sábado, 28 de fevereiro de 2009

Você = apologista?

Apologética é a defesa racional do Cristianismo Bíblico. O Cristianismo é uma fé embasada sobre as razões dessa fé. A fé não é a razão e a razão não é fé. Mas a fé não pode ser dissociada da razão para que não deixe de existir. É a compreensão da mente e o assentimento a essa compreensão que estabelecem o campo de ação, a fim de que o Espírito de Deus regenere a alma e implante a fé. Como Deus é racional em seu trato com os homens, Ele fez os homens com uma mente racional. Isso não significa que os cristãos devam ser racionalistas, mas sim, racionais.
Apologética é a defesa bíblica racional de Jesus Cristo [como Deus] e de Sua Palavra contra filosofias, as seitas e as religiões, as quais pululam neste mundo, contestando a veracidade, a infalibilidade e a vontade de Deus revelada na Bíblia.
Não é de admirar que os Puritanos tenham sido excelentes na defesa racional da Bíblia, entrincheirando-se na lógica ou racionalização de Pierre Ramee (também conhecido como Petrus Ramus, 1515-1572). Esse tipo de lógica provê ao escritor a habilidade de escrever cada ponto considerado de grande importância, com exímia precisão. Quando ele o faz, não somente a fé entregue aos santos, para a edificação dos mesmos, como as objeções à fé são respondidas, para a credibilidade da Bíblia. Essas respostas não devem consistir apenas de citações textuais, mas de exposições do texto exegético, a fim de deixar o ouvinte atingido por um sentimento agradável, como se cada dúvida tivesse sido coberta, ou até mesmo exaurida.
Isso é ter (se pudesse haver de fato) um domínio do texto bíblico à disposição. Mas, além do domínio do texto bíblico, o exegeta habilidoso deve lançar mão da Apologética - que é a filosofia racional. A filosofia equivale a Agar para Sara. Enquanto Agar não começa a se exaltar sobre sua senhora (Sara), ela é uma útil auxiliar da mesma. A Apologética Bíblica Racional vai casar a verdade da Palavra de Deus com a verdade das leis naturais da filosofia racional, a fim de poder refutar, atestar e convencer o oponente do seu erro.
A vã filosofia do mundo há de conter sempre cinco elementos:
1 - Dizer que a Bíblia, é um livro útil, mas não a Palavra de Deus inspirada. O Catolicismo Romano atesta que a Bíblia é divina, mas coloca a sua Tradição em pé de igualdade - e até de superioridade - com a mesma, decidindo interpretá-la a seu modo.
2 - Negação da mensagem de Cristo no Evangelho Bíblico sobre o Seu completo sacrifício vicário em favor dos eleitos, limitado em escopo, porém não em seu poder.
3 - Negação de que o pecador é moralmente corrupto, morto em pecados, sem a mínima capacidade de aspirar ao bem espiritual ou se voltar para Cristo, a fim de arrepender-se.
4 - Negação da soberania absoluta de Deus em todas as áreas da ordem criada.
5 - Uma visão desorganizada e distorcida (ou visão nenhuma) a respeito de Deus, em geral.
Todo cristão tem o dever de ser um apologista. Alguns cristãos logo fogem dessa obrigação, antes mesmo de conhecer o significado do termo. Um apologista não é simplesmente alguém que se desculpa pela sua fé, mas alguém que é exortado “a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Judas 3). É uma ordem de Deus que o cristão obedeça à 1 Pedro 3:15, que diz: “Antes, santificai ao SENHOR Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”. Portanto, uma pronta defesa da fé é exigida do cristão. Isto não significa que ele deva ser um ”teólogo profissional”, a fim de ter uma resposta engatilhada para o oponente. Contudo o cristão, pelo menos, deveria estar preparado ou pronto para fazer uma defesa de sua fé.
A predisposição de cair numa teologia pós-gnóstica - favorecendo as crenças da Nova Era - tem sido uma tendência da atualidade. Oscilar sobre uma espécie de fé embasada em sensações e experiências é bem mais fácil para o cristão contemporâneo do que estar preparado para uma defesa racional da fé que ele diz possuir. Para ele é bem mais fácil dizer o mesmo que disse o cego de nascença (João 9:25): “uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo”, confiando mais na experiência do que na explicação racional de sua fé. Mesmo assim, ele ainda pode apelar ao absurdo de um questionamento à sua experiência com a frase típica dos incapazes: “Quem é você para questionar a minha experiência?”, embora isso aconteça simplesmente por causa da sua desinformação, ou até por ter ele entrado num evangelho gnóstico.
Cristo convoca os verdadeiros cristãos a muito mais do que isso. Ele nos convoca a preparar um defesa da fé que Ele nos confiou. Isso quer dizer que não somente devemos ter uma defesa preparada, como precisamos saber exata e amplamente o que estamos defendendo. “E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus. Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano. E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos” (Atos 19:8-10).
Como vemos, Paulo arrazoava diariamente com os judeus na escola de um certo Tirano. Ele não fazia um simples apelo como é hoje a praxe nas igrejas evangélicas para que o pecador entregasse a sua vida a Cristo. Na verdade, algumas igrejas nem isso fazem mais... Mas Paulo apelava ao seu intelecto racional, cada vez mais freqüentemente. Leia o Sermão do Monte e os debates de Paulo, em Atos 14, e no Areópago, conforme Atos 17. Paulo conhecia muito bem o Velho Testamento, mas também convocava os seus ouvintes à consideração da teologia natural. Ele teria sido facilmente descartado pelos incrédulos nos debates em que se engajou com eles, caso não fosse um profundo conhecedor da Bíblia e fosse incapaz de apelar ao intelecto deles.
Existem dois elementos necessários para que o cristão fique pronto a fazer a defesa de sua fé.
O primeiro é o completo conhecimento da fé que ele professa. Por que os mórmons e as Testemunhas de Jeová pescam tantos cristãos no aquário alheio? Simplesmente porque sabem defender a fé que professam, mesmo sendo esta biblicamente deturpada. Infelizmente, muitos cristãos, que têm professado ser crentes há muito tempo não saberiam encontrar em sua Bíblia a narrativa da aparição de Deus, com os anjos cantando: “santo, santo, santo”. E as profecias sobre a morte de Cristo, contidas nos salmos, quais são? E a passagem que trata da fé no Novo Testamento? E a parábola do filho pródigo? Se você não sabe, - perdão, mas considere-se um quase analfabeto bíblico... Quantas vezes você já leu o Novo Testamento? Os textos supra citados são importantes, porém sempre negligenciados.
O segundo é que o apologista preparado deveria ter alguma idéia sobre as filosofias e ideologias mundanas, as quais sempre querem se exaltar sobre as Escrituras. Isto não é exatamente indispensável, mas ajudaria muito. E por que não é necessariamente indispensável? Hipoteticamente, é possível que, quando surgir um erro diante de um cristão, sendo ele bem versado na verdade, possa refutá-lo inteiramente pela Palavra de Deus. Porém esta é uma exceção e não uma regra.
Dentro do contexto atual da aversão ao que é racional, torna-se cada vez mais necessário que os cristãos tenham uma defesa organizada e bem preparada de sua fé, para a glória do Nome de Jesus Cristo, nosso Deus e grande Salvador.

Baseado em “Apologetics” - Dr. C. Matthews McMahon/Mary Schultze, 06/02/2008.
http://www.cpr.org.br/Quem_e_Apologista.htm