Calma.
Não é que
o maior profeta do judaísmo seja ou tenha sido uma pessoa pior do que o patriarca que
construiu a arca. Nem vice-versa. É que o filme que retrata a história do Êxodo
sob a ótica do diretor Ridley Scott consegue superar, em heresias e invenções
bizarras, o outro de Darren Aronofsky, que o precedeu em alguns meses. Já muito
se discutiu sobre o cinema ser uma visão artística e, portanto, poder comportar
certas licenças poéticas. Eu discordo um pouco, pois o cinema, pelo menos o americano,
diferentemente do europeu (que é visto por seus realizadores como obra de arte)
é eminentemente um produto industrial. E como tal, segue as regras do mercado.
Busca atingir certos objetivos de venda (bilheteria superar o custo de produção
já é um bom sinal, e o que passa disso – merchandising, licenciamentos, vendas para
TV, DVD, blu-ray etc. é mais que bem vindo). Procura atingir um duvidoso “gosto
médio”, aquela parcela da audiência que podemos classificar como “medíocre” no
sentido exato da palavra – a que está “na média”. E por estar nessa “média”,
não tem muito senso de valor estético ou artístico, está interessada apenas na
diversão, no “fast food”.
Vamos
combinar uma coisa: ambos extrapolam, e
muito, o texto original, ou seja, o texto bíblico foi em grande parte
desrespeitado, tido como apenas uma “leve inspiração”, que serve mais para dar
às pessoas dúvidas sobre o caráter e a vontade de Deus do que criar pelo menos
um interesse pela Bíblia. Trata-se a Palavra de Deus como um conto de fadas, uma
coleção de mitos antigos.
Vejamos. O Noé do filme, ao contrário do Noé bíblico, não entendeu direito a mensagem que Deus mandou dar ao povo de sua
época. Não pregou a possibilidade de salvação a ninguém, e ainda por cima quis
matar membros de sua família!
O filme
procura fazer uma média com evolucionistas e
com os criacionistas, ao apresentar uma versão mezzo-pepperone/mezzo-calabresa da origem da vida: Deus criou o
mundo, deu corda e foi pescar, deixando que as criaturas “evoluíssem” por si
próprias.

Nem vou
discutir muito, por ora, a questão dos “gigantes de pedra”,
cuja aparição deixa a entender que os anjos caídos serão redimidos, e ainda por
cima, por suas próprias boas intenções e boas obras. Veremos isso depois quando
discutirmos os nefilins e os “gigantes da antiguidade”.

Tubalcaim
entrando na arca por uma passagem lateral é outro absurdo, pois sabemos pela
Bíblia que ninguém se salvou, fora a família de Noé. Tudo bem que Tubalcaim
morre no filme, mas não há espaço para se acreditar que alguém poderia “pegar
carona” na arca (como no telefilme tosco com Jon Voight no papel do patriarca, foto logo
mais abaixo).


A sua
fúria cessou quando ele viu a presença de
Deus na sarça ardente. Mas esse episódio
no filme dá a entender que foi uma alucinação decorrente de uma pancada na
cabeça... Nada sobre “tirar as sandálias dos pés”, porque o lugar era santo
(Êxodo 3:5).
O “deus”
que aparece para Moisés como um “amiguinho
imaginário” é uma piada. Tudo bem que se procurou fugir da imagem de um velho
barbudo ou de efeitos especiais (como no filme “Os Dez Mandamentos”, de 1956,
com Charlton Heston e Yul Brinner nos papéis principais), mas o menino deste
filme de agora, além de confuso nas suas “ordens”, é muito chato.
E é
risível a discussão de Moisés com “Deus”
acerca de quais artigos deveriam constar da “lei”. Moisés chega a dizer que se
não concordasse com elas nem se daria ao trabalho de escrevê-las na pedra!

Neste “Exodus”, Jetro já usava as roupas de sacerdote muito antes de aparecer a Lei, dando a entender que
Moisés as copiou para os hebreus depois (ao contrário, Deus é que instituiu
todos os paramentos, e antes não havia nada parecido); ver Êxodo 28:14-43.
É bem
verdade que a história da sua adoção foi
respeitada. É verdade que a Bíblia nada diz sobre a infância e juventude de
Moisés, e a sua carreira militar é até plausível. Como eram, aliás, os pendores
arquitetônicos do Moisés de Charlton Heston. Naquele filme há histórias
paralelas que poderiam ter acontecido, sem nenhum prejuízo ao relato bíblico,
por exemplo, Josué salvando a mãe verdadeira de Moisés, e sendo o pivô do crime
cometido por este. Ou os futuros rebeldes israelitas já criando caso desde o
início, mostrando seu “mau-caratismo”, instigando o povo ao pecado. Isso, na
verdade, pouco importa, porque não está em contradição com a Bíblia. Mas se
Moisés tivesse treinado revolucionários, com certeza a Bíblia relataria, até
porque, no filme, eles falham miseravelmente. Seria uma lição e tanto o próprio
Moisés (que escreveu o relato do Êxodo) mostrar que a tentativa humana
fracassa, mas quando Deus entra no negócio a coisa funciona.

