sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Tudo o que você sempre quis saber


Todos nós já estamos carecas de ouvir sobre o dízimo. Alguns são a favor, outros são contra, muitos dizem que ele enriquece pastores e empobrece o povo, sempre passado para trás por espertalhões. Não chego a tanto, mas uma coisa temos que admitir: somos chamados de ladrões praticamente todo domingo. Pregadores nos incitam a meter a mão no bolso, para não sermos alcançados por maldições. “Em que me roubais?”, perguntam, citando Malaquias; “nos dízimos e nas ofertas”, respondem com o mesmo texto. Entretanto, se prestarmos atenção, Malaquias foi claramente escrito como uma advertência aos sacerdotes daquele tempo, não ao povo em geral. Quem estava roubando a Deus eram os próprios sacerdotes! Já parou para prestar atenção?  
Isto muda tudo! Por favor, acompanhe atentamente e confira as referências bíblicas.
O TEXTO PREFERIDO: MALAQUIAS
Leia com cuidado: refere-se aos sacerdotes, cf. 1:6-14 e todo o cap. 2. Deus repreende os sacerdotes pelo mau uso dos recursos a eles entregues pelo povo. A expressão “a vós, sacerdotes” repete-se por todo o livro. O estilo de perguntas e respostas é uma marca registrada de Malaquias. Os sacerdotes perguntam e Deus responde: 
“Eu vos tenho amado, diz o Senhor. Mas vós dizeis: Em que nos tens amado?”; “Ofereceis sobre o meu altar pão profano, e dizeis: Em que te havemos profanado?”; “Todavia perguntais: Por que?”; “Tendes enfadado ao Senhor com vossas palavras; e ainda dizeis: Em que o havemos enfadado?”; “Mas vós dizeis: Em que havemos de tornar?”; “e dizeis: Em que te roubamos?”. Percebe o contexto?
O cap 3:7-12 conecta-se a Neemias 12:44, 47 e 13:10-13 (passagens que tratam dos levitas desamparados, pois os sacerdotes retinham para si os recursos que eram para os levitas, e os deixavam passando necessidades).
Quando os sacerdotes de Malaquias perguntam “em que roubamos”, a resposta de Deus remete a Neemias 10:28-39 (a promessa quebrada!); II Crônicas 31 mostra como era a distribuição dos dízimos, que deixara de funcionar no tempo de Malaquias por ganância dos sacerdotes. O profeta adverte a esses sacerdotes, que não distribuíam o dízimo para os levitas, mas ficavam com tudo!
Você é dizimista? Dá o dízimo uma vez por mês? Está errado e fora do mandamento!
Para cumprir a determinação você precisa dar não um, mas TRÊS DÍZIMOS!
Pois havia TRÊS DÍZIMOS, NÃO APENAS UM!
O primeiro dízimo era dos levitas, entregue a eles, anualmente. Não era entregue aos sacerdotes nem na Casa do Tesouro. Números 18:21 - 2 Crônicas 31:15, 19 - Neemias 10:37
Tanto os arautos do dízimo sabem disso que estão agora cobrando do povo 30%, justificando que é “10% para o Pai, 10% para o Filho e 10% para o Espírito”! Veja aqui!
Você dá o dízimo para a igreja administrar? Está errado!
O segundo
dízimo era para ser usado nas festas de Israel; guardado especialmente para essas ocasiões, era administrado pelo próprio dizimista. Não era entregue no Templo. Deuteronômio 12:17-18 e 14:23
O terceiro dízimo era para o sustento dos pobres. A cada 3 anos o dízimo das colheitas era destinado aos pobres, levitas, estrangeiros, órfãos, viúvas e demais necessitados. Também não era entregue em Jerusalém, no Templo nem na Casa do Tesouro, mas ficava guardado na casa do dizimista até a época da entrega aos pobres. Deuteronômio 14:28-29 e 26:12-13.
