Há muitos anos atrás, eu costumava ir sempre – toda semana, pelo menos – a uma lagoa. Às vezes eu ia lá várias vezes por semana. Uma fonte de águas profundas alimentava essa lagoa, que não era grande, mas com certeza era profunda. A gente podia mergulhar bastante, e com isso aprendia a nadar cada vez mais longe e mais fundo. A água era pura.
Com o tempo, a lagoa foi se expandindo, mas como a quantidade de água era sempre a mesma, a profundidade foi diminuindo, diminuindo, diminuindo, até que a lagoa ficou grande, muito grande, e a água foi ficando cada vez mais rasa. Já não dava para mergulhar, mal mal dava pra molhar a sola dos pés. Ficou cheia de entulho: areia, lata de salsicha, garrafa de plástico, pneu velho: porcarias que jogaram para dentro da lagoa. Onde era cheio de vida, acabou ficando tudo estagnado.
Ainda há vida, claro, sempre há: mas cada vez menos peixe, e cada vez mais sapos e cobras. Os poucos peixes que ainda podem ser vistos são como tubarões – grandes, vistosos, se acham poderosos e tomam conta do panorama. Tubarões e seus filhotes. São poucos, pois é o tipo de peixe que não tolera concorrência. Eles dominam a área. A lagoa virou o seu território, o seu reino: e ai de quem ousar desafiá-los. Se aparece algum outro peixe que ameaça crescer um pouquinho, que aparece um pouco mais do que os outros, logo logo os tubarões dão um jeito de sumir com ele.
Ainda há vida, claro, sempre há: mas cada vez menos peixe, e cada vez mais sapos e cobras. Os poucos peixes que ainda podem ser vistos são como tubarões – grandes, vistosos, se acham poderosos e tomam conta do panorama. Tubarões e seus filhotes. São poucos, pois é o tipo de peixe que não tolera concorrência. Eles dominam a área. A lagoa virou o seu território, o seu reino: e ai de quem ousar desafiá-los. Se aparece algum outro peixe que ameaça crescer um pouquinho, que aparece um pouco mais do que os outros, logo logo os tubarões dão um jeito de sumir com ele.
Então só resta lamentar: como é que deixaram acontecer isso com aquela lagoa tão bonita, onde as pessoas vinham beber, se refrescar, mergulhar, aprender a nadar?
Naquele tempo, a lagoa fazia diferença – para melhor. Hoje ela ainda chama muita atenção. Ocupa espaço, é larga. Dá até para ver de satélite. Mas é rasa, não tem nenhuma profundidade. Muitos que olham para ela já a haviam visto antes, mas agora se escandalizam e dizem: “o que aconteceu? Não é a mesma lagoa de outrora; aquela outra, antiga, acabou?”
Os batráquios que se reviram na areia úmida acham que está tudo muito bem: não sabem o que é nadar em águas profundas. Não sabem o que é beber água pura. Não sabem diferenciar peixe de cobra. Quando chegaram do deserto, meio mortos, isso foi tudo que encontraram. A única água que acharam foi essa água suja, mas não tiveram opção.
Na verdade, essa lagoa de agora não tem muita diferença do deserto. Tem mais areia do que água, e a pouca água é rasa e suja, mas... fazer que? É só isso que restou.
Tomara que apareça Alguém que restaure a lagoa ao que era antes, com água pura, que venha de uma Fonte Viva, que a torne novamente profunda, rica, que dê de beber ao viajante cansado, para que ele possa não só molhar a sola dos pés, mas mergulhar cada vez mais fundo na Água da Vida.
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