domingo, 5 de abril de 2009

Páscoa sim, mas "quaresma"...

A Páscoa (do hebraico
Pesach = passagem) é considerada, ao lado do Natal, uma das mais importantes festas da cristandade. Na Páscoa, os cristãos celebram a Ressurreição do Senhor, ocorrida nesta época do ano, quando Jesus foi condenado pelo governador (praefectus) romano Pôncio Pilatos. Como se sabe, esses fatos se deram durante o Pesach, ocasião em que os judeus comemoram a libertação e fuga de seu povo escravizado no Egito.

A palavra Páscoa advém do nome em hebraico ao qual a data cristã acabou intimamente ligada, não só pela posição no calendário, mas também pelo sentido simbólico de “passagem”. A última ceia de Jesus com os discípulos ocorreu, na verdade, na véspera, no “sêder do pesach” – antes da festa judaica, de acordo com os Evangelhos. Decerto, há similaridades entre as duas festas: assim como os judeus foram libertos, os cristãos são livres do pecado; assim como o sangue de um cordeiro, aspergido nos umbrais das portas, livrava da morte, o sacrifício de Jesus garante a salvação eterna do cristão. Na Sua infinita sabedoria, Deus preparou toda a simbologia judaica para apontar para o sacrifício definitivo e suficiente de Seu Filho na cruz.
Mas hoje a Páscoa está totalmente descaracterizada. O protagonista deixou de ser Jesus e passou a ser o coelho e montanhas de “ovos de páscoa”, para alegria das crianças e fábricas de chocolate. Os pretensos religiosos tentam passar uma imagem de santidade e contrição, evitando comer carne e elevando astronomicamente o preço do bacalhau.
O que isto tem a ver com a verdadeira Páscoa? E de onde vieram esses costumes? Será que os primeiros cristãos davam ovos uns aos outros? Pedro ou Paulo acaso dirigiram cultos de Páscoa? Os apóstolos faziam algum tipo de lamentação em honra da “paixão de Cristo”, com abstinências, jejum e dias “santos”? De onde veio a “sexta-feira da paixão”? Como surgiu a “quaresma”? A igreja primitiva comia bacalhau? Quem inventou a semana chamada “santa”?
Certamente as Escrituras jamais associaram a sexta-feira chamada “santa” com peixe. Na verdade, tudo aponta é para o mais baixo e vil paganismo. “Freya”, uma antiga divindade da paz, alegria e fertilidade, era simbolizada por um peixe. Curiosamente, dela vem o nome inglês “friday” (sexta-feira). Entre os chineses, o peixe também era símbolo da fertilidade, assim como para os assírios, fenícios, babilônios e outros povos, por uma simples razão: um prosaico bacalhau põe, anualmente, mais de 9 milhões de ovos! Um linguado, um milhão, o esturjão, 700 mil, e por aí vai. O peixe também era símbolo de Vênus, deusa do amor e da sensualidade. Seu dia sagrado era a sexta-feira, quando se comia peixe em sua honra. O peixe também era visto como sagrado para Astarote, deusa fenícia que chegou a ser adorada por israelitas apóstatas na Antiguidade.
Também no idioma inglês, a palavra que designa a páscoa é “easter”. A tradução correta seria feita a partir da palavra grega “pascha”, que não tem tem qualquer relação com “easter”; ora, sabe-se muito bem que “easter” não é uma expressão cristã. Não é nada mais nada menos do que a forma moderna de “Eostre” (uma deusa germânica da primavera, homenageada todos os anos no mês de Eostremonat), “Ostera”, “Astarte”, “Astarote” ou “Ishtar”.
Outro lamentável costume vem de tradições que em nada revelam Cristo: os ovos “de páscoa”, coloridos e alegremente comidos por crianças inocentes e adultos descontrolados. Mas de fato isto vem de outro mito, segundo o qual um ovo enorme caíra do céu no Rio Eufrates, em tempos imemoriais. Deste ovo foi chocada a deusa Astarte (Easter). O mito se espalhou, e na Europa druídas celtas carregavam o emblema do ovo em suas cerimônias. Nos templos pagãos, ovos coloridos eram usados como símbolos da fertilidade. A procissão da deusa da agricultura, Ceres (de onde vem a palavra “cereal”) em Roma era precedida por um ovo. Na China se usavam ovos coloridos nos festivais sagrados. Entre os egípcios, associava-se o ovo ao deus do sol – um ovo dourado.