Você entrega o dízimo na “casa do tesouro”? Será que a CASA DO TESOURO é a igreja de hoje?
Primeiro: para os sacerdotes, era entregue apenas a primícia, não o dízimo.
Neemias 10:35 cf. Números 18:12-13 – as primícias da colheita entregues na Casa do Senhor (os primeiros frutos da terra, anualmente);
Neemias 10:36 cf. Números 18:15-18 – o animal limpo, primogênito, à Casa do Senhor;
Neemias 10:37 também ordena a entrega da melhor primícia (massa, vinho e azeite) às câmaras da Casa do Senhor.
Os levitas também eram dizimistas, e entregavam 10% do que recebiam aos sacerdotes. Neemias 10:37 ordena que os dízimos sejam entregues aos levitas em suas próprias cidades, não à Casa do Tesouro.
Segundo: o povo não levava o dízimo ao Templo, quem guardava na Casa do Tesouro (uma sala do Templo) até a distribuição eram os sacerdotes. Portanto, Malaquias 3:10 é endereçado aos sacerdotes, que recebiam o dízimo dos dízimos (dos levitas), e não 10% como cobram hoje. Eles não levavam o arrecadado para a Casa do Tesouro, mas roubavam para si mesmos! Esta é a mensagem de Malaquias!
E os levitas? Onde na igreja de Atos estão os levitas?
Números cap. 18 determina a porção dos levitas. 1 Crônicas 23:2-4 mostra que havia 38.000 levitas, sendo 24.000 trabalhando fora do Templo, 6.000 servindo como oficiais e juízes, 4.000 porteiros e 4.000 “músicos”. E só os levitas que estavam em serviço recebiam os dízimos. Na igreja de Atos não havia levitas.  
Há levitas hoje? Se há, não foi Jesus quem os instituiu; e se há, estão sendo sustentados pelos dízimos?
O DIREITO DOS SACERDOTES nunca foi de 10%! Se o dízimo todo era para ser distribuído entre: (a) pobres; (b) viúvas; (c) órfãos; (d) levitas; (e) estrangeiros; e se entendemos que os sacerdotes estão incluídos entre os “levitas”, veremos que a esse grupo (levitas + sacerdotes) caberia 1/5 do dízimo total arrecadado, ou 2% da oferta do contribuinte/dizimista. Isso não ocorre hoje: o “sacerdote” fica com os 10% e os “levitas” (que hoje são apenas músicos, mas não oficiais, juízes, artesãos, guardas etc.) nada recebem. Ou – de novo – tem alguma “igreja” sustentando “levitas”? Se tem, eu ainda não vi.
Se a Lei for seguida à risca, ao sacerdote cabe apenas 0,2% do total dizimado, porque isto é 10% do dízimo dos levitas (o dízimo dos dízimos); como os levitas receberiam, pela conta acima, 1/5 de 10% (=2%), os sacerdotes receberiam 0,2% do total “dizimado”.
Entretanto, Deus é justo e reservou aos sacerdotes da Velha Aliança não os dízimos, mas toda a oferta de primícias! Quando havia algum dízimo “extraordinário”, aos sacerdotes cabia apenas 0,2% e aos levitas 2%!
Veja Números cap. 31:25-31, 47.
Você dá o dízimo em dinheiro ou cheque? Está errado e fora do mandamento!
O DÍZIMO era pago só em produtos agrícolas (colheitas, frutos, cereais e outros vegetais, e animais como bois, cabras e ovelhas); nunca em dinheiro. Somente quem trabalhava com esses produtos agro-pastoris estava sujeito à entrega do dízimo. Indústrias e serviços (como carpinteiros, artesãos, fabricantes de tendas etc.) não eram obrigados a entregar o dízimo, assim como pescadores, caçadores etc. Mesmo judeus residindo fora de Israel estavam isentos da taxa, pois o dízimo ordenado pela Lei do Velho Testamento é um sinal de gratidão pela prosperidade que vem de Deus para a Terra Prometida. Deus é quem abençoava a terra, e o fruto da terra era ofertado sob a forma de dízimo. Não era aceito em dinheiro, somente quando o produto a ser dizimado não podia ser transportado (p. ex., animais levados a longa distância). Assim o animal era vendido e o dinheiro, após ser trocado no recinto do Templo, era entregue, ou então comprava-se outro animal pelo mesmo preço. Esse câmbio foi condenado por Jesus por ser razão de usura e exploração dos cambistas.
