sábado, 13 de maio de 2017

Devemos orar por Sergio Moro?

Venho recebendo e-mails, mensagens de Whatsapp, tweets etc., que poderia chamar de “spams”, com textão com a foto do muso evangélico-conservador do Brasil, o ex-juiz Sergio Moro. O textão diz mais ou menos que tínhamos que orar por esse “homem corajoso” que combate a corrupção, e que o Brasil precisa de mais gente assim, e coisas do tipo. Ah sim, e que tenho que espalhar essa mensagem, tal e coisa.
Vamos por partes.
A priori, devemos sim orar pelo Sergio Moro. Não porque ele é alegadamente um paladino da ética, da moral e da probidade, um herói na luta contra a corrupção. Isso não significa muita coisa, porque antes dele inúmeros outros personagens assumiram essa fantasia e logo foram desmascarados. Eduardo Cunha, Demóstenes Torres, o “japonês da federal”. Todos se arvoraram em “xerifes” e depois foram pegos com a boca na botija (ou com a mão no bolso dos outros, se preferirem). Todos apoiadíssimos pelos evangélicos e/ou/mais os conservadores. OK, gosto é gosto. Teve também Joaquim Barbosa, que até onde se saiba teve contra si o envolvimento no caso Panama Papers, envolvendo compra de imóveis em Miami pelo valor simbólico de US$ 1, prontamente esquecido pela grande mídia e pelos admiradores. Sigamos adiante.
Devemos orar por Sergio Moro por um simples e único motivo. A Bíblia nos manda orar pelas autoridades constituídas. Ele é uma autoridade (ou pelo menos foi). Devemos orar por ele. Ele é um juiz, um magistrado, uma pessoa designada para administrar a Justiça. Ou era.
O que é Justiça?
Buscando uma definição rápida e simples (se fosse possível) acha-se na Wikipedia (mas pode ser em qualquer dicionário ou enciclopédia) que trata-se de
“um conceito abstrato que se refere a um estado ideal de interação social em que há um equilíbrio, que por si só, deve ser razoável e imparcial entre os interesses, riquezas e oportunidades entre as pessoas envolvidas.
Em um sentido mais amplo, pode ser considerado como um termo abstrato que designa o respeito pelo direito de terceiros, a aplicação ou reposição do seu direito por ser maior em virtude moral ou material (...) por mediação através dos tribunais, através do Poder Judiciário.
Na Roma Antiga, a justiça era representada por uma estátua, com olhos vendados, visa seus valores máximos onde "todos são iguais perante a lei" e "todos têm iguais garantias legais", ou ainda, "todos têm direitos iguais". A justiça deve buscar a igualdade entre os cidadãos”.
Poderíamos questionar se Sergio Moro segue à risca esses preceitos, mas fica a seu critério analisar.
Sabemos que Deus ama a justiça. A Bíblia fala diversas vezes sobre o como a justiça dos homens deve ser perfeita, e como Deus abomina o juiz injusto.
Em I Reis 3:9, Salomão pede a Deus um coração reto e puro, para julgar o povo com sabedoria.
Provérbios 31:9 aconselha ao rei que julgue retamente o direito das pessoas.
Em Lucas 18, Jesus fala sobre um juiz “injusto”, que decidiu a favor de uma viúva não com base na lei ou na justiça, mas apenas para deixar de ser importunado.
Apocalipse diz que quando Ele regressar julgará o mundo “com justiça” (19:11).
Agora, de novo, a Bíblia manda orar pelas autoridades. Eu pergunto se esses mesmos que espalham essas “correntes” pedindo oração por Sergio Moro também pediram, em 2016, oração por Dilma Rousseff. Se entre 2002 e 2010 pediram oração por Lula. Ou se só agora descobriram que na Bíblia existe Romanos 13:1-7; I Timóteo 2;2-4 e outras passagens que mandam interceder pelas autoridades. Passagens essas que de tempos em tempos são abundantemente citadas nas redes sociais evangélico-conservadoras, para depois passar longo tempo esquecidas.
Devemos orar para que Sergio Moro seja guiado pela justiça, e não por outras motivações. Não é porque ele quer “prender o Lula” e “acabar com o PT”. Não. Ele não está ali para isso - ou está? Não vamos aqui julgar Sergio Moro, porque não somos juízes, e ele é (ou era). Não somos Deus, não podemos julgar os homens. Mas podemos julgar, analisar e criticar suas ações. Por exemplo, para que ele, como juiz, não tenha envolvimento com a fundação do PSDB paranaense, que realmente não tenha ligações com figuras políticas (que se depreende de suas constantes aparições ao lado de delatados como Aécio Neves). Que ele não tenha nenhuma ligação com o governo americano. Que sua esposa não tenha mesmo interesse no desmonte da Petrobras em favor de petroleiras multinacionais, clientes de seu escritório de advocacia. Que ela esclareça os escândalos envolvendo seu nome nas fraudes da APAE.
Mas devemos orar não apenas por Sergio Moro, mas também orar por TODA autoridade que estiver exercendo essa autoridade, não importa a sua cor partidária, ou se gostamos de sua autoridade ou não.
Para que, no final, “o efeito da justiça seja paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre” (Isaías 32:17). Porque “quando os justos governam, alegram-se o povo; mais quando o ímpio domina, o povo geme” (Provérbios 29:2, outro versículo que é alternadamente exibido e esquecido, dependendo de quem está no poder no momento).
O que mais se ouve atualmente, é o povo gemendo. Sinal de que...



799350