Durante a Idade das Trevas, quando catolicismo multiplicou suas superstições e adotou costumes pagãos, buscou-se “cristianizar” essas práticas, sugerindo que, assim como um pintinho sai do ovo, assim também Cristo saíra do túmulo. O “papa” Paulo V (1605-1621) mandou que se rezasse assim: “Abençoa, Senhor, esta tua criatura de ovos, para que se torne um sustento completo para teus servos, comendo-os em rememoração de nosso Senhor Jesus Cristo”! (Enciclopédia Católica, vol 5, p. 227, artigo “Páscoa”).
O mesmo ocorreu com o coelho. Um bichinho de estimação popularizado por sua imagem simpática, mas que acabou associado, de uma forma ou outra, a símbolo da fertilidade, com significado pesado de sexualidade e promiscuidade, e agora se misturou a uma das mais prezadas datas da Cristandade!
A sexta-feira chamada “santa” fica no final do período chamado “quaresma”, 40 dias de lamentações e penitências. Não há indícios disto na Bíblia; então, como surgiu essa aberração? Novamente, os que se arvoram os únicos intérpretes de Deus na Terra, lá de seus castelos em Roma, concordaram na mistura com as práticas pagãs.
Na Babilônia, a mãe de todas as idolatrias, havia uma lenda na qual Tamuz, o filho de Ishtar, após ser morto por um urso bravo aos 40 anos de idade, desceu ao mundo dos mortos; mas por causa do choro de sua mãe (também identificada como Semíramis, a esposa de Ninrode), foi misteriosamente revivido no início da primavera. Assim, a cada ano, a lamentação de Ishtar/Semíramis por Tamuz era reencenada para assegurar a fertilidade e o sucesso das colheitas. Quarenta dias de lamentações, um dia para cada ano de Tamuz sobre a Terra, acompanhados de jejuns, choro, penitências e flagelações! Israelitas rebeldes chegaram a participar desses rituais, sendo por isso condenados por Deus, conforme lemos em Ezequiel 8:12-14: “Então me disse: Viste, filho do homem, o que os anciãos da casa de Israel fazem nas trevas, cada um nas suas câmaras pintadas de imagens? Pois dizem: O Senhor não nos vê; o Senhor abandonou a terra. Também me disse: Verás ainda maiores abominações que eles fazem. Depois me levou à entrada da porta da casa do Senhor, que olha para o norte; e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando por Tamuz”.
Quando a colheita florescia na primavera, o povo entendia que era Tamuz retornando, acabando com o inverno e trazendo de novo o calor do sol. A Encyclopedia Britannica diz: “O cristianismo incorporou em sua celebração do grande dia de festa cristão muitos dos rituais pagãos e costumes do festival da primavera”! (vol. 7, pag. 859, artigo “Páscoa”). A Enciclopédia Católica afirma em seu volume 3, pag. 484, no artigo “Celibato”: “Escritores do quarto século tiveram a tendência de descrever muitas práticas – como o jejum da quaresma – como de instituição apostólica que certamente não tinha razão de ser vista assim”!
Existem, de fato, controvérsias acerca deste mito. Ralph Woodrow escreveu sobre isto em um livro baseado em Hislop, historiador do século XIX, mas depois de estudar mais profundamente verificou que nem tudo era verdade ou tinha bases históricas confiáveis. Até mesmo retirou de circulação o primeiro livro e escreveu outro “corrigindo “ as falhas que percebera; mas são intrigantes as semelhanças entre antigos mitos e as cerimônias “cristãs” da atualidade!
Em todo caso, não é estranho alguma tribo ou povo pagão observar jejum em honra de um ídolo e os “cristãos” fazerem o mesmo em honra a Cristo? Ainda que o ovo fosse largamente usado pelos pagãos, não poderíamos continuar o costume como se esse ovo fosse o sepulcro de onde sai o Senhor? Por que não adotar costumes idólatras e transformá-los em ritos “cristãos”? Parece muito lógico... mas a Bíblia (que as pessoas não ousam ler sem o consentimento do “sagrado magistério”) adverte:
“Quando o Senhor teu Deus exterminar de diante de ti as nações aonde estás entrando para as possuir, e as desapossares e habitares na sua terra, guarda-te para que não te enlaces para as seguires, depois que elas forem destruídas diante de ti; e que não perguntes acerca dos seus deuses, dizendo: De que modo serviam estas nações os seus deuses? pois do mesmo modo também farei eu. Não farás assim para com o Senhor teu Deus; porque tudo o que é abominável ao Senhor, e que ele detesta, fizeram elas para com os seus deuses... Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (Deuteronômio 12:29-32).
DOA A QUEM DOER.
(com referências de “Babilônia, a Religião dos Mistérios - Antiga e Moderna”, de Ralph Woodrow, 1966)