E as ofertas em dinheiro não faziam parte nem da Lei! O gazofilácio citado várias vezes no Novo Testamento (a oferta da viúva, do fariseu etc.) é para quem quisesse contribuir com a reforma do templo. No tempo de Jesus o Templo estava em reforma, e o gazofilácio permanecia. Não justifica a entrega de dízimos em dinheiro que hoje se verifica nas igrejas.
Entretanto, ouro, prata, jóias, tecidos e outros bens valiosos eram aceitos como oferta voluntária (como em Êxodo, na construção do Tabernáculo). Possivelmente, nas comunidades cristãs do Novo Testamento, ofertas em dinheiro fossem aceitas exclusivamente para ajudar os irmãos necessitados. Nunca iam para os bolsos dos apóstolos nem para o “templo cristão”, pois este se tornou desnecessário para a vida da igreja. Há sim vários relatos de coletas levadas pelos Apóstolos de uma a outra comunidade, em Atos e nas cartas aos Corintios.
CONCLUSÃO - As janelas do céu em Malaquias 3:10,11 são literais, cf. Deuteronômio 28:12 e Salmos 104 e 147. Trata-se das bênçãos celestiais em forma de chuva para o bom rendimento da lavoura e da pecuária. O devorador citado em Malaquias 3:11 não deve ser alegorizado. O devorador não é você ficar doente e gastar dinheiro na farmácia, nem o conserto do carro. E o devorador, cortador, migrador e destruidor citados em Joel não têm nenhuma relação com este de Malaquias. Esses destruidores em Joel referem-se à destruição de Israel pelos inimigos – profecia cumprida em parte na exílio da Babilônia e em parte ainda a ser cumprida na segunda vinda de Jesus (“acontecerá nos últimos dias...”).
Na igreja não existe estrutura a ser sustentada, posto que não há mais Templo nem sacerdócio, nem “casa do tesouro”. Apenas devem ser recolhidas ofertas para sustento dos pobres, necessitados e de missionários. Ou será que I Pedro 2:9 está desatualizado? Somos todos sacerdotes, não temos clero a quem sustentar. E toda a carta aos Hebreus fala disto. Se sustentamos sacerdotes, não somos diferentes de outros grupos religiosos. O cristão não precisa de sacerdote!
O que fazer então? Parar de ofertar, fechar as igrejas e ir cada um para o seu canto? Bem, aí está o problema. Problema que nós mesmos criamos, diga-se de passagem. Penso que em primeiro lugar, não devemos ser sovinas, pães-duros, mãos-de-vaca. Deus preza a generosidade. Podemos ofertar 1%, 2%, 5%, 10%, 50% ou 90% do salário. Deus nos dá essa liberdade. II Coríntios 9:7 diz “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria”. Segundo cada um propuser no seu coração, não o que outros mandarem. Você pode até estipular um percentual a contribuir todo mês, que seja de 10%; só não deve chamar isto de dízimo, pois embora seja 10%, é uma oferta voluntária e poderia ser de mais ou de menos; o dízimo não é para a igreja, foi ordenado a Israel somente.
Em segundo lugar, se criamos as estruturas atuais, agora é nossa obrigação sustentá-las. Penso que devemos então fiscalizar a utilização dos recursos arrecadados. Se a estrutura é grande e cara, mas os recursos vão para caridade, ensino, missões, evangelismo, tudo bem. Se a maior parte escoa somente para alguns, aí lascou. Pense melhor antes de meter a mão no bolso.