluíram; não há céu nem inferno, e o homem, em última instância, não depende de Cristo, mas de si mesmo, pois evolui graças às boas obras praticadas em cada encarnação. Sua explicação para a existência do mal é que quem sofre está sendo purgado do mal que praticou em outra vida. Poucos ensinos poderiam ser mais anti-bíblicos do que esse!
Suas obras assistenciais são de fato úteis à sociedade, mas também os
evangélicos realizam grandes obras em favor
do próximo, como igrejas e organizações não-governamentais de caráter cristão,
como Exército de Salvação, Visão Mundial, CCF e outras; mas sem objetivo de se
conseguir subir degraus rumo à perfeição. O apóstolo João disse que se amamos a
Deus, a quem não vemos, devemos revelar isso em favor do nosso próximo, que
vemos e com quem convivemos.
Estudiosos já identificaram a origem do espiritismo no tempo com as tentativas
humanistas de explicar a realidade sem Deus. Aproximadamente na mesma época de
Kardec, surgiram ideias que buscavam entender o homem e a natureza, como as
teorias econômicas de Marx, os primeiros insights do que depois viria a ser a
psicanálise, e também a tentativa de explicação da origem da vida sem o
Criador, com Darwin. O espiritismo, no fundo, não é nada mais e nada menos do
que a teoria da evolução adaptada à faceta espiritual do ser humano.
Pesquisador de religiões e seitas há mais de 50 anos, o pastor Natanael Rinaldi, do Instituto de Estudos Cristãos (ICP), começou a estudar o espiritismo de Allan Kardec na mesma ocasião em que passou a se dedicar à apologética. Para ele, o caráter abrangente do espiritismo é apenas uma maneira sutil de se envolver nos meios religiosos com a finalidade de ter mais fácil aceitação, como se fosse também uma religião cristã. “O que não é verdade”, afirma. “Qualquer movimento religioso que alegue ser cristão deve ter seus ensinos confrontados com a Palavra de Deus para se verificar a veracidade dos mesmos”.
Pesquisador de religiões e seitas há mais de 50 anos, o pastor Natanael Rinaldi, do Instituto de Estudos Cristãos (ICP), começou a estudar o espiritismo de Allan Kardec na mesma ocasião em que passou a se dedicar à apologética. Para ele, o caráter abrangente do espiritismo é apenas uma maneira sutil de se envolver nos meios religiosos com a finalidade de ter mais fácil aceitação, como se fosse também uma religião cristã. “O que não é verdade”, afirma. “Qualquer movimento religioso que alegue ser cristão deve ter seus ensinos confrontados com a Palavra de Deus para se verificar a veracidade dos mesmos”.
Quanto às sessões mediúnicas, em que os adeptos acreditam ter contato com
pessoas que já morreram, Rinaldi lembra que o apóstolo Paulo advertiu a igreja
de Corinto sobre a possibilidade de o próprio diabo e seus anjos
transfigurarem-se em anjos de luz: “Não são falecidos que se manifestam, mas
sim espíritos mentirosos que tomam seus lugares nas invocações. E o pai da
mentira é o diabo... Alguns grupos religiosos são mais suscetíveis à
doutrinação espírita, como católicos que adotam a religião dos pais, mas desconhecem
totalmente seus pontos básicos: são presas fáceis”. Mas ele alerta que também
muitos evangélicos estão nessa mesma situação: “Ignoram doutrinas bíblicas, não
leem as Escrituras, não participam de estudos bíblicos, não sabem responder
sobre a razão de sua fé”.
Talvez seja precisamente essa fraqueza da Igreja a causa do avanço de doutrinas
como a kardecista. A Igreja brasileira hoje tem se mostrado mais preocupada com a prosperidade própria
do que com a evangelização, a exposição da Bíblia como Verdade Eterna, a
existência do pecado, do diabo e do risco
real de se ir para o inferno caso se considere Jesus como apenas “um bom
homem”. Enquanto os cristãos estiverem trazendo impureza para dentro do
arraial, como elementos importados de outros credos – rosa ungida, copo de água
abençoada, banho “das sete águas”, sabonete consagrado, vassoura benzida, roupa
da pessoa amada e outras bizarrices – o Brasil poderá mesmo ser a maior nação
espírita do mundo.
E aí, como ficariam os que vivem fazendo atos proféticos dizendo que “o Brasil
é do Senhor”, que “estabeleceu um novo governo”, e que “um tempo novo começou”?
Melhor seria que abandonassem logo essa conversa
fiada e fizessem algo que preste, engajando-se num esforço evangelístico,
abrindo mão de seus aviões de luxo, seus carrões, suas mansões, e gastando o
tempo que lhes resta para “salvar alguns, arrebatando-os do fogo” (Judas 22,23).