Ainda que
o “deus-menino” emburrado pareça controlar tudo à sua
maneira, de que serviria fazer um monte de prodígios se os egípcios não
reconhecessem a sua mão por trás dos eventos? Muitos deixam escapar um
importante significado das pragas, cujo propósito foi, além de forçar a
libertação dos hebreus, justamente mostrar que o poder de Deus é superior ao
dos homens, dos magos, e das entidades que eles adoravam como deuses. As 10 pragas tiveram grande importância sobre
os habitantes do Egito. Deus estava desafiando os “deuses egípcios”. É simples.

Água transformada
em sangue (Êxodo 7:14-24) – A primeira praga causou desonra ao deus Hápi. A morte dos
peixes no Nilo foi também um golpe contra a religião local, pois certas
espécies de peixes eram realmente veneradas e até mesmo mumificadas.
Rãs (Êxodo 8:1-15) – A rã, tida como símbolo da fertilidade e
do conceito egípcio da ressurreição, era sagrada para a deusa Heqt. Assim, a
praga das rãs trouxe desonra a esta deusa.
Piolhos (Êxodo 8:16-19) – A terceira praga resultou em os
sacerdotes-magos reconhecerem a derrota, quando se viram incapazes de
transformar o pó em insetos. Atribuía-se ao deus Tot a invenção da magia ou das
artes secretas, mas nem mesmo essa entidade pôde ajudar os sacerdotes-magos.
Moscas (Êxodo 8:20-32) – A linha de demarcação ficou nitidamente traçada daqui em
diante. Enquanto enxames de moscas invadiam os lares dos egípcios, os
israelitas na terra de Gósen não foram atingidos. Nenhum “deus” pôde
impedí-la, nem mesmo Ptah, “criador do universo”, ou Tot, senhor da magia.
Peste
sobre bois e vacas (Êxodo 9:1-7) – Humilhou deidades tais como Seráfis (Ápis), deus sagrado de
Mênfis do gado, a deusa-vaca Hator e a deusa-céu Nut, imaginada como uma vaca com as estrelas afixadas na barriga. Todo o gado do Egito morreu, mas o de
Israel sobreviveu.
Feridas
sobre os egípcios (Êxodo 9:8-12) – Deus nesta praga
zombou da deusa e rainha do céu do Egito, Neite. Moisés jogou o pó para o alto,
e surgiu um tumor ulceroso na pele do povo. Os magos também pegaram a doença e
não puderam adorar a sua deusa e padroeira. Israel novamente foi poupado.
Chuva de
pedras (Êxodo 9:13-35) – A forte saraivada
envergonhou os deuses que supostamente controlavam os elementos naturais, como Ísis
(deusa da água) e Osiris (do fogo).
Gafanhotos (Êxodo 10:1-20) – Uma derrota dos deuses que, segundo se
pensava, garantiam abundante colheita. Shu, deus do ar, e
Sebeque, deus-inseto, não puderam fazer nada.
Escuridão
total (Êxodo 10:21-23) – Com esta praga Deus
derrubou o deus principal do Egito, Rá, o deus-sol. A palavra Faraó significa
sol; ele era tido como um deus. O Egito ficou nas trevas durante três dias, mas
Israel tinha luz.
Morte dos
primogênitos (Êxodo 11-12) – inclusive entre os
animais dos egípcios, que resultou na humilhação suprema.
Os governantes do Egito chamavam a si mesmos de deuses, filhos de Rá
ou Amom-Rá, mas depois disto todos souberam que o Deus de Israel era o Senhor.
Deus destruiu todo deus falso do Egito. Na morte do primogênito Deus mostrou
que Ele tem na Sua mão o poder da morte e da vida. Enquanto o Faraó tinha pretensão de
ser adorado, de ser uma divindade, e o primogênito era em potencial um faraó (pois era o herdeiro do trono), Deus desmascarou a falsa deidade tanto do Faraó como de seu
filho.
Mas nada
disso se vê em produções hollywoodianas
modernas. Claro. Não admitiriam isso nem debaixo de pragas... que aliás, é o
que vai acontecer durante a tribulação que se aproxima (ver Apocalipse 9:20-21
e 16:9-11).
Dito tudo
isso, por mais que se queira dizer que
filmes são “licenças poéticas”, sou de opinião de que Bíblia não admite tais
devaneios. Prefiro ficar com a “versão original”, pois deduzi que, ao ver essas
“obras de arte”, joguei fora umas quatro horas de meu tempo e um bom punhado de
dinheiro.
Nota: esta parte final, das 10 pragas e os deuses do Egito, veio de um estudo na Internet cujo autor não me lembro. Se o próprio autor ou alguém me avisar eu adiciono o devido crédito.
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Nota: esta parte final, das 10 pragas e os deuses do Egito, veio de um estudo na Internet cujo autor não me lembro. Se o próprio autor ou alguém me avisar eu adiciono o devido crédito.
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