Escrevo estas palavras no início de julho de 2012. Segundo disseram, faltam menos de seis meses para o fim do mundo. Já houve até quem vendesse tudo, se preparando para a hecatombe final.
Enquanto isso,
seguem usando
o termo “apocalipse” para descrever as catástrofes, em especial as mais
devastadoras, como se crê que acontecerão antes do Natal. Mas a palavra, ao
contrário do que diz o senso comum, não significa “destruição”. A palavra
apocalipse, do grego αποκάλυψις, apokálypsis,
significa “revelação”, formada por "apo",
tirado de, e "kalumna", véu.
Um “apocalipse”, na terminologia do judaísmo e do cristianismo, é a revelação
divina de coisas (que até então permaneciam secretas) a um profeta escolhido
por Deus. Por extensão, passou-se a designar de “apocalipse” aos relatos
escritos dessas revelações. Não por acaso, em inglês o nome desse livro é “Revelation”, termo com
o qual se inicia: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e, enviando-as pelo seu
anjo, as notificou a seu servo João” (Apocalipse 1:1).
Muita gente se confunde quando o assunto é “o fim
dos tempos”, e costuma-se misturar predições sobre a Igreja com as relacionadas
a Israel, em razão de argumentos como “a Igreja é o novo Israel de Deus”,
“Israel não aceitou o Messias e por isso suas bênçãos agora foram transferidas
para a Igreja”, e similares. Daí decorrem erros grotescos que fazem muitos
descrerem das profecias, não quererem estudar o assunto, terem aversão por
Apocalipse etc. Mas antes do Apocalipse, existe o sermão profético de Jesus,
que lança muita luz sobre o último livro da Bíblia.
As instruções de Jesus aos discípulos sobre o fim dos
tempos aparecem em Mateus 24 e 25, Marcos 13 e Lucas 17:20-37. Esses são alguns
dos textos mais importantes da Bíblia, porque não apenas nos apresentam o
último discurso de Jesus, mas também o Seu ensinamento profético mais extenso. O
Sermão Profético revela como Ele interpreta as passagens proféticas do Antigo
Testamento a respeito de Israel e das nações. Ele serve como um inspirado
esboço dos eventos do fim dos tempos. Além disso, explica o julgamento divino
de Israel, especialmente sua restauração prometida no advento do Messias e Seu
reino.
Se interpretado adequadamente, o Sermão Profético permite à
Igreja dos dias atuais distinguir a si mesma da nação de Israel na Tribulação –
o futuro “tempo da angústia de Jacó” – e dos eventos que vão caracterizar esse
período anterior ao retorno de Cristo (segunda vida ≠ arrebatamento). Muita
confusão vem da falha em entender que o Sermão Profético envolve Israel, e não
a Igreja. E refere-se ao tempo futuro, não ao passado – como querem os
preteristas, que dizem que tudo já se cumpriu.
Mateus 24:1-14 explica o panorama histórico (v. 1-3) que precipitou o
discurso profético e descreve os sinais, ou “dores de parto” (juízos divinos da
Tribulação, v. 4-13) e a evangelização global que será proclamada nesse período
(v. 14).

Talvez também pensassem, como Aristéias em sua carta a
Filócrates datada de 101 a.C.,
que o Templo era inviolável e invencível. Por isso, tentavam compreender as
afirmações de Jesus sobre o juízo. Em todo caso, Jesus recorreu a ambas as
idéias, dizendo que tudo ruiria violentamente no tempo do juízo. É
possível que os discípulos pensassem que Jesus se referia à profecia de Zacarias:
o Senhor destruiria as nações gentias e estabeleceria o reino messiânico (Zacarias
14:3-9). Eles acreditavam que esses eventos já estavam em andamento e logo
viria a revelação pública de Jesus e o Seu reinado como Messias.



Essa foi a mesma mensagem inicialmente pregada por João
Batista e por Jesus durante Seu ministério terreno. Entretanto, “o evangelho do
reino” não poderá ser proclamado novamente até que Israel retorne aos limites
cronológicos da 70ª semana de Daniel. É isso que muitos – inclusive pastores –
não entendem e confundem tudo. Já ouvi pastores dizendo, em tom de ameaça a
suas congregações, que só quem perseverar até o fim é que será salvo (Mateus
10:22 e 24:13, e também Marcos 13:13). Confundem a atual era da graça, da Igreja,
com a Tribulação; o evangelho da graça e o evangelho do Reino; a salvação pela
graça e a salvação pelas obras. Ora, se a minha salvação depende da minha
perseverança, logo já não é pela graça, mas pela minha obra de perseverança.
Portanto, como vivemos na era da graça, essa afirmação não diz respeito à
Igreja. O termo grego para “mundo” em Mateus 24:14 inclui, de fato, os gentios,
mas temos que lembrar que nesse tempo a Igreja não estará mais sobre a Terra,
pois já terá sido arrebatada, doa a quem doer.
É o “mundo” que Cristo virá julgar (Atos 17:31), implícito na frase “Então virá o
fim” (Mateus 24:14).
Essa evangelização global não ocorreu entre 25 ou 30 anos após a ascensão de
Cristo, e nem a Grande Comissão foi cumprida até 70 d.C., como afirmam os preteristas.
É importante notar também que “então virá o fim” está no contexto da
Tribulação, quando a Igreja não mais estará sobre a face da Terra – daí que a
tarefa dessa evangelização mundial, quando “será pregado este evangelho do reino por todo o mundo”,
será levada a cabo não pelos crentes de hoje, mas pelos santos da Tribulação e
pelos anjos. Não faz sentido “pregar o evangelho para apressar a vinda de Jesus...
e então virá o fim”. Devemos pregar hoje para salvar alguns, “arrebatando-os
do fogo” (Judas 23), justamente para que possam escapar da
Tribulação!
Depois disso, isto é, o arrebatamento da Igreja, os julgamentos da
Tribulação vão cumprir a promessa da profecia entregue a Jeremias, de que
Israel “será
livre dela” (Jeremias
30:7).

O que nos cabe é estar alertas e preparados,
pois “bem aventurado é aquele servo a quem o seu senhor, quando
vier, achar assim fazendo [vigiando constantemente]” (Mateus 24:46).
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